GENEVIVE - Twisted Twilight
Oct 13, 2024 0:58:36 GMT
Post by Ramprozz on Oct 13, 2024 0:58:36 GMT
Ouça Twisted Twilight de GENEVIVE aqui.
Nota: 95
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A cantora europeia Genevive faz o lançamento de seu segundo álbum de estúdio, o Twisted Twilight, e entrega uma verdadeira obra-prima. Este disco é quase um diário em que a artista fala sobre seus sentimentos e traumas de uma forma muito clara e sincera, é realmente como se estivéssemos lendo os rabiscos de seus pensamentos mais íntimos e, apesar de muitas vezes as músicas tratarem sobre temas divergentes, é notável que em nenhum segundo saímos da cabeça de Genevive. A produção é assinada por MSyndrome que faz um trabalho excelente, mergulhando na música experimental e alternativa, e sendo responsável por criar uma atmosfera verdadeiramente única para esse álbum.
A faixa introdutória carrega o título e tem pouco mais de 1 minuto de duração, é a maneira mais ideal de apresentar o tema do álbum de forma sucinta e direta: traumas - que inclusive é a primeira palavra dita em todo o projeto. E, nesse crepúsculo distorcido, Genevive nos afunda cada vez mais em um disco cujas letras parecem tornar-se mais pesadas conforme o tempo passa, como se fosse uma âncora nos arrastando para o fundo do mar.
A sensação que temos ao ouvir as músicas seguintes é a de que estamos sentados no terraço de um prédio exatamente um dia após um apocalipse nuclear; o céu ainda está com uma coloração rosa alaranjado devido a radiação das bombas e o mundo está em um silêncio tenebroso que é ironicamente barulhento. Nesse cenário, pegamos nosso rádio de bolso e ouvimos Love is a Lie e Hour by Hour, os dois singles da era, enquanto observamos a destruição que fora causada. Apesar de parecer algo ruim de se dizer, é uma característica realmente peculiar e é raro sentir algo assim somente ao ouvir uma sequência de músicas. Ambas são incríveis, a cantora definitivamente escolheu as faixas certas para lançar como single na era.
Com a icônica White Roses, que teve seu momento de glória despontando na Hot 20 Europa após ser performada no Europe Music Awards desse ano, Genevive fala sobre as consequências de um trauma, usando metáforas como “enterrada em uma avalanche” e “como uma queimadura de terceiro grau”. É uma música pesada e tem um dos melhores conteúdos líricos de todo o álbum.
Seguimos com Daylight e aqui parece que após passarmos a noite inteira no terraço do prédio, chorando e ouvindo gritos silenciosos de desespero e agonia que talvez sejam apenas internos, o amanhecer finalmente está chegando - mas isso não muda muita coisa. Genevive canta sobre se sentir como uma Lua cheia durante o dia, evidenciando uma sensação de não pertencimento. Nesta faixa, encontramos o maior ponto de vulnerabilidade da cantora: a necessidade de amar alguém para preencher um vazio, que é causado pela sua baixa autoestima, fato explicitado ao ela se comparar ao Sol, dizendo que não é tão brilhante quanto ele.
Abrindo a segunda metade do disco, Icarus traz uma referência clássica às asas de cera de Ícaro, que voou tão próximo do Sol que elas derreteram. A partir daqui, fica claro que todo o sofrimento de Genevive tem como ponto de partida o fato de amar alguém que não a corresponde como ela gostaria. Apesar de essa música soar mais como um conselho do que como um relato, ainda é possível enxergar os vestígios do trauma que ficaram com a cantora. O mesmo ocorre com as faixa seguintes, OwnReality e Perpetual Goodbye, mas que tratam as coisas de um ponto de vista mais pessoal.
Ao chegarmos em Sad Serenade, parece que o álbum alcança um ponto alto novamente - e tão próximo de seu encerramento! A faixa definitivamente é uma das melhores de todo o projeto e a sua sonoridade experimental contribui para ser uma experiência única. Nesse ponto, Genevive já está falando sobre o término do relacionamento que não a satisfazia. O encerramento do disco é por conta de All Your Sins, uma música que soa ligeiramente diferente do restante do álbum, mas ainda se conecta de maneira eficaz às demais produções; falando da parte lírica, a eurostar deixa clara a importância de expressar seus sentimentos com clareza, ao invés de prendê-los. O sentimento em questão que a música aborda é uma raiva internalizada, quase uma vingança contra uma pessoa que a fez mal no passado. E finalmente os tais gritos de agonia se cessam.
Desse modo, Genevive deixa queixos caídos com a perfeição de seu segundo álbum. Estamos ansiosos para descobrir mais desse universo em seu terceiro álbum.
