[EUR] Plastique explica o Bleach City em talk show francês
Nov 16, 2024 19:11:25 GMT
Post by fakepunk on Nov 16, 2024 19:11:25 GMT
(DIVULGAÇÃO PARA DIRTY IT, BLACK)
Apresentador: Bonsoir à tous! Hoje temos uma convidada especial no nosso palco. Ela é ousada, provocante e está prestes a lançar um álbum que vai dar o que falar! Por favor, deem boas-vindas à inigualável Plastique Condessa! [Aplausos da plateia enquanto Plastique entra, usando uma roupa inspirada no estilo soviético, com detalhes dourados e vermelhos.]
Plastique: Merci, merci. Faz um tempo que eu não venho para a França (risos).
Apresentador: Plastique, seu novo álbum, Bleach City, será lançado em 30 de novembro. O conceito é... ousado, para dizer o mínimo. Pode nos contar mais sobre ele?
Plastique: Claro. Bleach City é uma metáfora para como a elite quer "limpar" a sociedade. Eles usam "alvejante" para remover qualquer coisa que considerem impura — os pobres, ou as pessoas que são indomáveis. Querem criar um mundo perfeito para eles, onde todos sigam o padrão "branco" e "limpo" que decidiram. Mas, na realidade, é uma tentativa nojenta de controle. Passei muito tempo na Rússia, sob o pseudônimo de Bronislava Lavrova, apresentando um programa sobre ursos polares — outra história absurda da minha vida, diga-se de passagem. Essa vivência me influenciou profundamente. Vi o impacto do controle estatal da Rússia, da supressão, aquela Rússia que conhecemos do Vladmir Putin, e quis trazer essa discussão em forma de música.
Apresentador: Esse conceito de uma sociedade que "limpa" as camadas inferiores com alvejante, criando um "mundo mais branco", é perturbador e, ao mesmo tempo, fascinante. De onde veio essa ideia tão provocativa?
Plastique: Ah, isso nasceu de um olhar mais crítico que eu comecei a ter sobre o mundo moderno. A elite — seja ela política, econômica, ou até cultural — está sempre tentando nos "moldar". E o "alvejante" é uma metáfora perfeita para isso. Eles querem apagar tudo o que não se encaixa no ideal deles: diversidade, rebeldia, sonhos que fogem do controle. E o pior? Fazem isso com um sorriso no rosto, dizendo que é "para o nosso bem".
Passei meses imersa nesse conceito enquanto escrevia. Olha, passar um tempo na Rússia sob o pseudônimo de Bronislava Lavrova — sim, eu fui a apresentadora de um programa de ursos polares, irônico, né? — me deu uma perspectiva única. Eu vi como o poder se manifesta nos detalhes, nas pequenas manipulações. Lá, como em outros lugares, existe essa tentativa de uniformizar as pessoas, de eliminar qualquer "mancha", como é de exemplo, a política russa sobre as pessoas LGBTQIA+, que não podem se expressar publicamente pois é contra as leis do governo. Foi impossível não me inspirar nisso.
Apresentador: Você diria que Bleach City é uma crítica universal ou direcionada a algum sistema específico?
Plastique: É universal. Não estou apontando dedos só para um sistema, porque o problema é maior que isso. Está nos governos, nas corporações, na própria mentalidade das pessoas. É como se estivéssemos tão acostumados a sermos "lavados" que nem percebemos mais. Querem nos convencer de que ser "branco" — no sentido de pureza, obediência, conformidade — é o ideal. Só que, no fundo, isso é uma tentativa de apagar a alma humana.
Por isso, Bleach City é sujo, e tem as letras extremamente desconfortáveis. Não quis fazer algo "limpo", porque a sujeira é onde a verdade está. Quando você tenta limpar demais, acaba removendo o que é real.
Apresentador: E você mencionou que a elite faz isso com um sorriso. Existe uma ironia no álbum, então?
