Ninette Silk - Silk
Nov 11, 2024 19:11:27 GMT
Post by Ramprozz on Nov 11, 2024 19:11:27 GMT
Nota: 98
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Finalmente o tão aguardado álbum de estreia de Ninette Silk foi lançado e temos a honra de poder ouvir o trabalho da cantora europeia. O disco aborda temas como tristeza, raiva e decepção, que são considerados mecanismos de defesa de alguém que acabou de sair de uma relação amorosa. Ninette compartilha suas experiências pós amor e trata de assuntos considerados tabus para muitos como o sexo casual para preencher o vazio deixado pelo fim de um relacionamento. Indo além, como a busca incessante por alguém que vá fazer o seu ego subir, e até declarações de raiva que ela têm ao pensar sobre o relacionamento póstumo.
SEXY DÉPRESSION FRANÇOISE, faixa que abre o álbum e que é uma colaboração com o grande rapper e idol coreano, KJ, é a faixa perfeita para começar esse álbum. A música fala sobre como mesmo que eles estejam fodidos da cabeça e completamente afogados na depressão, ao menos eles estão fabulosos e isso nada e ninguém poderá negar ou tirar deles. Algumas partes do refrão são cantadas em francês, mostrando como se deve sofrer após um término de um relacionamento conturbado de uma maneira francesa de ser.
Os vocais de ambos fazem uma harmonia de arrepiar junto com a batida frenética e infernal, me senti pegando fogo enquanto ouvia esta faixa.
I FUCKED EVERYONE com participação do queridinho global, Lucca Lorgdan, é uma faixa que fala sobre como o parceiro se irrita com o fato deles já terem relações sexuais com diversas pessoas. O que não faz sentido, visto que isso foi em uma vida passada, antes deles estarem juntos. E não há artista melhor para fazer uma participação especial em uma música sobre sexo casual do que o erótico e sensual Lucca. Embora, Ninette não fica para trás, embora divida a música com uma das estrelas do pop, ela ainda mantém bastante presença na faixa e mostra para o que veio.
PHYSICAL EXPOSURE fala sobre como durante o relacionamento a pessoa fez de tudo para podar Ninette, pois ele sempre a chamou de vadia, fez ela odiar todos os amigos dela, tudo isso para poder agradar o parceiro. Agora que eles terminaram ela se sente livre para poder ser ela mesma sem ter que ficar fingindo algo ou alguém que não é, enquanto deseja poder voltar a ter contato com as pessoas e falar sobre todas as coisas da vida.
A canção possui sintetizadores que casam perfeitamente, é como se Ninette mostrasse para uma certa cantora alemã, como fazer uma música boa de verdade e não se vender para um produtor de péssima índole e deixar de ser criativa e original.
LAME DATE com participação especial de Apollyon é uma faixa divertida onde os dois cantam como se estivessem indo em um encontro onde tudo que eles querem fazer é fuder sem nem saber o nome ou qualquer outra coisa relacionada a vida pessoal da pessoa. Isso é muito comum quando terminamos um relacionamento e estamos desesperados por um pouco de afeto, independente de qual seja e não procuramos nada em especial. Qualquer coisa pode e vai servir naquele momento, tudo para satisfazer nossas necessidades e aumentar o nosso ego.
DATING APPS é a quinta faixa do álbum e nela Ninette relata sobre como é divertido e engraçado estar em aplicativos de relacionamentos, pois nele encontramos pessoas esquisitas e malucas e muitas ficam obcecadas pela gente, nos elogiando e amassando nosso ego. O que é mais um vez, algo muito comum quando terminamos um relacionamento e depois de um período queremos caçar homens carentes e necessitados. Baby poderia facilmente lançar essa música, quem sabe não podemos ver uma parceria entre as duas?
USE YOUR LOVE AND DESTROY fala sobre como esse cara acabou com a vida e a sanidade dela. Se ele veio para foder com a cabeça dela, ele nem precisa vir porque ela pode fazer isso sozinha. Mais uma canção onde Ninette relata os conflitos tidos em seu relacionamento passado. A música possui fortes elementos do metal o que torna a música excelente e divertida.
