PARADISE - SOFÍA, BRU & PLASTIQUE [SHORT-FILM]
Sept 15, 2024 1:06:20 GMT
Post by adrian on Sept 15, 2024 1:06:20 GMT
Duração: 7 minutos e 24 segundos
Roteiro: Sofía
CAPITULO UM - MITOLOGIA
A primeira cena começava em um ambiente totalmente vazio. No lado esquerdo inferior da tela apareceu o nome “Museu Antigo de Guadalajara”. A sala era grande e estava repleta de elementos cobertor por panos da cor branca. A câmera ia passando em cada um dos produtos artísticos cobertos pelo tecido. Havia, no centro da sala, uma estrutura maior tanto de altura quanto de diâmetro. Era uma estátua, o público descobre isso com o foco da câmera em uma placa de mármore ao lado da estátua. Nela estava escrito os seguintes dizeres: “Tres Mujeres. Tres Diosas” ao lado estava inscrita a datação de sua criação 2.000 a.C. Os primeiros quarenta e cinco segundos do vídeo foram dedicados apenas para observar aquele espaço. Em seguida, a câmera focalizou uma porta grande, de madeira. Ela se abriu e um grupo de cinco pessoas adentrou naquele espaço outrora vazio. Era um grupo composto por três mulheres e dois homens. Eles vestiam algo que parecia um jaleco branco, mas não eram médicos: mas arqueólogos prontos para organizar o local para uma exposição. Uma das mulheres cientistas era conhecida pelo grande público: Sofía. O seu cabelo estava maior e com algumas mechas mais claras. As cenas seguintes acompanharam os cientistas na etapa inicial de organização para a exposição.
Eles estavam tirando os panos um a um e limpando com equipamentos especiais cada um dos produtos. Estavam quase todos finalizados, restava apenas a peça central, imponente. Sofía olhou para ela e seus olhos se estreitaram quase instantaneamente. A pupila de seus olhos estava dilatada e, de repente, algo pareceu lhe chamar ainda mais a atenção. Ela se viu andando quase automaticamente para a estátua. Um de seus colega a segurou pelo ombro e ela pareceu retornar à realidade.
- Sofía, querida. Algum problema? – Perguntou um dos cientistas que ali estava.
- Ah, oi, Fernando. Não, nada. Só estava pensando na melhor possibilidade para fazermos a limpeza desta grandona aqui. – Assim que falou apontou o dedo para a grande estrutura que estava a sua frente.
Os dois passaram a admirar aquela estátua coberta e foram interrompidos por uma série de risadas de seus companheiros. Eles se entreolharam e se divertiram com o que estava acontecendo. Após um momento breve de descontração, os cincos se viraram ao monumento e Sofía foi a responsável por retirar o lençol que o cobria. A queda do tecido foi mostrada em câmara lenta. Os cientistas se mostraram impressionados com o que viram e a câmera fez questão de demonstrar a reação de cada um dos cincos. Para mostrar a estátua, a câmera de uma volta de 180º. A estátua era composta por três figuras femininas. Elas estavam esculpidas em mármore e cada detalhe era perfeitamente entalhado. Os olhos, a boca, o nariz e o tecido que cobria os seus corpos esculturais pareciam estar em movimento.
A mulher-estátua que figurava no meio pareceu aproximar-se fisicamente de uma das cientistas ali presente: Sofía. A principal diferença era o tamanho do cabelo que, na estátua, estava mais curto que àquele apresentado pela cantora. Um sorriso grandioso fulgurava na tríade de mármore antiga. As três pareciam carregar objetos distintos em suas mãos. Na da direita havia o que parecia um objeto circular, a do meio segurava uma adaga e a terceira carregava nas palmas de sua mão aberta um anel. Todos pareciam momentaneamente hipnotizados pelo o que se mostrava naquele momento. Sofía deu passos involuntários para a frente do monumento. Ela parecia realmente encantada e seu olhar se dirigia principalmente àquela que parecia consigo. A tela chegou a dividir o rosto da Sofía e da estátua como forma de transparecer ao público a semelhança entre ambas. Um sorriso de divertimento esboçou na Sofía-cientista, algo estava a intrigando naquela estranha semelhança.
