[EUA] SOFÍA X JIMMY FALLON
Sept 14, 2024 0:15:01 GMT
Post by adrian on Sept 14, 2024 0:15:01 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA PARADISE & ESPADA]
Estreando o single PARADISE em parceria com Bru e Plastique Condessa, Sofía é recebida no programa Jimmy Fallon para divulgar a sua nova música enquanto realiza os shows na América do Norte. A brasileira BRU, inclusive, é o ato de abertura dos shows.
Jimmy Fallon – E hoje teremos o prazer de receber ela que é considerada a artista do ano em duas das maiores premiações do mundo da música; ela também foi escolhida como a dona do álbum do ano na última edição do Video Music Awards. E aqui não resta nenhuma dúvida: la reina del pop está de volta! Sofía!!
A plateia fora composta apenas por fãs da cantora e a gritaria assolou todo o palco de imediato. A sua presença foi celebrada continuamente durante um minuto inteiro, nem mesmo a produção foi capaz de impedir os gritos de felicidade dos fãs. Sofía estava trajando um terno branco feminino, maquiagem leve e o cabelo solto em seus ombros. Assim que a plateia acalmou os ânimos, Jimmy acompanhou a artista até o sofá e ela se sentou enquanto acenava para os seus admiradores.
Jimmy – Uau! Que energia incrível, garota! Nunca tivemos nada parecido em nosso programa. Você é realmente uma potência. Dito isso, gostaria de agradecer a presença aqui mais uma vez, confesso que te receber é sempre uma experiência rica e proveitosa.
Sofía - Eu que agradeço pela oportunidade de voltar aqui, meu querido. Estou em uma nova fase da minha carreira e me sinto honrada em dar o pontapé inicial no seu programa.
Jimmy – Vamos, então, ao que interessa. Você acaba de lançar o primeiro single da segunda parte do álbum HASTA QUE SALGA EL SOL ou, como você chama, de lado B do disco. Gostaria, de início, de saber como se deu o processo de construção do álbum.
Sofía- Bem, de certa forma ele já estava pronto desde que a primeira parte foi lançada. Brinco com minha equipe que, enquanto buscava escrever um único álbum, acabei escrevendo dois. Foram músicas muito próximas umas das outras, mas que, no fim, não comportariam em um disco único de mais de vinte faixas. E eu sabia, desde aquele momento, que essa era deveria ser dividida em duas etapas para concretizar àquilo que estava me propondo. Na primeira parte de HQSES tivemos uma Sofía que nunca foi vista antes, mais confiante e sexy e que celebra as suas origens latino-americanas. E nessa segunda parte temos muito disso também, desse espírito aventureiro do lado A. Estou cada vez mais confiante para me aventurar em outros ritmos, de escrever mais e melhor. A divisão foi, para ser sincera, de acordo com a ordem que eu fui escrevendo e isso se deve, em partes, a uma ideia já estabelecida por mim do que deveria ser o primeiro álbum. Então fui compondo e produzindo de acordo com àquilo que eu já havia projetado anteriormente. Então não foi um processo intuitivo. Não gostariam que pensassem, por exemplo, que as músicas serão lançados são descartes ou algo do tipo, muito pelo contrário. Juntos, os dois álbuns possuem vinte e duas faixas que narram uma história de mudanças, de transgressão e de retorno ao passado. Há uma música nesse segundo disco que é uma mescla de tango e trap. Até pouco tempo sequer imaginava que eu conseguiria fazer algo do tipo, assim como não imaginei cantar e escrever ESPADA. Tem sido processos bem difíceis, mas que me recompensaram com instrumentos de trabalho mais sólidos e que refletem a minha personalidade de modo mais acurado. Acho que há uma diferença fulcral do álbum 1 para o álbum 2: esse segundo álbum é muito mais desafiador e repleto de gêneros aos quais nunca havia me aventurado antes. Temos o tango, o merengue e o funk, por exemplo. Temos algumas músicas mais para o final do álbum que considero como “experimentais” justamente por ser algo fora da minha visão comum. Ao mesmo tempo, busco consolidar uma via direta para os próximos trabalhos que pretendo lançar. Então o álbum começa de uma maneira e finaliza de outra. É um álbum coeso apesar de todas essas influências.
