Agatha Melina - Haunted Hallways
Oct 13, 2024 1:48:22 GMT
Post by Ramprozz on Oct 13, 2024 1:48:22 GMT
Nota: 100
Escrita por: -
Haunted Hallways é de uma maestria etérea que não se esperava nem de uma artista do porte da grande Agatha Melina. Com as letras sempre tendo a essência de Melina, a honestidade bruta e todo o existencialismo e a reflexão sobre a humanidade e o que ela significa, tudo sobre o rock que ela sabe fazer muito bem, além de explorar o dark pop e o alternativo, mostrando produções muito interessantes e originais como Chokehold e Treason, além de Echoes, que soa como algo muito solene, divino, é com certeza o ponto mais alto do álbum, o que é uma tarefa difícil já que não existem pontos baixos. O fato é que Agatha é investida nos mínimos detalhes até da ordenação das faixas, Echoes tem um motivo para ser a closing track do álbum, antes, é claro do outro The Departure, que cai sobre Echoes como uma luva e é composta de maneira muito expressiva, ainda que não possua versos escritos. Nunca houve ninguém melhor que Agatha para tornar dores humanas dela mesma ao passo em que torna dores pessoais universais e identificáveis, mas nesse projeto, ela as saboreia especialmente, decide encará-las com a cabeça erguida de uma amazona ao invés de um eu lírico moribundo e cabisbaixo, e assim, ela encontra conclusão e redenção. Haunted Hallways é uma jornada complexa que mostra que Agatha é uma artista que se preocupa com a própria narrativa e consegue construir algo que é quase uma história, um romance (no sentido literário, é claro). Tudo isso regado a poesia pura nos versos das maiorias das faixas, como a ambiguidade de Bittersweet (na qual é necessário destacar como o anseio de querer conseguir sorrir é quase palpável) e como esse anseio transborda até a próxima faixa e a aprisiona em Chokehold, mas a claustrofobia causada por esse aprisionamento (talvez nos próprios pensamentos, exatamente como age a ansiedade) se estende ainda mais em Treason, The Devil, Hostage, Unbreathable e Dead End, tendo o início de seu fim em Hallways. E então, chegamos em Echoes e no que muitos poetas consideram a verdadeira regalia da libertação: a morte e a reflexão quase mitológica de toda a vida que acontece com ela (ou não, é impossível saber, mas pelo bem da afirmação do universo que Agatha criou, vamos assumir que nele isso acontece). Echoes é monumental, tipo, fala sério, "under stars ungluing from the skies, the end of times" é uma das maneiras mais magníficas e puramente belas que algum artista já utilizou para descrever o fim de tudo, é absurdo, é quase ridículo que alguém escreva isso e nem todos sejam capazes de apreciar.
Com isso, Agatha nos deixa algumas lições: parte do que Haunted Hallways ensina é a não ter medo da melancolia e da morbidez, é tudo parte da experiência humana. A arte se perde quando o artista se limita, e nós somos sortudos por testemunhar a evolução da arte de Agatha, uma artista que não ousa barganhar a própria arte pela zona de conforto de seu público, o que nos leva à segunda lição: chega um ponto em que pelo bem da qualidade artística, o risco de não agradar aos menos cultos deve ser corrido. O nível de poeticidade e autenticidade desse álbum é algo que nem todos têm capacidade de apreciar ou sequer entender, mas o mundo dos que conseguem viajar nessa jornada guiados por Agatha nunca mais será o mesmo.
Nota: 100
Escrita por: Magnolia R. Rotenberg
Com o passar dos anos, o significado de "fazer música" se transformou de maneiras magníficas, adotando formas e modelos inesperados para atender quaisquer cenário que a vida moderna cria do dia para noite.
O que se criou raízes sendo um sinônimo da expressão pessoal, entretenimento, ou até mesmo propósito, hoje em dia pode significar mais outras milhões de coisas, sem nenhum resquício do que um dia "fazer música" já significou para a humanidade.
Quis começar a crítica deste álbum refletindo sobre isso, por que mesmo não sendo um dos temas do álbum, o Haunted Hallways de Agatha Melina é um exemplo primoroso de como a transformação artística de um indivíduo pode moldar uma perspectiva que o mundo todo tem.
Olhando para trás, a carreira de Melina já passou por diversas fases, algumas bem mais fáceis de delimitar o começo e o fim do que outras, sendo um recorte direto do cérebro genial Romena artisticamente expõe para o público de forma calculada.
É importante dizer que a Ghosted não reforça o conceito de que arte deve ser sempre útil e com um propósito, sem exceção alguma, mas definitivamente é algo que do meu ponto de vista, como estudiosa da teoria musical há mais de 30 anos, é o que destaca um simples álbum de uma completa experiência, uma música de um momento marcante, e principalmente, uma cantora de uma artista.
