Kyle - the night also hugs the waves
Aug 8, 2024 23:45:54 GMT
Post by Ramprozz on Aug 8, 2024 23:45:54 GMT
Ouça o the night also hugs the waves de Kyle aqui.
Nota: 98
Escrito por: Bane Lee
O álbum "the night also hugs the waves" é completamente fora de série, excepcional, extraordinário, fora do comum. Chego a ficar arrepiado em pensar como um artista iniciante consegue estrear na indústria com um material tão extremamente refinado, próprio, irreverente, original e principalmente, pessoal.
Sendo irmão de Harmon Moore, de cara já seria extremamente difícil para Kyle evitar comparações indevidas, ou ao menos, esperar que fosse esperado que ele atingisse o mesmo grande sucesso comercial com sua estréia como Harmon Moore alcançou com a sua estréia, com o álbum Clueless, mas logo de cara, os dois irmãos se mostram extremamente competentes, mesmo que sigam direcionamentos completamente opostos em todos os aspectos de suas carreiras musicais, mas uma coisa que os dois definitivamente tem em comum, é a maneira visceral que conseguem imbuir sentimentos intensos nas letras que escrevem, e em todos os aspectos de suas personas artísticas.
Um título como "the night also hugs the waves" definitivamente parece ter mais significado do que apenas palavras juntas. Apesar do significado ser bem mais explorado metaforicamente na faixa que possui o mesmo título, a frase abraça de forma extremamente incrível o conceito emocional do álbum, sua sonoridade, seus visuais, suas letras, e toda a identidade que é criada a partir destes elementos.
A capa do álbum é uma das representações visuais mais lindas que vi em muito tempo; Kyle está submergido em água até a cabeça, apenas com os olhos de fora, estes bem marcados com olheiras escuras, que contrastam com o turquesa vívido da íris logo acima. O cenário é simples, basicamente sendo o cantor num oceano sombrio debaixo de um céu escuro, como se tivesse uma grande e terrível tempestade iminente, prestes a desabar sobre ele. A forma que a pele clara e pálida de Kyle contrasta potentemente com o cenário escuro é ainda mais realçada pelos nuances coloridos que aparecem na água, como se fosse uma poça de óleo flutuando no oceano, tudo isso complementado com uma tipografia simples e eficaz: uma tipografia que emula os caracteres de uma máquina de escrever, mas com um efeito como se a tinta estivesse vazando a cada vez que a máquina acerta o papel com os tipos. Além disso, é notável como, mesmo sem espaçamento adequado entre o nome "kyle" e o nome "the night also hugs the waves", a distinção de cores distribui o ênfase muito bem, principalmente somado ao reflexo da tipografia na água, distorcido e colorido, assim como a poça de óleo mencionada antes. Sim, provavelmente estou elaborando de mais nos elementos visuais, mas é sempre bom pontuar como estes elementos são intrinsecamente importantes para um artista, e como tantos elementos visuais juntos conseguem construir uma identidade tão sólida, para um álbum com uma sonoridade igualmente consistente.
A abertura do álbum fica com a magnífica "wildfire", faixa absolutamente aclamada, sendo uma das únicas a atingir a pontuação máxima na Best New Track da semana que foi lançada, e absolutamente com todos os méritos merecidos. A letra carrega um sentimento pesado e triste de ter que deixar alguém ir, de apenas assistir a pessoa se tornando cada vez mais distante enquanto busca pela própria felicidade, e por amar tanto a pessoa, entender que a auto descoberta implica no final deste amor descrito.
Os vocais de Kyle soam quase mórbidos em cima do instrumental calmo e sereno, realmente fazendo parecer que uma situação trágica se estendeu por tanto tempo, que o sentimento se tornou morimbundo, dolorido demais para segurar, intenso de mais para matar, então a solução escolhida foi apenas esperar o tempo criar seu rumo e inevitavelmente separar os laços. Poderia passar muito tempo falando de wildfire, já que sem dúvida é uma das músicas mais geniais do projeto, mas há tanta coisa incrível no "the night also hugs the waves" que seria redundante estender ainda mais aqui.
A faixa título vem logo em seguida, usando os elementos que "wildfire" deixou para pintar consistentemente a magnífica e dolorosa paisagem sonora do álbum. Como um todo, o álbum soa como passar uma madrugada fora de casa, remoendo sentimentos tão depressivos, amenizando a dor com festas, álcool e drogas, mas no instante que sua memória se recupera, tudo parece voltar a doer e desabar, então o que resta a se fazer é continuar tentando e tentando se manter retardado o suficiente, num lugar onde a dor não consiga lhe alcançar. Isso é, em partes iguais, extremamente trágico e extremamente genial.
Em "the night also hugs the waves" Kyle molda sua tristeza nas letras, em um dilema muito interessante: na letra, Kyle admite em diversas partes como se torna uma pessoa imatura quando sua cabeça começa a se encher de ansiedade e insegurança, e como isso faz ele destruir as coisas que ama; intrinsecamente, admitir isso de forma tão detalhada é um passo na direção de uma maturidade muito consistente: Refletir sobre os erros e os transformar em arte é uma das melhores maneiras de aprender consigo mesmo.
A terceira faixa, "white lines" traz uma metáfora no título. Ao mesmo tempo que a letra compara o prazer carnal com estar chapado e elétrico após usar cocaína (normalmente consumida em fileiras para ser cheirada, fileiras brancas, white lines), a faixa também fala sobre o comportamento de caminhar em cima do meio-fio da rua, voltando para casa depois de uma festa. Quase num surf rock alternativo, a terceira faixa aborda o flerte sensual de duas pessoas que ainda estão se conhecendo, tento aquela química que só existe nos começos de relacionamento, quando o “eu” da outra pessoa ainda é um mistério que você quer descobrir com as mãos e com a boca.
A quarta faixa definitivamente traz o melhor de todos os aspectos do álbum, sendo um dos maiores destaques. A faixa "hard rain" traz um hipnotizante pop eletrônico, alternativo e psicodélico, com a mesma ambientação de rock que as outras faixas trazem, mas com uma roupagem extremamente única. O instrumental eletrônico pulsa até se desenrolar nos primeiros versos da música, como se fosse algo dito com falta de ar, assim como a mensagem que a música traz.