- Ela não parece... comigo? Essa do meio? – Indagou Sofía aos seus companheiros.
- Parece sim, inclusive, acho que deveria cortar o cabelo igual ao dela. Há dois mil anos e ela já meteu um corte de cabelo curto? Ela é minha ídola! Uma pena que não tem o nome de nenhuma das três aqui. – Disse uma das outras cientistas que a acompanhava.
A mesma cientista se aproximou de Sofía com uma prancheta repleta de papeis avulsos e procurava algo lhe informasse mais a respeito da peça que visualizavam.
- Oh, vejam! Aqui temos a história dela. Sofía, quer nos dar o prazer de lê-la? – Sofía ouviu e assentiu positivamente.
Todos se dirigiram à uma mesa preparada para os trabalhos de escrita e leitura ali próxima. Os cinco se sentaram ao redor do móvel em frente para a estátua enquanto a voz da artista dominou o videoclipe pelo próximo minuto. Enquanto a sua voz narrava os acontecimentos, o videoclipe mostrava cenas em desenho do que iria acontecendo. Os traços eram simples, porém muito bem detalhados.
“Há dois mil anos antes da era comum, uma lenda dominava o imaginário de todo um povo antigo. As suas ações eram movidas pela crença em uma tríade divina de deusas que, de acordo com o que foi documentado ao longo dos séculos, representavam o futuro, o presente e o passado. Elas eram representadas segurando objetos mágicos, aos quais lhe conferiam poder. A primeira possuía uma bola de cristal que, diferentemente do que possamos pensar, dava acesso aos acontecimentos passados. Era a responsabilidade da deusa encaminhar os indivíduos para um caminho de superação daquilo que era considerado ultrapassado; seu dever era a de servir de guia. A segunda, que carregava consigo uma adaga prateada, era a deusa guerreira, responsável pela manutenção da segurança e da instrução. A terceira e última carregava consigo um anel de ouro maciço que lhe dava uma visão do futuro e o comprometimento com a ordenação dos homens rumo ao melhor caminho. O trio de deusas era cultuado pela beleza, pela santidade e pela sensualidade. Cultuadas através de rituais religiosos, diziam as lendas que apareciam anualmente para alegrar os seus fiéis: proporcionavam banquetes e, além disso, deitavam-se com os homens e mulheres que consideravam merecedores de adentrar ao seu paraíso.”
- Uau! Que deusas modernas, não? Elas promoviam um verdadeiro bacanal. – Fernando falou.
- Interessante que essa crença tenha sido surgido há tanto tempo, não? Não me parece estar em conformidade com as demais crenças dessa mesma época. E três mulheres ainda? Muito difícil e inesperado. – Disse Sofía.
- A sua doppelganger parecia viver uma vida bem mais animada que a sua, e olha que isso foi há dois milênios. – Fernando falou sorrindo sendo acompanhado pelos demais, inclusive Sofía.
Eles continuaram rindo, mas, em seguida, deram prosseguimento ao processo de limpeza para que as peças pudessem ser visualizadas o quanto antes. Sofía era a que parecia mais empenhada na tarefa, pois, enquanto seus colegas brincavam, ela estava realmente concentrada. Ela usava luvas da cor preta na limpeza, mas algo furou o objeto que vestia e, acidentalmente, esbarrou na estátua com o seu dedo nu. Uma faísca elétrica pareceu ligar a estátua e a cantora. Os seus olhos se arregalaram e, instantaneamente ao toque, se tornaram pretos. Assim como a tela escureceu completamente.