Jimmy – E você escolheu lançar PARADISE, parceria com Bru e Plastique Condessa, como single de estreia. O que essa canção representa para que te fizesse optar por ela?
Sofía – Eu não deixaria essa chance passar nunca [risos]. Consegui reunir em uma mesma música dois nomes da música latina que, a meu ver, se destacam pela potência criativa e musical. É uma canção na qual três mulheres cantam sobre a sua própria divindade e a forma pela qual são capazes de distribuir amor. Somos um trio de deusas que entoam uma mensagem sobre amor, acolhimento e alegria. E acho que foi isso que quis passar em ambas as partes do HASTA QUE SALGA EL SOL: amor, alegria, prazer, etc. É uma das músicas que mais gostei, minhas, dos últimos tempos. A letra é empoderada e divertida e tenho o prazer de dividir vocais novamente com a Plastique e, pela primeira vez, com a Bru. A última vez que cantei com a Platique foi um sucesso tremendo! Tanto em qualidade como em quantidade. Acredito que, para ambas, foi uma experiência sem igual. Ela me deu a oportunidade de me inserir em um ritmo que não havia ainda experimentado e pelo qual me apaixonei no primeiro instante. E a Bru é um estouro. Essa mulher um dia vai me matar de tanto orgulho! Vocês já ouviram o álbum dela? Se chama BRU e é o melhor álbum lançado este ano e um dos melhores dos últimos anos. Ela entrega conceito, voz e criatividade. É uma artista completa. No processo de criação eu já sabia que precisaria da Bru para essa empreitada, então a Plastique se encaixava no projeto e o convite foi feito para ambas. A escrita foi dividida, mas confesso que nada se compara ao que elas escreveram. Tenho dificuldades com o inglês e a Bru me ajudou bastante em questões acerca de concordância, por exemplo. Foi escrita, literalmente, à seis mãos [risos].
Jimmy – Falando na Bru, aproveito para te questionar acerca dos novos shows da turnê e quais são suas expectativas e o que podem esperar de você nessa nova leva de apresentações.
Sofía – Adoro falar sobre a turnê, pois é uma coisa que me enche de orgulho e da qual amo falar sobre! A nossa turnê ficará nos Estados Unidos durante mais de um mês, além de algumas apresentações marcadas na América Central. Estou animada para o que estamos preparando. Vou modificar a setlist das apresentações, apresentar novos visuais. O palco vai se manter o mesmo, pois não tivemos tempo hábil para a construção de uma outra estrutura tão grande como essa e acaba que os custos sairiam muito altos, então fizemos a escolha por manter a estrutura, adicionando alguns outros elementos. E é claro que os shows serão maiores, devemos chegar à umas quarenta músicas por show. Como vou fazer isso? Nem me pergunte [risos]. Mas estou mais animada que apreensiva por essa situação. Eu amo estar nos palcos; se pudesse só faria isso por toda a minha vida! Já falei e não vou cansar de repetir a quão satisfeita e agradecida eu fico em ver meus fãs pulando e cantando junto comigo cada uma das minhas músicas. Sinto uma energia tão poderosa vinda deles que só consigo pensar em dar o melhor de mim para todes. Te contar que uma vez achei que estava tendo um terremoto, mas me contaram que o foi o impacto do público com seus pulos no chão. Tem como não ficar animada para novos shows com isso? Enfim, podem esperar de mim shows completamente enérgicos e inesquecíveis!
Jimmy – Você é uma mulher de múltiplos talentos e que me parece muito atarefada. Como você consegue dar conta de tudo isso mantendo o astral lá em cima como agora?
