[AMERICA] SOFÍA X LANÇAMENTO DA BONECA NANCY
Oct 11, 2024 1:23:19 GMT
Post by adrian on Oct 11, 2024 1:23:19 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA PARADISE & ESPADA] - [CF - NANCY]
Em uma noite repleta de convidados especiais e jornalistas, Sofía e a empresa FAMOSA realizar um evento-coletiva para a celebração do lançamento da nova boneca NANCY que retrata Sofía como estrela principal. A cantora, que atualmente está em turnê pela América do Norte, reuniu mais de cento e cinquenta convidados, a maioria deles jornalistas e criadores de conteúdo, para cobrir o evento. Para além do lançamento da boneca, a artista responderá às perguntas dos jornalistas e criadores ao longo de todo o evento. O local em que o evento aconteceria estava totalmente decorado com pôsteres de Sofía junto de sua boneca NANCY. Era dividido em três seções: uma delas continha uma mesa retangular e diversos microfones, local em que aconteceria a sabatina; o segundo era uma espécie de palco no qual havia alguns exemplares da boneca NANCY expostas e em que o lançamento iria ocorrer; o terceiro era uma local preparado para receber os convidados com bebidas, comidas e brindes. Sofía foi uma das primeiras a chegar à sua festa: ela trajava a mesma roupa que havia inspirado a construção da sua boneca NANCY. Ela posou para algumas fotos junto da boneca antes de se dirigir à mesa para responder as primeiras perguntas dos seus convidados.
Sofía – Boa noite, pessoal! Gostaria de iniciar esse discurso falando o quanto sou grata pela presença de todes aqui. Não é apenas uma ação comercial, como já sabem, mas uma parte de mim que não quer mais lidar com a violência infantil em uma posição de passividade. O que comemoramos hoje é mais um passo rumo à mudar as vidas de nossas crianças para melhor, espalhando amor e proteção para todas elas. Quando eu decidi que essa seria a minha missão junto à Nancy, sabia que teria um trabalho imenso a fazer. O trabalho de que falo nunca é individual, pelo contrário, parte de um esforço coletivo para mudanças. Isso não teria acontecido sem os milhares de pais e crianças que apoiaram a primeira etapa desse projeto que, ao meu ver, é tão lindo e tão necessário. Não me levem a mal, sei que não iremos mudar o mundo, mas é um caminho para que mais pessoas possam olhar com carinho e cuidado para as necessidades daqueles que são diariamente marginalizados por um sistema desigual e assassino! Nancy e eu estamos juntando forças para apoiar ações que deem visibilidade para esse tipo de problema e que não só olhe, como ajam sobre estes! Nossa primeira parceria distribuiu milhões de dólares em todo o globo para auxiliar instituições que proteção aos direitos fundamentais das crianças e com essa nova etapa almejamos irmos ainda mais além. Não será uma tarefa fácil, mas isso não significa que seja impossível, juntos podemos mais. É preciso ter consciência das nossas limitações enquanto sociedade e, a partir do reconhecimento, agir firmemente para que não se repitam. E é com essas palavras que eu abro esta noite de hoje. Sintam-se à vontade para comer e beber, e, é claro, trazer seus questionamentos à mesa.
Para a primeira rodada de perguntas, foram escolhidas quinze pessoas, entre jornalistas e influenciadores, para realizarem seus questionamentos exclusivamente sobre a parceria com a boneca NANCY. Na mesa retangular, a artista estava acompanhada de sua empresária Carla e de Jorge Alvarenga, representante da FAMOSA.
Jornalista 1 – Sofía, em primeiro lugar gostaria de parabenizar o seu trabalho com os pequenos. Nunca vi uma artista que realmente deu a cara a tapa para defender os interesses daquele que não tem voz. A minha pergunta é sobre o sentimento que você tem, hoje, sobre essa sua ação em conjunto com a Nancy.
Sofía – Eu gostaria só de fazer uma correção básica em algo que você menciona em sua pergunta: estas crianças têm vozes, mas não são ouvidas. É sabido que às vezes só olhamos para os nossos próprios problemas e deixamos de lado àqueles que tem pouco poder de decisão. O ideal é acharmos um ponto de equilíbrio para que possamos, como humanidade, auxiliarmos àqueles que não têm tanta sorte como nós. Agora, sobre o meu sentimento. Estou genuinamente realizada pelo que fizemos. E fizemos pouco, mas considero que foi uma ação muito bem sucedida e que há espaço para que mais crianças sejam alcançadas pela nossa parceria. Fiquei muito feliz de ver o esforço e empenho dos meus fãs para algo que não necessariamente envolvia minha música. É claro que tinha noção do quanto eles me apoiavam, mas não imaginava o potencial disso para um projeto que não era musical. E essa nossa parceria só foi exitosa graças à eles que, juntamente com a nossa equipe de marketing, levaram a imagem dessa boneca para todo o mundo. Sou uma mulher e uma artista muito mais realizada hoje do que era antes dessa movimentação que fizemos. Novamente, sei que foi pouco se considerar todo o estado de caos ao qual nos vemos envolvido por um sistema tão injusto e violento como o nosso. Contudo, não planejamos que seja apenas isso e é exatamente por esse motivo que renovamos a nossa parceria com o intento de ser ainda maior. A escala do que estamos preparando é muito maior do que a que fizemos anteriormente. Hoje temos um know-how que não tínhamos antes e estou muito animada para o que está por vir. Eu fico até emocionada de falar sobre. É uma parceria que muito me toca e me orgulha.
Jornalista 2 – Há alguns dias, quando você anunciou esta nova parceria, você comentou sobre números e apresentou um testemunho de uma das pessoas que comandam umas destas instituições que foram contempladas pela ação que você e a FAMOSA construíram. Como foi esse processo de reverter todas as vendas da boneca para essas instituições?