CAPÍTULO DOIS - O PARAÍSO
Após cerca de cinco segundos de completa escuridão, a luz retorna a cena. Sofía estava deitada em um outro local e o cenário que via a sua volta era completamente diferente do qual estava anteriormente. Ao olhar para o lado vislumbrou uma janela de pedra que dava acesso à um jardim extremamente verde, com plantações de rosas coloridas e borboletas que sobrevoam estas flores. A própria iluminação do local dava a sensação de um lugar extraterreno: o próprio paraíso. De onde estava deitada, ela tocou em seu próprio corpo e se viu vestida com vestes diferentes. A roupa que vestia no capítulo anterior fora substituída por uma túnica branca, leve. Em sua cabeça uma tiara coberta por pedras prateadas. Não havia maquiagem em seu rosto, apenas a sua feição normal. Nenhum som podia ser ouvido a não o ser da sua respiração. A sua visão da situação melhorou: estava em um aposento real, com uma cama gigantesca, decorado com diversos elementos de ouro e prata. A porta de madeira se escancarou e duas outras mulheres, vestidas igualmente a Sofía, adentraram ao quarto: Bru e Plastique Condessa.
Sem falar nenhuma palavra e apenas sorrindo, elas levantaram Sofía da cama e a levaram para correr em um corredor vazio e brilhantemente decorado com estátuas, vasos e pinturas divinas. As três mulheres corriam sozinhas e eram acompanhadas por borboletas, pássaros e pequenos insetos. O trio de deusas continuava a correr até que chegaram ao jardim esverdeado. Não esboçaram nenhuma reação de surpresa, afinal, aquela era a sua casa. Havia algo, entretanto, que as encantava naquele momento. Um grupo de dez pessoas, aparentemente humanas, estava ali também. Todos estavam sentados na terra e riam de algo que elas já pareciam saber do que se tratava. Lado a lado, as três se entreolharam e sorriram uma para a outra. O instrumental de Paradise se iniciou e houve uma mudança na atmosfera.
A câmera focou em Bru quando os primeiros versos foram entoados ressaltando o seu rosto e os traços dourados que estavam decorando o seu rosto de deusa. Na cena seguinte, acompanhando o ritmo do funk brasileiro, todas as três apareceram em trajes mais ousados em um quarto de luz escura e avermelhada. Elas pareciam dançar com aquelas pessoas que as acompanhavam no jardim. O quarto em que estavam, contudo, em nada parecia lembrar o lugar etéreo, divino que foi representado anteriormente. Era um quarto decorado com instrumentos de couro, correntes que iam do teto até o chão. Assim que Sofía assumiu os vocais, as cenas seguintes a representaram dançando em cima de uma das mulheres que estava presa às correntes. Os flashes das imagens mostravam as mulheres em toda a sensualidade possível em mulheres cuja aura era divina.
O refrão foi seguida por imagens que traziam as três mulheres juntas em um salão gigantesco. Elas vestiam as mesmas roupas brancas, de tecido leve. Elas estavam no centro de um círculo formado por homens e mulheres que pareciam adorá-las. Seus movimentos eram vistos por todos, afinal, estavam em uma plataforma elevada. As pessoas no chão as olhavam com admiração total e irrestrita. Seus olhos não se desprendiam daquele trio. Elas emanavam em si uma luz irresistível. Enquanto estavam na plataforma dançavam e eram seguidas por seus leais súditos.
Os versos em francês de Plastique as acompanharam, novamente, naquela sala avermelhada de sexo ininterrupto. Plastique, por sua vez, cantava enquanto olhava para a câmera e, no fundo, os convidados das deusas observavam Bru e Sofía se beijarem lentamente. As imagens iam de Plastique para ao que acontecia ao seu redor. Não havia par único, todos se beijavam e beijavam as diversas partes de seus corpos. A própria Plastique foi na direção de Bru e Sofía e se reuniu com elas em um trio. As três deusas, então, no exato momento em que o segundo refrão iria começar, se beijaram e a câmera acompanhou o beijo triplo de cima.