Em todos os projetos que lançou em sua vida, Agatha Melina sempre demonstrou ter muito a dizer, muito a mostrar, razões infinitas para justificar que seu objetivo como uma cantora não era só sanar um sonho de uma criança que amava música, e sim, verbalizar os sentimentos sombrios que sentiu durante toda a sua vida, como uma forma emocional de tentar compreender melhor o que cada um deles significa dentro do seu peito.
O apocalíptico Chaos (2019) sempre será lembrado como uma intervenção musical no meio da indústria, como se num evento de gravata-branca, uma mulher estranha chegasse na festa vestindo um vestido preto todo sujo, rasgado, com uma maquiagem maluca, e não importava o objetivo que esta festa tinha no começo, a aura tinha sido permanentemente mudada pelo impacto desta mulher. Até hoje sendo surpreendente pensar que o primeiro single da carreira de Agatha Melina foi uma música de trap, este foi o primeiro recorte sombrio de sua persona artística.
Estranha e agressiva, em Violence (2021), o segundo álbum, Agatha mostrou como sentimentos sombrios podem tanto ser deprimentes quando endurecedores, como a introversão de um indivíduo pode esconder sentimentos colossais e devastadores, fazendo um simples lampejo de emoção se transformar num projeto artisticamente megalomaníaco.
Renegada pelo próprio passado, a dualidade dos projetos Inspire (2023) e Expire (2024) (o qual a Ghosted tem planos de fazer uma review histórica deste último) mostram que, mesmo sem precisar gritar violentamente como no último projeto, sentimentos conseguem ser intensos e assustadores, mesmo com mágoas que te acompanham até o fim dos dias.
No apoteótico Forget Me Not (2023), Agatha revolucionou a indústria de dentro pra fora, criando de forma eviscerantemente emocional um dos discos que entraram para a história da música, de forma extremamente sensibilizante, ao ponto que fazia parecer invasão de privacidade termos acesso a emoções tão íntimas e potentes. Mas toda essa receita foi o maior voo que Melina alçou em um bom tempo.
Subjugado pela confusão da transformação e pela mistura de horizontes novos com reminiscência do que um dia já foi, o álbum Nightmare (2026) retomou as raízes sonoras da cantora, dando para a agonia no peito de Agatha o maior palco que já teve, que deixou muito mais dúvidas do que respostas no caminho.
Da mesma forma que cada salto e tropeço contam como passos na direção do destino, todas estas coisas culminaram no nascimento de Haunted Hallways, o que com toda propriedade do mundo posso descrever como a maior obra-prima emocional que já ouvi em toda minha vida. A honestidade com os sentimentos bons e ruins transparecem em todas as linhas de todas as faixas, como se de alguma forma genial, Agatha tivesse dado um jeito de colocar suas mais intensas sinapses mentais na ponta do lápis enquanto escrevia, e na ponta dos dedos enquanto produzia.
Em 57 anos de vida, não imaginava que ainda iria me deparar com um álbum que mexesse comigo num nível pessoal, não imaginava que algo feito e criado por outra pessoa conseguiria mexer tanto com a minha perspectiva e forma de observar a vida. E por isso, antes mesmo de sequer começar a falar sobre as faixas, digo com todas as letras que para mim, Magnolia Rotenberg, o Haunted Hallways de Agatha Melina é o álbum intenso que já ouvi.
O álbum se inicia com "The Dusk", sem nenhum vocal, apenas com piano, que transmite a ansiedade crescente de quanto um dia se aproxima do fim. Mais do que só uma faixa de piano, "The Dusk" é extremamente inteligente em pintar o cenário que o álbum inteiro irá se passar. Uma faixa com a premissa de definir o humor é sempre um passo extremamente arriscado, e aqui, foi uma decisão incrível para abrir o disco.
O que se associa com a calmaria do piano é subvertido em notas que se repetem numa melodia rápida, constantemente assombrada por uma outra melodia calma e bem mais aguda no fundo da música, o tempo todo trabalhando com a dinâmica de tentar se manter calmo enquanto um medo inevitável se aproxima.
O ambiente alerta criado pela introdução do álbum dá a entender que o terror está prestes a começar, e aqui, é executado mais uma genial manobra de subversão de expectativas, já que o medo não é retratado com um instrumental imediatamente bombástico e agressivo, e sim, transformado num pop melancólico que começa a pairar sobre o ouvinte, na faixa "Arrhythmic". Sem chance de se preparar para lidar com as decepções, a faixa começa como alguém que pede desculpas até por respirar, com a cabeça tão deturpada que é capaz de nem perceber que também está ignorando sua própria individualidade pela ilusão de sempre precisar estar ali por alguma outra pessoa.