Sendo sem dúvida uma das faixas que mais explora o auto ódio, arrependimento, sofrimento e decisões impulsivas e imatura, hard rain mostra uma incrível visão da perspectiva de Kyle a respeito de seu comportamento, de forma tão honesta que é quase como se um pedaço do coração e do cérebro dele fosse dissecado e transformado em música. A alusão de chuva e tempestade com momentos ruins não é nenhuma novidade, mas definitivamente, com uma narrativa bem construída e vulnerável, é impossível associar hard rain a um chilchê.
A faixa hard rain representa um ótimo momento para se refletir na temática principal do álbum. Todos sempre defendem seus pontos de vista achando estarem certo, e estarem buscando o melhor para própria vida, mas definitivamente o "certo" para uma pessoa não é o "certo" para todo mundo. Kyle destrincha suas atitudes, assumindo de peito aberto e lágrimas nos olhos que ele não tem sido uma boa pessoa, e apesar de justificar suas ações, não põe a culpa em ninguém para assumir as consequências do que ele faz. Esse é um dos pontos que mais coloca em evidência a dinâmica de maturidade x imaturidade que o álbum tem nas entrelinhas.
Revitalizando as influências de rock do álbum, a faixa "ocean eyes" mistura a energia soturna com um fogo sutil, quase como se todas as linhas da música tivessem uma ironia pervertida por baixo das palavras. Seu posicionamento no meio do álbum é perfeito para a progressão da sonoridade, já que carrega todos os elementos alternativos que Kyle carimbou durante as outras músicas, mas colocada sobre a lente de uma revolta amorosa e sexual, com as guitarras presentes na música enfatizando a intensidade da raiva se misturando com o desejo nas linhas da música.
Com o recorde de faixa mais longa do álbum, decorrida em quase sete minutos, a próxima faixa é a intimista "lantern". O instrumental carrega uma guitarra presente por toda sua extensão, repetindo a mesma sequência de acordes, que serve como uma referência direta ao estagno tortuoso representado na letra, onde nada muda, e quando muda, muda para pior, muda para mais triste, muda para os erros acontecendo mais uma vez. Definitivamente, lantern tem uma das melhores letras do álbum; aqui, Kyle chegou no pináculo do intimismo, sendo brutalmente honesto quando a dúvida em relação em relação a o amor que ele quer amar, em relação a vida que ele quer viver, em relação a pessoa que ele quer ser.
Apesar de lantern ter a melhor letra do álbum, também é a faixa que carrega os poucos erros que the night also hugs the waves tem. Uma faixa ser longa não é um problema, definitivamente é uma ferramenta de narrativa que quebra os atuais padrões de músicas curtas e rasas. Porém uma música longa E monótona é definitivamente um problema num álbum que seguia até este momento sendo tão original e bem construído. As guitarras até progridem para mais acordes a medida que a música passa, mas parece que no fim das contas, não realmente sai do lugar. É completamente compreensível que, uma música que fale sobre ainda não estar pronto, ainda precisar se descobrir, tenha este tipo de representatividade sonora, mas realmente, a faixa lantern pesa um pouco de mais a sonoridade do álbum para esta monotonia. A ressalva é a bela finalização da faixa, onde as guitarras se transformam ainda mais para uma melodia emocionante, até a música terminar. Não é uma faixa ruim, mas em um álbum com tantas coisas beirando a perfeição, esta se destaca como uma pequena falha.
Felizmente, o álbum se recupera imediatamente logo em seguida com a faixa "so this is love", outro dos maiores destaques incríveis do álbum. Todas as pessoas envolvidas na construção do cenário musical do the night also hugs the waves fizeram um incrível trabalho em pintar uma visão extremamente genuína e condizente com as composições do projeto. A letra fala sobre a ansiedade de querer viver imediatamente as fases de um amor; mesmo que esteja falando necessariamente de uma traição. A fusão do pop e rock alternativo criam uma energia extremamente singular para a faixa, fazendo o refrão soar expansivo, como se a cabeça estivesse girando, e por um momento, nada no mundo existia além deste amor que mesmo sendo errado, está parecendo um pouquinho mais certo a cada segundo que se passa.
A bridge da música faz ela se transformar, levando um violão mais calmo, conseguindo transformar a mesma melodia que antes era amorosa e tentadora em algo penoso e com notas de remorso, como se desse a entender que, no fim das contas, essa felicidade toda só existe enquanto Kyle finge que não fez o que fez. Isso tudo faz o último refrão soar ainda mais emocional e vulnerável, fechando a música com chave de ouro.
A serena "not worth thinking of" vem logo em seguida, como um momento de clareza após a adrenalina da paixão das outras músicas passar. Apesar de, em todas as outras faixas, assumir honestamente a culpa pelas consequências de suas atitudes, igualmente honestamente, em not worth thinking of Kyle abre seu peito para refletir sobre a parte que não é sua culpa, e também contribuiu para o estado miserável que se encontra agora. A faixa também é longa, contendo quase cinco minutos, mas diferente de lantern, a sonoridade é construída em elementos que conversam com o resto do álbum, não parecendo uma tristeza desconexa, e sim diretamente ligada a tudo que foi descrito até agora. A faixa acaba e parece continuar ecoando na cabeça, com um sentimento de ressentimento muito pesado pairando no ar, quase como num velório. Definitivamente, é outra das melhores composições de Kyle.
Já rumando para o fim do álbum, "AAAAAAAAAAAH" traz uma reflexão um pouco mais filosófica a respeito de como Kyle enxerga sua própria mente. O instrumental tem características que quase lembram elementos de trap depois do primeiro refrão, com uma percussão bem acelerada abaixo da guitarra lenta e arrastada. Completamente atmosférica, a música se encerra com um grito de Kyle sendo afogado pelo instrumental, mais um final extremamente emocional e triste para o álbum.
O álbum termina com a faixa "broken beyond repair", que surpreendentemente, tem elementos que se comunicam com os de lantern, inevitavelmente trazendo as duas de forma mais consolidada para a sonoridade do álbum. Deixando evidente como uma característica proeminente do álbum, a música também a carregada por guitarras deprimentes e lentas. Como se culminasse numa resolução onde Kyle consegue entender ambas partes de uma mesma culpa, broken beyond repair finaliza o álbum de forma extremamente melancólica, assumindo perpetuamente o fim deste relacionamento.
