Chelsea - Mother Road
Oct 10, 2024 2:39:53 GMT
Post by Ramprozz on Oct 10, 2024 2:39:53 GMT
Ouça Mother Road de Chelsea aqui.
Nota: 90
Escrita por: Karine Cardoso
Sim, sabemos que estávamos devendo a review deste disco há muitos meses, mas antes tarde do que nunca. Em março de 2028, Chelsea lança “Mother Road” seu primeiro álbum de estúdio e que a coloca como uma forte concorrente à categoria de Artista Revelação. Em um disco com doze canções, quarenta minutos e letras encantadoras, Chelsea nos convida a sentar ao seu lado enquanto dirige a sua caminhonete.
A faixa que abre o disco se chama “Crossroads” e acredito que o título não poderia ser mais apropriado. A narrativa que envolve o disco põe Chelsea como uma protagonista que está perdida, mas disposta a se reencontrar. O que pudemos perceber é que a forma lírica da canção abre as suas feridas, ao mesmo tempo que não a deixa a mercê do que se passou. A garota perdida, aquela em que um passo à frente a levaria ao abismo, encontra-se na estrada repleta de ferimentos e medos; porém, nessa mesma estrada, está a sua libertação. A parceria com Leo Kwan da premiada – e finada – banda Golden Castles é mais que bem-sucedida. Kwan sintetiza um momento de renovação da própria Chelsea. As encruzilhadas, sob determinado ponto de vista, nos levam a pensar de imediato na perdição, contudo, se vistas por uma outra perspectiva somos instados a pensar nas possibilidades que nos oferecem para caminhar. E Chelsea, então, faz a sua decisão. (10)
A estrada é comumente uma passagem de um lugar para o outro. Os polos são contrastantes e o caminho é, por muitas vezes, renegado à uma posição secundária. O que não se dá a ver facilmente é que de um ponto ao outro muito pode acontecer. Na segunda faixa, Mother Road, nos inspira a refletir sobre os caminhos que tomamos. O resgate a mística da rota 66 se torna ainda mais interessante quando observamos os rumos que a carreira da cantora tomou nos últimos anos. Assim que partiu, Chelsea era uma pessoa; na estrada, se transformou. Talvez ela não encontra aquilo que deseja, no tempo que deseja, mas temos uma certeza: ela está pronta para desbravar todos os mistérios e infernos que estarão logo à sua frente. A composição chama a atenção pela expressão das palavras e as formam com que, elas próprias, formam uma encruzilhada. A estrada não parece ter fim, mas é justamente esse o seu encanto. A viagem é longa, nem sempre encontraremos o que procuramos, mas, assim como canta Chelsea, estamos prontos para pegar a estrada e procurar o novo. (10)
Em It All Comes Out In The Wash somos apresentados a uma nova faceta de Chelsea. A letra é divertida e, ao mesmo tempo que nos faz rir, nos leva a pensar sobre como lidamos com as frustrações da vida. Nenhuma dor é eterna e as lágrimas um dia vão secar. Uma dor nova se sobreporá à uma antiga. Saber que nada é imutável, fixo, é um acalento para o coração daqueles que se permitem sentir. E, justamente por essa fluidez, devemos nos permitir sentir o que está a nossa espera. E Chelsea, como nos mostra muito bem, sabe sentir. (9,5)
“The Worst Part Of Me” é aquele tipo de faixa que nos deixa extremamente inquietos. A simplicidade do instrumental que a acompanha pode ocultar a sua riqueza em termos de composição. Chelsea abre o seu coração e expõe o quanto ferida foi por um amor que não correspondia as suas expectativas. O amor romântico que nos é vendido diariamente nas telenovelas, nas revistas ou em qualquer outro meio de mídia, é falho. Ao vender uma ideia de que duas pessoas se tornam uma só, há um perigo evidente: a dissociação do “eu” do próprio “eu”. Em outras palavras, nos perdemos de nós mesmos quando aceitamos fundir nossos desejos com os de outras pessoas. Há, nessa confusão de identidades, um momento de catarsis: quando percebemos que muito do que é “nosso” é, na verdade, do “outro”. Um relacionamento pode ser uma prisão para aqueles que se submetem a ocultar a si próprios. A impressão que a música nos deixa é a de uma Chelsea que caiu nos encantos de um amor romântico e, ao vê-lo quebrado, toma a si de volta e põe fim à uma confusão que a fazia mal. O mal não estava nela. (9)