"Arrhythmic" fala sobre o sentimento frustrante de estar com a cabeça tão esfarelada ao ponto de nem mais conseguir fabricar uma personalidade falsa para estar presente em uma situação social. Com a introdução das guitarras do refrão, a letra admite as dores de um episódio depressivo onde Agatha toma qualquer medida simplesmente para se distrair da própria existência: procrastinar no telefone, encenar mentalmente situações melhores, e qualquer outra coisa que seja o suficiente para cansar a cabeça ao ponto dela parar de pensar, e finalmente descansar.
Igualmente intimista, "Bittersweet" afunila os sentimentos tristes no pop de piano com leves influências de trap. A faixa mistura perfeitamente a dor de estar ao lado de alguém, e aos poucos ver a pessoa se distanciando de você, mas não por uma briga ou desavença, simplesmente por que a pessoa está conseguindo progredir na vida, vivendo dias melhores, enquanto Agatha lentamente começa a ficar para trás, ainda não tendo a energia para dar os mesmos passos que a pessoa amada.
Mesmo com uma melodia lenta e calma, é notável o desespero na frase "I wonder when it will be my time", como o anseio de estar lutando contra as próprias emoções pelo medo de perder alguém, que neste caso, infelizmente, se torna inevitável.
Levada na perspectiva de amizade ou na perspectiva romântica, "Bittersweet" tem um apelo muito profundo sem deixar de ser suave.
Como se a partir deste acúmulo de sentimentos ruins, mágoas e auto-aversão, mais uma vez a negatividade da tristeza começa a compor sinfonias de sentimentos mais obscuros, e o primeiro deles é orquestrado na faixa "Chokehold". Mesmo sem uma ligação direta, “Chokehold” até pode ser interpretada como um efeito colateral de “Bittersweet”, não só pelo fato de uma vir depois da outra na tracklist, mas também pela conexão que uma música estabelece na outra pelas entrelinhas.
Em "Chokehold", Agatha decora e romantiza de forma metafórica o sentimento de ser tomado pela culpa, e como mais do que apenas "se sentir mal", ela toma conta do corpo e o debilita. É perceptível como a culpa se transforma em algo muito maior do que Agatha consegue controlar, quando nos versos ela descreve as formas que ela mesma tenta buscar dentro de si para resolver e melhorar a situação, mas não encontra nada positivo o suficiente, então acaba sentenciando a si mesma a este sentimento sufocante de achar que, a "incapacidade" de oferecer algo bom a torna culpada de tudo ter se tornado ruim.
Sem a mínima intenção de aplicar algum diagnóstico sem a formação adequada, uma coisa que posso dizer é que em todas as músicas, Agatha descreve sintomas de depressão crônica como coisas cotidianas de seu dia, às vezes sem nem perceber, ou sequer fazer a música ser sobre tais características, o que sempre deixa as cargas emocionais muito mais intensas.
O incrível single "Treason" é a próxima faixa do disco. Já iniciando com um piano dramático descendo a escala musical, acompanhando de murmúrios que não dá para distinguir precisamente se é um riso ou se é um choro, a faixa perfeitamente cria o ambiente fatal para o que Agatha tem a dizer.
Refletindo a dinâmica entre sensibilidade e abuso de poder, mesmo com um instrumental agressivo e um tom frio na voz de Agatha, a narrativa denota cada vez a artista de forma impotente e subordinada, numa situação onde ela parece constantemente precisar se diminuir cada vez mais para simplesmente ter espaço de existir.
A voz de Agatha quase parece dissimulada quando puxa o refrão com "Why does it still feel like treason?", como se fosse um confronto que ela pensou inúmeras vezes sobre como abordar, até conseguir a confiança, mas no momento que fala em voz alta, quase soa como uma ameaça.
Isso é reforçado ainda mais no último verso da música, onde a artista começa a falar sobre o poder de transformar a situação, não só equilibrando a dinâmica de poder, como também fazendo uma imposição sobre toda a manipulação que ela descreveu.
"Treason" também pode ser inserida na sequência de "Bittersweet" e "Chokehold" se for falar da progressão emocional, mas para evitar parecer especulação demais, esse pensamento se encerra aqui.
Se o álbum Haunted Hallways possui algum defeito, este é a interlude "The Devil" não ter sido transformada em uma música completa. A produção pop eletrônica faz a faixa quase parecer uma trilha sonora de um slasher dos anos 80, onde no final do filme se descobre que o assassino mascarado era na verdade a boa menina. Frustrada mas também farta, Agatha canta sobre assumir a culpa, num sub tom sarcástico, quase como se já fosse a milésima vez que ela faz aquilo, mas desta vez, sem realmente ligar tanto assim para a tal culpa.