Na continuidade do refrão, retornamos à cena em que eram adoradas pelos seus fieis no grande salão. Elas se alternavam no centro daquele trio. Os seus rostos demonstravam alegria e paz. Os seus corpos emanavam uma luz esbranquiçada que aprofundava a sua representação imagética da sua própria divindade. Os versos de Bru se iniciaram e a cena se manteve naquele salão gigantesco. Ela tomou a frente, enquanto as suas companheiras estavam em sua retaguarda. Ao assumir a posição de liderança, a cantora tomava conta de todo os fieis para si. Ela dominava os olhares e os desejos. A câmera captava as mais diversas partes de seu corpo escultural.
O último refrão foi entoado pelo trio de mulheres. As imagens se sobrepunham uma às outras: ora estavam no salão, ora dançavam sozinhas no jardim divino ou estavam no quarto avermelhado. O tom ébrio permanecia nestes momentos em que não estavam praticando sexo, embora quando representadas no quarto vermelho, perdiam essa aura divina e as suas imagens ganhavam uma conotação mais carnal, sexual. Os homens e as mulheres que as acompanhavam eram registrados pelo vídeo obtendo prazer a cada toque de dedos, a cada aproximação dos lábios das deusas em seus corpos desnudos. O êxtase e o gozo predominavam nos segundos finais da canção.
Assim que a música findou, as mulheres estavam, novamente, nos jardins divinos. A aura divina retornava aos seus corpos. Elas se sentaram ao chão e formaram um pequeno círculo. Em uma visão acima de suas cabeças, a câmera girava enquanto captava os sons da natureza. Sem dizer nenhuma palavra, cada uma destas mulheres estenderam suas mãos para o centro do círculo e depositaram no chão cada qual um item: Bru, uma pedra de tamanho médio; Sofía, uma adaga prateada e ornamentada com pedras preciosas; Plastique, um anel de ouro maciço. Juntos, os elementos representavam os poderes concedidos à uma daquelas deusas. A pedra de Bru a concedia o poder de ver o passado e guiar para o futuro. A adaga de Sofía era a prerrogativa da coragem e do esforço da luta. O anel de Plastique a permitia se compromissar com o futuro. Juntos, os três itens permitiam com que estas mulheres se tornassem elas próprias, as representações do passado, do futuro e do presente. Uma luz branca foi emitida pelos objetos.
CAPÍTULO 03 - ALÉM DA LUA
A luz branca invadiu a tela e nada mais pôde ser vista a não ser os ecos da canção que havia terminado "diosa, donde tu eres (paradise)". Sofía acordava de um desmaio que havia tido e estava sendo amparada pelos seus colegas cientistas. Ela parecia confusa e olhou para o redor e estranhou a sua aparição ali. Seu corpo inerte havia sido carregado para uma cadeira e lhe fora oferecido água pelos seus colegas que a olhavam preocupados. Seu olhar foi na direção da estátua de mármore que estava sendo iluminada pela luz do luar. A lua brilhava mais que nunca: ela parecia pulsar, ter vida própria. Sofía não soube o que pensar e apenas se calou. O falatório era escutado pela mulher, mas ela parecia ainda estar em outro mundo. Algo, contudo, mudaria aquela situação. Um bater de palmas preencheu o local. Todos se assustaram e nenhum se moveu. O som das palmas reapareceu e Fernando foi na direção do som que ouvia. Não demorou nem dez segundos para que ele voltasse com duas visitantes, estas eram Bru e Plastique Condessa. Bru estava trajando uma saia branca curta, uma camisa de veludo rosa e um salto alto acompanhado por meias também brancas; já Plastique aparecia com um vestido completamente negro que ia até os seus pés.
Todos as encararam até que Plastique rompeu o silêncio e dirigiu suas palavras diretamente à Sofía.
- Sabe, há muitos anos que não nos vemos, não é? Estava com saudades, querida. Temos muito trabalho a fazer a partir de agora. Ou melhor, você tem muito trabalho. - Falou com a voz firme.
- Tenho muito trabalho? Como assim? Do que você está falando? Quem são vocês? - Perguntou Sofía assustada.
Bru e Plastique se entreolharam e sorriram como se aquela pergunta as divertisse.
- Olhe para a lua, querida. Não sente nada? Não sente que ela lhe chama? - Foi a vez de Bru falar.