Sofía – Eu achei que seria um processo mais difícil no início, mas graças ao apoio que me foi dado pela FAMOSA conseguimos reverter todo o dinheiro que arrecadamos para essas instituições de proteção aos direitos das crianças. Uma parte do processo envolver uma questão logística de definirmos a questão da produção, afinal, para produzirmos a boneca seria necessário pagar funcionários, máquinas, marketing e tantas outras coisas que talvez vocês nem imaginam que precisamos definir. Então precisamos contar com a ajuda de grandes empresários dispostos a abater impostos em doações para instituições, então fizemos essa oferta para esses bilionários ávidos por não pagar impostos e conseguimos realizar um processo de produção muito barato e com muita qualidade, de forma que ela também fosse vendida a um preço inferior do que a boneca era vendida normalmente. O retorno financeiro que tivemos, então, foi totalmente destinado à estas instituições de acordo com as necessidades de cada uma. Eu confesso que achei que uma empresa jamais se resignaria de lucrar, então fui com essa ideia já pensando que a minha parceira não iria aceitar. E, para a minha total surpresa, a FAMOSA aceitou as minhas condições para trabalharmos juntos.
Jornalista 3 – De fato a boneca chegou ao mercado com um preço inferior ao que é normalmente comercializado. Você não acha que esse movimento de barateamento não afetou negativamente na arrecadação de fundos para estas instituições?
Sofía – Não, não acho. Sempre deixei claro que, para além de servir de apoio para estas instituições, o meu plano para com a boneca seria de democratizar, na medida do possível, esse brinquedo que é tão icônico. Sempre trouxe nos meus discursos, por exemplo, o fato de eu nunca ter tido uma boneca Nancy por ter sido pobre e ter uma boneca mais barata no mercado é uma forma de proporcionar à mais pessoas uma oportunidade que eu mesma não tive. Então se houve uma queda nos lucros, houve um acréscimo de pessoas que conseguiram adquirir suas próprias bonecas Nancy. Recebi tantos depoimentos de pais e mães que fizeram vídeos comprando a boneca e a felicidade no rosto de toda a família por, enfim, estarem adquirindo algo que nem mesmo os pais tiveram. Foi um momento de realização familiar e individual para os pequenos e os grandes. E isso não tem preço. E, como falei na live que fiz há alguns dias, eu mesma coloquei dinheiro para que todas as instituições recebessem àquilo que mereciam à altura de suas contribuições.
Jornalista 4 – Uma coisa que me trouxe um impacto positivo ao ver o lançamento da boneca foi a de empoderamento. Ver uma mulher tão altiva e tão decidida na forma como você articula os negócios aos quais está dentro. Como é ser mulher e tentar ser ouvida em um mercado que, como todos nós sabemos, é loteado por homens?
Sofía – Olha, é difícil. A imposição de uma mulher no rumo contrário ao que as estruturas sociais nos dizem que é o certo; quando o fazemos somos colocados sobre um rótulo de loucas, de desvairadas ou algo do tipo. Com a FAMOSA, contudo, eu não tive problemas em me impor como uma empresária, além de cantora. Foi tudo muito tranquilo, felizmente. Acho que há uma cultura dentro da própria empresa de acolher as contribuições de mulheres, haja visto que mais de 60% da empresa é composta por mulheres e metade do corpo executivo é feminino. E por isso, talvez, eu me senti tão a vontade para trabalhar e para expor as minhas ideias para essa parceria. É muito rico e, infelizmente, muito raro ver o mundo corporativo ter essa abertura que a FAMOSA me deu. Eu já tive experiências igualmente lindas como a que estou tendo com a Netflix e o Spotify, mas com outras marcas, nem tanto. Creio que há uma mudança de mentalidade nesse mundo das corporações que implicam numa maior aceitabilidade do feminino. É claro que isso só não basta. Sei que temos uma gama de problemas a serem resolvidos nesse universos. O que considero importante é que há empresas que fazem parte de uma nova cultura que está galgando espaço e que todos nós deveríamos celebrar. Há muito ainda para melhorar e isso eu nunca escondi de falar para as empresas que trabalho. É um trabalho de formiguinha, claro, mas como uma parceira destas empresas eu exijo que haja determinados elementos para que eu possa, enfim, aceitar trabalhar com eles. Um destes é, principalmente, uma política de integração social para comunidades marginalizadas. Eu não firmo contrato com empresas que, por exemplo, não tenham políticas voltadas para a inclusão de pessoas negras, gays, lésbicas, transexuais, pessoas com deficiência, etc. E isso reflete no meu próprio posicionamento com o lançamento da boneca.
Jornalista 5 – Você pode explicar um pouco melhor essa sua última frase, por favor?
Sofía – Claro! Acho que vocês se lembram de que quando lançamos a boneca um dos elementos que fiz questão de destacar é o significado dos brinquedos não só para as crianças, como também para os adultos. Não queria reproduzir uma ideologia social em que bonecas são vistas como exclusivamente para meninas ou de que brinquedos são coisas de crianças e que não possuem nenhum significado emocional, por exemplo, para aqueles que brincam com eles. Os brinquedos são, também, recursos pedagógicos capazes de elevar o desenvolvimento cognitivo dos pequenos e, ao mesmo tempo, constroem memórias e produz emoções para que sejam aproveitadas no futuro recente ou mais distante. Gosto de falar do meu exemplo: quando era criança não havia dinheiro para comprar bonecas como Nancy ou das suas concorrentes diretas, então meus pais faziam bonecas de pano para mim. E ali eu consegui desenvolver um pensamento crítico acerca das desigualdades sociais e também pude me aproximar cada vez mais dos meus pais. Era um prazer vê-los trabalhando naquele brinquedo e todo o amor depositado por eles era evidente a cada “passo” ou “fala” que a boneca ganhava através de mim e das minhas brincadeiras. Os brinquedos são uma das formas que crianças podem vir a conhecer o mundo e não sou apenas eu que falo isso, mas a ciência também. Em uma outra perspectiva, precisamos acabar com essas ideias retrógadas de que há brinquedos para meninos e outras para meninas. A minha boneca Nancy é para todes. Meninos, meninas e aqueles que não se encaixam em nenhum destes dois.