Na noite de 15 de Junho de 2028, a equipe da Ghosted IMG foi até a Paradise Garage, uma discoteca abandonada desde os anos 90 em Nova York. Um fenômeno muito estranho aconteceu assim que a capa do álbum foi projetada na parede do salão principal: mesmo inativo há mais de trinta anos, o globo espelhado pendurado no teto não só começou a girar, como também parecia reluzir as cores da capa, mesmo que o projetor não estivesse apontado para o globo.
A experiência de ouvir o álbum foi incrível; a equipe se deitou no chão da discoteca enquanto o álbum era ouvido, e diversas vezes, alguns dos canhões de luz aleatoriamente se ligavam, deixando o ambiente ainda mais atmosférico e etéreo. O grupo deixou no meio da sala, um espelho de prata para ter uma melhor comunicação com o mundo paranormal durante a execução do the night also hugs the waves, e em diversos momentos, o espelho ficava embaçado, não só refletindo os padrões de luzes formados pelo globo no teto, como também criando desenhos sobre o vidro, assim como brevemente deixando a mensagem “tão bonito, tão triste” escrita no espelho.
A equipe saiu do local extremamente reflexiva com o conteúdo emocional do álbum. Com "the night also hugs the waves", Kyle definitivamente não só criou uma identidade artística extremamente única e interessante, como lançou um dos melhores álbuns deste ano.
Nota: 88
Escrita por: -
Kyle chega com uma exploração profunda de emoções pessoais, histórias íntimas e reflexões honestas em seu álbum com uma jornada emocional através das complexidades das suas relações pessoais, além de uma grande busca pelas autodescobertas da vida. Cada faixa oferece uma visão diferente das experiências do cantor, abordando temas como términos de relacionamentos, sentimentos de inadequação, paixão e arrependimento. A música e as letras se combinam para criar uma atmosfera profundamente pessoal do começo ao fim.
Musicalmente, o álbum oferece uma mistura de estilos, desde baladas melancólicas até músicas mais animadas e extremamente provocantes, lugar esse, onde Kyle brilha. A escolha de metáforas e imagens vívidas nas letras contribui para a riqueza das faixas, permitindo com a identificação e conexão mágica com as emoções do artista.
"the night also hugs the waves" é um álbum que revela a vulnerabilidade do cantor mais novo da família Moore, e o leva a explorar sua própria jornada emocional de forma pública, expondo um pouco de sua vida e relacionamentos famosos. É uma obra de alt-rock e alt-pop que se destaca pela sinceridade e profundidade das letras e da música. E sem dúvidas uma adição notável a esses gêneros, seu cenário e cativa os ouvintes com sua autenticidade e complexidade emocional.
wildfire: Esta música dá o tom do álbum com sua letra refletindo a complexidade emocional de terminar um relacionamento. A metáfora do “incêndio” capta a ideia de que algumas conexões não podem ser contidas como as chamas da pessoa que ele canta sobre. A produção da música complementa o tema, criando uma melodia melancólica, porém cativante.
the night also hugs the waves: A letra investiga o sentimento de inadequação de Kyle e o medo da vulnerabilidade nos relacionamentos. Os versos retratam alguém que foge rapidamente, evitando a dor de ser ferido. Musicalmente, mantém uma atmosfera reflexiva e levemente sombria, ganhando asas maiores que vão se construindo para a próxima faixa.
white lines: A artista injeta sensualidade e saudade no álbum com esta faixa. A comparação inteligente entre intimidade e cocaína cria um elemento provocativo, e o andamento e o ritmo otimistas da música tornam a faixa em uma das mais envolventes e mais dinâmica do projeto.
hard rain: "hard rain" é uma música mais introspectiva e autorreflexiva. Ele discute como a perspectiva e a compreensão podem evoluir com o tempo e a introspecção. A crueza das emoções é palpável e os vocais do artista transmitem a intensidade da música de forma sólida.
ocean eyes: Esta faixa explora o fascínio e a obsessão por alguém, capturando a atração emocional e física. A letra evoca novamente as sensações de saudade e paixão. É uma música lindamente elaborada que mostra a profundidade das emoções do cantor.
lantern: Refletindo sobre as escolhas da vida e as versões idealizadas das pessoas, as imagens criadas aqui são vívidas e o tom reflexivo do artista cria uma atmosfera comovente. É sem dúvidas, a melhor das faixas do projeto pelo seu forte tema e cruéis letras.
so this is love: A música investiga o complexo reino da traição e as consequências inesperadas de se apaixonar durante tal situação. As letras são carregadas de emoção e oferecem uma perspectiva diferente sobre os relacionamentos. Musicalmente, é uma das mais cativantes e envolventes, trazendo o tom provocante de Kyle que o deixa um pouco mais interessante.
not worth of thinking of: Esta faixa é profundamente introspectiva, transmitindo o sentimento de arrependimento e as emoções complexas que cercam as ações do passado de Kyle. A emoção crua nas letras e a entrega sincera criam uma peça realmente comovente e solene.
AAAAAAAAAAAH: Consegue capturar a dicotomia de buscar o amor enquanto se duvida do próprio valor. O repetitivo “AAAA” ressalta a turbulência emocional e adiciona um toque único. Apesar de não conseguir emplacar algo tão sólido quanto às faixas anteriores e suas letras.
broken beyond repair: O álbum termina com uma música carregada de emoção que parece um apelo para ser compreendido e perdoado pelos erros do passado. É uma forma poderosa de encerrar o álbum, deixando tudo com uma sensação de reflexão em seu fim.
Nota: 86
Escrita por: Renato Venturi
"The Night Also Hugs the Waves" é um álbum que mexe de forma visceral com o próprio conceito de vida. Escutá-lo é como um passeio por momentos difíceis, por todos os nossos corações partidos, por todas as lembranças que preferíamos esquecer. Possui um começo suave que gradualmente se intensifica, nos dando a sensação de uma passagem de tempo intrínseca de uma vida toda em apenas 10 faixas. As composições transmitem a vibe dos seus devaneios e desabafos, que você só consegue fazer consigo mesmo, indo de gritos de raiva misturados com tristeza para um abraço simples e quentinho no momento em que mais precisamos. A vibe geral que este álbum transmite é que algumas coisas na vida a gente não consegue consertar, mas está tudo bem."The Night Also Hugs the Waves" é mais do que música; é um pedaço da vida de cada um que o escuta. Cada música nos conta uma história que já vivemos, vamos viver ou já nos imaginamos vivendo. O álbum vai além da música; são sentimentos que nos fazem sentir mais vivos.