Plastique: Com certeza. A ironia é a minha arma favorita. Se você ouvir a faixa-título, Bleach City, vai perceber que tem quase um ar de comercial de produto de limpeza, mas com uma letra cruel. É como se eu fosse uma porta-voz desse mundo "perfeito", vendendo a ideia de "purificação", enquanto destruo tudo com sarcasmo. É uma crítica ao fato de como essas ideias de controle são vendidas para a gente de forma tão atraente.
Apresentador: Algo que chamou a atenção foi como a narrativa que permeia o álbum. Parece que ele segue quase como uma história.
Plastique: Exatamente. É uma jornada. No início, temos essa cidade utópica e "perfeita", representada por Bleach City, e como as pessoas que estão sofrendo a opressão entendem e apoiam esse pensamento de que devíamos ser mais “limpos” e músicas como White Enough e Reality Takes a Seat, que mostram como eles fazem isso mesmo sabendo que nunca seremos limpos o suficiente pro conceito deles, mas fazem para nos controlar. Depois, começa a resistência, com músicas como Dirty It, Black e Broken Opera. É o ponto onde a sujeira vira poder.
Tem também The Flute of Hamelin, que é sobre como a elite nos encanta com promessas falsas e com sonhos fabricados, como o flautista que levou as crianças embora. E Soft Bubonic Plague, minha colaboração com Agatha Melina, é sobre a ironia de como a destruição que podemos causar seja como uma “peste negra” para eles. Cada faixa é um capítulo dessa sociedade que, no fundo, é um reflexo da nossa.
Apresentador: Com temas tão intensos, você acha que as pessoas podem ter dificuldade em absorver a mensagem?
Plastique: Provavelmente. Mas essa é a graça. Eu não estou aqui para facilitar as coisas. Bleach City é feito para ser digerido aos poucos, como um veneno que demora a fazer efeito. Quero que as pessoas ouçam, se sintam desconfortáveis, e depois pensem: "Espera aí, isso é sobre mim?"
Apresentador: E qual é a mensagem final de Bleach City?
Plastique: Que a sujeira é onde está a liberdade. Que ninguém tem o direito de te "lavar" para caber no molde deles. E que, às vezes, a única resposta ao controle é o caos. Então, sujem-se. Sujem tudo. Porque só assim vocês vão se encontrar.
Apresentador: Algo que me chamou a atenção em Bleach City é o aspecto visual brutalista do álbum. Você claramente buscou algo cru, quase despojado de ornamentos. De onde veio essa escolha estética?
Plastique: Ah, o brutalismo! Eu amo como ele é honesto, direto. O brutalismo é sobre funcionalidade acima de tudo, sem fingir ser algo que não é. É concreto exposto, sem pinturas, sem enfeites — uma arquitetura que existe para cumprir um propósito, seja ele confortável ou não. Isso combina perfeitamente com o conceito de Bleach City.
O álbum tenta passar sua mensagem de forma crua e funcional, como um bloco de concreto. Não há intenção de embelezar a crítica. A elite não é sutil, então por que eu seria? Quero que as pessoas sintam o peso dessa sociedade “perfeita” que está sendo imposta a nós. Não vou esconder a feiura ou suavizar os temas — porque é exatamente essa verdade nua e crua que quero que absorvam.
Apresentador: Essa abordagem é bem diferente do que a maioria dos artistas tenta fazer, com músicas mais “acessíveis”. Isso não te preocupa?
Plastique: Preocupar? De jeito nenhum. Essa é a ideia. Eu quero que Bleach City seja como um prédio brutalista: imponente, incômodo, mas impossível de ignorar. Não estou aqui para fazer arte que agrada. Estou aqui para fazer arte que grita na sua cara e te faz pensar.
E, na verdade, o brutalismo também é funcional. Ele é direto ao ponto. Por mais pesado que seja, ele não complica o que quer dizer. Bleach City segue essa linha: é cru, mas não confuso. A mensagem está ali, escancarada, sem subterfúgios. A elite quer te lavar, quer te moldar, quer te calar. Minha música está aqui para quebrar esse molde e dizer: “Você não precisa disso.”