Em SOFEST ANGER, Ninette coloca toda sua raiva para fora enquanto fala como seu ex namorado era insuportável e testava sua paciência, e que quanto mais ele irritasse mais ela faria de tudo pra acabar com ele. Nada é mais assustador do que uma mulher em fúria e acredito que seu ex não terminou em uma situação agradável. Novamente os elementos de rock e metal estão presentes, sendo perfeitos para demonstrar o sentimento de raiva que a cantora sentia.
SOUTH POLE é uma faixa que fala explicitamente sobre um ato sexual, onde ela fala que não é todos que conseguem levar ela para o polo sul, um claro trocadilho com o fato de que os homens possuem dificuldade em fazer as mulheres chegarem ao orgasmo e gozar. A batida é bem sensual, nos levando a imaginar que estamos em um quarto escuro com uma luz vermelha perguntando se o nosso parceiro é capaz de fazer tudo que prometeu.
CONCRETE BOYS é um hino para as garotas de corações quebrados que a única coisa que pode fazer eles colarem novamente é porra. Ninette segue fielmente o tema proposto para seu álbum e em como nós ficamos perdidos depois de um término e fazemos coisas absurdas, o que pode soar um pouco repetitivo sim, mas a cantora inova sonoramente e escreve letras divertidas que te dá vontade de ir para a balada mais próxima e passar a noite dançando todas as músicas do álbum enquanto bebe e cheira pó.
O álbum se encerra com a faixa CANNIBAL, onde ela relata que sabia que este rapaz estava observando seu relacionamento acabar para poder ir ao abate e devorar a cantora. E pós um término, não há nada melhor do que uma foda fácil para nos sentirmos desejados novamente. O uso da palavra canibal é usado no sentido de que ele devore ela de todas as maneiras sexuais possíveis e a faça esquecer que um dia esteve sofrendo na mão de um babaca e não há fome maior do que aquelas pessoas que espreitam o relacionamento alheio.
SILK é definitivamente um dos álbuns mais divertidos do ano, provando e mostrando que Ninette Silk não veio para brincar e crava sua identidade e sonoridade na indústria da música. Não pude ficar parado do começo ao fim e não teve como não me identificar com as letras, pois são completamente relacionáveis a vida de qualquer que já tenha passado por um término conturbado e que as nossas ações depois do fim são completamente impulsivas, aceitando qualquer coisa para massagear nosso ego e fazer com que a gente esqueça da dor e da raiva.
Nota: 77
Escrita por: Daniel Frahm
E no meio de uma era plana de lançamentos rasos, sonoramente parecidos, sem profundidade lírica o bastante para te manter preso nos fones de ouvido por mais de 10 minutos, surge um pontinho de esperança no fim do túnel e despretensiosamente nos lembra que a música sobretudo é expressão individual de arte, com significado e propósito e não comprimidos de rápido efeito que são facilmente laváveis como tinta guache barata.
Começando pelo começo, Ninette Silk é um dos nomes que andam borbulhando pelos bastidores dessa grande máquina viva que é a indústria da música. Com uma estética despojada e algumas músicas pré-lançadas ante seu álbum de estreia, Ninette conseguiu pelo menos expressar qual é a sua identidade e qual é o seu valor artístico.
Embora nada do que ela tenha feito seja de fato novo, é muito alivio podermos ouvir, depois de tantos lançamentos, algo que realmente tenha alguma identidade, e que não está ali para cumprir cronogramas e contratos e somar números em cima de números, não, aqui tem algo com um propósito além da metalinguagem, não é só a música pela música.
Vemos esse tipo de viés artístico não coincidentemente na falecida Plastique antes de nos traumatizar (de novo) com o 11 de setembro, tem a ousadia de Sofia, a inteligência de Plastique, a experimentação que é realmente o ponto alto, letras engraçadas e nada “dinosaur coded” e um atestado de que por mais que esse disco não seja um arrasa quarteirão, ele se destaca apenas por ele não ser igual a nada do que ouvimos esse ano.