Jornalista 6 - Sofía, esse lançamento é um grande marco não apenas para você, mas também para o mercado de brinquedos. Como você vê essa parceria no contexto do seu papel como uma das artistas mais influentes do mundo hoje?
Sofía – Essa é uma boa pergunta, inclusive. Há não pouco tempo eu tive um momento em que me vi um pouco alheia ao que eu mesma estava construindo com a minha carreira. Era um momento daqueles que nós paramos tudo e começamos a refletir sobre os rumos que tomamos nas nossas vidas, sabe? Enfim, essa reflexão que eu tive me fez pensar como uma artista exerce a sua influência. Essa parceria em específico me trouxe uma dimensão ainda mais pungente. Estou lidando com uma ação que não é apenas comercial, mas tem um projeto social e humanitário que é, ao meu ver, muito mais interessante que a parte comercial. A minha ideia foi a de proporcionar ao meu público uma nova forma de enxergar o meu trabalho, através da minha influência direcionada a uma ação social em específico. Acredito que nós, artistas, temos um dever social inato que é o de nos posicionar frente as injustiças diárias. E sei que isso não é algo realmente fácil de se fazer, mas é necessário. Eu entendo toda essa influência que tenho hoje como um dever de utilizá-la para melhorar o mundo em que vivo. Não seria eu se não o fizesse assim. Dessa forma, considero que este lançamento em específico me abriu muitas oportunidades de repensar o meu lugar como artista. E esse lugar está imerso em um turbilhão social que me impede, por exemplo, de mudar o mundo sozinha. E isso nunc será possível. A mudança se dará através da coletividade e aí a importância do bom uso da influências que exercemos sobre o nosso público. E não só: a parceria com Nancy abre novas possibilidades e fomenta ainda mais a discussão sobre responsabilidade e atitudes de pessoas que, assim como eu, tem um grupo de outras pessoas que são influenciadas diariamente por nossas falas, atitudes, enfim.
Jornalista 7 - Sabemos que a Nancy já foi companheira de muitas crianças ao longo dos anos. O que você espera que essa nova versão da boneca signifique para as crianças que vão interagir com ela hoje?
Sofía – Assim como falei anteriormente tenho uma visão um pouco mais ampla acerca dos brinquedos e eu vejo a Nancy como uma porta de entrada para discutirmos temas que são muito caros na contemporaneidade. É claro que não espero que essas discussões sejam levantadas no exato momento em que as crianças estarão brincando com ela, mas algo a ser gerido pelos responsáveis e por esses pequenos em momentos que reflitam as condições sociais pelas quais elas se apoderam dessa boneca. A Nancy é um símbolo e, por isso mesmo, suscita admiração em um público realmente diverso. E a sua história é propícia para estabelecer novos laços e novas relações com os objetos. Sei que há hoje um relativo afastamento das crianças com brinquedos físicos, como bonecas, bolas e outros, mas acredito que podemos resgatar essa conexão com uma reorientação destes no cotidiano. Levar adiante um projeto em que os brinquedos possam ser vistos como recursos pedagógicos lúdicos é uma nova forma de encará-los e, ao mesmo tempo, enxerga-los a partir de uma nova perspectiva de debates acerca dos padrões sociais, de gênero, etc. Quero que essa boneca represente um novo momento da história dos brinquedos e sim, sei que é muita pretensão da minha parte, mas sonhar ainda é de graça e eu quero me esbaldar [risos]. Enfim, é assim que eu queria que as crianças interagissem com a minha boneca. E, em partes, o meu desejo está sendo preenchido pelos vídeos que recebo nas minhas redes dos milhares de pais que postam as suas crianças se divertindo com a boneca.
Jornalista 8 - A Nancy representa uma versão de você que também é um ícone de estilo. Como foi ver uma parte de si materializada em uma boneca e como isso contribui para o seu legado na moda?
Sofía – Sabe o que é mais engraçado? É que eu não me vejo como um ícone da moda [risos]. Inclusive, costumo concordar com os milhares de internautas que dizem que eu me visto muito mal às vezes [risos]. E acho que essa seria a minha maior contribuição para a moda e Nancy reflete isso. Eu escolhi o visual que seria representado e podem achar bonito ou não, mas a mensagem que se sobrepõe é a da liberdade de escolha. Não sou nenhuma aficionada por estar dentro do que todos estão vestindo, pelo contrário. Sigo as minhas próprias inclinações e não estou realmente ligando para o que grife x está lançando ou o que é tendência para esse mercado. Sou bem livre nesse sentido. É o que posso entregar aos meus fãs: autenticidade. E estou bem com isso. Fui indicada como ícone fashion no último MIAW e quase morri de rir com a indicação. Entre as candidatas eu, definitivamente, não era nenhuma ícone fashion. Gosto de vestir roupas que sejam confortáveis. É claro que gosto que sejam bonitas, mas descobri que a beleza é muito relativa. Já vesti coisas que achei que era o suprassumo da beleza só para depois ser atacada por milhares de pessoas dizendo que era a roupa mais horrível já viram alguém vestindo na vida [risos].