Nota: 92
Escrita por: -
Vulnerável e expondo todos seus traumas, anseios, tristezas, assombrações, Genevive finalmente volta com "Twisted Twilight", sua jornada musical entre a mente de alguém que sofreu tanto mas que por um milagre, nos entrega um fabuloso trabalho advindo de tudo o que passou, esse álbum. É triste parar e perceber que para conseguir escrever tais letras, alguém deve ter a vivência dos versos cheios de melancolia que Genevive canta, e mesmo que sejam apenas letras onde foram escritas se colocando nesses lugares de fragilidade emocional, ainda é uma experiência e tanto para se parar e pensar em momentos tão difíceis quantos os descritos aqui. Tendo faixas com peso tão grande que fazem o melhor e mais felizes dos dias se transformarem, ao escutar por exemplo, "Sad Serenade" ou "All Your Sins", tendo sua energia drenada e tornando-se uma com a faixa que você escolher, sentindo no fundo de seu ser o que cada uma lhe tem a oferecer, fazendo do seu dia uma total reflexão daquela faixa em sua cabeça, junto com todo seu peso emocional.
Ainda que, Genevive não cante com todas as letras sobre o que cada letra descreve, não passando do degrau dos sentimentos e não descrevendo de fato e com forma direta o que se passou para chegar até aquele momento, ainda assim, as letras conseguem e tem um trabalho bem sucedido ao colocar todo o peso que precisa em cada uma de suas letras em cada uma de suas faixas, além de claro, tudo se intensificar e se tornar ainda mais palpável seus sentimentos com a ajuda das produções, que se mesclam de forma divina e se entrelaçam e formam o brilhante "Twisted Twilight".
Nota: 86
Escrita por: Carrie White
Twisted Twilight de Genevive é um álbum intenso e visceral, nos emanando um mundo de sentimentos complexos e nos fazendo viver a dor da artista através de uma narrativa melancólica e dura de ser vivida. Seu maior destaque é a facilidade de Genevive em capturar a essência do sofrimento. Quero destacar também as faixas 2, 4 e 8 por serem impecáveis desde o instrumental!
Nota: 80
Escrita por: -
Genevive dá mais certo no synth pop do que a maioria, talvez todas, as outras synth pop girlies de sua geração. Considerando que o synth pop é a nova epidemia do pop, respingando até mesmo no k-pop, Genevive é a artista a trazer isso a um novo patamar e fazer algo que soe dela e somente dela, mesmo em meio a um gênero explorado à exaustão, e Twisted Twilight é a prova disso. Com uma intro que abusa do autotune, claramente por motivos artísticos já que a artista está longe de ser uma má vocalista e usar isso por necessidade, ela começa dando o que parece ser o tom do álbum: não é sobre o crepúsculo, mas sobre a distorção, o que é uma abordagem interessante ao comentar sobre como o trauma muda nossa visão de mundo e muitas vezes nos faz involuntariamente distorcer o que está ao nosso redor, interpretar fatos e sentimentos de maneira confortável, mas não necessariamente verdadeira. A introdução é ótima no contexto do álbum e é compreensível que ela soe tão mal, tão desconfortável, mas talvez seja um pouco pesada no desconforto ao ponto de que os ouvintes, depois da primeira vez que escutam o álbum, passem a pular sempre sua primeira faixa. E então, vem Love is a Lie, um pop alternativo que ela canta como se fosse uma balada de R&B enquanto os synths e beats distorcidos acompanham, ainda tendo um switch no final. O conteúdo lírico seguindo exatamente o que a intro começa a discutir, ela diz que não poderia prever onde um relacionamento ia dar, então escolheu não sustentá-lo ao invés de tentar mesmo assim, tendo a atitude que traumas geralmente nos fazem ter. Magnífico. Já Hour by Hour, que pode muito bem ser confundida com um hino para people pleasers, é mais que isso, é uma perspectiva de alguém de temperamento melancólico, talvez até alguém que desenvolveu uma síndrome de abandono, e então não vê exatamente quão nocivo é deixar a si mesmo de lado para agradar aos outros... e discutir isso em um synth pop chill com certeza é uma escolha inteligente, já que com temas profundos assim, é muito fácil soar excessivamente dramático ou até brega, então é ótimo que ela tenha escolhido essa maneira e não alguma balada de piano com fade out orquestral. Como outro destaque, temos Icarus, que é mais um hino de temperamento melancólico sobre como o eu lírico vai, sim, mentir pra si mesmo para se manter ou salvar um amor. No geral, Twisted Twilight é um álbum sólido, que mantém sua proposta do início ao fim, macro e microscopicamente. O conteúdo lírico é ótimo, boas técnicas empregadas e até alguns detalhes que não se vê todo dia, como a esperta rima de "iris" e "parties" em Love is a Lie. Ele seria um 100... não fosse pela parte musical. Sim, todas as músicas soam bem individualmente, mas o álbum vai se tornando exponencialmente monótono conforme vamos avançando, não por qualquer melodia ser chata mas porque a cada vez que esperamos algo diferente, recebemos o mesmo padrão. Sim, ele é coeso, é coerente, é bem produzido mas até que ponto coesão é algo bom? Vale, realmente, a pena sacrificar a individualidade de cada melodia pelo bem de fazer um álbum perfeitamente coeso? O projeto podia usar bem mais diversidade melódica, mas no geral, seu sucesso em outros critérios o salva muito bem.