O sintetizador que entra no pré-refrão e volta no final serve como uma ameaça que está sempre no fundo de tudo que ela fala, sendo praticamente visual o jeito que Agatha parece estar divagando o assunto simplesmente para não dar ainda mais combustível ao fogo. Entre ameaças e a falta de auto indulgência, Agatha conclui que é muito mais fácil concordar do que lutar, mesmo que deixe a entender que, no final das contas, há algo muito maior por trás.
Definitivamente, "Hostage" é um casamento perfeito entre o pop que o Haunted Hallways criou com o rock que Agatha tem enraizado em seu coração. Além de a letra mostrar que a ameaça que silenciosamente culminava em "The Devil" era completamente real.
Misturando a coação com a necessidade de tentar se libertar, "Hostage" narra a situação temorosa de finalmente entender o grande cenário da situação que está inserido, e perceber que ela é apenas "mais um do gado que está sendo criado para o abate".
Na letra, Agatha cita Sísifo, o ensaio grego onde o citado precisa empurrar uma pedra enorme até o topo de uma montanha, só para a assistir rolar de volta até a parte de baixo, e repetir seu castigo de novo e de novo.
É um jeito muito inteligente de, em apenas uma linha, se referir a uma situação tortuosa que se repete todos os dias, mas quase como obrigação, precisa ser feita de forma diligente. Sem mais tanto medo, agora, cauterizada pela dor, Agatha fala abertamente de como essa situação é abusiva, sem mais apontar o dedo da culpa para si.
Já passou tempo o suficiente para considerar "Unbreathable" como a mais nova música de assinatura para representar a carreira de Agatha Melina, já que não só faz uma ode ao som que a cantora sempre trouxe, mas também evolui a maturidade lírica de Agatha a um novo nível.
Tendo sido o primeiro passo da era Haunted Hallways, dado ainda no começo do ano, "Unbreathable" trás uma letra que, mesmo narrando do ponto de vista do oprimido, é agressiva e insana nos discursos que prega, denunciando de uma forma gigantesca o cenário que mencionou em músicas como "Hostage" e "Chokehold".
No geral, a atmosfera da música é toda feita para infringir o medo, como se mesmo sem fazer parte da situação, fosse possível sentir na própria pele o que Agatha está dizendo. O acorde principal das guitarras é modulado e picotado, criando essa sensação de alerta de que há algo errado acontecendo, que é ainda mais enfatizado pela letra da música.
O único momento em que as guitarras deixam de ser inconstantes é quando o refrão explode, junto com o vocal de Agatha que deixa de ser introspectivo e é completamente projetado. Os acordes completos e a letra fazem o refrão de "Unbreathable" parecer um grito implorando por ajuda, intensificando ainda mais a perspectiva na mudança narrativa do álbum.
Inspirada pela obra de Agatha Christie, e acompanhada de um videoclipe que poderia passar nos cinemas, a faixa "And Then There Were None" é uma surpresa extremamente positiva no álbum, sendo uma cara-metade perfeita para a interlude "The Devil", na minha opinião.
De forma muito inteligente, até levemente citando a autora da obra que inspirou a música, "And Then There Were None" faz um trabalho incrível em transformar o cenário em que a história se passa, sem necessariamente estar falando desta história.
A letra de "And Then There Were None" cria este ambiente onde tudo parece ameaçador em algum grau, onde só é seguro dormir se for com um dos olhos abertos, já que algo terrível pode vir até de onde nem se espera. Mais uma das misturas perfeitas de pop e rock que Agatha cria em seu álbum, onde ela repete o título de novo e de novo, como se fossem ecos de uma situação eufórica se repetindo o tempo todo.
Definitivamente, "Dead End" é uma das parcerias que eu nunca conseguiria prever. Junto com Lucca Lordgan outro artista que se compromete com afinco às emoções do que canta, o dueto é como um momento de cicatrização após tantos traumas.
Em várias outras músicas, Agatha já assumiu a culpa por situações tristes que aconteceram, ou até por grandes mudanças que não tiveram o melhor dos finais, mas em "Dead End" tudo isso é refinado de uma forma extremamente madura. Onde antes, Agatha assumia a culpa simplesmente para ser inundada pelos deprimentes sentimentos que ela carrega, aqui, ela parece extremamente sensata e ponderada a respeito de tudo que já aconteceu, finalmente olhando para a situação através das lentes que vão fazer ela aprender com os erros, amadurecer, e se tornar uma pessoa melhor para o futuro que ela vai trilhar.
"Madura" realmente é a melhor palavra para descrever "Dead End", já que o contraste de o que o sentimento de culpa significou antes para o que significa agora faz de longe, esta ser uma das melhores composições de toda a carreira de Agatha, e transformada em dueto, vai para sempre ser um momento reluzente na carreira dos dois artistas.