Nota: 77
Escrita por: Nadja Burgees
Em "The Night Also Hugs The Waves" Kyle se mostra um romântico assintomático e melancólico e muitas vezes confuso, talvez haja uma pomada para isso.
Talvez Kyle Moore dispense apresentações pelo sobrenome que carrega e por talvez outras relações interpessoais dentro da indústria. Mais até do que pelo seu nome e carreira própria, o artista vem só agora recebendo um reconhecimento moderado e conquistando alguns números notáveis nas tabelas, o que antes não acontecia e não era a ideia de Kyle como um artista. Talvez as contas finalmente estejam chegando na casa do Moore.
E aqui está o primeiro trabalho dele, seu álbum de estreia lançado ainda em 2027 em setembro. O disco contém 10 faixas e é a personificação do garoto tímido da escola, há uma beleza é um mistério que encanta, mas se você chegar muito perto as coisas podem ficar esquisitas.
Quando damos play em Wildfire, vemos um Kyle confiante de que é uma relação conturbada e até mesmo psicologicamente violenta, a estrutura da música é bem simples, rimas previsíveis e uma estrutura pequena de faixa, mas ainda tem uma agradável atmosfera que nos prende no refrão. Embora nada nessa faixa grite que ela deveria abrir o álbum.
The Night Also Hugs The Waves é um hino para os "quitters" desistentes de mão cheia como Kyle. A música toda parece que nos joga em labirinto dentro do inferno pessoal de Kyle, é quase angustiante ouvir o miado arrastado do rapaz a cada linha escrita. Curiosamente, essa faixa é mais interessante que a anterior, e cumpriria bem o papel de abertura.
Kyle nos guia da melancolia até a luxúria de White Lines. Nas notas do autor ele diz que as drogas e o tesão fazem parte dele, o que é profundamente triste em relação às drogas, pois isso revela o vácuo que Kyle alimenta dentro de si, e parece gostar disso com uma afirmação dessas. No mínimo irresponsável em todos os quesitos, mas ele já sabe disso. Ele também diz que tem um marido e um filho e que os ama muito, provando o que ele mesmo disse na faixa anterior, Kyle Moore é um quitter profissional. Quando ouvimos a música podemos apreciar um instrumental extremamente delicioso, é um orgasmo sinfônico aos ouvidos até mesmo dos leigos, em contrapartida é uma das letras mais vagas e desconexas que o disco apresentou. A única explicação plausível é a que Kyle fez essa música chapado (o que não deve ser mentira) e não voltou para revisar.
Em "Hard Rain" Kyle justifica uma merda que ele fez - que nós vamos apenas supor qual foi - e que esteve em processo de se perdoar. Ele aprendeu a parar de se culpar pela escolha que ele tomou pois ele teve um motivo e as razões dele que só respondem a ele. Essa aqui possui algumas linhas muito boas, mas tem versos que me dão um certo desconforto interno, quase como uma espécie de cringe ou de "argh lá vai ele de novo", mas no final o saldo que fica é o de que é uma música interessante que cresce com o tempo no quesito.
Nada para ver em "Ocean Eyes" apenas o Kyle com muito tesão. Aqui ele divaga sobre como é bom amar essa pessoa e como essa conexão sexual foi boa, quase um contato do além, mas que agora é a vez dessa pessoa procurar por ele, e ele mal ve a hora de estar com o corpo - nas palavras dele - encharcado. Bom, é uma música okay, eu gosto disso, mas me preocupo com a baixa autoestima dele nessa música. Querido, não espere por ninguém.
Essa é a minha favorita. "Latern" mostra a busca de Kyle por algo realmente palpável, pela primeira vez vemos um Kyle que possui uma direção e que não está perdido no marasmo da incerteza e na vastidão da insegurança. Ele relata seus traumas herdados de seus pais e conta sua experiência de auto descoberta. É uma grande música, só levou umas cinco na trave pra marcar esse golaço.
"So This Is Love" é tão polêmica, envolve traição, triângulos amorosos, tudo o que o povo gosta. Como não estou afim de me envolver em polêmicas, vou dizer que amei o instrumental e a maneira como Kyle parece se encontrar aqui. Mas a traição nunca é legal. Muito menos usar outra pessoa como pivô!
Em "not worth thinking of" Kyle se questiona sobre o seu próprio valor segundo as expectativas do seu ex-parceiro. Ele pergunta: how did you love me so much now I’m not worth thinking of? questionando provavelmente as promessas e as coisas boas que eram ditas e feitas naquele relacionamento que faziam Kyle se sentir valorizado. Mas da mesma forma que Kyle joga tudo pra cima, diz e faz coisas que não quer e age sem pensar com as outras pessoas à sua volta, pode ser que talvez as outras pessoas possam fazer o mesmo com ele. Talvez ele não te amasse tanto quanto ele dizia.
Em um surto psicótico "AAAAAAAAAAAH" nos aparece como uma diversão. Sério, quando Kyle viaja na maionese é quando ele consegue apresentar os trabalhos mais interessantes. Quando ele está vulnerável e triste eu acho que ele deixa as emoções tomarem conta dos sentimentos e as letras acabam não ficando claras tanto quanto as músicas que ele sente tesão ou sei lá, tá travado de pó. Mas aqui ele cria todo um paradoxo e podemos concluir que no final de tudo o Kyle é apenas uma criança solitária, ninguém disse isso além dele mesmo, então eu acho que isso basta. É uma música que no geral figura nos destaques positivos.
Fechando temos "broken beyond repair" é o hino nacional da coitadolândia. Kyle diz que a faixa é como um pedido de ajuda, não propriamente de ajuda, mas ele queria deixar claro que fez coisas terríveis mas isso não faz dele uma pessoa terrível, e nem um artista terrível. Ele diz que queria apenas ser ouvido, e após nove faixas ouvindo Kyle desabafar copiosamente em nossos fones de ouvido é interessante pensar se ele tem tanta coisa para falar assim. Kyle pragueja contra seu amor, alertando que se ele não voltar logo ele vai perdê-lo pra sempre, honestamente eu duvido. Kyle Moore em seu álbum pode ser tudo: desequilibrado, confuso, traidor, carnal, apaixonado, nervoso, ciumento, melancólico e até mesmo paranóico, mas ele não é uma má pessoa. Assim como "The Night Also Hugs The Waves" pode ser triste, inexpressivo em algumas partes, repetitivo em outras, um pouco desorganizado e justificativo até demais, mas ele não é um álbum ruim. No mais, há um remédio para o seu problema Kyle: Amor próprio três vezes ao dia, e nunca mais chegar perto de ondas novamente.