Nota: 67
Escrita por: Roberto Gandavo
Na psicologia freudiana, o trauma é uma situação na qual o indivíduo carrega em si mesmo um choque, um elemento surpresa que gera angústia pela incapacidade de adaptação às situações expostas. É uma reminiscência, uma sobrevida de uma situação a qual nunca se pôde desvencilhar-se. Genevive, em seu segundo álbum de estúdio chamado Twisted Twilight, nos instiga a conhecer o seu inconsciente quando a mesma se incentiva ao não-recalcamento de sua própria dor. Visceral e mais sincera que nunca, a cantora alternativa nos leva a conhecer mais de si mesma atravessada pela dor e pela confusão de sua mente fragmentada.
Twisted Twilight é a faixa que abre o disco e, também, aos traumas da artista. Se a sua intenção era a de criar um terreno distorcido e traumático, no bom sentido, para os seus ouvintes: ela conseguiu. Somos recepcionados com uma bela canção, embora simples: mas é justamente aí que reside o seu principal trunfo. Como abertura, nos seduz a continuar o álbum e liricamente introduz perfeitamente ao conteúdo que veremos a seguir.
Em muitos momentos de nossas vidas podemos nos questionar a respeito daquilo que poderia ter sido em determinadas situações, principalmente quando se trata de relacionamentos interpessoais. Genevive é como todos nós. Em Love is a Lie a cantora reflete sobre mentiras, verdades não ditas, desilusões e recomeços. Nos sentimos em um lugar ao qual não é possível explicar ouvindo esta canção. Nos levou a uma parte de nossas vidas em que nos sentíamos justamente como ela: machucados, frios e independentes. O amor é uma droga que vicia e o vício a ele não pode ser facilmente esquecido, afinal, estamos procurando um. Ao refletir sobre os perigos de uma relação amorosa, a cantora confronta a si mesma com o fantasma daquilo que não foi, mas poderia ter sido. A letra encanta e o instrumental que inicia lento e finaliza com mais vigor nos dá a impressão de uma escalada: do fundo do poço ao meio dele. Afinal, se ela estivesse chegado lá, não haveria um álbum para analisarmos.
A terceira música nos apresenta uma Genevive mais consciente de si. Essa consciência, por sua vez, representa uma espécie de autolibertação de correntes que a aprisionam. Doar mais do que pode dar e receber menos do que merece. Carregando o peso do mundo em suas costas, a cantora nos recebe em seu trauma como convidados fantasmagóricos. A alegoria ao mundo extra-humano não é à toa e será explicada logo adiante. Destacamos o primor através do qual se mostra um cuidado na transição de uma música que é diferente da outra, sem que o ritmo se quebre.
Pouco antes da metade do disco, Genevive nos surpreende com a descrição cruenta de suas vivências. Em White Roses somos levados à uma representação imagética da imagem que ficou tão famosa na década de 1960: “Flower Power” captada pelo jornalista Bernie Boston. A imagem, em resumo, traz dois grupos opostos em um protesto pacifista em Washington no ano de 1967. De um lado, oficiais de polícia e de outro, os manifestantes pela paz. O protesto foi organizado como uma manifestação civil frente aos abusos da Guerra do Vietnã (1955 – 1975). A temática se aproxima pelo uso da “flor branca” como um símbolo oposto ao da violência. É claro que Genevive é alguém assombrada pelo seu passado antigo e recente, e as suas músicas refletem um estado de espírito consciente, porém ainda muito confuso. A letra é organicamente construída em termos de sensibilidade. Os elementos musicais postos na canção trazem algo de nostálgico, nos lembrando, talvez, de canções entoadas pelos pacifistas dos anos 60 e 70. O trauma se liberta visceral e perigosamente. Uma das melhores músicas de todo o disco.