“California Stars” é um sopro de alegria. Ao ouvir a canção eu me peguei sorrindo a esmo em vários momentos distintos. Este é o principal trunfo da faixa: nos conecta com algo que nos é familiar. Chelsea não se propõe a construir mundos inimagináveis ou inatingíveis, pelo contrário, seus pés permanecem em casa. Em sua atitude de voltar para casa, mesmo que esteja em outro lugar, a cantora torna a sua narrativa ainda mais sólida. Sua essência se mantém mesmo frente aos óbices que se impõem na sua jornada. A jovem cowgirl, hoje uma mulher, se mantém no que é mais sincero em Chelsea: a sua simplicidade. (9)
“You Wouldn't Know Me” é aquela que costuma nos tirar de um torpor. É um ritmo inédito, até então, no álbum e que, no fim, não parece estar correto. Não é uma música ruim, mas, no conjunto do álbum, parece não se integrar ao que foi proposto. Não questionamos a pertinência de diferentes gêneros, muito pelo contrário, mas sim a forma como estes são organizados. Talvez, o seu posicionamento não tenha sido a melhor escolha. É uma música boa, mas não parece combinar, principalmente se levarmos em consideração o que vem depois. Em termos mais técnicos, apresenta uma estrutura lírica limpa, sólida e conta uma narrativa interessante, mas que parece estar incompleta. Não entendemos o que realmente a cantora queria aqui, mas se a sua intenção foi abaixar um pouco o nível do que havia apresentado, então ela conseguiu perfeitamente. (7)
A faixa de número sete, “Interstate Gospel”, parece confirmar o que pensamos da faixa anterior. A execução da quebra de ritmo pretendida na faixa que a antecede é falha. Um dos grandes trunfos de Chelsea, contudo, é a sua capacidade de se reerguer. A cantora recupera o fôlego perdido e nos coloca de volta na estrada. As conexões com faixas já lançados por outros artistas como Emotion e Win For Us de Caleb Roth e Kevin dos Goldens Castles são fortuitas, embora não isso não as torne menos interessantes. Essa é, com certeza, uma das mais divertidas do disco na qual Chelsea entrega um lado seu mais descontraído, como mostrou saber fazer bem em California Stars. Até aqui, a cantora nos fornece um panorama breve de sua vida e nos instiga a ir além para descobrir qual a próxima parada. (9)
“Mexico Mountains” tem uma premissa interessante e produção musical se destaca aqui. A forma como há uma quebra com a faixa anterior sem que haja estranhamento é uma característica louvável. A canção tem uma poética que é delicada, nos leva à um momento de relembrar o que foi e o que não é mais. Sabemos o porquê de a cantora ter eleito esta canção como uma das mais tocantes do disco. O tempo das memórias é diferente do relógio. Ele não se acaba em um instante, pelo contrário, subverte a ordem destrutiva e sobrevive em meio aos esquecimentos ou as adições. Mesmo empoeiradas, estas memórias são capazes de reviver os mortos, de assombrar o presente com as alegrias de um passado que se foi. Não devemos, entretanto, parar em uma nostalgia pura e imóvel. Devemos seguir na longa estrada que ainda nos aguarda. (8)
Nos encaminhando para o final desta longa jornada, somos agraciados com uma parceria improvável entre Agatha Melina e Chelsea. Ambas as cantoras podem ser descritas como um total oposto à outra, mas isso não as impediu de erigir sobre nós um estado de graça e encanto ao ouvir a canção. Em uma colaboração entre artistas tão diferentes é essencial que haja uma fusão, mas que isso não signifique a perca de essência em nenhum dos lados. E isso não acontece. “Truck Stop Angels” é um freio na corrida de Chelsea para encontrar a si mesma. A procura não basta se não sabemos o que procurar. Essa parada se torna essencial na narrativa para que ela própria, e nós, possamos saber aonde queremos chegar. Essa busca incansável por si mesma a levou a caminhos entrecruzados. O seu ponto de partida ainda está vívido e é o que a mantém nos trilhos – ou melhor, na estrada. Por mais que esteja perdida neste momento, ela sabe de onde veio e o lugar em deve estar. A demora é apenas encontrar a rota certa. (9,5)