Nota: 98
Escrito por: Bane Lee
O álbum "the night also hugs the waves" é completamente fora de série, excepcional, extraordinário, fora do comum. Chego a ficar arrepiado em pensar como um artista iniciante consegue estrear na indústria com um material tão extremamente refinado, próprio, irreverente, original e principalmente, pessoal.
Sendo irmão de Harmon Moore, de cara já seria extremamente difícil para Kyle evitar comparações indevidas, ou ao menos, esperar que fosse esperado que ele atingisse o mesmo grande sucesso comercial com sua estréia como Harmon Moore alcançou com a sua estréia, com o álbum Clueless, mas logo de cara, os dois irmãos se mostram extremamente competentes, mesmo que sigam direcionamentos completamente opostos em todos os aspectos de suas carreiras musicais, mas uma coisa que os dois definitivamente tem em comum, é a maneira visceral que conseguem imbuir sentimentos intensos nas letras que escrevem, e em todos os aspectos de suas personas artísticas.
Um título como "the night also hugs the waves" definitivamente parece ter mais significado do que apenas palavras juntas. Apesar do significado ser bem mais explorado metaforicamente na faixa que possui o mesmo título, a frase abraça de forma extremamente incrível o conceito emocional do álbum, sua sonoridade, seus visuais, suas letras, e toda a identidade que é criada a partir destes elementos.
A capa do álbum é uma das representações visuais mais lindas que vi em muito tempo; Kyle está submergido em água até a cabeça, apenas com os olhos de fora, estes bem marcados com olheiras escuras, que contrastam com o turquesa vívido da íris logo acima. O cenário é simples, basicamente sendo o cantor num oceano sombrio debaixo de um céu escuro, como se tivesse uma grande e terrível tempestade iminente, prestes a desabar sobre ele. A forma que a pele clara e pálida de Kyle contrasta potentemente com o cenário escuro é ainda mais realçada pelos nuances coloridos que aparecem na água, como se fosse uma poça de óleo flutuando no oceano, tudo isso complementado com uma tipografia simples e eficaz: uma tipografia que emula os caracteres de uma máquina de escrever, mas com um efeito como se a tinta estivesse vazando a cada vez que a máquina acerta o papel com os tipos. Além disso, é notável como, mesmo sem espaçamento adequado entre o nome "kyle" e o nome "the night also hugs the waves", a distinção de cores distribui o ênfase muito bem, principalmente somado ao reflexo da tipografia na água, distorcido e colorido, assim como a poça de óleo mencionada antes. Sim, provavelmente estou elaborando de mais nos elementos visuais, mas é sempre bom pontuar como estes elementos são intrinsecamente importantes para um artista, e como tantos elementos visuais juntos conseguem construir uma identidade tão sólida, para um álbum com uma sonoridade igualmente consistente.
A abertura do álbum fica com a magnífica "wildfire", faixa absolutamente aclamada, sendo uma das únicas a atingir a pontuação máxima na Best New Track da semana que foi lançada, e absolutamente com todos os méritos merecidos. A letra carrega um sentimento pesado e triste de ter que deixar alguém ir, de apenas assistir a pessoa se tornando cada vez mais distante enquanto busca pela própria felicidade, e por amar tanto a pessoa, entender que a auto descoberta implica no final deste amor descrito.
Os vocais de Kyle soam quase mórbidos em cima do instrumental calmo e sereno, realmente fazendo parecer que uma situação trágica se estendeu por tanto tempo, que o sentimento se tornou morimbundo, dolorido demais para segurar, intenso de mais para matar, então a solução escolhida foi apenas esperar o tempo criar seu rumo e inevitavelmente separar os laços. Poderia passar muito tempo falando de wildfire, já que sem dúvida é uma das músicas mais geniais do projeto, mas há tanta coisa incrível no "the night also hugs the waves" que seria redundante estender ainda mais aqui.
A faixa título vem logo em seguida, usando os elementos que "wildfire" deixou para pintar consistentemente a magnífica e dolorosa paisagem sonora do álbum. Como um todo, o álbum soa como passar uma madrugada fora de casa, remoendo sentimentos tão depressivos, amenizando a dor com festas, álcool e drogas, mas no instante que sua memória se recupera, tudo parece voltar a doer e desabar, então o que resta a se fazer é continuar tentando e tentando se manter retardado o suficiente, num lugar onde a dor não consiga lhe alcançar. Isso é, em partes iguais, extremamente trágico e extremamente genial.
Em "the night also hugs the waves" Kyle molda sua tristeza nas letras, em um dilema muito interessante: na letra, Kyle admite em diversas partes como se torna uma pessoa imatura quando sua cabeça começa a se encher de ansiedade e insegurança, e como isso faz ele destruir as coisas que ama; intrinsecamente, admitir isso de forma tão detalhada é um passo na direção de uma maturidade muito consistente: Refletir sobre os erros e os transformar em arte é uma das melhores maneiras de aprender consigo mesmo.
A terceira faixa, "white lines" traz uma metáfora no título. Ao mesmo tempo que a letra compara o prazer carnal com estar chapado e elétrico após usar cocaína (normalmente consumida em fileiras para ser cheirada, fileiras brancas, white lines), a faixa também fala sobre o comportamento de caminhar em cima do meio-fio da rua, voltando para casa depois de uma festa. Quase num surf rock alternativo, a terceira faixa aborda o flerte sensual de duas pessoas que ainda estão se conhecendo, tento aquela química que só existe nos começos de relacionamento, quando o “eu” da outra pessoa ainda é um mistério que você quer descobrir com as mãos e com a boca.
A quarta faixa definitivamente traz o melhor de todos os aspectos do álbum, sendo um dos maiores destaques. A faixa "hard rain" traz um hipnotizante pop eletrônico, alternativo e psicodélico, com a mesma ambientação de rock que as outras faixas trazem, mas com uma roupagem extremamente única. O instrumental eletrônico pulsa até se desenrolar nos primeiros versos da música, como se fosse algo dito com falta de ar, assim como a mensagem que a música traz.
Sendo sem dúvida uma das faixas que mais explora o auto ódio, arrependimento, sofrimento e decisões impulsivas e imatura, hard rain mostra uma incrível visão da perspectiva de Kyle a respeito de seu comportamento, de forma tão honesta que é quase como se um pedaço do coração e do cérebro dele fosse dissecado e transformado em música. A alusão de chuva e tempestade com momentos ruins não é nenhuma novidade, mas definitivamente, com uma narrativa bem construída e vulnerável, é impossível associar hard rain a um chilchê.