Sofía mirou seu olhar para a lua. Ela sentiu, novamente, que o astro pulsava. Levantou-se da cadeira de onde estava e foi na direção da janela que iluminava o local. O seu olhar era profundo e determinado e, de repente, pareceu entender o que as novas mulheres lhe haviam dito. A sua cabeça girou na direção das visitantes e, delas, para a estátua das três deusas. Era evidente a semelhança que possuíam com as três mulheres ali presentes. Eram elas próprias reencarnação das divindades. Sofía afirmou com a cabeça para algo que sequer lhe foi perguntado. As três saíram na direção das portas principais e ninguém as impediu, como se estivessem paralisados pela imagem que viam. Em um paralelo com caminhar das deusas nos corredores de sua morada divina, o paraíso, elas andavam em uma rua agitada, colorida por luzes de neon. Elas andaram até chegar a um local pequeno, cuja porta exibia alguns símbolos indecifráveis e uma placa de neon indicava o seu nome como PARADISE. As três entraram.
O local era um salão vazio, por mais que a pequenez da porta desse a impressão do contrário. Havia apenas uma mesa no centro daquela sala que continha três objetos que brilhavam banhados pela luz do luar que as seguiu. O trio se aproximou da mesa e cada uma ficou a frente de um dos objetos que lhes pertencia em tempos distantes.
- Essas relíquias... - Sofía falou temerosa.
- Já não nos servem mais, infelizmente. - Plastique falou com um ar de divertimento em sua voz.
- Como assim? Não servem mais? - Sofía perguntou atônita.
- Você que é cientista deveria saber melhor que nós que, desde muito, o mundo se desencantou da magia. E o mesmo aconteceu conosco. - Bru respondeu.
- Bem, não sabia que a teoria de Max Weber se aplicava ao divino. - Sofía falou.
- Os homens e as mulheres há muito perderam a fé e a conexão com a natureza. Nesse ínterim, nós também perdermos a divindade que nos assegurava um lugar de prestígio no mundo. Enfim, somos apenas três mulheres comuns. Talvez nem tão comuns assim, não é mesmo? - Plastique assumiu a palavra.
- Então porquê eu tive aquela visão? Porque vocês apareceram justamente nesse momento? - Perguntou Sofía.
- Tínhamos que aparecer para encerrar esse ciclo com você, minha amiga. Passamos pelo o mesmo que você há muito tempo e faltava apenas você para que possamos viver nossas novas vidas. - Bru respondeu.
O barulho dos carros e das pessoas falando se sobrepôs aos das três mulheres que continuaram conversando sem parar. A lua ainda estava brilhante e pulsava a cada olhar de Sofía.
- Pessoal, por que a lua está brilhando? Ela parece que está pulsando, como se fosse... um coração. - Disse Sofía enquanto mantinha seus olhos no astro luminoso.
- Ah, querida, esse é o seu propósito. Para além da lua, há algo que só você poderá descobrir. - Falou Plastique.
- Eu não entendi. - Assim falou a mexicana.
- Não vamos poder te instruir mais que isso, querida. Nem nós sabemos do que se trata, apenas de que deveríamos dar esse primeiro passo com você. A partir de agora, é apenas você. - Falou Bru.
- Para além da lua? - Perguntou, novamente, Sofía.
- Para além da lua. - Responderam em uníssono.
As cenas seguintes acompanharam a despedida de Bru e Plastique que deixaram Sofía na porta daquele local chamado PARADISE. Assim que se viu sozinha, a cantora mexicana pediu um Uber pelo seu aplicativo e abriu o Spotify para que reproduzisse uma canção: a canção ser executada foi PARADISE cantada pelo trio. A última imagem que foi visualizada foi a de Sofía olhando para a lua enquanto era iluminada pela luz neon emitida pela placa do "paraíso".
CONTINUA...