A décima música apresentada, “Peace”, nos traz de volta aos impasses amorosos de Chelsea. A narrativa nos encaminha para um relação que se mostrou, desde o início, unilateral. O amor tem a capacidade de nos colocar no céu, mas, por outro lado, utilizando um termo que combina o que o propõe Chelsea, pode nos guiar a encruzilhadas. Amar não é uma tarefa fácil, principalmente se você o faz sozinha em uma relação a dois. O amor constrói e destrói. Neste caso, em uma canção que é uma das mais bem escritas do disco, vemos como essa força atua nos dois polos opostos. O que se iniciou como sendo um conto daqueles que se tornaria uma música romântica, findou em tragédia. No entanto, não podemos reduzir a história que ela nos conta apenas a isso. De outro lado, temos duas pessoas, enfim, livres. Uma liberdade que pode ser amarga para uma das partes, é verdade, mas, ainda sim, a liberta de algo que a aprisionava. (9)
Nunca perdido, sempre em busca, é assim que você vive. “Traveler” é a expressão máxima da viagem que até aqui tomamos. Ao sairmos, perdidos, do ponto de partida, somos levados para as encruzilhadas de que tanto falamos ao longo desse texto. As estradas que tomamos em nossas vidas nunca são retas ou sempre asfaltadas. Na verdade, dirigimos sobre um solo arenoso, seco, sem vida. O que dá a vida a estes caminhos somos nós. E Chelsea, ao cantar sobre não perder a esperança, está indo ao encontro desta ideia. Não é a estrada que define o caminho, mas as escolhas que fazemos sobre elas. Não há determinações que sejam eternas, elas não constituem barreiras rígidas e instransponíveis. A cantora atribui um novo significado à palavra “viajante”. Uma viagem é, quase sempre, uma deslocamento de corpos de um ponto para o outro, regidos pela ordem. Mas e se não fosse assim? É o que Chelsea nos diz até aqui. (9)
A nossa última parada é em torno de um astro extraterreno. A lua que fulgura noite após noite é aqui remetida para além dos limites. Chelsea sabe que está longe de casa, mas o seu coração não. A forma como a letra é construída para fazer a conexão entre passado, presente e futuro é digna de aplausos. Nosso lar estará sempre conosco, embora estejamos a milhares de quilômetros de distância dele. Compreendemos que nessa última canção, a cantora deixa claro que a sua jornada continua, mas não significa que deixou tudo para trás. A evolução pessoal não se dá com o abandono daquilo que nos faz seremos quem somos, mas, a partir do que temos, melhorar sempre. Como estar em casa sem realmente estar? É o que Chelsea canta ao longo dessas doze faixas. (10)
O primeiro álbum de Chelsea nos faz refletir acerca de mudanças e dos caminhos que nos levam até elas. Não é um álbum saudosista, no sentido de que busca recuperar o passado como se ele por si bastasse; mas muito tem de passado. E o presente é um enigma, muito mais do que o futuro. Quem é essa mulher? O que a caracteriza? O que ela representa? Não temos respostas, afinal, se fossem possíveis de serem dadas, seriam sempre incompletas. As diferentes estradas que tomamos ao longo de nossas vidas nos levam à caminhos tão diferentes e tão aquém daqueles que outrora imaginávamos. No decorrer dos quarenta e poucos minutos do disco, nos sentimos mais próximos da artista. Como se estivéssemos sentados ao seu lado no caro enquanto dirige e canta as suas histórias a plenos pulmões. É um disco coeso, que apresenta uma narrativa simples, mas nem por isso deixa de ser complexa. Afinal, o complexo está nas coisas simples. Entender a simplicidade requer um olhar mais aguçado para o que realmente significam as coisas. Esse é o trunfo de Chelsea: na simplicidade ela se fez gigante.
Nota: 80
Escrita por: -
Em um quente dia de domingo, Chelsea decide abandonar tudo - ela pega seu carro, coloca um óculos de sol e um lenço na cabeça, liga o rádio bem alto com os maiores sucessos do Caleb Roth e começa a dirigir pela estrada mais famosa dos Estados Unidos, a Rota 66, saindo de Chicago, em Illinois, em direção a Los Angeles, na Califórnia, percorrendo todos os 3.939 quilômetros da rodovia. Esta é a sensação que temos ao ouvir Mother Road pela primeira vez, o álbum de debut da cantora texana Chelsea. Se tem algo que esta viagem não é, é chata.