A faixa hard rain representa um ótimo momento para se refletir na temática principal do álbum. Todos sempre defendem seus pontos de vista achando estarem certo, e estarem buscando o melhor para própria vida, mas definitivamente o "certo" para uma pessoa não é o "certo" para todo mundo. Kyle destrincha suas atitudes, assumindo de peito aberto e lágrimas nos olhos que ele não tem sido uma boa pessoa, e apesar de justificar suas ações, não põe a culpa em ninguém para assumir as consequências do que ele faz. Esse é um dos pontos que mais coloca em evidência a dinâmica de maturidade x imaturidade que o álbum tem nas entrelinhas.
Revitalizando as influências de rock do álbum, a faixa "ocean eyes" mistura a energia soturna com um fogo sutil, quase como se todas as linhas da música tivessem uma ironia pervertida por baixo das palavras. Seu posicionamento no meio do álbum é perfeito para a progressão da sonoridade, já que carrega todos os elementos alternativos que Kyle carimbou durante as outras músicas, mas colocada sobre a lente de uma revolta amorosa e sexual, com as guitarras presentes na música enfatizando a intensidade da raiva se misturando com o desejo nas linhas da música.
Com o recorde de faixa mais longa do álbum, decorrida em quase sete minutos, a próxima faixa é a intimista "lantern". O instrumental carrega uma guitarra presente por toda sua extensão, repetindo a mesma sequência de acordes, que serve como uma referência direta ao estagno tortuoso representado na letra, onde nada muda, e quando muda, muda para pior, muda para mais triste, muda para os erros acontecendo mais uma vez. Definitivamente, lantern tem uma das melhores letras do álbum; aqui, Kyle chegou no pináculo do intimismo, sendo brutalmente honesto quando a dúvida em relação em relação a o amor que ele quer amar, em relação a vida que ele quer viver, em relação a pessoa que ele quer ser.
Apesar de lantern ter a melhor letra do álbum, também é a faixa que carrega os poucos erros que the night also hugs the waves tem. Uma faixa ser longa não é um problema, definitivamente é uma ferramenta de narrativa que quebra os atuais padrões de músicas curtas e rasas. Porém uma música longa E monótona é definitivamente um problema num álbum que seguia até este momento sendo tão original e bem construído. As guitarras até progridem para mais acordes a medida que a música passa, mas parece que no fim das contas, não realmente sai do lugar. É completamente compreensível que, uma música que fale sobre ainda não estar pronto, ainda precisar se descobrir, tenha este tipo de representatividade sonora, mas realmente, a faixa lantern pesa um pouco de mais a sonoridade do álbum para esta monotonia. A ressalva é a bela finalização da faixa, onde as guitarras se transformam ainda mais para uma melodia emocionante, até a música terminar. Não é uma faixa ruim, mas em um álbum com tantas coisas beirando a perfeição, esta se destaca como uma pequena falha.
Felizmente, o álbum se recupera imediatamente logo em seguida com a faixa "so this is love", outro dos maiores destaques incríveis do álbum. Todas as pessoas envolvidas na construção do cenário musical do the night also hugs the waves fizeram um incrível trabalho em pintar uma visão extremamente genuína e condizente com as composições do projeto. A letra fala sobre a ansiedade de querer viver imediatamente as fases de um amor; mesmo que esteja falando necessariamente de uma traição. A fusão do pop e rock alternativo criam uma energia extremamente singular para a faixa, fazendo o refrão soar expansivo, como se a cabeça estivesse girando, e por um momento, nada no mundo existia além deste amor que mesmo sendo errado, está parecendo um pouquinho mais certo a cada segundo que se passa.
A bridge da música faz ela se transformar, levando um violão mais calmo, conseguindo transformar a mesma melodia que antes era amorosa e tentadora em algo penoso e com notas de remorso, como se desse a entender que, no fim das contas, essa felicidade toda só existe enquanto Kyle finge que não fez o que fez. Isso tudo faz o último refrão soar ainda mais emocional e vulnerável, fechando a música com chave de ouro.
A serena "not worth thinking of" vem logo em seguida, como um momento de clareza após a adrenalina da paixão das outras músicas passar. Apesar de, em todas as outras faixas, assumir honestamente a culpa pelas consequências de suas atitudes, igualmente honestamente, em not worth thinking of Kyle abre seu peito para refletir sobre a parte que não é sua culpa, e também contribuiu para o estado miserável que se encontra agora. A faixa também é longa, contendo quase cinco minutos, mas diferente de lantern, a sonoridade é construída em elementos que conversam com o resto do álbum, não parecendo uma tristeza desconexa, e sim diretamente ligada a tudo que foi descrito até agora. A faixa acaba e parece continuar ecoando na cabeça, com um sentimento de ressentimento muito pesado pairando no ar, quase como num velório. Definitivamente, é outra das melhores composições de Kyle.
Já rumando para o fim do álbum, "AAAAAAAAAAAH" traz uma reflexão um pouco mais filosófica a respeito de como Kyle enxerga sua própria mente. O instrumental tem características que quase lembram elementos de trap depois do primeiro refrão, com uma percussão bem acelerada abaixo da guitarra lenta e arrastada. Completamente atmosférica, a música se encerra com um grito de Kyle sendo afogado pelo instrumental, mais um final extremamente emocional e triste para o álbum.
O álbum termina com a faixa "broken beyond repair", que surpreendentemente, tem elementos que se comunicam com os de lantern, inevitavelmente trazendo as duas de forma mais consolidada para a sonoridade do álbum. Deixando evidente como uma característica proeminente do álbum, a música também a carregada por guitarras deprimentes e lentas. Como se culminasse numa resolução onde Kyle consegue entender ambas partes de uma mesma culpa, broken beyond repair finaliza o álbum de forma extremamente melancólica, assumindo perpetuamente o fim deste relacionamento.
Na noite de 15 de Junho de 2028, a equipe da Ghosted IMG foi até a Paradise Garage, uma discoteca abandonada desde os anos 90 em Nova York. Um fenômeno muito estranho aconteceu assim que a capa do álbum foi projetada na parede do salão principal: mesmo inativo há mais de trinta anos, o globo espelhado pendurado no teto não só começou a girar, como também parecia reluzir as cores da capa, mesmo que o projetor não estivesse apontado para o globo.