Sofía – Jimmy, sozinha eu não faço nada. Tudo o que tenho hoje é por ter uma equipe que me ouve e a qual eu ouço. Somos uma grande equipe e tudo o que faço hoje é consequência desse trabalho em conjunto. Nossas ideias se conformam de uma forma que parecemos um só. Esse divertimento e alto astral só acontece, por exemplo, porque sei que nos bastidores tem alguém cuidando de áreas da minha carreira ao qual não posso dar atenção agora ou até mesmo não conseguiria. O reconhecimento acaba te trazendo muito dinheiro, o que é ótimo, mas administrar as finanças nunca foi meu forte. Hoje sou acompanhada por profissionais incríveis e competentes aos quais deposito toda a minha confiança. Somos uma grande família. Nem sempre é possível manter essa felicidade e positividade e muitas vezes não estou com a minha família para ser acolhida e são eles que cedem os ombros para que eu possa chorar e expressar tudo aquilo de ruim que estou sentindo. Sou grata pelo trabalho de todes e nunca cansarei de reafirmar que o nome Sofía foi e é construído a partir de múltiplas mãos e cabeças. Acordo todos os dias sabendo que estou com ótimos profissionais para gerenciar a minha carreira e, em muitos casos, a minha vida pessoal. São incontáveis às vezes que procurei a minha empresária ou fonoaudióloga para contar o que estava sentindo ou para espalhar fofocas [risos]. Isso deixa tudo mais leve, com certeza. E graças a eles que consigo me manter sã e consciente.
Jimmy – Estão comentando por aí que você é mentirosa por dizer que a sua era havia acabado quando, na verdade, não acabou.
Sofía – Podem me chamar assim, eu não me importo [risos]. Não dá para criar um suspense sem inventar algumas coisas, poxa. E tecnicamente a era realmente acabou, estou iniciando outra que é ligada à anterior, mas não é exatamente a mesma coisa. Gosto de pensar como algo diferente, mas semelhante. Não estamos buscando nos afastar do que seria o HASTA QUE SALGA EL SOL, mas queremos deixar claro que se trata de outra coisa. Estou animada para poder mostrar o que preparamos nesses longos meses de espera. Sobre mentiras, há muitas que rolam na internet sobre mim e o que eu faço? Cago e ando para elas. Não tem coisa mais prazerosa que deixar esses idiotas falarem sozinhos e acharem que estão fazendo sucesso. Eu sou melhor que isso, perdão. Há pouco tempo eu me incomodava e respondia a esse tipo de ataque, mas hoje sou uma nova mulher e evito conflitos desnecessários. Há coisas que realmente importam e outras que não. Aprendi na marra como ser resiliente e enfrentar todos esses óbices que aparecem para mim. Então, Jimmy, se assim quiserem me chamar, podem me chamar. Menti mesmo e vou mentir de novo se precisar. Estou apenas fazendo o meu trabalho. Além disso, todo mundo sabe que gostosas tem passe livre para mentir.
Jimmy – Nesse último ano você tem demonstrado cada vez mais confortável para ser sexy. O que te levou a isso?
Sofía – Sentia que havia algo em mim ainda estava preso à imagem de uma adolescente-adulta, pura e ingênua para as coisas que acontecem ao seu redor. Era uma limitação que me incomodava a ponto de não saber quem eu realmente era. As minhas ações já não faziam sentido com aquilo que queria ser ou demonstrar ser ao meu público. No fim de DESENCANTO eu confesso que estava perdida, realmente desencantada comigo mesma. E daí escrevi um álbum e o descartei. Esse descarte me abriu os olhos para uma necessidade de mudança do meu modo de ser e estar no mundo. Aquela Sofía era ótima, mas não correspondia mais aos anseios que tinha naquele momento. Havia uma sensação de que enquanto a minha mente corria livre, o meu corpo estava acorrentado, preso em uma mentalidade que não era mais a minha. Quando tomei consciência disso, tudo se transformou quase instantemente. Sabia que algo deveria mudar, e daquele momento em diante decidi seguir o que meu coração mandava. Deveria deixar nascer uma outra mulher. Essa nova mulher não era completamente diferente da anterior, mas era mais madura e confiante de si mesma. Pela primeira vez me senti segura de usar roupas mais ousadas nos shows, de fazer coreografias mais avançadas e até mesmo picantes [risos].