Apresentador: E isso se reflete nas letras?
Plastique: Sim, as letras são como blocos de concreto: frases impactantes e sem rodeios. Não estou escrevendo poesia floreada aqui. Quero que as pessoas ouçam e entendam imediatamente, como se uma parede de brutalismo fosse arremessada na cara delas. Em White Enough, por exemplo, canto: You think, the social darwinism was over / But no matter what, you're not white enough / Your heritage isn't pure. É direto, frio, e, ao mesmo tempo, devastador.
Apresentador: O brutalismo muitas vezes é mal compreendido. Acha que isso pode acontecer com Bleach City?
Plastique: Com certeza! E adoro isso. O brutalismo é odiado por muitos porque não tenta ser bonito ou fácil de entender. Ele simplesmente existe, pesado, funcional, e faz as pessoas se sentirem desconfortáveis. Bleach City é isso. Se as pessoas não gostarem, é porque ele fez exatamente o que deveria fazer: as tirou da zona de conforto.
Meu objetivo não é agradar, é fazer com que elas pensem. E se saírem da experiência se sentindo desconfortáveis, ótimo. Isso significa que ainda estão vivas, ainda estão sentindo algo.
Apresentador: Uma abordagem ousada, sem dúvida. Estou curioso para ver como as pessoas vão reagir.
O primeiro single, Dirty It, Black, já está fazendo barulho. É uma revolta direta contra essa "limpeza" proposta pelo álbum, não é?
Plastique: Exato. Essa faixa é meu grito de guerra. A música é uma celebração do caos, da bagunça, da nossa humanidade imperfeita. Porque, honestamente, essa obsessão pela limpeza é insuportável. Quem define o que é "limpo", afinal? É uma música para todo mundo que já se sentiu pressionado a se encaixar nesse molde ridículo.
Um grande exemplo disso, são as pixações. Nós só consideramos como algo “feio” e “incômodo”, pois fomos ensinados que era para isso ser incômodo, não segue a linha caligráfica que é ensinado nas escolas. Logo, é errado, sujo, e deve ser ojerizado.
Apresentador: O primeiro single de Bleach City já está causando impacto — tanto pela sonoridade quanto pela mensagem. O que ela representa dentro do conceito do álbum?
Plastique: Dirty It, Black é o momento de ruptura. Se Bleach City começa apresentando a sociedade controlada, limpa e perfeita, essa música é o grito de quem não aceita isso. É a revolta contra o ideal de pureza imposto pela elite. Eles querem tudo “limpo”, tudo “branco”? Pois bem, eu digo: “Eu quero ser suja. Quero ser a coisa mais imunda que vocês já viram.” É sobre abraçar o caos, a bagunça e a humanidade que eles tentam apagar.
Apresentador: Então, você vê a “sujeira” como algo libertador?
Plastique: Exatamente. Sujeira, no contexto da música, é uma metáfora para a individualidade, para tudo que foge do padrão. Eles dizem que ser “limpo” é ser obediente, ser submisso, seguir as regras deles. Mas quem quer isso? Dirty It, Black é a celebração de tudo que eles consideram inadequado. É a liberdade de ser quem você é, sem tentar se encaixar.
Apresentador: E falando da sonoridade, a faixa é visceral. Como você construiu a letra para transmitir essa energia?
Plastique: Dirty It, Black precisava soar como sujeira — crua, agressiva, incontrolável. Apesar do instrumental ser bem mais orquestral do que eu costumo fazer, para soar como um lamento, a letra é completamente crua.
O refrão é um momento explosivo, uma catarse. É como se toda a raiva e frustração reprimidas fossem liberadas de uma vez. Eu poderia fazer algo mais industrial, mas eu quero que as pessoas prestem atenção na letra, e não no instrumental. Não é para ser uma música “agradável”.
Apresentador: A letra é realmente bem impactante também. Você pode falar sobre alguns versos específicos?