A experiência de ouvir o álbum foi incrível; a equipe se deitou no chão da discoteca enquanto o álbum era ouvido, e diversas vezes, alguns dos canhões de luz aleatoriamente se ligavam, deixando o ambiente ainda mais atmosférico e etéreo. O grupo deixou no meio da sala, um espelho de prata para ter uma melhor comunicação com o mundo paranormal durante a execução do the night also hugs the waves, e em diversos momentos, o espelho ficava embaçado, não só refletindo os padrões de luzes formados pelo globo no teto, como também criando desenhos sobre o vidro, assim como brevemente deixando a mensagem “tão bonito, tão triste” escrita no espelho.
A equipe saiu do local extremamente reflexiva com o conteúdo emocional do álbum. Com "the night also hugs the waves", Kyle definitivamente não só criou uma identidade artística extremamente única e interessante, como lançou um dos melhores álbuns deste ano.
Nota: 88
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Kyle chega com uma exploração profunda de emoções pessoais, histórias íntimas e reflexões honestas em seu álbum com uma jornada emocional através das complexidades das suas relações pessoais, além de uma grande busca pelas autodescobertas da vida. Cada faixa oferece uma visão diferente das experiências do cantor, abordando temas como términos de relacionamentos, sentimentos de inadequação, paixão e arrependimento. A música e as letras se combinam para criar uma atmosfera profundamente pessoal do começo ao fim.
Musicalmente, o álbum oferece uma mistura de estilos, desde baladas melancólicas até músicas mais animadas e extremamente provocantes, lugar esse, onde Kyle brilha. A escolha de metáforas e imagens vívidas nas letras contribui para a riqueza das faixas, permitindo com a identificação e conexão mágica com as emoções do artista.
"the night also hugs the waves" é um álbum que revela a vulnerabilidade do cantor mais novo da família Moore, e o leva a explorar sua própria jornada emocional de forma pública, expondo um pouco de sua vida e relacionamentos famosos. É uma obra de alt-rock e alt-pop que se destaca pela sinceridade e profundidade das letras e da música. E sem dúvidas uma adição notável a esses gêneros, seu cenário e cativa os ouvintes com sua autenticidade e complexidade emocional.
wildfire: Esta música dá o tom do álbum com sua letra refletindo a complexidade emocional de terminar um relacionamento. A metáfora do “incêndio” capta a ideia de que algumas conexões não podem ser contidas como as chamas da pessoa que ele canta sobre. A produção da música complementa o tema, criando uma melodia melancólica, porém cativante.
the night also hugs the waves: A letra investiga o sentimento de inadequação de Kyle e o medo da vulnerabilidade nos relacionamentos. Os versos retratam alguém que foge rapidamente, evitando a dor de ser ferido. Musicalmente, mantém uma atmosfera reflexiva e levemente sombria, ganhando asas maiores que vão se construindo para a próxima faixa.
white lines: A artista injeta sensualidade e saudade no álbum com esta faixa. A comparação inteligente entre intimidade e cocaína cria um elemento provocativo, e o andamento e o ritmo otimistas da música tornam a faixa em uma das mais envolventes e mais dinâmica do projeto.
hard rain: "hard rain" é uma música mais introspectiva e autorreflexiva. Ele discute como a perspectiva e a compreensão podem evoluir com o tempo e a introspecção. A crueza das emoções é palpável e os vocais do artista transmitem a intensidade da música de forma sólida.
ocean eyes: Esta faixa explora o fascínio e a obsessão por alguém, capturando a atração emocional e física. A letra evoca novamente as sensações de saudade e paixão. É uma música lindamente elaborada que mostra a profundidade das emoções do cantor.
lantern: Refletindo sobre as escolhas da vida e as versões idealizadas das pessoas, as imagens criadas aqui são vívidas e o tom reflexivo do artista cria uma atmosfera comovente. É sem dúvidas, a melhor das faixas do projeto pelo seu forte tema e cruéis letras.
so this is love: A música investiga o complexo reino da traição e as consequências inesperadas de se apaixonar durante tal situação. As letras são carregadas de emoção e oferecem uma perspectiva diferente sobre os relacionamentos. Musicalmente, é uma das mais cativantes e envolventes, trazendo o tom provocante de Kyle que o deixa um pouco mais interessante.
not worth of thinking of: Esta faixa é profundamente introspectiva, transmitindo o sentimento de arrependimento e as emoções complexas que cercam as ações do passado de Kyle. A emoção crua nas letras e a entrega sincera criam uma peça realmente comovente e solene.
AAAAAAAAAAAH: Consegue capturar a dicotomia de buscar o amor enquanto se duvida do próprio valor. O repetitivo “AAAA” ressalta a turbulência emocional e adiciona um toque único. Apesar de não conseguir emplacar algo tão sólido quanto às faixas anteriores e suas letras.
broken beyond repair: O álbum termina com uma música carregada de emoção que parece um apelo para ser compreendido e perdoado pelos erros do passado. É uma forma poderosa de encerrar o álbum, deixando tudo com uma sensação de reflexão em seu fim.
Nota: 86
Escrita por: Renato Venturi
"The Night Also Hugs the Waves" é um álbum que mexe de forma visceral com o próprio conceito de vida. Escutá-lo é como um passeio por momentos difíceis, por todos os nossos corações partidos, por todas as lembranças que preferíamos esquecer. Possui um começo suave que gradualmente se intensifica, nos dando a sensação de uma passagem de tempo intrínseca de uma vida toda em apenas 10 faixas. As composições transmitem a vibe dos seus devaneios e desabafos, que você só consegue fazer consigo mesmo, indo de gritos de raiva misturados com tristeza para um abraço simples e quentinho no momento em que mais precisamos. A vibe geral que este álbum transmite é que algumas coisas na vida a gente não consegue consertar, mas está tudo bem."The Night Also Hugs the Waves" é mais do que música; é um pedaço da vida de cada um que o escuta. Cada música nos conta uma história que já vivemos, vamos viver ou já nos imaginamos vivendo. O álbum vai além da música; são sentimentos que nos fazem sentir mais vivos.
Nota: 77
Escrita por: Nadja Burgees
Em "The Night Also Hugs The Waves" Kyle se mostra um romântico assintomático e melancólico e muitas vezes confuso, talvez haja uma pomada para isso.