Jimmy – Essa sua mudança, inclusive, foi bem recebida pelo público que te acompanha.
Sofía – Uma das coisas que mais me orgulho em todos esses anos de carreira é ter construído uma base de fãs respeitosa e que me entende para além da carreira de cantora, mas como um ser humano que é por si só complexo, volúvel e contraditório. Nunca tive problemas, por exemplo, de fãs virem me questionar a respeito dos rumos que estava tomando na carreira. Eles discordam de algumas decisões como, por exemplo, escolhas de singles e semelhantes, mas nada que seja ofensivo ou que negue a minha humanidade. Me preocupa o fato de que alguns artistas vivam a sha vida pessoal para agradar as suas respectivas fanbases. Os fãs precisam entender que sim, somos figuras públicas, mas temos nossas questões individuais as quais só a nós nos compete. Não somos obrigades a dar satisfação de tudo o que acontece apenas por acharem que assim deve ser. Eu olho para essa situação como um tipo de cárcere: faço tudo o que exigem apenas por medo de não ser mais aceito ou aceita. Isso é assustador para mim. Tem algumas pessoas, isso nunca aconteceu comigo, que se sentem no direito de ditar de quem você deve ou não se aproximar, de quem namorar e afins. Desculpem, mas não tem apoio que me faça ser vítima disso. É um sequestro da individualidade que me impressiona ser tão difundido nos dias de hoje. O limite foi ultrapassado há muito tempo. E isso pode parecer duro e ingrato, mas tenho que dizer: não somos propriedade de ninguém. Temos o direito de beijar quem quisermos, de sermos quem somos sem se preocupar em agradar outrem. Não posso cantar sobre liberdade se não o sou no dia a dia.
Jimmy – Uau! Que discurso maduro, Sofía. Isso reflete tão bem o que você é e representa hoje para os jovens artistas. Já parou para pensar sobre o impacto que você tem no mundo da música?
Sofía – Não é algo que eu pense continuamente, mas tenho noção do quanto posso fazer e significo para essa nova geração. Sei que esse discurso me faz parecer mais velha do que sou, mas o que quero deixar claro é que entendo que sou uma referência, embora não concorde muito com essa coisa que colocam em mim. Eu não me sinto referência, gostaria de deixar claro. Contudo, sei que para os jovens artistas é essencial ter um norte ao qual seguir e acreditar, principalmente se vierem da América Latina. Tudo é mais difícil para nós. Não temos boa aceitação no mercado até que estejamos, de fato, consolidados. Considero que o respeito só veio depois de muitos anos de trabalho duro e, ainda assim, continuo sentindo que há uma resistência geral à música que produzo. E olha que já ganhei GRAMMYs, tenho grandes recordes e sou uma das mais comentadas nos últimos anos. Isso desanima e eu sei bem porquê quando cheguei senti isso. Não tive nenhum artista latino com uma carreira tão grande para acreditar que era possível. A Tieta era o mais próximo disso que eu tinha, mas ainda sim era algo restrito à bolha latina e eu tinha medo de não conseguir romper essa bolha. Acredito que ela já colocou seu nome no mundo e todes a respeitam como a artista incrível que ela é, mas, até para ela isso demorou. E comigo foi o mesmo: demorou muito e sinto que tudo o que fiz não foi suficiente para ser acolhida integralmente. E você pode me questionar se esse acolhimento importa e eu vou te dizer que sim e que não. Não porquê você pode fazer o seu trabalho sem se importar com o que vão achar de você; e sim porquê se não tiver seu caminho vai ser muito, mas muito mais difícil. Admiro os colegas que têm uma rede de influência desde cedo, mas me pergunto como alguns conquistam tão rápido e outros demoram tanto. Não é por talento, óbvio, afirmar isso seria meritocrático e uma falácia inconsistente.
Jimmy – Há pouco tempo você falou sobre os impactos positivos e negativos da fama na sua vida. Hoje você considera a fama como um mal “válido” para se alcançar o que se deseja?