Plastique: Claro! Um dos versos centrais é: “I look inside myself and see my organs are rot / I see my white door I must have it dirtied with blood.” Isso é um desafio direto. Eles podem dizer que eu estou podre por dentro, e talvez eu realmente esteja, mas quando eu me rebelar, irei sujá-los com sangue.
Outro que gosto muito é: “I wanna see it dirtied, dirtied as trash / Black as night, black as leachate” Eu amo como empreguei a palavra chorume nesse verso, pois pra mim, poucas coisas são tão repugnantes como chorume. Eu queria passar essa imagem repugnante e nojenta mesmo.
Apresentador: E o título — Dirty It, Black. Por que essa escolha?
Plastique: Porque é direto, poderoso. Eles querem “branqueamento”, então eu digo: Não, eu vou sujar, vou pintar tudo de preto. É uma inversão do conceito que eles vendem. Também quis trazer essa força visual do preto como algo dominante, como algo que não pode ser apagado.
Apresentador: Você acha que Dirty It, Black tem potencial para se tornar um hino?
Plastique: Eu espero que sim! Não um hino para multidões homogêneas, mas para as pessoas que já estão cansadas de serem apagadas, que querem fazer bagunça, quebrar padrões. Se essa música fizer alguém olhar para si mesmo e pensar: “Eu não preciso me encaixar”, então já cumpri meu papel.
Apresentador: Tem algo que você quer que as pessoas sintam ao ouvir Dirty It, Black?
Plastique: Quero que sintam raiva. Quero que sintam orgulho. Quero que sintam que podem ser tão “sujos” quanto quiserem. E, acima de tudo, quero que entendam que não há nada de errado em ser quem são, com todas as manchas, cicatrizes e imperfeições.
Apresentador: Parece que Dirty It, Black é muito mais do que apenas música — é um manifesto.
Plastique: Exatamente. É a voz da resistência contra um mundo que tenta te “lavar” até você desaparecer. Então, escutem, sujem-se, e façam barulho.
Apresentador: Algo que chamou a atenção também foi a variedade linguística do álbum: inglês, português, francês e russo. Por que essa escolha?
Plastique: Porque eu posso. [Risos da plateia.] Mas, falando sério, cada língua me permite explorar emoções diferentes, também cada um dos idiomas é uma língua que eu falo. Só senti falta de fazer uma música em espanhol para esse disco, mas depois der três discos consecutivos com músicas em espanhol, eu decidi dar um descanso para a minha língua madre.
Apresentador: E temos que falar sobre Épidémie De Danse. Essa música já está sendo apontada como uma das mais intrigantes do álbum.
Plastique: Ah, Épidémie De Danse! Essa é uma metáfora venenosa. Lembra daquela epidemia de dança em 1518? Onde as pessoas dançavam até literalmente cair mortas? Eu comparei isso à nossa jornada de trabalho moderna. A "dança" aqui é o trabalho incessante, o sistema que te obriga a continuar até você não ter mais energia. É uma crítica direta à elite, que lucra enquanto a gente "dança" até a exaustão. Mas, claro, tudo isso embalado em um ritmo viciante. Porque se vamos morrer dançando, que seja com estilo.
Apresentador: Essa mistura de idiomas não apenas reflete sua diversidade cultural, mas também tem um impacto na musicalidade do álbum, certo?
Plastique: Exatamente. Eu senti que cada faixa que eu escrevi em uma língua diferente do inglês tem um peso próprio, e faz esse álbum ser muito mais que um álbum inspirado na música soviética, ou um álbum para os russos, e sim um álbum global, onde pessoas de diversos países podem se identificar com músicas sendo cantadas na sua língua nativa, e é um dos fatores que eu mais amo sobre esse disco.
Apresentador: E qual língua tem mais destaque no álbum?