CAPÍTULO DOIS - O PARAÍSO
Após cerca de cinco segundos de completa escuridão, a luz retorna a cena. Sofía estava deitada em um outro local e o cenário que via a sua volta era completamente diferente do qual estava anteriormente. Ao olhar para o lado vislumbrou uma janela de pedra que dava acesso à um jardim extremamente verde, com plantações de rosas coloridas e borboletas que sobrevoam estas flores. A própria iluminação do local dava a sensação de um lugar extraterreno: o próprio paraíso. De onde estava deitada, ela tocou em seu próprio corpo e se viu vestida com vestes diferentes. A roupa que vestia no capítulo anterior fora substituída por uma túnica branca, leve. Em sua cabeça uma tiara coberta por pedras prateadas. Não havia maquiagem em seu rosto, apenas a sua feição normal. Nenhum som podia ser ouvido a não o ser da sua respiração. A sua visão da situação melhorou: estava em um aposento real, com uma cama gigantesca, decorado com diversos elementos de ouro e prata. A porta de madeira se escancarou e duas outras mulheres, vestidas igualmente a Sofía, adentraram ao quarto: Bru e Plastique Condessa.
Sem falar nenhuma palavra e apenas sorrindo, elas levantaram Sofía da cama e a levaram para correr em um corredor vazio e brilhantemente decorado com estátuas, vasos e pinturas divinas. As três mulheres corriam sozinhas e eram acompanhadas por borboletas, pássaros e pequenos insetos. O trio de deusas continuava a correr até que chegaram ao jardim esverdeado. Não esboçaram nenhuma reação de surpresa, afinal, aquela era a sua casa. Havia algo, entretanto, que as encantava naquele momento. Um grupo de dez pessoas, aparentemente humanas, estava ali também. Todos estavam sentados na terra e riam de algo que elas já pareciam saber do que se tratava. Lado a lado, as três se entreolharam e sorriram uma para a outra. O instrumental de Paradise se iniciou e houve uma mudança na atmosfera.
A câmera focou em Bru quando os primeiros versos foram entoados ressaltando o seu rosto e os traços dourados que estavam decorando o seu rosto de deusa. Na cena seguinte, acompanhando o ritmo do funk brasileiro, todas as três apareceram em trajes mais ousados em um quarto de luz escura e avermelhada. Elas pareciam dançar com aquelas pessoas que as acompanhavam no jardim. O quarto em que estavam, contudo, em nada parecia lembrar o lugar etéreo, divino que foi representado anteriormente. Era um quarto decorado com instrumentos de couro, correntes que iam do teto até o chão. Assim que Sofía assumiu os vocais, as cenas seguintes a representaram dançando em cima de uma das mulheres que estava presa às correntes. Os flashes das imagens mostravam as mulheres em toda a sensualidade possível em mulheres cuja aura era divina.
O refrão foi seguida por imagens que traziam as três mulheres juntas em um salão gigantesco. Elas vestiam as mesmas roupas brancas, de tecido leve. Elas estavam no centro de um círculo formado por homens e mulheres que pareciam adorá-las. Seus movimentos eram vistos por todos, afinal, estavam em uma plataforma elevada. As pessoas no chão as olhavam com admiração total e irrestrita. Seus olhos não se desprendiam daquele trio. Elas emanavam em si uma luz irresistível. Enquanto estavam na plataforma dançavam e eram seguidas por seus leais súditos.
Os versos em francês de Plastique as acompanharam, novamente, naquela sala avermelhada de sexo ininterrupto. Plastique, por sua vez, cantava enquanto olhava para a câmera e, no fundo, os convidados das deusas observavam Bru e Sofía se beijarem lentamente. As imagens iam de Plastique para ao que acontecia ao seu redor. Não havia par único, todos se beijavam e beijavam as diversas partes de seus corpos. A própria Plastique foi na direção de Bru e Sofía e se reuniu com elas em um trio. As três deusas, então, no exato momento em que o segundo refrão iria começar, se beijaram e a câmera acompanhou o beijo triplo de cima.