É importante contextualizamos que a Rota 66 é uma das importantes dos Estados Unidos por cortar o país de leste a oeste, por esse motivo foi apelidada de Estrada Mãe por John Steinbeck em seu livro The Grapes of Wrath, de 1939. Chelsea faz uma profunda conexão com as suas raízes enquanto viaja por todos estes quilômetros de asfalto: as letras da música soam tão pessoais que parecem ter saído diretamente de uma conversa em um bar no meio da estrada, no momento em que você pede uma porção de batata frita e uma cerveja e uma completa desconhecida sentada ao seu lado no balcão puxa assunto e começa a contar toda a vida dela para você, suas mágoas e alegrias, traumas e sonhos.
Chelsea nos prometeu um álbum country e definitivamente soube entregar. O disco explora a sonoridade de diversas formas, não deixando-o maçante: há o country tradicional que ouvimos em California Stars, o country animado presente em It All Comes Out In The Wash, o country lento e melódico de Travelers, dentre outros estilos. A artista ainda soube mesclar o gênero com outros, como no country rock de Mother Road, e o pop country de The Worst Part Of Me, que utiliza ainda, o som de gaitas na produção, o que eleva o nível de qualidade ainda mais. Os destaques negativos do álbum são You Wouldn’t Know Me e Peace que, sonoramente, não combinam em nada com o restante das faixas, além de terem uma produção muito inferior, destoando completamente e quebrando, nesses momentos, a magia imersiva do Mother Road. Como um dos destaques positivos, mencionaremos a icônica Insterstate Gospel, que emula um couro de igreja cantado por uma pessoa só, possuindo uma das produções mais interessantes de todo o projeto.
Liricamente, é um álbum que poderia ter sido melhor organizado e também melhor construído. Teria sido melhor manter músicas que tratam de temas semelhantes mais próximas, como por exemplo a parceria com o Caleb Roth, The Worst Part Of Me, e a faixa Peace, visto que ambas retratam fins de relacionamento; ou as faixas Traveler de Crossroads, que falam sobre meter o pé na estrada. Apesar disso, há composições muito boas e que tornam a experiência ainda mais interessante. Temos que considerar ainda que também há algumas letras que, por utilizarem um palavreado muito requintado com termos raros, sua interpretação se torna difícil, como é o caso do próprio single que carrega o nome do disco, Mother Road. Mas também devemos glorificar as pérolas escondidas como o magnífico verso de Agatha Melina em Truck Stop Angels e a linda letra de La Luna.
Concluindo, o Mother Road é um álbum de alta qualidade, mas que ainda poderia ter sido melhor lapidado e aperfeiçoado, principalmente em sua coesão lírica. Este é um começo promissor para a estrela country que promete dominar o cenário do gênero nos próximos anos.
Nota: 70
Escrita por: Cathleen Prior
Dona de um dos maiores hits de 2028, Chelsea laça o seu boi e nos introduz ao seu primeiro álbum. Mother Road promete introduzir um novo cenário do country para o mercado mainstream.
Durante doze faixas, nos deparamos com colaborações com os cantores Caleb Roth e Agatha Melina, também contando com Leo Kwan – ex-membro do Golden Castles – em composições de algumas faixas. O disco consegue apresentar algumas misturas do country tradicional com elementos do folk e do pop, enriquecendo sonoramente o projeto, não soando como apenas músicas quaisquer do gênero.
Mas o álbum ainda segue algumas ideias bastante tradicionalistas do country, como o uso de trechos que enfatizam a narrativa de “como eu sou uma pobre garota do campo chegando em uma cidade grande”. Esse lado tem pontos fortes e fracos, vai depender bastante da abordagem na faixa, mas em “Truck Stop Angels” e “California Stars” consegue extrair o básico e equilibrar com outras faixas mais elaboradas, como “Interstate Gospel” e “La Luna”.
Inclusive, “La Luna” é a melhor faixa do projeto. Com uma letra rica e um instrumental suave que entram em uma conexão enorme. Não sei se a Chelsea teria pretensão de trabalhá-la no futuro por ser uma canção bem mais calma e alternativa que os outros dois singles, mas é uma ótima oportunidade da cantora poder abraçar e abordar outros estilos que se afastam do country comum.
De fato, Mother Road é um álbum clichê, mas não significa que seja ruim. Ele se mantém na linha tênue entre o genérico e a mudança de ares. Não é perceptível uma mudança brusca do The Winner para o Mother Road, mas a Chelsea ainda está iniciando a sua carreira e descobrindo o seu som, experimentando alguns sub-gêneros e indo para o caminho que mais combina com a abordagem inicial da sua carreira.