Plastique: Eu diria que o francês e o russo têm um peso um pouco maior, porque eles estão ligados a dois dos conceitos centrais do álbum. O francês é fundamental na música Épidémie De Danse, que já falamos um pouco. Ali, eu usei o francês para dar essa atmosfera de “alta sociedade”, quase teatral, que contrasta com a brutalidade do conceito. O russo aparece em Стыдно Мечтать (Ashamed of Dreaming), que é sobre as pessoas sendo silenciadas, desprezadas por sonharem demais — e o russo me ajudou a criar esse ambiente mais denso e opressivo, como uma sociedade onde você é punido por ter esperanças. Essa faixa foi escrita especialmente para a Rússia, pois eu sinto que os russos são oprimidos de sonhar.
Apresentador: Falando em Épidémie De Danse, essa é uma das músicas mais intrigantes do álbum. Ela é em francês e traz uma comparação com a famosa epidemia de dança de 1518. Pode explicar um pouco mais sobre essa música e a metáfora que ela traz?
Plastique: Épidémie De Danse é uma das faixas mais... perturbadoras do álbum. Como você mencionou, a inspiração vem dessa história bizarra, onde um grupo de pessoas na Alemanha começou a dançar sem parar até cair mortas. Isso me fez pensar na nossa jornada de trabalho, na rotina diária que te obriga a continuar "dançando", sem parar, até você não ter mais forças. Essa "dança" é o sistema, a elite, que nos manipula para nos manter presos ao trabalho e à conformidade, sem que possamos questionar ou sair do ritmo.
Eu quis que a música tivesse uma sensação quase hipnótica, repetitiva, para simular essa obsessão pela produtividade. As palavras são como um mantra, enquanto a música se constrói e vai se tornando mais frenética. No final, a pessoa que está "dançando" até morrer é você. E o que é mais aterrador do que isso?
Apresentador: É uma metáfora muito poderosa. Agora, voltando para o conceito de múltiplos idiomas no álbum, você usou essa diversidade para refletir o impacto global da mensagem de Bleach City, certo?
Plastique: Exatamente. O mundo não é mais dividido por fronteiras de línguas como antes. A elite controla tudo globalmente, e isso me fez pensar: por que não fazer o mesmo com minha música? Bleach City fala de questões universais — controle, revolta, desilusão — e o fato de que a música pode ser entendida em diferentes idiomas permite que as pessoas, de qualquer parte do mundo, se conectem com essa mensagem.
Além disso, usar essas línguas cria uma camada extra de subversão. Por exemplo, em Стыдно Мечтать, que é em russo, você tem um idioma que muitas vezes carrega conotações de repressão e medo. Quando as pessoas ouvem isso, talvez elas se sintam desconfortáveis, porque sabem que o russo foi, por muito tempo, associado a uma cultura de silêncio, medo e controle. Eu quis trazer isso à tona, jogando com as expectativas e sentimentos das pessoas que falam essas línguas.
Apresentador: Isso faz com que Bleach City não seja apenas um álbum de música, mas uma espécie de experiência cultural global. Como se a música fosse uma forma de resistência multilíngue, não é?
Plastique: Isso mesmo. A música transcende as palavras, mas as palavras ainda têm poder. E se eu posso usar diferentes idiomas para comunicar um sentimento universal de rebeldia, então por que não fazer isso? Bleach City é um álbum global porque o sistema que critico não tem fronteiras. A música é a minha maneira de usar essa diversidade linguística para atingir o maior número de pessoas possível. Seja em português, francês, russo ou inglês, a mensagem é clara: a elite quer nos dividir e nos controlar, mas nós, através da nossa diferença, da nossa "sujeira", podemos resistir.
Apresentador: E, com isso, Bleach City se torna realmente uma obra que, por mais que seja específica em sua crítica, tem ressonância em várias partes do mundo.
Plastique: Sim, e é isso que torna a revolta poderosa. Não importa onde você esteja ou qual língua você fala, a opressão é a mesma. A resistência também pode ser a mesma. E se podemos falar a mesma língua — não importa qual idioma — então podemos criar algo que seja maior que qualquer fronteira
Apresentador: O álbum também traz colaborações intrigantes, como com Agatha Melina em Soft Bubonic Plague e BRÜ em Placebo. Como foi trabalhar com eles?
