[EUROPE] Agatha Melina vai ao The Graham Norton Show
Jul 24, 2022 13:01:37 GMT
Post by andrewschaefer on Jul 24, 2022 13:01:37 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA DREAMS]
Para divulgar seu mais novo single, Dreams, a cantora e compositora romena Agatha Melina foi ao programa de televisão britânico The Graham Norton Show. Durante a entrevista que concedeu, a artista fala sobre o processo criativo para a composição do carro-chefe de seu quarto álbum de estúdio, ainda sem nome e data de lançamento divulgados.
Agatha: “Dreams” teve um processo criativo extremamente peculiar. Eu estava em uma aula na faculdade, me sentindo extremamente deprimida naquele dia. Para completar, havia comido algo que não me fez bem, então uma dor de estômago estava me atormentando também. O desconforto físico e mental foi tanto que houve um ponto em que simplesmente não consegui prestar atenção na aula, saí da sala e fui para a parte exterior da universidade. Era inverno e estava de noite, então o frio foi muito intenso, estava ventando, lembro que eu estava quase congelando. Peguei o meu celular e abri o bloco de notas, escrevi a primeira coisa que me veio à mente que foram exatamente os dois primeiros versos de “Dreams”. A partir daí, consegui desenvolver toda a música espontaneamente, fluiu tão bem que já quando terminei de escrever eu soube que deveria lançar como um single. Procurei expressar tudo o que eu estava sentindo naquele momento: a escuridão da noite, o frio do inverno, a dor física no estômago e a tristeza que me consumia.
Agatha: Também é válido mencionar um jogo chamado Lily’s Well, que é um jogo feito em RPG Maker, uma engine para criação de jogos que se popularizou nos anos 2000 principalmente no Japão. A maioria desses jogos é de puzzle e exploração e possuem uma jogabilidade bem simples e um design pixelado. Eu havia jogado pouco tempo antes de escrever “Dreams”, acho que algumas semanas antes. Esse jogo conta a história de Lily, uma garota que está sozinha em sua casa no meio de uma floresta, a noite, e ouve uma voz vinda de um poço. Ela sente que precisa ajudar a pessoa que está no poço, mas percebe que a corda sumiu, então você precisa guiar Lily numa aventura de exploração pela casa e pela floresta, procurando coisas que podem servir como cordas como lençóis, correntes, e outros materiais, juntar tudo e tentar descer pelo poço. É um jogo que eu chamo de jogo de tentativa e erro. Se você cria uma corda frágil, ela se rasga e a Lily cai no fundo do poço. Se você cria uma corda pequena demais, a Lily não consegue chegar ao final e algo acontece para que ela caia. Desse modo, você sempre precisa recomeçar, refazer os mesmos passos e tentar novamente com algo diferente. É bem interessante, me deixou fascinada. Inclusive esse é o motivo pelo qual cito um poço na letra.
Agatha: A comparação que fiz da minha vida com o jogo Lily’s Well está justamente na tentativa e erro. Eu sentia que sempre que eu tentava fazer algo, acabava falhando e isso me deixava cada vez mais sem esperança, apesar de um pouco sábia. Mas quanto mais sabedoria seria necessário até obter algum sucesso? Era como uma tortura cíclica sem fim, como o mito de Sísifo, que foi condenado pelo deus Hermes a carregar uma pedra montanha a cima até chegar ao topo. O problema é que sempre Sísifo conseguia chegar ao topo, a pedra rolava até embaixo e ele precisava empurrá-la novamente, mantendo-o preso nesse ciclo eterno. Inclusive estou extremamente desapontada comigo mesma por não ter lembrado sobre o mito de Sísifo enquanto escrevia o meu álbum pois se encaixaria bem com o conceito.
Agatha: Bem, agora vamos comentar sobre a letra de uma forma mais específica. Vou citando os versos e comentando o que preciso comentar a respeito deles.
When did I take this decision?
Have I lost my long sight vision?
I admit that I used to be stronger
When I was naive and younger
Agatha: Esses dois primeiros versos foram os que falei que escrevi assim que saí do interior da faculdade, e foi a partir deles que compus todo o resto da música. Não vou entrar em detalhes sobre a decisão da qual falo aqui por razões pessoais e de preservação de imagem, mas podemos resumir a desistir de algo que seria benéfico no futuro. O motivo dessa desistência está relacionado ao que expliquei com o jogo Lily’s Well e o mito de Sísifo, uma longa série de tentativas que terminam em erro. O que não mencionei é que além de ficarmos mais sábios após cada tentativa, também ficamos cansados e conforme amadurecemos a força de vontade e o brilho no olhar passam a sumir, por isso canto que costumava ser mais forte quando era inocente e mais jovem.
I climb down into the dark well
Where I’ve poured my tears
It feels like I’m abandoning myself
Because neither me is here
Agatha: Esses versos referenciam o jogo Lily’s Well e falam sobre auto-sabotagem e abandono. Quando você desiste de si mesmo e desiste de seu futuro, você se abandona. Você está descendo um poço escuro, fazendo uma tentativa, onde uma vez derramou suas lágrimas provenientes dos erros, ou seja, está fazendo uma jornada tortuosa e cansativa. O fato de não ter nem a si mesmo para se apoiar faz disso ainda mais assustador porque é como se você tivesse perdido o propósito. Você nem ao menos sabe o que há no fundo daquele poço.