Nota: 90
Escrita por: Karine Cardoso
Sim, sabemos que estávamos devendo a review deste disco há muitos meses, mas antes tarde do que nunca. Em março de 2028, Chelsea lança “Mother Road” seu primeiro álbum de estúdio e que a coloca como uma forte concorrente à categoria de Artista Revelação. Em um disco com doze canções, quarenta minutos e letras encantadoras, Chelsea nos convida a sentar ao seu lado enquanto dirige a sua caminhonete.
A faixa que abre o disco se chama “Crossroads” e acredito que o título não poderia ser mais apropriado. A narrativa que envolve o disco põe Chelsea como uma protagonista que está perdida, mas disposta a se reencontrar. O que pudemos perceber é que a forma lírica da canção abre as suas feridas, ao mesmo tempo que não a deixa a mercê do que se passou. A garota perdida, aquela em que um passo à frente a levaria ao abismo, encontra-se na estrada repleta de ferimentos e medos; porém, nessa mesma estrada, está a sua libertação. A parceria com Leo Kwan da premiada – e finada – banda Golden Castles é mais que bem-sucedida. Kwan sintetiza um momento de renovação da própria Chelsea. As encruzilhadas, sob determinado ponto de vista, nos levam a pensar de imediato na perdição, contudo, se vistas por uma outra perspectiva somos instados a pensar nas possibilidades que nos oferecem para caminhar. E Chelsea, então, faz a sua decisão. (10)
A estrada é comumente uma passagem de um lugar para o outro. Os polos são contrastantes e o caminho é, por muitas vezes, renegado à uma posição secundária. O que não se dá a ver facilmente é que de um ponto ao outro muito pode acontecer. Na segunda faixa, Mother Road, nos inspira a refletir sobre os caminhos que tomamos. O resgate a mística da rota 66 se torna ainda mais interessante quando observamos os rumos que a carreira da cantora tomou nos últimos anos. Assim que partiu, Chelsea era uma pessoa; na estrada, se transformou. Talvez ela não encontra aquilo que deseja, no tempo que deseja, mas temos uma certeza: ela está pronta para desbravar todos os mistérios e infernos que estarão logo à sua frente. A composição chama a atenção pela expressão das palavras e as formam com que, elas próprias, formam uma encruzilhada. A estrada não parece ter fim, mas é justamente esse o seu encanto. A viagem é longa, nem sempre encontraremos o que procuramos, mas, assim como canta Chelsea, estamos prontos para pegar a estrada e procurar o novo. (10)
Em It All Comes Out In The Wash somos apresentados a uma nova faceta de Chelsea. A letra é divertida e, ao mesmo tempo que nos faz rir, nos leva a pensar sobre como lidamos com as frustrações da vida. Nenhuma dor é eterna e as lágrimas um dia vão secar. Uma dor nova se sobreporá à uma antiga. Saber que nada é imutável, fixo, é um acalento para o coração daqueles que se permitem sentir. E, justamente por essa fluidez, devemos nos permitir sentir o que está a nossa espera. E Chelsea, como nos mostra muito bem, sabe sentir. (9,5)
“The Worst Part Of Me” é aquele tipo de faixa que nos deixa extremamente inquietos. A simplicidade do instrumental que a acompanha pode ocultar a sua riqueza em termos de composição. Chelsea abre o seu coração e expõe o quanto ferida foi por um amor que não correspondia as suas expectativas. O amor romântico que nos é vendido diariamente nas telenovelas, nas revistas ou em qualquer outro meio de mídia, é falho. Ao vender uma ideia de que duas pessoas se tornam uma só, há um perigo evidente: a dissociação do “eu” do próprio “eu”. Em outras palavras, nos perdemos de nós mesmos quando aceitamos fundir nossos desejos com os de outras pessoas. Há, nessa confusão de identidades, um momento de catarsis: quando percebemos que muito do que é “nosso” é, na verdade, do “outro”. Um relacionamento pode ser uma prisão para aqueles que se submetem a ocultar a si próprios. A impressão que a música nos deixa é a de uma Chelsea que caiu nos encantos de um amor romântico e, ao vê-lo quebrado, toma a si de volta e põe fim à uma confusão que a fazia mal. O mal não estava nela. (9)