Plastique: Agatha é um gênio. Trabalhar com ela foi como misturar veneno com a melancolia que somente ela sabe passar — a faixa se tornou algo brutal, mas irresistível. Já BRÜ trouxe um toque de sensualidade em Placebo. A letra continua sendo extremamente pesada, mas BRÜ faz isso soar como se fosse uma música hipnótica, e eu amo isso nela.
Apresentador: Isso realmente amplia a riqueza do álbum, trazendo diferentes texturas e camadas. Agora, falando sobre o tom geral de Bleach City, podemos dizer que ele é sarcástico, sombrio e até um pouco ofensivo, certo? Como você descreveria a tonalidade desse trabalho?
Plastique: Sim, é exatamente isso! Eu diria que o tom de Bleach City é como uma faca de dois gumes. Por um lado, é muito direto, quase cru. Não tenho medo de ser sarcástica, ofensiva, ou de chocar as pessoas. A sociedade nos obriga a engolir um monte de mentiras, e eu estou aqui para devolver esse veneno com uma dose ainda mais forte. Então, o sarcasmo, as ironias e até o humor negro são partes fundamentais dessa resposta.
Por outro lado, a música também tem um tom sombrio e denso— uma metáfora para a sociedade que tentam nos impor. Mas, no fundo, mesmo na escuridão, há uma sensação de libertação. A mensagem é: “Sim, nós estamos sobre máximo controle, mas há beleza na revolta. Há força em não se conformar.”
Apresentador: A provocação e o sarcasmo são, sem dúvida, ferramentas poderosas. Você usa o humor como uma forma de desarmar a audiência, certo? Então o tom do álbum é tanto uma crítica à sociedade quanto um convite à ação?
Plastique: Com certeza. Eu não estou só apontando o dedo para os problemas. Estou dizendo: "Aqui está o que eles fazem conosco, agora o que você vai fazer com isso?" Eu não espero que todo mundo se sinta confortável com a mensagem, porque, honestamente, se você se sentir confortável, então a mensagem não está sendo eficaz. Eu quero incomodar, quero que as pessoas saiam da zona de conforto e comecem a questionar o que está acontecendo à sua volta. O tom é esse: é provocador, desafiador, até um pouco ofensivo, porque a verdade muitas vezes é assim — difícil de engolir, mas essencial.
Apresentador: E como essas colaborações e o tom do álbum se conectam com a estética geral de Bleach City?
Plastique: A estética de Bleach City é como uma parede de concreto que, quando você bate, ressoa de uma maneira quase brutal. As colaborações são parte disso. Elas não são suaves, elas são partes de um quebra-cabeça maior. Cada contribuição traz uma camada diferente à construção dessa cidade fria, essa cidade sem alma que está sendo controlada e manipulada. As faixas não são apenas músicas, elas são manifestos de resistência em várias formas — seja no tom sombrio, no sarcasmo, na tensão das colaborações.
O álbum é uma declaração de guerra sonora contra o status quo, e as colaborações ajudam a dar essa diversidade de vozes a um protesto que, no fim, quer ser ouvido. Bleach City é como uma cidade onde cada rua tem sua própria história, mas todas convergem para uma ideia comum: a resistência ao controle e à manipulação. E cada convidado, com seu som único, é uma dessas ruas.
Apresentador: Parece que Bleach City não é apenas um álbum, mas uma construção inteira, com várias camadas, tanto musicais quanto conceituais. Plastique, é realmente uma obra monumental.
Plastique: Bem, como diz o ditado: "Se você vai fazer algo, faça direito." E eu não estou aqui para fazer mais do mesmo. Bleach City é para quem está disposto a ver o mundo de uma nova forma, para quem está cansado de ser lavado e quer sair com a sujeira na pele.