This hellish stomachache
I do smile but it’s fake
‘Cause I forgot what it means
When I learned to neglect my dreams
Agatha: Falo sobre a dor no estômago pois é o que eu estava sentindo no momento e esse é o único motivo para esse verso existir, haha. Esse refrão tem alguns versos bem clichês e de fácil interpretação como o que vem em seguida. Finjo que estou bem, apesar de estar extremamente perdida, confusa e deprimida, então coloco um sorriso falso no rosto porque esqueci o que é sorrir de verdade quando aprendi a negligenciar os meus sonhos. O que seria negligenciar os próprios sonhos? Tem a ver com auto sabotagem, com a desistência da qual já havia mencionado, desistir de algo que vai ser benéfico no futuro. Os sonhos aqui possuem o significado de aspirações, desejos, metas e objetivos.
I keep going down till the bottom
Where I meet my worst sins
It’s a waste to empty out another bottle
‘Cause when I sleep there will be no more dreams
Agatha: O refrão continua e continuamos descendo no poço, encontrando os nossos piores pecados. Como falei, é uma jornada tortuosa que se torna extremamente assustadora de ser feita quando se desistiu do propósito pois você não sabe onde vai dar e simplesmente faz por fazer. Os pecados são a culpa, o arrependimento e a ansiedade que te consomem pois você sabe que está se auto sabotando negligenciando seus sonhos. Os versos seguintes são os meus preferidos em toda a música: “É um desperdício esvaziar outra garrafa / Porque quando eu dormir não haverá mais sonhos”. Novamente não entrarei em detalhes por motivos pessoais e de preservação de imagem, mas gosto como crio essa metáfora entre palavras homônimas, ou seja, que possuem a mesma escrita e pronúncia, mas significados diferentes. Quando se perde o propósito é porque você perdeu suas aspirações, desse modo crio uma ficção lírica assustadoramente vazia: imagina dormir e não haver sonhos com os quais você pode sonhar; da mesma forma imagina viver e não haver metas para alcançar. Tudo se torna sem sentido.
I know this is my only and last chance
But I walk on thorns as if something could change
I lie to myself and to everyone else around me
But the truth is that I’m hurt and afraid of taking risks
Agatha: Aqui eu novamente discuto sobre a tentativa e erro de um jeito bastante melancólico, pois o eu-lírico acredita que nada do que ele fizer pode mudar seu destino, ele continua caminhando sobre espinhos. É uma forma diferente de retratar o poço, a jornada tortuosa que expliquei. Você começa a mentir pra você mesmo e todos ao seu redor, você diz que está tudo bem e continua descendo o poço ou andando sobre os espinhos, mesmo sem um propósito, mas na verdade você já está machucado há muito tempo e só tem medo de tomar riscos. Quais riscos seriam esses? Tentar um caminho diferente, oras! Não sei se parecia óbvio para alguns enquanto eu explicava a música, mas sim, a possibilidade de tomar outro caminho sempre existe e curiosamente foi exatamente sobre isso que eu escrevi no meu primeiro álbum de estúdio, o Chaos. Isso só mostra que ainda não superei totalmente as coisas sobre as quais escrevia no começo da minha carreira.
Have a good night for the rest of time
Now say goodbye, sing your lullaby
And sleep tight to find the light
Useless to fight, just wait to die
Agatha: Não há nada de tão significativo liricamente no bridge da música para ser sincera, apenas conceitualizo mais a metáfora dos sonhos. Quando falo para dormir para encontrar a luz seria para procurar um propósito, mas como já foi cantado lá em cima, não há mais sonhos para sonhar, desse modo é inútil lutar e tudo o que você pode fazer é esperar para morrer.
Crash it, smash it and throw it away
Flash it, hash it, just another day
Stare into the mirror and spit on my face
Regret, repulse over my own name
Agatha: Esses versos simplesmente expressam de uma forma mais direta os pecados que mencionei no refrão: o arrependimento, a repulsa e o nojo de si mesmo.
Yeah, neglect my dreams
Neglect my dreams
Yeah, neglect my dreams
Neglect my dreams
Agatha: Por fim, voltamos a reforçar o ponto principal da música: negligenciar os próprios sonhos. O refrão se repete e a música encerra bem fechadinha, não acho que haja nenhum gancho, nada que precise de outras músicas do álbum para entender completamente. É exatamente isso. Como não detalho em nenhum momento os sonhos dos quais desisti, acredito que é uma música com a qual muitas pessoas podem se identificar, isso me aproxima muito do público.
Agatha: Em meu próximo álbum, explorarei alguns tipos de sonoridade e estilos que não experimentei antes, isso me deixa bastante insegura mas ao mesmo estou confiante em meu trabalho. De todo modo, preferi que o primeiro single resgatasse a sonoridade com a qual os meus fãs já estão acostumados, que é o rock, que venho trabalhando há algum tempo. É uma estratégia boa porque uma mudança de sonoridade abrupta para um comeback após um ano causaria muita estranheza. Eu quero causar estranheza, eu gosto de causar estranheza, mas também preciso vender. Ouçam Dreams agora e já os deixo avisado para a possível estranheza em meu próximo álbum.