A importância de carregar parte do nome do álbum é completamente correta para a faixa "Hallways". Aqui, parece que não há uma mínima cobrança de fazer algo parecer certo ou parecer intenso, é simplesmente puro.
A letra caminha pelas fossas mais fundas e obscuras que Agatha já habitou, refletindo sobre a dor que todos os cacos que constituem sua imagem já a cortaram uma vez.
Sendo produzida pela própria Agatha, "Hallways" é definitivamente o momento mais íntimo e emocional do álbum, sendo incrível como uma faixa leve como esta consegue deixar o clima mais pesado do que as faixas mais agressivas do Haunted Hallways.
Apesar de toda a dor, a música termina com um ato poderoso onde Agatha parece estar pronta para se rasgar e deixar aquilo para trás, mesmo que doa, mesmo que deixe cicatrizes enormes, ela deixa claro que mesmo que as memórias vão sempre machucar, nunca mais vão ser o molde da sua vida.
A última faixa do disco que tem letra é a incrível "Echoes". Agatha Melina é uma das compositoras da atualidade que sempre desempenham um trabalho poético incrível cada vez que vão escrever a respeito de vida, morte, e qualquer outro elemento sobre sua mortalidade individual.
Apesar de um pouco mais direcionada, "Echoes" traz lembranças muito fortes de músicas como "The Ghost and The Cliff" e "Legacy" do Forget Me Not. Aqui, a artista fala com uma maturidade sobre o pensamento inevitável que é, o que todos seus esforços e feitos da vida vão se tornar após a sua morte. Não só é uma reflexão filosófica muito interessante, mas também de certa forma, reconfortante. Até em momentos que Agatha admite ainda estar ansiando pela felicidade, "Echoes" parece ser uma transformação do imaginário que a cantora já escreveu sobre esse tema em diversas músicas. Genuinamente, espero que Agatha Melina tenha ciência que os Echos de seus trabalhos irão perpetuamente ecoar pelas paredes do universo, e pelos corações de tantas pessoas que sentem seus sentimentos incompreendidos fazerem um pouco mais de sentido, uma vez que escutam suas músicas.
O álbum termina com mais uma música completamente tocada no piano, "The Departure". O clima da faixa é completamente pacífico, sendo precisamente bem descrito como o sentimento de descansar em paz após tanta dor.
É estranho pensar na morte como um final feliz, mas através do álbum Haunted Hallways, Agatha Melina conseguiu mostrar mais do que somente com as palavras como as emoções são capazes de transformar a experiência que uma pessoa tem em sua vida.
Já tendo falado várias vezes sobre a morte como "o castigo final", ou "a última coisa que vai libertar ela da escuridão", Agatha parece compreender que todas essas coisas nunca vão a abandonar, por que fazem parte da pessoa que ela é, mas conforme esta pessoa evolui, o que um dia já doeu tanto começa a tomar um sentido muito mais especial do que somente "esperar pelo fim".
Na noite de 19 de Junho de 2028, a equipe da Ghosted IMG foi até o Rolling Hills Asylum em East Bethany, New York, para ouvir e realizar a crítica do álbum Haunted Hallways de Agatha Melina. Sendo um álbum tão poderoso, pela primeira vez, a equipe precisou realizar mais de uma sessão para compreender perfeitamente a obra. Outra sessão no mesmo hospital foi realizada no dia 7 de Agosto de 2028, e uma última foi realizada no dia 9 de Outubro de 2028.
Sem dúvidas, foi a experiência mais paranormal que a Ghosted IMG já presenciou em todos os anos que esteve ativa. No momento que demos play na primeira faixa, todos os integrantes da equipe gradualmente sentiram uma leve diferença no corpo, como se a ideia de "estar num hospital psiquiátrico abandonado no meio da noite" fosse deixando de ser assustadora e se tornando reflexiva.
Mesmo ainda guardados nas bolsas de linho, os espelhos de prata que a Ghosted leva começaram a brilhar, criando manifestações durante a noite. Espectros de diferentes idades se manifestaram no espelho, sempre com muito anseio para estarem ali, e surpreendentemente, mesmo sendo um local inóspito, nenhuma agressividade.
Durante o álbum, a taróloga da equipe ficou meditando durante algumas horas, para começar uma leitura durante o álbum. Logo de cara, a primeira carta puxada foi a Morte Invertida. Não importa quantas cartas puxasse, sempre a Morte Invertida aparecia, mesmo tendo apenas uma no baralho. O peso do apego ao passado narrado nas letras era extremamente denso, e se manifestou constantemente nas primeiras leituras.