Bleach City é realmente como um prédio brutalista. Ele está lá, ele vai te incomodar, mas ele vai funcionar em seu propósito, e isso é a única coisa que importa.
Apresentador: Agora que falamos sobre algumas das músicas de Bleach City, gostaria que você falasse um pouco mais sobre as outras faixas do álbum. Vamos começar com a faixa-título, Bleach City. O que você pode nos dizer sobre ela?
Plastique: Bleach City é o ponto de partida do álbum, é onde tudo começa. A ideia da “limpeza” é central aqui. Imagine uma sociedade onde a pureza é mais valorizada do que a humanidade. O "alvejante" é uma metáfora não só para a purificação, mas também para a destruição. A letra fala sobre como essa sociedade está disposta a matar, a exterminar tudo que considera “imundo” em nome de um mundo mais “limpo”. É uma crítica direta ao sistema que propaga essa ideia de perfeição, onde, no fim, a morte é um preço aceitável para manter a “ordem”. Essa música é a base de Bleach City, é como a primeira facada que você dá na ideia de que tudo deve ser limpo, ao custo do que for preciso.
Apresentador: A próxima faixa é Run!. Ela parece ter uma mensagem muito forte sobre o esforço em vão de se encaixar na sociedade. Pode falar mais sobre isso?
Plastique: Run! é uma música que reflete esse ciclo insano que a gente vive. Estamos sempre correndo, tentando ser mais aceitos, mais perfeitos, mais... “limpos” aos olhos da sociedade. Mas, no final, estamos correndo em círculos, sem nunca alcançar o que realmente queremos, porque essa aceitação nunca será verdadeira. A sociedade tem uma linha de chegada invisível, onde ela define quem é digno de estar nela e quem não é. Por mais que você corra, você nunca vai ser bom o suficiente para alcançar essa linha. Essa música é um reflexo do absurdo de tentar agradar algo que está sempre em movimento e nunca vai te aceitar de verdade.
Apresentador: Agora que falamos sobre algumas das músicas de Bleach City, gostaria que você falasse um pouco mais sobre as outras faixas do álbum. Vamos começar com a faixa-título, Bleach City. O que você pode nos dizer sobre ela?
Apresentador: E o que dizer de The Flute Of Hamelin?
Plastique: The Flute Of Hamelin é uma das músicas mais sombrias e satíricas do álbum. Ela faz referência à história do flautista de Hamelin, que usou sua música para controlar e distrair as pessoas. Nesse caso, a elite usa os “mágicos” da sociedade — mídia, entretenimento, políticas vazias — para nos manter distraídos e desinformados sobre o que está realmente acontecendo. Eles nos oferecem entretenimento e um monte de mentiras enquanto nos mantêm aprisionados em nossas próprias vidas miseráveis. A música tem uma pegada mais lúdica e manipuladora, como se estivéssemos dançando ao som dessa flauta, sem perceber que estamos indo para o abismo.
Apresentador: A próxima faixa é White Enough. Parece que você está falando de padrões de aceitação novamente, mas de uma forma diferente.
Plastique: White Enough é uma crítica direta ao racismo estrutural e a ideia de que a sociedade só aceita algo ou alguém se estiver dentro dos padrões de “pureza” que a elite impõe. O “branco” aqui não é só sobre cor de pele, mas sobre estar dentro da norma, dentro daquilo que é considerado “aceitável” e “limpo”. A letra fala sobre como, mesmo que você tente se encaixar, nunca será “branco o suficiente” para agradar a essa elite. Eles criaram um padrão impossível de atingir, e essa música reflete a frustração e a exclusão de quem não se encaixa nesse molde.
Apresentador: Em Soft Bubonic Plague, você tem uma colaboração com Agatha Melina. O que essa música significa dentro do contexto do álbum?