A segunda metade do disco abre com Daylight. E, infelizmente, não inicia bem. A intenção de mostrar uma música sobre como se sente deslocada do mundo é ótima, mas a execução parece estar realmente descontextualizada. Não parece combinar com o que foi apresentado anteriormente em sonoridade, profundidade e sinceridade. E veja bem, não se trata de dizer que ritmos diferentes não possam constituir um mesmo álbum, mas se trata da forma que se faz isso. Já elogiamos a inteligência da artista na transição de suas faixas anteriormente. Isso não a impediu de errar feio na composição do disco até aqui. Liricamente é uma canção crua, na qual Genevive expõe a sua fragilidade e a necessidade de se sentir correspondida pelo mundo. Senti como se estivesse correndo em círculos e a música desde o segundo inicial não evoluiu.
A sexta faixa se chama Icarus e remete ao clássico conto mitológico grego de Icaro e de seu pai Dédalo em que versa sobre a sua fuga do labirinto do Minotauro. A história grega nos faz pensar sobre limites, conselhos e, principalmente, sobre o ego. Genevive se mostra egocêntrica em todo o seu álbum. Assim como Ícaro, a cantora a tem como seu próprio mundo, no qual as histórias contadas são idealizações do vivido. Novamente, a imagem do fantasma nos é próspera. Assombrada pela rejeição e pelo desamor, a cantora mostra o quão frágil é. Assim como a faixa que a precede, por mais que a história que conte seja interessante, a execução decepciona. Não sabemos o quão profundo é o trauma sofrido por ela, mas não há justificativa para que suas músicas não saíam do lugar. A impressão que nos dá é que a sua dor é tão grande, mas tão alheia ao seu entendimento integral, que a cantora anda em círculos e não chega a lugar algum.
A capacidade da artista em construir liricamente as suas músicas é impecável, mas salientamos, pela terceira vez, um defeito crônico que permeia a segunda metade do disco: ele aparenta permanecer em uma contraditória imutabilidade. Sinto que ouvi a mesma música, com um instrumental diferente, nas duas últimas canções. Esse é um grande problema de começar alto demais: a queda pode ser fatal. Não dá nem para dizer que OwnReality tem uma premissa interessante, haja visto que é a mesma premissa presente em tantas outras faixas. Em um álbum composto por dez faixas é esperado que haja uma diversidade de nuances que estimulem o ouvinte a continuar até a página – ou segundos – final. Isso não acontece aqui.
Em Perpetual Goodbye ela parece retomar aquele ímpeto que tanto nos emocionou no início. A faixa é interessante e a letra bem construída, de forma que a história pretendida atinge o ouvinte em cheio e repleta de emoção. Uma quebra de ritmo com a faixa predecessora mas que, neste caso, salvou o disco de uma monotonia inquietante. Os fantasmas de Genevive se agitam e a tiram do marasmo.
A penúltima faixa do disco, Sad Serenade, nos traz uma mensagem interessante e que relaciona a música ao sentimento de abandono esboçado pela cantora desde o início do disco. A produção se sai bem na sua intenção de aprofundar um tom melodramático para a faixa. Liricamente é bem construída e repleta de referências interessantes. Definitivamente a cantora mostra que pode ir muito além da simplicidade e que sabe sim transformar seus sentimentos em música sem que isso recaia em engodo puro e simples.
A faixa que encerra o disco é exatamente aquilo que queríamos ver de Genevive após tanto sofrimento. Não acreditamos que colecionar mágoas seja negativo, muito pelo contrário. Lembrar-nos e sentirmos aquilo que nos fizeram mal é um dos passos para a nossa própria libertação. A canção passeia por diferentes camadas, indo de uma mais contida, para uma em que a emoção aflora sem freios. É uma delícia e uma ótima escolha para encerrar o disco. O fantasma aparece e assusta o seu algoz.
Para finalizar, podemos recuperar as diversas citações feitas ao mundo sobrenatural e a conexão com os traumas. Os fantasmas, se entendidos sob a ótica da psicanálise freudiana, são sintomas de um recalque, de uma situação esquecida e que influi diretamente no funcionamento da psique humana. Os fantasmas presentes no álbum de Genevive são de dois tipos: ela própria e os sentimentos que a circundam. São fantasmas porquê idealizados e assombrados. A primeira metade do disco é um deleite e a cantora deveria se orgulhar dele, com certeza. A segunda metade é esquecível, com exceção da última faixa que é uma das melhores de todo o disco, e nos faz pensar em como a dor, quando não é bem trabalhada, pode calhar em perdas, mas também em recomeços. Para Twisted Twilight de Genevive a nossa nota é: 67.