Jornalista 9 – Ainda sobre esse segmento podemos dizer que seu estilo pessoal é admirado por milhões de pessoas. Como você transportou essa estética para o design da boneca Nancy e qual mensagem de moda você espera passar para as meninas e também para os meninos que terão contato com essa boneca em suas brincadeiras no cotidiano?
Sofía – Eu quero dizer para essas crianças que elas podem sim se vestir da forma que quiserem. Acho que essa seria a minha maior contribuição para a moda. Sei que há uma limitação do que é considerado “moda”: normalmente é lido como tendência que segue determinados padrões. E eu não gosto de seguir padrões. Entendo as pessoas que gostam de seguir as normas das grandes grifes, mas essa não sou eu. Respeito muito os artistas que fazem a moda, mas gosto de me vestir sozinha e de acordo com as minhas preferências. Eu sou autêntica, apesar dos pesares. Não sinto que isso me diminua ou algo do tipo, pelo contrário, só reforça a minha essência enquanto indivíduo e como artista. Sou bem feliz com aquilo que visto e com todo o impacto que tenho feito no meu público e espero que com o auxílio de Nancy que, ao meu ver, é sim um ícone fashion possamos levar à um público maior uma postura menos centrada no que as pessoas dizem que deveríamos vestir para, autonomamente, vestir aquilo que consideramos ser da nossa própria essência. A moda tem que te libertar e não te aprisionar, sabe?
Jornalista 10 - Essa parceria com Nancy chega em um momento importante da sua carreira, com o lançamento de um novo álbum em breve. Como você enxerga a interseção entre esses dois projetos e o impacto que isso terá em seus fãs?
Sofía – São projetos distintos mas, que ao meu ver, se complementam em termos de essência. E vocês podem estar perguntando o que o lançamento de uma boneca pode ter a ver com o lançamento de um álbum, mas é que ambos os projetos vem para mim em um momento da minha carreira em que me sinto cada vez mais confiante para fazer àquilo que quero sem me preocupar tanto com o que irão achar destes. A boneca e o álbum representam para mim uma fase de independência completa. Sinto que estou finalmente pronta para desbravar o mundo. Sinto que isso pode vir a mudar a visão que algumas pessoas têm de mim como uma cantora que está sempre na zona de conforto. O álbum que virá é ainda mais carregado de latinidades, por exemplo. Estou explorando cada vez mais gêneros marginalizados e isso me tirar muito da zona de conforto. Estava ouvindo o disco antes de vir para cá e nossa... sinto como se ele fosse um filho para mim. Assim como Nancy, idealizei ele com muito carinho e pensando nele como uma chave para mostrar quem sou, mais uma vez, para o mundo. Tem um cantor brasileiro que fala que todos somos uma “metamorfose ambulante” e eu sigo isso a risca. Todo novo trabalho que faço tem algo de de novo adicionado a minha pprópria personalidade.
Jornalista 11 – A boneca Nancy é um verdadeiro ícone da cultura pop, como você já salientou e a minha pergunta vai na direção de saber como você lida com a pressão de trabalhar sobre um ícone da infância de muitas pessoas e se isso não te intimida, afinal, sabemos que é um tabu quando se tenta mexer em elementos que conformam uma dada representação do passado e do presente também, de certa forma.
Sofía – Hoje vocês estão realmente inspirados nas perguntas. Esse foi um dos meus maiores medo com essa parceria, pois tinha consciência de que estava lidando com um objeto-simbolo que faz parte da infância de milhões de crianças em todo o mundo, então até hoje tenho receio de mexer em um lugar que não é público, mas muito privado, que é a consciência individual. E isso chega a ser paralisante, sabe? O que fazer para não “ofender” ou descaracterizar a memória que diferentes pessoas têm desses objetos icônicos? É algo que eu continuo a me questionar mesmo já estando no segundo lançamento de Nancy [risos]. Mas é real que mexer com coisas tão icônicas te amedronta, mas não deixei que isso impedisse de realizar o que queria com esses trabalhos. Aliás, a equipe por trás de Nancy também se preocupa com isso e estavam lá para nos auxiliar em possíveis fugas de identidade da boneca, mas sempre deixando espaço para manipulação de elementos que eu considerasse essenciais para que a boneca, de fato, me representasse.
Jornalista 12 – Há algumas críticas que são feitas em relação à parceria, mas vemos que está mais vinculada ao que as pessoas acham de você e não da boneca em si. Como você enxerga esse movimento de contestação ?
Sofía – Para mim é uma grande piada criticarem o projeto apenas por não gostarem de mim. Não é o que está em jogo aqui, entendeu? A boneca Nancy não foi descaracterizada e seus principais elementos, o que formam a sua essência, está presente em nossa boneca. Falta para algumas pessoas a noção de que brinquedos são muito mais do que as aparências mostram. Nancy está desde a década de 1960 resistindo à uma cultura que a a coloca em um lugar secundário, como algo fútil por estar voltado a um público majoritariamente feminino. Há mais de seis décadas vemos homens, por exemplo, falando o quanto bonecas são dignas de desdém e isso afeta todas as ações que envolvem a boneca ainda hije, acreditam? As críticas que recebemos voltadas à uma suposta agenda “woke” vem, principalmente, de homens brancos e cisgênero. E nós sabemos disso porquê realizamos um mapeamento de onde estas vem. Para mim é característico de uma sociedade doentia e que está pronta para condenar qualquer coisa que seja a favor de direitos humanos e sociais.
Jornalista 13 – Já que entramos nesse assinto, gostaria de abordar as recentes polêmicas envolvendo a sua parceria com a boneca Nancy com alguns grupos religiosos. A versão bruxa da boneca será lançada no Halloween e está sendo alvo de boicotes por pessoas religiosas. Saiu uma notícia que, inclusive, quase trinta igrejas haviam banido você como uma forma de protesto ao que eles consideraram uma “heresia” e desrespeito para com as crianças. Qual o seu sentimento e em que medida você acredita que esse tipo de boicote pode atrapalhar as vendas da boneca?