Plastique: Soft Bubonic Plague é uma das músicas mais provocativas e poderosas do álbum. Ela fala sobre como a sociedade, se se rebelasse, seria como uma “peste bubônica” para a elite. A música coloca a revolta popular como uma ameaça iminente, um vírus que se espalha e destrói tudo que a elite tenta controlar. A colaboração com Agatha Melina foi incrível, porque ela tem essa vibe mais etérea, e eu queria que a música tivesse uma sensação de algo inevitável, mas também sutil, como uma peste que se espalha lentamente, mas com uma força destrutiva. A letra fala sobre a possibilidade de uma revolta, de como a população, mesmo sendo oprimida, pode ser a força capaz de mudar tudo.
Apresentador: E Broken Opera parece ser uma música interessante. Pode explicar melhor?
Plastique: Broken Opera é uma crítica à ideia de arte elitizada. A elite aceita apenas o que é erudito, o que é “limpo” e “refinado”. Tudo que é marginalizado, que vem das classes mais baixas, é desvalorizado e visto como inferior. Eu usei a metáfora da “ópera quebrada” para ilustrar isso — a ideia de que a arte que não segue o padrão estabelecido é quebrada, está fora de lugar, não se encaixa. É uma crítica ao sistema que decide o que é belo, o que é legítimo, e ao mesmo tempo despreza tudo que vem da resistência, da rua, da periferia.
Apresentador: Стыдно Мечтать (Ashamed of Dreaming) como você disse anteriormente, é uma faixa muito forte. Como você explicaria essa faixa?
Plastique: Стыдно Мечтать é sobre como a elite se apropria dos sonhos, fazendo com que as classes mais baixas apenas se contentem em sobreviver. Não temos o direito de sonhar. O proletariado, na visão dessa sociedade, só tem o direito de trabalhar, pagar suas contas, e morrer sem jamais aspirar a mais do que isso. A música fala sobre como os sonhos e as esperanças foram retirados de nós, pois eles são privilégio de quem já está no topo. A letra em russo reforça essa ideia de repressão, de que o sonho é uma exclusividade para aqueles que estão na classe dominante, e os outros não têm permissão nem para imaginar uma vida melhor.
Apresentador: Agora, Placebo, com a colaboração de BRÜ. Você está fazendo uma crítica ao consumo de falsas soluções, certo?
Plastique: Placebo é exatamente isso. A elite tem o poder de nos oferecer soluções falsas — e o que eles vendem como “cura” é, na verdade, um placebo. O sistema nos dá promessas vazias, como uma pílula que não faz efeito, mas que nos deixa satisfeitos por um momento. Eles dizem que estão nos “limpando”, nos “curando”, mas na verdade, só estão nos enganando para que continuemos a aceitar o sistema como ele é. A colaboração com BRÜ traz uma sonoridade melancólica também, que reflete exatamente o impacto da falsidade dessa solução que nos é imposta.
Apresentador: E para fechar, Reality Takes a Seat.
Plastique: Reality Takes a Seat é a realização de que nunca seremos realmente “limpos” aos olhos da elite. Eles brincam com o conceito de purificação e, no fundo, a única coisa que querem é nos controlar e entreter com esse jogo de ilusões. A letra fala sobre como esse processo de purificação é apenas um espetáculo, uma distração, e no final, somos só mais uma peça desse jogo de controle. A ideia de “realidade” se assentar aqui é como uma aceitação amarga de que, embora possamos lutar, o sistema está em funcionamento e a luta é eterna. É uma reflexão sobre o poder do sistema e como ele sempre estará à frente de nós, não importa o que façamos.
Apresentador: Plastique, uma última mensagem para seus fãs sobre Bleach City?
Plastique: Não esperem encontrar conforto nesse álbum. Bleach City é como beber vodka direto da garrafa: vai queimar, mas pelo menos você vai sentir algo real. Eu quero que as minhas letras causem a sensação de que o alvejante realmente está nos corroendo, porque ele está.
Apresentador: Merci beaucoup, Plastique! Mal podemos esperar para ouvir o álbum completo. Bleach City estará disponível em 30 de novembro. Até lá, continuem sujando, pessoal!