“California Stars” é um sopro de alegria. Ao ouvir a canção eu me peguei sorrindo a esmo em vários momentos distintos. Este é o principal trunfo da faixa: nos conecta com algo que nos é familiar. Chelsea não se propõe a construir mundos inimagináveis ou inatingíveis, pelo contrário, seus pés permanecem em casa. Em sua atitude de voltar para casa, mesmo que esteja em outro lugar, a cantora torna a sua narrativa ainda mais sólida. Sua essência se mantém mesmo frente aos óbices que se impõem na sua jornada. A jovem cowgirl, hoje uma mulher, se mantém no que é mais sincero em Chelsea: a sua simplicidade. (9)
“You Wouldn't Know Me” é aquela que costuma nos tirar de um torpor. É um ritmo inédito, até então, no álbum e que, no fim, não parece estar correto. Não é uma música ruim, mas, no conjunto do álbum, parece não se integrar ao que foi proposto. Não questionamos a pertinência de diferentes gêneros, muito pelo contrário, mas sim a forma como estes são organizados. Talvez, o seu posicionamento não tenha sido a melhor escolha. É uma música boa, mas não parece combinar, principalmente se levarmos em consideração o que vem depois. Em termos mais técnicos, apresenta uma estrutura lírica limpa, sólida e conta uma narrativa interessante, mas que parece estar incompleta. Não entendemos o que realmente a cantora queria aqui, mas se a sua intenção foi abaixar um pouco o nível do que havia apresentado, então ela conseguiu perfeitamente. (7)
A faixa de número sete, “Interstate Gospel”, parece confirmar o que pensamos da faixa anterior. A execução da quebra de ritmo pretendida na faixa que a antecede é falha. Um dos grandes trunfos de Chelsea, contudo, é a sua capacidade de se reerguer. A cantora recupera o fôlego perdido e nos coloca de volta na estrada. As conexões com faixas já lançados por outros artistas como Emotion e Win For Us de Caleb Roth e Kevin dos Goldens Castles são fortuitas, embora não isso não as torne menos interessantes. Essa é, com certeza, uma das mais divertidas do disco na qual Chelsea entrega um lado seu mais descontraído, como mostrou saber fazer bem em California Stars. Até aqui, a cantora nos fornece um panorama breve de sua vida e nos instiga a ir além para descobrir qual a próxima parada. (9)
“Mexico Mountains” tem uma premissa interessante e produção musical se destaca aqui. A forma como há uma quebra com a faixa anterior sem que haja estranhamento é uma característica louvável. A canção tem uma poética que é delicada, nos leva à um momento de relembrar o que foi e o que não é mais. Sabemos o porquê de a cantora ter eleito esta canção como uma das mais tocantes do disco. O tempo das memórias é diferente do relógio. Ele não se acaba em um instante, pelo contrário, subverte a ordem destrutiva e sobrevive em meio aos esquecimentos ou as adições. Mesmo empoeiradas, estas memórias são capazes de reviver os mortos, de assombrar o presente com as alegrias de um passado que se foi. Não devemos, entretanto, parar em uma nostalgia pura e imóvel. Devemos seguir na longa estrada que ainda nos aguarda. (8)
Nos encaminhando para o final desta longa jornada, somos agraciados com uma parceria improvável entre Agatha Melina e Chelsea. Ambas as cantoras podem ser descritas como um total oposto à outra, mas isso não as impediu de erigir sobre nós um estado de graça e encanto ao ouvir a canção. Em uma colaboração entre artistas tão diferentes é essencial que haja uma fusão, mas que isso não signifique a perca de essência em nenhum dos lados. E isso não acontece. “Truck Stop Angels” é um freio na corrida de Chelsea para encontrar a si mesma. A procura não basta se não sabemos o que procurar. Essa parada se torna essencial na narrativa para que ela própria, e nós, possamos saber aonde queremos chegar. Essa busca incansável por si mesma a levou a caminhos entrecruzados. O seu ponto de partida ainda está vívido e é o que a mantém nos trilhos – ou melhor, na estrada. Por mais que esteja perdida neste momento, ela sabe de onde veio e o lugar em deve estar. A demora é apenas encontrar a rota certa. (9,5)