Porém, na última faixa, a carta tirada foi a Morte, desta vez, na vertical. Finalmente representando o fim de toda a fase tortuosa para se permitir um começo novo. Ao lado da ambientação de “The Departure” a última faixa, e a leitura do tarot, não consegui deixar de me emocionar com todos os sentimentos que estavam representados ali.
"A woman of phases, making more graves. Don’t pretend, I see your scared faces" - Agatha Melina, Draculady, 2019.
Eu imagino que quando Agatha escreveu este verso, que é de uma música feita despretensiosamente para o Halloween (como uma forma da cantora explorar mais vertentes de pop eletrônico num tema fechado), ela não imaginava que este verso iria a acompanhar por toda sua carreira de forma sutil, quase escondida, mas sendo um perpétuo reflexo de sua persona artística; demonstrando que sentimentos sombrios sempre estarão no coração de todo mundo, em momentos bons ou ruins, já que isso é intrínseco à humanidade individual de cada um. Causando tristeza, reflexão, sentimentos intimistas, ou até mesmo medo e estranheza, Agatha não deixou em nenhum momento de ser si mesma, e mesmo nas letras de auto-aversão, a autenticidade nunca deixou o coração da cantora, da mesma forma que este, dito pela própria, nunca deixou as trevas.
TEEN ROCKET
Nota: 83
Escrita por: -
Escrita por: -
Agatha ressurge com força em seu mais recente álbum, Haunted Hallways, apresentando uma evolução notável em relação aos seus últimos trabalhos. A artista romena, que anteriormente se aventurava por caminhos mais abstratos, agora opta por uma abordagem mais refinada e acessível, sem comprometer sua essência artística. É como se Agatha tivesse encontrado um equilíbrio delicado entre a complexidade de suas composições anteriores e uma nova clareza que faz sua música ressoar de maneira mais direta com o público em geral.
A estética visual do álbum, curiosamente, não acompanha de forma imediata a nova direção sonora. Contudo, essa só ressalta a profundidade da transformação dela. Haunted Hallways se mostra uma das obras mais pessoais e reveladoras da cantora, trazendo à tona uma nova faceta de sua alma artística. Se alguém dissesse, há dois anos, que Agatha lançaria uma faixa como "Bittersweet", seria difícil acreditar. Mas aqui temos, e a surpresa é incrivelmente bem-vinda.
A faixa "Treason" exemplifica essa transição de maneira sutil, quase como um processo de desmame dos dois últimos trabalhos da cantora. A familiaridade está presente, mas há algo de fresco e renovado na sonoridade. Talvez seja uma adaptação ao mercado, ou talvez um desejo de alcançar novos públicos. Qualquer que seja a motivação, Agatha executa de forma muito bem feita.
Faixas como "Hostage", "Hallways", e "Dead End" reafirmam a identidade musical da artista, trazendo de volta a qualidade que seus fãs já esperam. Essas músicas oferecem o que há de melhor em Agatha: a combinação entre a sofisticação e acessibilidade, provando que a artista está em plena forma criativa. Haunted Hallways não chega apenas como uma clara redenção, é uma reafirmação de Agatha, que voltou a surpreender e encantar.
Nota: 82
Escrita por: Minseok Park
E então, a cantora Agatha Melina passa da maldição do quarto álbum e ressurge como uma fênix em seu quinto álbum – o Haunted Hallways. O disco deve ser o mais curto da romena, tendo apenas 31 minutos, mas ainda assim, apresenta ótimas ideias e um novo som para ela. Ainda vemos aquele rock de identidade em algumas faixas, mas sabemos que é um projeto muito mais comercial e abordado para diversos públicos. Talvez quem curta a música Pop ou a música Rock de formas separadas e individuais, vá curtir este projeto que marca o retorno de uma das maiores estrelas europeias de todos os tempos.
E então, em um compilado de treze faixas, sendo três delas faixas curtas para o interlúdio, introdução e encerramento, Agatha Melina repagina o seu som e volta a ser a mais nova queridinha do momento.
“Arrhythmic” vem logo após “The Dusk”, faixa de introdução, e já sentimos a presença desta nova persona. A faixa tem uma boa composição, que se mescla em um Pop Rock retrô que apela para a nostalgia. É uma canção que consegue concentrar bem a energia da Agatha, com uma letra triste, retratando experiências de crises de pânico e ansiedades, procurando por uma solução para este problema.
“Bittersweet” é como o nome. A faixa é doce e azeda ao mesmo tempo, dois contrastes enormes. É uma faixa com uma grande letra, sendo talvez uma das melhores do álbum, mas o instrumental é tão sucinto que parece ser “menos” do que poderia ser. Não é uma faixa ruim, muito pelo contrário, mas podemos ver que a letra é muito mais do que o instrumental entrega.