Sofía – Eu ri horrores quando vi a notícia de que havia sido banida destas igrejas. É como se elas fossem algo tão importante para mim que eu sentiria esse duro golpe [risos]. Eu gostaria de iniciar a minha resposta falando sobre religião. Eu não tenho religião e isso me dá possibilidade de ser mais aberta quando falo sobre estas. É claro que há um respeito meu sobre elas, mas alguns grupos extrapolam o âmbito individual e querem que todos nós seguindo a sua doutrina como se fossem regras sociais. Esse fundamentalismo eu não aceitarei jamais. O mesmo tipo de movimento aconteceu quando lancei Mujer Bruja e, confesso, me surpreendi como a humanidade pode ser estúpida por acreditar em tudo sem qualquer senso crítico. Esse fundamentalismo que não é só discurso, mas também prática de violência, assola a nossa sociedade e é algo que deveríamos prestar atenção. Eles promovem uma verdadeira caça as bruxas e ficam impunes quando falam que se trata apenas da sua religião. É um discurso a ser combatido, sabia? Eu não tenho medo de falar que acho que esses grupos fundamentalistas religiosos uma verdadeira praga. Agora, sobre os impactos possíveis: não acho que terá nenhum impacto negativo. Eles não são o público -alvo do nosso projeto, portanto, são relegados à um nível secundário de problemas aos quais temos que lidar. E falo isso com total consciência de qje isso vai repercutir em centros religiosos e serei ainda mais atacada, mas é a verdade. Sei que pode haver uma influência na imagem da empresa, mas a decisão de lançar a versão da boneca não foi só minha e eles já estavam cientes de que algo do tipo poderia acontecer. E iria acontecer, é óbvio. Estamos todos em conformidade com os termos dessa disputa e dispostos a enfrentar os óbices que irão aparecer no nosso caminho. Estamos em constante contato e agradeço por ter uma parceira tão incrível quanto a FAMOSA para um projeto como esse. Nunca vi uma empresa ser tão resiliente na questão de superar esse tipo de boicoto promovido por determinados grupos. No fim, é cansativo ter que lidar com isso, mas o empenho para fazermos aquilo que pretendíamos é ainda maior.
Jornalista 14 – E como você se sente tendo um projeto que tem um fundo social muito importante ser atacado por uma simples brincadeira?
Sofía – Eu me sinto irritada, mas, ao mesmo tempo, não posso me deixar envolver por suas acusações mentirosas e irreais. O meu dever aqui é de promover a nossa boneca e conseguir ajudar ainda mais crianças a se desenvolverem em um ambiente propício para elas, aquém dos vícios da violência física, moral e psicológica. E muito me admira que esses grupos que se dizem tão humanos e amorosos para com os mais necessitados ajam dessa maneira sobre um projeto que facilmente poderia ser cristão. Lidar com a hipocrisia é algo que ninguém te ensina, mas você aprende no dia a dia e hoje eu considero que já venci essas barreiras. Sinto medo de que, por exemplo, esse tipo de discurso possa vir a influenciar a opinião de outras pessoas, mas sigo com a esperança de que é apenas um burburinho passageiro e sem importância. Estamos fazendo história com o nosso projeto e eu mesma não iriei permitir que destacam de tudo o que fizemos e fazemos por não entenderem uma simples brincadeira.
Jornalista 15 – Com uma carreira que abrange música, filmes e agora brinquedos, como você vê o futuro da Sofía enquanto artista e empresária? A boneca Nancy é o começo de uma nova fase para você?
Sofía – Ela é, mas, talvez, não no sentido que vocês esperem. Não pretendo seguir outra carreira a não ser aquela de cantora. Claro que os planos de vida podem sim se modificar, mas não é o que eu quero. Essas atividades como a de fazer filmes e de lançar bonecas são complementares e as quais eu não necessariamente quero me dedicar para toda a vida. Eu sou uma cantora que se aventura em outros territórios, mas, acima de tudo, sou cantora. E isso é algo ao qual eu nunca vou deixar passar. Sim, hoje trabalho com audiovisual e brinquedos, mas continuo sendo uma cantora [risos]. Cantar é o que amo fazer e não largaria isso por nada. Novamente, é algo que sinto hoje; amanhã tudo pode mudar e eu decidir virar design de brinquedos, porquê não? [risos].
Jornalista 16 – Você recebeu um relato de uma das pessoas responsáveis por uma das instituições contempladas pelo seu projeto. Esse foi o primeiro relato que recebeu ou já houve outros?
Sofía – Aquele da Jandra foi o primeiro em vídeo, mas já tinha recebido o contato do pessoal que recebeu dinheiro através de e-mail com fotografias e cartinhas escritas pelas crianças amparadas por essas instituições.. É importante que tenhamos recebido essas manifestações justamente para sabermos em quê estamos ajudando. E não falo isso como uma forma de “cobrar”, mas de colocar humanidade no projeto. Às vezes eu sentia que estávamos falando de pessoas tão distantes que falar de suas dores era quase como falar de algo que não tinha corpo, nem mente ou nada que de fato os materializasse. A tecnologia, felizmente, nos põe em constante troca com os nossos semelhantes e é possível conhecer uma infinidade de pessoas sem sequer sair de casa. Enfim, aquele vídeo realmente me emocionou. Não foi a primeira vez que tinha assistido, por óbvio, mas na primeira visualização eu confesso que chorei. Saber que algo que eu mesma idealizei está mudando a vida de tantos pequenos é realmente emocionante. Ela nos mandou outro vídeo com algumas crianças brincando, mas optamos por não exibir para não expor as crianças, mas esse me tirou o chão. Jandra pôde, enfim, reformar a casa onde ela acolhe as crianças vítimas de violência, assim como os responsáveis que, por sua vez, também sofrem com violência, principalmente as mulheres. Sei que o que fizemos não vai mudar o mundo, mas é uma gota que preenche um oceano. Sei que podemos muito mais e estou disposta a dobrar a aposta para que possamos ter mais sorrisos como àqueles que iluminem os nossos dias.