Sofía – Jimmy, vou ser bem sincera com você nessa resposta. A fama é uma coisa que, hoje e, talvez até mesmo anteriormente, guarda uma relação implícita com ferramentas de controle de imagens. Ao falar de fama lembramos de imagens expostas a um nível estratosférico. Muitas vezes se perde o sentido de afirmar quem é você mesmo, porquê a sua identidade é constantemente redefinida com base em pressupostos que nos são alheios. A medida entre o remédio e o veneno é a dose. E a dose que nós estamos sujeitos a beber é, infelizmente, muito alta. Não sabemos mais quem somos e isso reflete no nosso próprio saber-fazer artístico. Eu soube disso na prática quando resolvi descartar l EDÉN e compor o HASTA QUE SALGA EL SOL. Foi uma batalha dura comigo mesma para aceitar que já não estava seguindo àquilo que acreditava. DESENCANTO me trouxe muitos holofotes e, no fim, foi um mal acoplado à uma coisa muito boa que foi o reconhecimento. A fama me proporcionou atingir números que dificilmente iria atingir, a estar em lugares que eu não estaria em qualquer outra situação. A fama, contudo, levou muito de mim quando chegou. Quase como se o espaço era insuficiente e inconscientemente eu deletei partes que me eram essenciais. Então foi todo um processo de resgate da minha identidade perdida nesse meio confuso e emaranhado de identidades difusas.
Jimmy – E como você se reencontrou?
Sofía – Esse foi um processo árduo ao qual ainda considero estar lidando com ele. Não é fácil recuperar algo que, inconscientemente, você mesma perdeu. Quais os critérios? O horizonte de expectativas? São muitas questões a serem colocadas em jogo por nós e esse mesmo processo pede que você se perca novamente, para que, em um momento subsequente, possa, enfim, se recuperar. Hoje, por exemplo, não acredito estar plenamente recuperada de mim mesma. Sinto que algo está ressoando, mas ainda não encontrou a sua materialidade real. Há momentos em que nós não sentimos sequer como humanos e isso me deixa inclinada a pensar em diversas soluções para o meu problema de autoidentificação, mas nenhuma delas é realmente válida ou efetiva para àquilo que preciso. Um dos motivos pelos quais eu dei uma pausa na carreira agora, que foi mais ou menos um mês, foi para me resguardar para o que está porvir. Estar sempre no topo é algo incômodo e, sim, eu sei que isso pode parecer paradoxal. Vou explicar. Sempre esperam muito de você e, por consequência, você se pressiona a sempre estar naquele lugar de influência e isso acaba sendo danoso para a sua saúde mental. Eu estava adoecendo e não sabia como livrar daquilo. Eu gosto de estar no topo, não vou fingir ser humildade; mas há muitas implicações que o público pode não enxergar. Estava enfrentando um dilema pessoal e profissional pelo qual nunca havia passado antes; precisava parar e me reorganizar, principalmente porquê estava prestes a entrar em uma nova era ou continuação da anterior, como queiram chamar. A minha inquietação primeira era a de saber como iria lançar um novo single sem parecer desesperada por números ou algo do tipo, mas quero que as pessoas vejam isso como mais um passo meu em direção ao autoconhecimento. Estou feliz por estar lançado essa canção com duas artistas incríveis e que, ao meu ver, representa bem o que lutei para chegar até aqui.
Jimmy – Certo, então nos conte um pouco sobre PARADISE. O que ela significa para você nesse momento da sua vida?