Na continuidade do refrão, retornamos à cena em que eram adoradas pelos seus fieis no grande salão. Elas se alternavam no centro daquele trio. Os seus rostos demonstravam alegria e paz. Os seus corpos emanavam uma luz esbranquiçada que aprofundava a sua representação imagética da sua própria divindade. Os versos de Bru se iniciaram e a cena se manteve naquele salão gigantesco. Ela tomou a frente, enquanto as suas companheiras estavam em sua retaguarda. Ao assumir a posição de liderança, a cantora tomava conta de todo os fieis para si. Ela dominava os olhares e os desejos. A câmera captava as mais diversas partes de seu corpo escultural.
O último refrão foi entoado pelo trio de mulheres. As imagens se sobrepunham uma às outras: ora estavam no salão, ora dançavam sozinhas no jardim divino ou estavam no quarto avermelhado. O tom ébrio permanecia nestes momentos em que não estavam praticando sexo, embora quando representadas no quarto vermelho, perdiam essa aura divina e as suas imagens ganhavam uma conotação mais carnal, sexual. Os homens e as mulheres que as acompanhavam eram registrados pelo vídeo obtendo prazer a cada toque de dedos, a cada aproximação dos lábios das deusas em seus corpos desnudos. O êxtase e o gozo predominavam nos segundos finais da canção.
Assim que a música findou, as mulheres estavam, novamente, nos jardins divinos. A aura divina retornava aos seus corpos. Elas se sentaram ao chão e formaram um pequeno círculo. Em uma visão acima de suas cabeças, a câmera girava enquanto captava os sons da natureza. Sem dizer nenhuma palavra, cada uma destas mulheres estenderam suas mãos para o centro do círculo e depositaram no chão cada qual um item: Bru, uma pedra de tamanho médio; Sofía, uma adaga prateada e ornamentada com pedras preciosas; Plastique, um anel de ouro maciço. Juntos, os elementos representavam os poderes concedidos à uma daquelas deusas. A pedra de Bru a concedia o poder de ver o passado e guiar para o futuro. A adaga de Sofía era a prerrogativa da coragem e do esforço da luta. O anel de Plastique a permitia se compromissar com o futuro. Juntos, os três itens permitiam com que estas mulheres se tornassem elas próprias, as representações do passado, do futuro e do presente. Uma luz branca foi emitida pelos objetos.
CAPÍTULO 03 - ALÉM DA LUA
A luz branca invadiu a tela e nada mais pôde ser vista a não ser os ecos da canção que havia terminado "diosa, donde tu eres (paradise)". Sofía acordava de um desmaio que havia tido e estava sendo amparada pelos seus colegas cientistas. Ela parecia confusa e olhou para o redor e estranhou a sua aparição ali. Seu corpo inerte havia sido carregado para uma cadeira e lhe fora oferecido água pelos seus colegas que a olhavam preocupados. Seu olhar foi na direção da estátua de mármore que estava sendo iluminada pela luz do luar. A lua brilhava mais que nunca: ela parecia pulsar, ter vida própria. Sofía não soube o que pensar e apenas se calou. O falatório era escutado pela mulher, mas ela parecia ainda estar em outro mundo. Algo, contudo, mudaria aquela situação. Um bater de palmas preencheu o local. Todos se assustaram e nenhum se moveu. O som das palmas reapareceu e Fernando foi na direção do som que ouvia. Não demorou nem dez segundos para que ele voltasse com duas visitantes, estas eram Bru e Plastique Condessa. Bru estava trajando uma saia branca curta, uma camisa de veludo rosa e um salto alto acompanhado por meias também brancas; já Plastique aparecia com um vestido completamente negro que ia até os seus pés.
Todos as encararam até que Plastique rompeu o silêncio e dirigiu suas palavras diretamente à Sofía.
- Sabe, há muitos anos que não nos vemos, não é? Estava com saudades, querida. Temos muito trabalho a fazer a partir de agora. Ou melhor, você tem muito trabalho. - Falou com a voz firme.
- Tenho muito trabalho? Como assim? Do que você está falando? Quem são vocês? - Perguntou Sofía assustada.