A décima música apresentada, “Peace”, nos traz de volta aos impasses amorosos de Chelsea. A narrativa nos encaminha para um relação que se mostrou, desde o início, unilateral. O amor tem a capacidade de nos colocar no céu, mas, por outro lado, utilizando um termo que combina o que o propõe Chelsea, pode nos guiar a encruzilhadas. Amar não é uma tarefa fácil, principalmente se você o faz sozinha em uma relação a dois. O amor constrói e destrói. Neste caso, em uma canção que é uma das mais bem escritas do disco, vemos como essa força atua nos dois polos opostos. O que se iniciou como sendo um conto daqueles que se tornaria uma música romântica, findou em tragédia. No entanto, não podemos reduzir a história que ela nos conta apenas a isso. De outro lado, temos duas pessoas, enfim, livres. Uma liberdade que pode ser amarga para uma das partes, é verdade, mas, ainda sim, a liberta de algo que a aprisionava. (9)
Nunca perdido, sempre em busca, é assim que você vive. “Traveler” é a expressão máxima da viagem que até aqui tomamos. Ao sairmos, perdidos, do ponto de partida, somos levados para as encruzilhadas de que tanto falamos ao longo desse texto. As estradas que tomamos em nossas vidas nunca são retas ou sempre asfaltadas. Na verdade, dirigimos sobre um solo arenoso, seco, sem vida. O que dá a vida a estes caminhos somos nós. E Chelsea, ao cantar sobre não perder a esperança, está indo ao encontro desta ideia. Não é a estrada que define o caminho, mas as escolhas que fazemos sobre elas. Não há determinações que sejam eternas, elas não constituem barreiras rígidas e instransponíveis. A cantora atribui um novo significado à palavra “viajante”. Uma viagem é, quase sempre, uma deslocamento de corpos de um ponto para o outro, regidos pela ordem. Mas e se não fosse assim? É o que Chelsea nos diz até aqui. (9)
A nossa última parada é em torno de um astro extraterreno. A lua que fulgura noite após noite é aqui remetida para além dos limites. Chelsea sabe que está longe de casa, mas o seu coração não. A forma como a letra é construída para fazer a conexão entre passado, presente e futuro é digna de aplausos. Nosso lar estará sempre conosco, embora estejamos a milhares de quilômetros de distância dele. Compreendemos que nessa última canção, a cantora deixa claro que a sua jornada continua, mas não significa que deixou tudo para trás. A evolução pessoal não se dá com o abandono daquilo que nos faz seremos quem somos, mas, a partir do que temos, melhorar sempre. Como estar em casa sem realmente estar? É o que Chelsea canta ao longo dessas doze faixas. (10)
O primeiro álbum de Chelsea nos faz refletir acerca de mudanças e dos caminhos que nos levam até elas. Não é um álbum saudosista, no sentido de que busca recuperar o passado como se ele por si bastasse; mas muito tem de passado. E o presente é um enigma, muito mais do que o futuro. Quem é essa mulher? O que a caracteriza? O que ela representa? Não temos respostas, afinal, se fossem possíveis de serem dadas, seriam sempre incompletas. As diferentes estradas que tomamos ao longo de nossas vidas nos levam à caminhos tão diferentes e tão aquém daqueles que outrora imaginávamos. No decorrer dos quarenta e poucos minutos do disco, nos sentimos mais próximos da artista. Como se estivéssemos sentados ao seu lado no caro enquanto dirige e canta as suas histórias a plenos pulmões. É um disco coeso, que apresenta uma narrativa simples, mas nem por isso deixa de ser complexa. Afinal, o complexo está nas coisas simples. Entender a simplicidade requer um olhar mais aguçado para o que realmente significam as coisas. Esse é o trunfo de Chelsea: na simplicidade ela se fez gigante.
Nota: 80
Escrita por: -
Em um quente dia de domingo, Chelsea decide abandonar tudo - ela pega seu carro, coloca um óculos de sol e um lenço na cabeça, liga o rádio bem alto com os maiores sucessos do Caleb Roth e começa a dirigir pela estrada mais famosa dos Estados Unidos, a Rota 66, saindo de Chicago, em Illinois, em direção a Los Angeles, na Califórnia, percorrendo todos os 3.939 quilômetros da rodovia. Esta é a sensação que temos ao ouvir Mother Road pela primeira vez, o álbum de debut da cantora texana Chelsea. Se tem algo que esta viagem não é, é chata.