Não são letras de épocas vitorianas, poesias transcritas em música e nem são hits radiofônicos com refrão chiclete e nem solo de viola sobre uma estrada qualquer nos estados unidos, é apenas uma jovem punk cantando sobre suas experiências amorosas de dar dó, como da querida “Dating Apps” que acerta no nervo sobre os tempos modernos que vivemos. Se fosse outro artista ia ser uma faixa folk de 15 minutos recitando bauman e o amor líquido com vocais cursivos e letras vitorianas e piriri pororó, coisas piegas e absolutamente chatas que não seriam nada perto dos versos “Dating apps make my ego explode, when I think I’m the worst in the world” Quem nunca se sentiu assim?
Talvez ela seja radical demais as vezes em versos como “Dating apps / Just for the people who are lonely enough” ou versos mais como “And if you ask again, I’ll say I fucked your mom” na bizarra (talvez o termo aceitável hoje em dia seja camp) “I Fucked Everyone” com Lucca Lordgan (vê-se o Les Hommes) Não é como se alguém duvidasse disso também. E embora esse radicalismo seja o nervo que a faz singular, temos faixas como “Lame Date” e “Sexy Depression Françoise” que são talvez disruptivas demais a ponto de soarem muito perdidas no meio do disco. Acredito que “Sexy Depression Françoise” seja mais enquadrada nessa observação, pois “Lame Date” ainda consegue expressar através das letras uma história com a qual podemos nos identificar.
Hoje em dia o uso de aplicativos de relacionamento (sem a menor intenção de se relacionar) está cada vez maior. Considerando os artistas convidados, podemos ver claramente o exemplo do Grindr, onde a maioria dos usuários estão lá apenas para amaciar o ego, não querendo nada realmente substancial, e é por isso que “Dating Apps” e “Physical Exposure” são tão legais, sério, me diverti ouvindo um disco e não sentia isso desde que ouvi o “Slay” da Eunji. E é nessa pegada em nos apresentar músicas de fácil entendimento e identificação que Ninette consegue se conectar com o público e é isso que faz a gente prestar mais atenção ainda na música hoje em dia, talvez seja esse o segredo por trás de “Silk” que despretensiosamente arrematou nosso coração.
Nota: 67
Escrita por: Cathleen Prior
Pronta para mostrar a sua arte para o mundo e com muito amor para dar – sim, é a única coisa que ela daria… – para todos, a mais nova revelação europeia da Black Cat Records, subsidiária da Arcade, se chama Ninette Silk. Mesmo que o nome acabe parecendo de uma cantora loira e estadunidense de 45 anos que trabalha em um bar de country e canta no karaokê nas horas vagas, a possível afilhada musical da Plastique Condessa faz totalmente o oposto disso.
Em SILK, a cantora fala sobre relacionamentos amorosos, seus momentos de tristeza e superação. Seguindo aquele velho ditado que coração partido se cola com… cola, ela aborda de um modo bem divertido e bem humorado diversas situações que rolaram com ela, por mais que seja bem triste se analisada de um outro ângulo.
E é óbvio, se é um álbum que fala sobre sexo, teria ele. O álbum inicia com “SEXY DÉPRESSION FRANÇOISE”, colaboração da Ninette Silk com o KJ, e a cantora até canta em francês para que a mensagem da canção seja fixada com gosto na mente de todo mundo. A canção é diferente do que esperava, mas ao mesmo tempo, ela faz muito sentido ser deste jeito. Foi uma maneira interessante de começar o álbum.
E se tem um, tem o outro. Agora é a vez do italiano tomar os holofotes com a Ninette em uma faixa colaborativa intitulada de “I FUCKED EVERYONE”. Bom, o nome já é bem claro sobre o que a canção aborda, e em um pop rock dançante, e a canção brinca com esse tipo de moralismo entre os próprios envolvidos em um relacionamento. Eles dizem que transaram com todo mundo e manda este tipo de comportamento que pode ser obsessivo para longe em uma grande ironia.