Bru e Plastique se entreolharam e sorriram como se aquela pergunta as divertisse.
- Olhe para a lua, querida. Não sente nada? Não sente que ela lhe chama? - Foi a vez de Bru falar.
Sofía mirou seu olhar para a lua. Ela sentiu, novamente, que o astro pulsava. Levantou-se da cadeira de onde estava e foi na direção da janela que iluminava o local. O seu olhar era profundo e determinado e, de repente, pareceu entender o que as novas mulheres lhe haviam dito. A sua cabeça girou na direção das visitantes e, delas, para a estátua das três deusas. Era evidente a semelhança que possuíam com as três mulheres ali presentes. Eram elas próprias reencarnação das divindades. Sofía afirmou com a cabeça para algo que sequer lhe foi perguntado. As três saíram na direção das portas principais e ninguém as impediu, como se estivessem paralisados pela imagem que viam. Em um paralelo com caminhar das deusas nos corredores de sua morada divina, o paraíso, elas andavam em uma rua agitada, colorida por luzes de neon. Elas andaram até chegar a um local pequeno, cuja porta exibia alguns símbolos indecifráveis e uma placa de neon indicava o seu nome como PARADISE. As três entraram.
O local era um salão vazio, por mais que a pequenez da porta desse a impressão do contrário. Havia apenas uma mesa no centro daquela sala que continha três objetos que brilhavam banhados pela luz do luar que as seguiu. O trio se aproximou da mesa e cada uma ficou a frente de um dos objetos que lhes pertencia em tempos distantes.
- Essas relíquias... - Sofía falou temerosa.
- Já não nos servem mais, infelizmente. - Plastique falou com um ar de divertimento em sua voz.
- Como assim? Não servem mais? - Sofía perguntou atônita.
- Você que é cientista deveria saber melhor que nós que, desde muito, o mundo se desencantou da magia. E o mesmo aconteceu conosco. - Bru respondeu.
- Bem, não sabia que a teoria de Max Weber se aplicava ao divino. - Sofía falou.
- Os homens e as mulheres há muito perderam a fé e a conexão com a natureza. Nesse ínterim, nós também perdermos a divindade que nos assegurava um lugar de prestígio no mundo. Enfim, somos apenas três mulheres comuns. Talvez nem tão comuns assim, não é mesmo? - Plastique assumiu a palavra.
- Então porquê eu tive aquela visão? Porque vocês apareceram justamente nesse momento? - Perguntou Sofía.
- Tínhamos que aparecer para encerrar esse ciclo com você, minha amiga. Passamos pelo o mesmo que você há muito tempo e faltava apenas você para que possamos viver nossas novas vidas. - Bru respondeu.
O barulho dos carros e das pessoas falando se sobrepôs aos das três mulheres que continuaram conversando sem parar. A lua ainda estava brilhante e pulsava a cada olhar de Sofía.
- Pessoal, por que a lua está brilhando? Ela parece que está pulsando, como se fosse... um coração. - Disse Sofía enquanto mantinha seus olhos no astro luminoso.
- Ah, querida, esse é o seu propósito. Para além da lua, há algo que só você poderá descobrir. - Falou Plastique.
- Eu não entendi. - Assim falou a mexicana.
- Não vamos poder te instruir mais que isso, querida. Nem nós sabemos do que se trata, apenas de que deveríamos dar esse primeiro passo com você. A partir de agora, é apenas você. - Falou Bru.
- Para além da lua? - Perguntou, novamente, Sofía.
- Para além da lua. - Responderam em uníssono.
As cenas seguintes acompanharam a despedida de Bru e Plastique que deixaram Sofía na porta daquele local chamado PARADISE. Assim que se viu sozinha, a cantora mexicana pediu um Uber pelo seu aplicativo e abriu o Spotify para que reproduzisse uma canção: a canção ser executada foi PARADISE cantada pelo trio. A última imagem que foi visualizada foi a de Sofía olhando para a lua enquanto era iluminada pela luz neon emitida pela placa do "paraíso".
CONTINUA...