E em “Chokehold” vemos aquela old Agatha roqueira de volta. A faixa seria uma grande canção para o halloween de todos os emos roqueiros que existem por aí no mundo, e é uma ótima faixa. A canção consegue ser agressiva, atendendo certeiramente a sua proposta. É um dos grandes acertos do disco.
Mas não acerta tanto como “Treason”. O segundo single é a melhor faixa do álbum. Em uma transição ótima, ela surge no álbum tão de repente como a sua duração – dois minutos para uma faixa tão boa soa como tortura –, mas a canção consegue ser a melhor definição da fusão entre esses dois mundos que a Agatha desejou abordar tão bem neste disco. A produção do Klaus Henderson é intensa, dando um toquezinho eletrônico que a faixa deste tipo precisa.
Uma pausa surge com “The Devil”, o interlúdio, e então o disco já volta aos trilhos com “Hostage”. Grande sensação do TikTok e diversas outras plataformas com o seu viral explêndido, a faixa é uma canção incrível para passarelas e trendzinhas de modelos que abalariam o mundo da moda. Como a Agatha têm uma parceria com a Prada, não me surpreenderia caso um comercial ao som desta faixa existisse – e seria incrível.
Com a produção do norte-americano Apollyon, “Unbreathable” finalmente aparece no álbum. Sendo escolhida como a faixa que representaria inicialmente o Haunted Hallways para o mundo, a canção é um Pop Rock que parece soar jovial, e agradecemos por todo o destaque que foi entregue nas mãos desta faixa, porque a sua letra é um grande desabafo e sua sonoridade é muito agradável.
Com referências ao livro da também Agatha, mas Christie, “And Then There Were None” surge. É uma canção misteriosa, mas amigável, mesmo com as batidas fortes. Caso filmes de terror tivessem romances extremamente carinhosos e cheios de esperança, eles soariam como esta faixa – e isso é uma coisa boa.
A única colaboração do álbum é “Dead End”, com o cantor italiano Lucca Lordgan. A faixa retorna com essa abordagem mais clara do Pop, e utilizar um dos maiores popstars para esse “rebranding” é uma ótima escolha. A faixa é comovente, e mesmo com a letra falando sobre coisas tristes, ela soa apaixonante e divertida. A canção consegue ter tanto um pouco da Agatha quanto do Lucca, mostrando a capacidade e a potência da parceria.
“Hallways” quebra toda a energia mais esperançosa do álbum, trazendo uma canção mórbida e melodramática. A faixa é acompanhada de um piano, e mesmo com uma letra interessante, ela se destaca como a pior do disco. Infelizmente, não soa como se estivesse no nível de todas as outras faixas apresentadas até o momento.
E “Echoes”, a décima segunda faixa, vem para fechar o disco junto com “The Departure”, o encerramento do projeto. “Echoes” é uma ótima canção, que acabou até ganhando uma nova versão com a cantora Vivien Turner. Ela consegue nos entregar essa sonoridade de encerramento e tem uma ótima ligação com a faixa anterior.
Um dos maiores pontos fortes do disco é a composição da Agatha e o conceito. Apesar de achar as fotos muito limpas para o que todas as faixas abordam, toda a construção e produção do disco é ótima. As canções têm um grande comprometimento, ainda mais com todo o conceito e história que os videoclipes transmitem. É um dos grandes maiores acertos da Melina em toda a sua carreira, tanto nas abordagens, quanto na utilização de metáforas e outras figuras de linguagem para que o projeto seja mais imersivo e completo.
Haunted Hallways é uma das obras mais surpreendentes do ano, se instalando como uma grande evolução da Agatha Melina, principalmente em comparação com o seu anterior projeto, o Nightmare. A mistura entre o Pop e o Rock soou bem para a romena, sendo uma abordagem que nem sempre vemos ultimamente, principalmente em uma artista como ela, mas vemos que um projeto que, mesmo ambicioso, se mantém com o pé na areia firme e traz de volta esta potência que talvez estava adormecida dentro da Agatha.
E então, a cantora Agatha Melina passa da maldição do quarto álbum e ressurge como uma fênix em seu quinto álbum – o Haunted Hallways. O disco deve ser o mais curto da romena, tendo apenas 31 minutos, mas ainda assim, apresenta ótimas ideias e um novo som para ela. Ainda vemos aquele rock de identidade em algumas faixas, mas sabemos que é um projeto muito mais comercial e abordado para diversos públicos. Talvez quem curta a música Pop ou a música Rock de formas separadas e individuais, vá curtir este projeto que marca o retorno de uma das maiores estrelas europeias de todos os tempos.
E então, em um compilado de treze faixas, sendo três delas faixas curtas para o interlúdio, introdução e encerramento, Agatha Melina repagina o seu som e volta a ser a mais nova queridinha do momento.