Jornalista 17 – Você pensa em outras ações que contemplem outras lutas sociais?
Sofía – Eu penso bastante em como fazer um projeto público, porquê individualmente eu já faço parte de organizações em defesa dos direitos das mulheres, da população LGBTQIAPN+, de luta contra o racismo e a xenofobia. Tive a oportunidade de fazer isso com Nancy e assim que for possível, com certeza, farei algo voltado, também, à essas causas que causam tanto desconforto em uma sociedade que se diz moderna, democrática. É preciso agir sobre essas mazelas sociais e destituí-las de sua legitimidade social. Essa legitimidade que é construída no cotidiano por nós mesmos e pelo Estado. Se fecharmos os olhos para as nossas responsabilidades continuaremos a fomentar tais mazelas.
Jornalista 18 – Não é comum que artistas do seu porte estejam tão envolvidos politicamente em causas. O que costumamos ver é um posicionamento discreto. O que te levou a ser tão explícita na sua abordagem?
Sofía – Eu entendo, embora não concorde muito, com quem se posiciona apenas em privado. Eu discordo pois acredito que nós que possuímos influência temos um dever de dialogar com o maior número de pessoas sobre esses assuntos que fazem parte da nossa vida. Por isso faço questão de falar sobre essas mazelas sociais. Eu tenho um público gigantesco ao qual eu não posso privar desse tipo de discurso. Eu não posso chegar neles apenas para vender minhas músicas. Isso é massa de manobra. Quero que aqueles que me acompanham possam ouvir àquilo que indigna e reflitam sobre o próprio mundo el que vivemos. Sei as implicações dessa minha postura mais incisiva e estou disposta a continuar. Ao mesmo tempo, só falar não é bom também. Temos que agir também. Se alguém me diz que é contra o racismo, a xenofobia, à homofobia ou qualquer outro tipo de opressão eu direi “não faz mais que sua obrigação” e logo questiono sobre as atitudes que toma no dia a dia para não fazer parte dessa estrutura de opressão que nos cercam.
Jornalista 19 – Agora eu queria falar especificamente sobre o seu mais novo lançamento, o single PARADISE. Ele está fazendo um sucesso gigantesco incluindo um acúmulo de números que extrapolou o que já havíamos visto na história da música. Como você se sente com todo esse sucesso e se isso, ainda hoje, tem impacta de alguma forma no momento do lançamento de um novo trabalho musical?
Sofía – Eu vi o número que atingimos essa semana e fiquei realmente surpresa. Não vou mentir que estamos realmente trabalhando para que a música alcance ainda mais pessoas, contudo, não esperava que chegássemos ao patamar que chegamos. É claro que fico feliz, mas, por outro lado, isso adiciona uma camada de pressão que, obviamente, acompanha os demais lançamentos. Não fico com neura de fazer quantidade x ou y de streams, embora isso importe para a gravadora e até para os próprios fãs. O importante é que eu não caía nesse jogo de me importar unicamente com números, mas de fazer o meu trabalho de maneira mais autônoma e livre. Acredito que se você dá tanta atenção aos números assim é apenas um meio caminho para que você perca a sua essência. E isso pode parecer hipócrita já que estou alcançando números estratosféricos, mas se estou alcançando esses números é porque estou trabalhando para que isso aconteça. Faço as músicas que quero e que acho que são importantes. Sou bem pé no chão quando se trata de números. Me empenho quando acho que devo e, quando não fico bem tranquila. Espada foi uma dessas músicas que dediquei pouco tempo para divulgação, por exemplo, e estou feliz com o resultado orgânico que ela vem tendo. Eu não idealizo nenhuma canção pensando “poxa, essa aqui vai ser #1” ou “essa aqui não chega nem no top 15”. Não funciona para mim, apenas. E não acho que nós, enquanto artistas, não deveríamos seguir por esse caminho tão nebuloso.
Jornalista 20 – PARADISE trouxe um frescor para a sua carreira que você já vem tentando abranger desde o lançamento de HASTA QUE SALGA EL SOL. Como essa música se relaciona com o novo momento de sua carreira?
Sofía – PARADISE é uma das canções mais desafiadoras que já lancei na minha carreira, justamente por ser algo tão fora daquilo que costumava fazer que se tornou um perigo
Contudo, eu nunca tive medo de lançar ou receio com essa faixa em específico. Sabia que ela tinha um apelo pelas colaborações, então me senti mais preparada que nunca para um lançamento. Estou muito mais solta e confiante de mim mesma e essa música reflete esse meu momento pessoal e profissional. E escolhi parceiras que também ecoam esse momento tão renovador para mim. Gosto de dizer que agora me sinto mais preparada para enfrentar os obstáculos que virão. Foi um prazer imenso dividir vocais com amigas tão queridas para mim. Elas fazem parte dessa história que estamos fazendo. E eu sabia que elas deveriam estar comigo nesse meu novo momento.
Jornalista 21 – Você lançou um remix com Tieta uma semana após o lançamento da primeira versão. A minha pergunta é o porquê de não ter lançado a versão com as quatro já de saída.