Sofía – Eu nunca me diverti tanto na minha carreira quanto estou me divertindo agora. Há um elemento de pressão que é muito forte, claro, como comentei, mas estou tão feliz apesar disso. Há uns anos sequer imaginava que seria capaz de lançar uma música como PARADISE. Precisei adquirir muita confiança em mim mesma para ser capaz de algo desse nível. É uma música que fala sobre a força das mulheres e isso se reflete não apenas na letra, mas na participação de três mulheres completamente diferentes uma das outras de forma que a mensagem se amplie para além de fronteiras estabelecidas previamente. Somos todas mulheres latinas, mas, acima de tudo, somos cidadãs do mundo e através dele encontramos nossa legitimidade enquanto seres humanos. Já fiquei feliz de ver freiras fazendo vídeos dançando a música o que, para mim, indica uma realização de grandeza inestimável. É um sonho ver que consegui atingir tantas mulheres diferentes em torno de algo que nos é comum: o desejo de amar e ser amada. Somos mais que um corpo bonito, todes sabemos, mas é preciso que o óbvio seja dito constantemente para que nunca o esqueçamos. Estar junto de Bru e Plastique para essa parceria foi uma renovação profissional que eu precisava muito. Eu comecei a compor há pouco tempo e as duas me ensinaram muito a respeito de como construir uma letra coesa e autossuficiente. Nela está tudo o que precisamos dizer, sem que seja necessário uma cartilha para guiar o público. Fomos sinceras e, acima de tudo, respeitosas com o público ouvinte. Temos semelhanças flagrantes em termos de relação com os fãs, respeito à música e de arte. Foi uma das parcerias que mais cresci fazendo. Tudo ocorreu às mil maravilhas e eu não estou exagerando.
Jimmy - Essa é a sua primeira vez dividindo uma canção com Bru e a segunda com a Plastique. Nos conte como se deu, no caso de Bru, esse convite e o de Plastique de dividir novamente uma faixa.
Sofía – Vou soar repetitiva, mas elas são duas das artistas que mais admiro hoje. A Plastique é um poço de irreverência e criatividade. Bru é extremamente talentosa e cheia de originalidade. O meu discurso no VMAs de quando recebi o prêmio de Álbum do Ano foi uma forma de demonstrar a admiração que sinto por essa mulher. E engraçado é que quando nos conhecermos não éramos nada próximas, muito pelo contrário. Nos conhecemos pela primeira em um reality-show ao qual participamos e éramos rivais. Lembro que havia acontecido uma confusão comigo e com a Tieta e a Bru chegou com os dois peitos na mesa para me confrontar sobre o o ocorrido. E como eu não era de negar uma discussão, fomos levando essa rivalidade até que o fio que ligava a câmera do programa fosse bruscamente retirada da tomada. Então nos reencontramos alguns anos depois e considero que já havíamos ultrapassado esses problemas do passado. Fomos nos aproximando bem aos poucos até que nos tornamos uma influência uma para a outra. A considero uma das artistas mais autênticas que temos na indústria mundial, não apenas latina. A forma pela qual ela exibe as suas fraquezas e as transforma em força é exemplar. Já errei muito em relação à ela, mas hoje sinto que posso compartilhar com uma grande amiga uma jornada de redescoberta.
Sofía – E o que falar da Plastique, não é mesmo? Acho que desde o início tive uma conexão com a persona artística que ela construiu em torno de si e fiquei completamente apaixonada. Ela é louca [risos]. E essa loucura é o que mais me chama a atenção: ao mesmo tempo que nos instiga a sair da casinha ela nos preenche de uma identidade que causa estranhamento. Nossa primeira parceria com Get Down at Night, e foi uma das minhas colaborações de maior sucesso. Cantei rock pela primeira vez e a minha mente se expandiu para além de fronteiras musicais arcaicas e rígidas. Com a Plastique aprendi a me desprender dessas caixinhas incômodas e ser mais livre em relação ao que lanço no mercado. É difícil vermos artistas tão corajosas quanto ela e, já que a temos, acredito que ela deve ser celebrada e valorizada. Não é comum termos alguém tão irreverente e incrivelmente talentosa como ela.
Sofía – Conseguir dividir uma mesma música com as duas foi, para mim, estar no paraíso. Nos demos muito bem na composição, embora apenas Bru e eu tivemos momentos para compor juntas. A Plastique é uma mulher muito ocupada e não conseguimos nos encontrar presencialmente, mas estávamos em contato por meio de vídeos chamadas, mensagens, e-mail e nudes trocados. A confiança entre as três só cresceu quando deixamos a nossa intimidade aflorar. Foi preciso muito tesão para compor Paradise [risos]. Brincadeiras a parte, aprendi muito sobre composição com esta faixa. Os insights de Bru, a agilidade da Plastique constituíram em mim uma vontade máxima de melhorar àquilo que escrevo. Espero que vocês gostem de tudo isso que preparamos e se divirtam como nós nos divertimos nesse processo.