É importante contextualizamos que a Rota 66 é uma das importantes dos Estados Unidos por cortar o país de leste a oeste, por esse motivo foi apelidada de Estrada Mãe por John Steinbeck em seu livro The Grapes of Wrath, de 1939. Chelsea faz uma profunda conexão com as suas raízes enquanto viaja por todos estes quilômetros de asfalto: as letras da música soam tão pessoais que parecem ter saído diretamente de uma conversa em um bar no meio da estrada, no momento em que você pede uma porção de batata frita e uma cerveja e uma completa desconhecida sentada ao seu lado no balcão puxa assunto e começa a contar toda a vida dela para você, suas mágoas e alegrias, traumas e sonhos.
Chelsea nos prometeu um álbum country e definitivamente soube entregar. O disco explora a sonoridade de diversas formas, não deixando-o maçante: há o country tradicional que ouvimos em California Stars, o country animado presente em It All Comes Out In The Wash, o country lento e melódico de Travelers, dentre outros estilos. A artista ainda soube mesclar o gênero com outros, como no country rock de Mother Road, e o pop country de The Worst Part Of Me, que utiliza ainda, o som de gaitas na produção, o que eleva o nível de qualidade ainda mais. Os destaques negativos do álbum são You Wouldn’t Know Me e Peace que, sonoramente, não combinam em nada com o restante das faixas, além de terem uma produção muito inferior, destoando completamente e quebrando, nesses momentos, a magia imersiva do Mother Road. Como um dos destaques positivos, mencionaremos a icônica Insterstate Gospel, que emula um couro de igreja cantado por uma pessoa só, possuindo uma das produções mais interessantes de todo o projeto.
Liricamente, é um álbum que poderia ter sido melhor organizado e também melhor construído. Teria sido melhor manter músicas que tratam de temas semelhantes mais próximas, como por exemplo a parceria com o Caleb Roth, The Worst Part Of Me, e a faixa Peace, visto que ambas retratam fins de relacionamento; ou as faixas Traveler de Crossroads, que falam sobre meter o pé na estrada. Apesar disso, há composições muito boas e que tornam a experiência ainda mais interessante. Temos que considerar ainda que também há algumas letras que, por utilizarem um palavreado muito requintado com termos raros, sua interpretação se torna difícil, como é o caso do próprio single que carrega o nome do disco, Mother Road. Mas também devemos glorificar as pérolas escondidas como o magnífico verso de Agatha Melina em Truck Stop Angels e a linda letra de La Luna.
Concluindo, o Mother Road é um álbum de alta qualidade, mas que ainda poderia ter sido melhor lapidado e aperfeiçoado, principalmente em sua coesão lírica. Este é um começo promissor para a estrela country que promete dominar o cenário do gênero nos próximos anos.
Nota: 70
Escrita por: Cathleen Prior
Dona de um dos maiores hits de 2028, Chelsea laça o seu boi e nos introduz ao seu primeiro álbum. Mother Road promete introduzir um novo cenário do country para o mercado mainstream.
Durante doze faixas, nos deparamos com colaborações com os cantores Caleb Roth e Agatha Melina, também contando com Leo Kwan – ex-membro do Golden Castles – em composições de algumas faixas. O disco consegue apresentar algumas misturas do country tradicional com elementos do folk e do pop, enriquecendo sonoramente o projeto, não soando como apenas músicas quaisquer do gênero.
Mas o álbum ainda segue algumas ideias bastante tradicionalistas do country, como o uso de trechos que enfatizam a narrativa de “como eu sou uma pobre garota do campo chegando em uma cidade grande”. Esse lado tem pontos fortes e fracos, vai depender bastante da abordagem na faixa, mas em “Truck Stop Angels” e “California Stars” consegue extrair o básico e equilibrar com outras faixas mais elaboradas, como “Interstate Gospel” e “La Luna”.
Inclusive, “La Luna” é a melhor faixa do projeto. Com uma letra rica e um instrumental suave que entram em uma conexão enorme. Não sei se a Chelsea teria pretensão de trabalhá-la no futuro por ser uma canção bem mais calma e alternativa que os outros dois singles, mas é uma ótima oportunidade da cantora poder abraçar e abordar outros estilos que se afastam do country comum.
De fato, Mother Road é um álbum clichê, mas não significa que seja ruim. Ele se mantém na linha tênue entre o genérico e a mudança de ares. Não é perceptível uma mudança brusca do The Winner para o Mother Road, mas a Chelsea ainda está iniciando a sua carreira e descobrindo o seu som, experimentando alguns sub-gêneros e indo para o caminho que mais combina com a abordagem inicial da sua carreira.