Sofía – A música foi pensada, inicialmente, para sermos apenas em três e foi por isso que a primeira versão foi a do trio. A Tieta entrou apenas como produtora nessa primeira versão e durante os nossos trabalhos eu acabei pensando em incluir ela na música, ela topou e escrevemos o seu trecho e adicionamos em uma versão estendida da música original. A que lancei mais recentemente tem mais de três minutos, por exemplo. Eu quis ser fiel a mim mesma e lançar aquela versão que eu planejei primeiro e lançar a com a Tieta em um momento posterior, pois assim os fãs puderam apreciar ambas as versões cada qual com suas características.
Jornalista 22 – Sofía, você foi uma das grandes estrelas da premiação latina MIAW. Como é, para você, enquanto uma artista que levanta a bandeira da latinidade ver uma premiação como essa recebendo tanto reconhecimento internacional?
Sofía – Eu fico feliz de que temos mais espaço para nos mostrar e mostrar a nossa arte. Por muito tempo, nós, latino-americanos, ficamos relegados à uma humanidade secundária e não falo nem apenas em termos de música, mas da própria civilização humana. Éramos tidos como seres inferiores e dignos de pena. Hoje esse tipo de discurso não se sustenta. Poxa, a artista que mais movimenta o mercado musical é latina. Vocês podem se perguntar o porquê, o como e o quando o mundo girou tanto. Eu gostaria de dizer que isso só tem uma explicação: esforço e vontade de vencer não sozinha, mas com todo o meu povo. As premiações quase sempre reservam um espaço destinado aos latinos em suas categorias o que, ao meu ver, é tanto positivo quanto negativo. Do lado positivo significa que teremos espaços, do negativo que não consideram nossa arte capaz de disputar com artistas de outras regiões. Temos algumas premiações que hoje, por exemplo, excluíram as categorias regionais, mas percebo que há sempre uma tendência a indicar os artistas europeus e asiáticos, infelizmente. Então premiações que aconteçam, sejam planejadas e destinadas ao público latino-americano é um ganho enorme. Não consigo expressar em palavras a emoção de ver Bru e Rique apresentando aquela noite e brilhando como toda a América Latina merece brilhar. Me sobra orgulho e felicidade. Enquanto uma pessoa que se posiciona e luta pelos direitos de todo um povo, não posso deixar de expressar a minha satisfação de termos um espaço só nosso para celebrar. É claro que dividimos com outras categorias globais, mas é óbvio que somos as estrelas dessa premiação em específico.
Jornalista 23 – Estamos à alguns dias do lançamento de seu novo álbum e eu gostaria de te perguntar se mesmo depois de tantos anos e de quatro discos, ainda permanece uma sensação de medo ao lançar um álbum completo?
Sofía – Definitivamente! Me sinto ainda como aquela garota que estava lançando o seu primeiro disco, totalmente nervosa e com dor de barriga. É claro que hoje as coisas já não são tão novas como eram no meu primeiro trabalho, mas ainda sinto apreensão por esses lançamentos de grande porte como álbuns, por exemplo. Afinal, constituem uma realização de um trabalho maior e tenho pouca margem de modificar após o seu lançamento. Um single é mais fácil pois, por exemplo, se não for bem recebido posso mudar de ideia sobre ele estar ou não no disco final. Enfim, é um processo realmente desgastante e que explica esse medo que tenho de lançar álbuns. Mas é muito divertido lançar todas essas músicas uma vez só. O que muda é a minha maturidade frente aos desafios que se apresentam para mim, de resto, ainda continuo com o mesmo sentimento de apreensão que tinha quando ainda era uma novata nessa indústria da música.
Jornalista 24 – Como o seu novo disco adapta as músicas latinas e em que medida ele se afasta ou aproxima do anterior, o HASTA QUE SALGA EL SOL?
Sofía – Ele mais se aproxima do que se afasta do HASTA QUE SALGA EL SOL. Não digo que é uma continuação, pois não, é uma versão que complementa o primeiro disco e torna ele ainda mais coeso em termos de ideia e de resgate das minhas influências latino-americanas. É um álbum que está mais embebido nos ritmos da minha cultura que o primeiro, eu acho. Posso dizer que há uma dinamicidade ainda mais visível e que, com certeza, quem gostou do primeiro irá gostar desse segundo. Me senti muito mais livre para escrever as canções e explorar novos gêneros para o MÁS ALLÁ DE LA LUNA. Temos tango, merengue, trap, música regional mexicana, reggaeton, funk e mais outros e isso me fez muito feliz. Consegui fazer um disco coeso com tantas músicas que, no fim, são bem diferentes uma das outras. É claro que em algumas as batidas se assemelham, mas são canções diferentes entre si. A cada nova faixa é uma experiência inédita. Se vocês esperam outra PARADISE no disco, podem esquecer. Eu queria algo muito mais fluído e dinâmico para que fosse um trabalho que abarcasse um número muito maior de referências e possibilidades.
Jornalista 25 – A sua equipe já nos avisou que essa deveria ser a última questão antes de irmos para o lançamento oficial de Nancy, então vamos lá. Como você se descreveria hoje, após tantos lançamentos de grande repercussão e sucesso? Quem é Sofía pela própria Sofía?
Sofía – Sofía é uma mulher de força enorme e apaixonada por aquilo que faz. Os seus sonhos ainda estão por se realizar e ela acredita que conseguirá depositando muita fé no seu trabalho e na capacidade de gerir a sua carreira e sua vida pessoal. Hoje me considero uma mulher muito empoderada e encantada com os rumos aos quais decidi seguir com a minha vida. O sucesso que venho fazendo é um reflexo do meu trabalho duro tantos anos na indústria. Sei que conquistei tudo o que tenho até agora por esforço da minha parte e me sinto muito mais à vontade para explorar as possibilidades que a vida me traz. Sofía é uma mulher mais confiante de si mesma e está pronta para quebrar o mundo com a sua arte [risos]. Quebrar no bom sentido, é claro. Estou animada para o que está por vir nos próximos dias, semanas e meses. Louca para vocês poderem ver o que preparamos com tanto carinho para este novo momento.