Em mais uma fase de um relacionamento, “PHYSICAL EXPOSURE” é um synthpop divertido e combina perfeitamente com momentos dançantes em uma balada. É uma canção que eu vejo sendo feita de lip sync pelas drag queens no RuPaul’s Drag Race, ainda mais pelo fato dela não ser tão explícita assim como as duas canções anteriores, mas ainda deixar claro a sua intenção de ter momentos físicos. Ela é uma das melhores de todo o projeto.
E então, o single de estreia, e consequentemente, o primeiro single do álbum, é mais uma parceria. E com outro gay. Parece que a Ninette está colecionando gays que são abertamente sexuais em suas canções como Ash capturava e colecionava Pokémons. “LAME DATE” fala sobre péssimos encontros que você sempre tem em momentos de carência após um término de sua vida, e é uma canção que, apesar de não soar como a melhor canção para iniciar uma era, ela foi uma boa escolha. Caso tivesse sido trabalhada melhor, poderia ser um sucesso.
“DATING APPS” continua com o mesmo tema da canção anterior – procurar um par amoroso, ou apenas uma distração sexual, em aplicativos. A canção, apesar de ter um instrumental interessante, tem as letras mais vazias do álbum, sendo apenas explorações rasas do tema principal.
Com raiva do seu ex, “USE YOUR LOVE AND DESTROY” é aquela faixa típica de pop rock em álbuns da atualidade sobre ex-namorados. Infelizmente, a partir daqui, o projeto começa a diminuir o nível, passando de um “interessante” para um “inofensivo”. Ao decorrer do tempo, algumas faixas vão perdendo a magia que estava a envolvendo no início do long play. Ela é uma canção repetitiva e que não vai para local nenhum, por mais que tenha um final interessante com a banda.
“SOFTEST ANGEL” é um pseudo-rap com uma banda de rock que, apesar de dar para compreender o assunto que está sendo abordado, a canção entra na lista de “faixas que foram feitas para preencher uma cota, porque se houvesse algo mais interessante, ela não estaria ali”. É uma canção sem atrativo qualquer, e mesmo tendo apenas 2 minutos e 47 segundos, eu torcia para ela acabar a cada momento que passava.
Ninette SIlk dá uma de impersonator da Lola W em “SOUTH POLE” e entra de cabeça no pseudo-rap. Não é uma canção que chame tanta atenção de modo isolado, mas como ela veio após a pior canção do projeto, ela acaba soando um pouquinho mais interessante do que devia.
A DIVERSÃO ESTÁ DE VOLTA. Apesar da empolgação por finalmente aparecer uma canção mais interessante, a faixa é a que consegue abordar melhor este tipo de rap feito pela cantora. “Concrete Boys” é uma canção bipolar, às vezes está no norte, outras vezes no sul, e apesar de ter alguns momentos estranhos, é uma canção que é bem estruturada e tem uma letra um pouco divertida.
E, então, o projeto se encerra com “CANNIBAL”. Em um leve descuido, Ninette acaba caindo na cama de um cara indesejado, mas como ela já está ali, quer aproveitar de todos os modos com o rapaz. É uma canção que cumpre a sua função, que é finalizar o álbum, mas mantém naquele estilo mediano que algumas faixas estavam apresentando anteriormente.
Em SILK, Ninette Silk é bastante intensa, brincalhona e sexual. Algumas das canções são perceptíveis que são apenas desabafos, então há momentos que nem é possível levar tão a sério assim. No projeto, canções boas e ruins coexistem no mesmo espaço, e há uma grande separação entre a primeira metade e a segunda metade e em como o final acaba sendo desconexo com a qualidade inicial. É um projeto com erros, e mesmo não tendo como não traçar um paralelo com a cantora europeia Lola W, é uma estreia que se arrisca em alguns pontos – e isso deve valer para alguma coisa, além de crescimento pessoal e artístico para a morena.