“Arrhythmic” vem logo após “The Dusk”, faixa de introdução, e já sentimos a presença desta nova persona. A faixa tem uma boa composição, que se mescla em um Pop Rock retrô que apela para a nostalgia. É uma canção que consegue concentrar bem a energia da Agatha, com uma letra triste, retratando experiências de crises de pânico e ansiedades, procurando por uma solução para este problema.
“Bittersweet” é como o nome. A faixa é doce e azeda ao mesmo tempo, dois contrastes enormes. É uma faixa com uma grande letra, sendo talvez uma das melhores do álbum, mas o instrumental é tão sucinto que parece ser “menos” do que poderia ser. Não é uma faixa ruim, muito pelo contrário, mas podemos ver que a letra é muito mais do que o instrumental entrega.
E em “Chokehold” vemos aquela old Agatha roqueira de volta. A faixa seria uma grande canção para o halloween de todos os emos roqueiros que existem por aí no mundo, e é uma ótima faixa. A canção consegue ser agressiva, atendendo certeiramente a sua proposta. É um dos grandes acertos do disco.
Mas não acerta tanto como “Treason”. O segundo single é a melhor faixa do álbum. Em uma transição ótima, ela surge no álbum tão de repente como a sua duração – dois minutos para uma faixa tão boa soa como tortura –, mas a canção consegue ser a melhor definição da fusão entre esses dois mundos que a Agatha desejou abordar tão bem neste disco. A produção do Klaus Henderson é intensa, dando um toquezinho eletrônico que a faixa deste tipo precisa.
Uma pausa surge com “The Devil”, o interlúdio, e então o disco já volta aos trilhos com “Hostage”. Grande sensação do TikTok e diversas outras plataformas com o seu viral explêndido, a faixa é uma canção incrível para passarelas e trendzinhas de modelos que abalariam o mundo da moda. Como a Agatha têm uma parceria com a Prada, não me surpreenderia caso um comercial ao som desta faixa existisse – e seria incrível.
Com a produção do norte-americano Apollyon, “Unbreathable” finalmente aparece no álbum. Sendo escolhida como a faixa que representaria inicialmente o Haunted Hallways para o mundo, a canção é um Pop Rock que parece soar jovial, e agradecemos por todo o destaque que foi entregue nas mãos desta faixa, porque a sua letra é um grande desabafo e sua sonoridade é muito agradável.
Com referências ao livro da também Agatha, mas Christie, “And Then There Were None” surge. É uma canção misteriosa, mas amigável, mesmo com as batidas fortes. Caso filmes de terror tivessem romances extremamente carinhosos e cheios de esperança, eles soariam como esta faixa – e isso é uma coisa boa.
A única colaboração do álbum é “Dead End”, com o cantor italiano Lucca Lordgan. A faixa retorna com essa abordagem mais clara do Pop, e utilizar um dos maiores popstars para esse “rebranding” é uma ótima escolha. A faixa é comovente, e mesmo com a letra falando sobre coisas tristes, ela soa apaixonante e divertida. A canção consegue ter tanto um pouco da Agatha quanto do Lucca, mostrando a capacidade e a potência da parceria.
“Hallways” quebra toda a energia mais esperançosa do álbum, trazendo uma canção mórbida e melodramática. A faixa é acompanhada de um piano, e mesmo com uma letra interessante, ela se destaca como a pior do disco. Infelizmente, não soa como se estivesse no nível de todas as outras faixas apresentadas até o momento.
E “Echoes”, a décima segunda faixa, vem para fechar o disco junto com “The Departure”, o encerramento do projeto. “Echoes” é uma ótima canção, que acabou até ganhando uma nova versão com a cantora Vivien Turner. Ela consegue nos entregar essa sonoridade de encerramento e tem uma ótima ligação com a faixa anterior.
Um dos maiores pontos fortes do disco é a composição da Agatha e o conceito. Apesar de achar as fotos muito limpas para o que todas as faixas abordam, toda a construção e produção do disco é ótima. As canções têm um grande comprometimento, ainda mais com todo o conceito e história que os videoclipes transmitem. É um dos grandes maiores acertos da Melina em toda a sua carreira, tanto nas abordagens, quanto na utilização de metáforas e outras figuras de linguagem para que o projeto seja mais imersivo e completo.
Haunted Hallways é uma das obras mais surpreendentes do ano, se instalando como uma grande evolução da Agatha Melina, principalmente em comparação com o seu anterior projeto, o Nightmare. A mistura entre o Pop e o Rock soou bem para a romena, sendo uma abordagem que nem sempre vemos ultimamente, principalmente em uma artista como ela, mas vemos que um projeto que, mesmo ambicioso, se mantém com o pé na areia firme e traz de volta esta potência que talvez estava adormecida dentro da Agatha.