Após o final da entrevista, Sofía e seus convidados se movimentaram ao longo de todo o cenário disfrutando dos comes e bebes e conversando sobre as suas experiências com a boneca Nancy e elogiando a organização evento daquela noite. Como anfitriã, a artista aproximava-se de todes os convidades conversando com eles e investigando-os sobre suas necessidades e expectativas para o lançamento que iria ocorrer logo mais. A cantora mexicana foi chamada por sua equipe para o lançamento e se dirigiu para o palco.
Sofía – Pessoal, chegou a hora mais esperada da noite! Está oficialmente lançada a boneca Nancy, inspirada em mim e na minha canção PARADISE. Este é um projeto do qual muito me orgulho de ter idealizado junto de uma equipe tão competente quanto a da FAMOSA. Novamente, gostaria de reiterar que todo o dinheiro arrecadado com as vendas dessa boneca, e da outra versão que sairá mais adiante, serão revertidas para instituições que atuem contra a violência infantil e promovam uma infância que respeite o direito desses pequenos de um desenvolvimento cognitivo amplo. É um projeto que sinto prazer em divulgar e mostrar para todes o que podemos fazer com um gesto tão bonito. Os brinquedos são fontes de criatividade e poder. Juntos poderemos agir para modificar, nem que seja um pouco, o nosso próprio mundo. Não iremos acabar com a violência contra as crianças é óbvio, mas é um pequeno passo em direção a mudança.
Todos aplaudem o discurso de Sofía.
Sofía – Bem, hoje eu gostaria de fazer uma atividade diferente com vocês para celebramos esse lançamento tão especial. Convidamos um padre para fazer uma bênção original para este evento. Apresento-lhes um homem com contato direto com o divino, o padre Constantine. É claro que ele é só uma caricatura e desde já aviso que meu intuito não é ofender a religião de ninguém; mas, caso se sintam ofendidos, melhorem para que eu não precisa repetir isso novamente. Constantine, você já abençoou uma boneca?
Constantine – Várias, querida. É um dos meus cases de sucesso. Acho que você viu no meu portfólio o trabalho primoroso que fiz com Annabele.
Sofía – Ah, claro! Foi realmente espetacular como você não conseguiu expulsar o demônio daquele objeto horroroso. Mas você tentou e é isso que importa.
Constantine – Isso doeu!
Sofía – Não importa! Temos muito trabalho a fazer. Podemos começar com a bênção?
Constantine – Claro!
Sofía saiu do palco e deixou o padre fictício e a boneca sozinhos enquanto se reunia com os jornalistas para fotografar o momento que deveria ser engraçado. Constantine estava vestido com uma batina que continha traços em dourado e ele vestia um óculos de sol em formato de estrela, como se fosse um astro do rock.
Constantine – Estamos aqui reunidos, hoje, em nome de todos os brinquedos incompreendidos, das bonecas rejeitadas e dos armários cheios de prateleiras vazias, estamos aqui para abençoar esta criatura feita de plástico, sonhos e um toque de glitter! Amém!
Todos ecoam em uníssono o “amém!”
Constantine – A nossa querida Nancy está, finalmente, debutando no mundo e, para surpresa de muitos, não tem nenhum demônio escondido em seu corpinho de plástico. E confiem em mim, se tivesse eu seria o primeiro a saber. E a correr daqui. Vocês podem acha-la estranha, feia ou desengonçada, mas isso não a faz dela um objeto de possessão demoníaca. E não é porque a sua versão bruxa é medonha que seus filhos devam circunscrevê-las em círculos de sal para proteção. Ao comprar o seu exemplar ele virá com um termo de consentimento que deve ser assinado por todos os parentes, crianças e espíritos obsessores que, porventura, possam estar acompanhados destas pessoas.
Todo mundo aplaude e Sofía ri descontroladamente.
Constantine - Agora, com todo o poder investido em mim, por mim mesmo, porque ninguém mais teve essa brilhante ideia, eu declaro esta boneca Nancy oficialmente ABENÇOADA! Que cada criança que a segure em suas mãos aprenda a ser corajosa, livre, e, claro, sempre com muito estilo! Amém! E que nós, enquanto consumidores, possamos abrir os olhos para as mazelas que assolam o nosso mundo. As crianças devem ser protegidas não dos fantasmas, mas dos homens e mulheres que se acham no direito de levantar suas mãos para agredi-las ou submetê-las a situações vexatórias.
Sofía aplaude e grita em resposta. Ela retorna ao palco para suas últimas palavras e é ovacionada pelo público que ali estava. Uma lágrima transparente escorreu sobre o seu rosto levemente maquiado.
Sofía – Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a presença de todes aqui nesta noite. Não posso mensurar em palavras o sentimento que sinto ao vê-los aqui dividindo esse momento tão especial comigo. Esse projeto é especial por inúmeros motivos, mas irei repetir apenas um: estamos lidando com um movimento que visa proteger o maior número de crianças possíveis. Não é a salvação destas, infelizmente, mas é uma forma de nos posicionarmos frente ao que está acontecendo em todo o universo: a destruição da infância de milhões de crianças. Enquanto sociedade temos o dever de ir na contramão dessa corrente passiva de aceitar tudo o que acontece sem questionar.
Todos aplaudem Sofía e a festa de lançamento continua. As músicas de Sofía embalam a festa que se segue ao discurso proferido.