Talvez Kyle Moore dispense apresentações pelo sobrenome que carrega e por talvez outras relações interpessoais dentro da indústria. Mais até do que pelo seu nome e carreira própria, o artista vem só agora recebendo um reconhecimento moderado e conquistando alguns números notáveis nas tabelas, o que antes não acontecia e não era a ideia de Kyle como um artista. Talvez as contas finalmente estejam chegando na casa do Moore.
E aqui está o primeiro trabalho dele, seu álbum de estreia lançado ainda em 2027 em setembro. O disco contém 10 faixas e é a personificação do garoto tímido da escola, há uma beleza é um mistério que encanta, mas se você chegar muito perto as coisas podem ficar esquisitas.
Quando damos play em Wildfire, vemos um Kyle confiante de que é uma relação conturbada e até mesmo psicologicamente violenta, a estrutura da música é bem simples, rimas previsíveis e uma estrutura pequena de faixa, mas ainda tem uma agradável atmosfera que nos prende no refrão. Embora nada nessa faixa grite que ela deveria abrir o álbum.
The Night Also Hugs The Waves é um hino para os "quitters" desistentes de mão cheia como Kyle. A música toda parece que nos joga em labirinto dentro do inferno pessoal de Kyle, é quase angustiante ouvir o miado arrastado do rapaz a cada linha escrita. Curiosamente, essa faixa é mais interessante que a anterior, e cumpriria bem o papel de abertura.
Kyle nos guia da melancolia até a luxúria de White Lines. Nas notas do autor ele diz que as drogas e o tesão fazem parte dele, o que é profundamente triste em relação às drogas, pois isso revela o vácuo que Kyle alimenta dentro de si, e parece gostar disso com uma afirmação dessas. No mínimo irresponsável em todos os quesitos, mas ele já sabe disso. Ele também diz que tem um marido e um filho e que os ama muito, provando o que ele mesmo disse na faixa anterior, Kyle Moore é um quitter profissional. Quando ouvimos a música podemos apreciar um instrumental extremamente delicioso, é um orgasmo sinfônico aos ouvidos até mesmo dos leigos, em contrapartida é uma das letras mais vagas e desconexas que o disco apresentou. A única explicação plausível é a que Kyle fez essa música chapado (o que não deve ser mentira) e não voltou para revisar.
Em "Hard Rain" Kyle justifica uma merda que ele fez - que nós vamos apenas supor qual foi - e que esteve em processo de se perdoar. Ele aprendeu a parar de se culpar pela escolha que ele tomou pois ele teve um motivo e as razões dele que só respondem a ele. Essa aqui possui algumas linhas muito boas, mas tem versos que me dão um certo desconforto interno, quase como uma espécie de cringe ou de "argh lá vai ele de novo", mas no final o saldo que fica é o de que é uma música interessante que cresce com o tempo no quesito.
Nada para ver em "Ocean Eyes" apenas o Kyle com muito tesão. Aqui ele divaga sobre como é bom amar essa pessoa e como essa conexão sexual foi boa, quase um contato do além, mas que agora é a vez dessa pessoa procurar por ele, e ele mal ve a hora de estar com o corpo - nas palavras dele - encharcado. Bom, é uma música okay, eu gosto disso, mas me preocupo com a baixa autoestima dele nessa música. Querido, não espere por ninguém.
Essa é a minha favorita. "Latern" mostra a busca de Kyle por algo realmente palpável, pela primeira vez vemos um Kyle que possui uma direção e que não está perdido no marasmo da incerteza e na vastidão da insegurança. Ele relata seus traumas herdados de seus pais e conta sua experiência de auto descoberta. É uma grande música, só levou umas cinco na trave pra marcar esse golaço.
"So This Is Love" é tão polêmica, envolve traição, triângulos amorosos, tudo o que o povo gosta. Como não estou afim de me envolver em polêmicas, vou dizer que amei o instrumental e a maneira como Kyle parece se encontrar aqui. Mas a traição nunca é legal. Muito menos usar outra pessoa como pivô!
Em "not worth thinking of" Kyle se questiona sobre o seu próprio valor segundo as expectativas do seu ex-parceiro. Ele pergunta: how did you love me so much now I’m not worth thinking of? questionando provavelmente as promessas e as coisas boas que eram ditas e feitas naquele relacionamento que faziam Kyle se sentir valorizado. Mas da mesma forma que Kyle joga tudo pra cima, diz e faz coisas que não quer e age sem pensar com as outras pessoas à sua volta, pode ser que talvez as outras pessoas possam fazer o mesmo com ele. Talvez ele não te amasse tanto quanto ele dizia.
Em um surto psicótico "AAAAAAAAAAAH" nos aparece como uma diversão. Sério, quando Kyle viaja na maionese é quando ele consegue apresentar os trabalhos mais interessantes. Quando ele está vulnerável e triste eu acho que ele deixa as emoções tomarem conta dos sentimentos e as letras acabam não ficando claras tanto quanto as músicas que ele sente tesão ou sei lá, tá travado de pó. Mas aqui ele cria todo um paradoxo e podemos concluir que no final de tudo o Kyle é apenas uma criança solitária, ninguém disse isso além dele mesmo, então eu acho que isso basta. É uma música que no geral figura nos destaques positivos.
Fechando temos "broken beyond repair" é o hino nacional da coitadolândia. Kyle diz que a faixa é como um pedido de ajuda, não propriamente de ajuda, mas ele queria deixar claro que fez coisas terríveis mas isso não faz dele uma pessoa terrível, e nem um artista terrível. Ele diz que queria apenas ser ouvido, e após nove faixas ouvindo Kyle desabafar copiosamente em nossos fones de ouvido é interessante pensar se ele tem tanta coisa para falar assim. Kyle pragueja contra seu amor, alertando que se ele não voltar logo ele vai perdê-lo pra sempre, honestamente eu duvido. Kyle Moore em seu álbum pode ser tudo: desequilibrado, confuso, traidor, carnal, apaixonado, nervoso, ciumento, melancólico e até mesmo paranóico, mas ele não é uma má pessoa. Assim como "The Night Also Hugs The Waves" pode ser triste, inexpressivo em algumas partes, repetitivo em outras, um pouco desorganizado e justificativo até demais, mas ele não é um álbum ruim. No mais, há um remédio para o seu problema Kyle: Amor próprio três vezes ao dia, e nunca mais chegar perto de ondas novamente.