Jimmy – A música faz uso de quatro idiomas diferentes e reúne elementos musicais do funk, do reggaeton e do pop. Como se deu essa mistura?
Sofía – Somos três cantoras diferentes, então a música teria que ressoar um pouco com cada uma, certo? A questão dos idiomas veio nessa esteira de celebrar uma universalidade do ser-mulher em todas as suas dimensões e contextos. É uma música que não conhece fronteiras. Ela é uma música latina? Sim, mas também não é. Não gostaria de reduzir ela à apenas uma territorialidade. Eu sou latina, a música também, mas ela é algo maior que isso; não a vejam apenas sob essa perspectiva. E eu sei que é difícil dissociar, mas os convido a tentar. Não quero dizer com isso que não há elementos identitários na canção, pelo contrário, ela é feita por três mulheres latinoamericanas orgulhosas de sua identidade. O que quero deixar claro é que ela é mais que apenas uma música latina, ela é mundial por refletir um desejo nosso de coletividade e respeito. Já sabia que essa canção não iria ser algo simples ou rotineiro. Ela tem um potencial incrível, sabe? Acredito que essa mistura de ritmos e idiomas fortalece a nossa ideia de abranger um público ainda maior. A música é uma das ferramentas que podem ser utilizadas para comunicar algo e, tendo essa plataforma em mãos, seria tão idiota de nossa parte não utilizarmos. Já cantei em muitos desses idiomas, acho que apenas não lancei nenhuma música em português por ser um idioma realmente difícil. Já tentei aprender, mas confesso que me sinto intimidada com todas essas regras gramaticais confusas. O inglês é uma língua pobre, se comparada às demais, então é fácil de aprender; embora eu ainda tenha dificuldades para escrever. Mas se vocês estadunidenses conseguem, eu também consigo. Quem sabe no próximo álbum eu não me desafio a cantar em idiomas aos quais nunca cantei.
Jimmy – A música realmente tem esse potencial de transpor barreiras nacionais, tanto é que hoje você fez um álbum de ritmos latinos ser um dos mais vendidos da história recente da música.
Sofía – Essa é uma das coisas que mais me encanta quando penso na minha música e nas possibilidades que ela me dá. Já falei em algumas entrevistas anteriores sobre como nos meus shows eu consigo sentir a energia diferenciada em públicos de países distintos, mas há algo que os conecta: a minha linguagem musical. Através das letras eu consigo me conectar com fãs do Brasil e com fãs do Japão. Essa foi uma dimensão que descobri apenas recentemente, digo, de uns quatro anos para cá. Percebi que, enquanto tentava me comunicar com um público específico, acabava me comunicando com tantos outros mesmo que intencionalmente. E aí eu pensei “e se fizer isso ser intencional?” e foi de fato o momento que abri os meus olhos para o real potencial da música na comunicação. A arte conecta as pessoas e a música por ser uma linguagem de fácil acesso e distribuição potencializa isso. Estava lendo um livro há uns dias que fala sobre a mundialização da cultura e a criação de objetos-emblemas que configuram um reconhecimento em escala planetária. Isso significa que, por exemplo, se eu sou do México e viajo para Hong Kong, ao adentrar no espaço do aeroporto, conhecido como uma miniatura do mundo, não vou me sentir perdida, mas abraçada por esse local que não é estranho, mas reconhecível através destes emblemas. E a música tem esse potencial de te trazer ao conhecido mesmo em ambientes estranhos.
Jimmy – Você se sente confortável para ser quem você é hoje?
Sofía – Diria que absolutamente. Sou uma mulher mais livre desde que me despi das amarras que me foram colocadas socialmente desde a infância. Tanto nós, homens e mulheres, somos instados a seguir determinados padrões e papeis que nada tem a ver com nossas determinações individuais. Há pessoas que sentem essa situação mais que outras, o meu caso é um pouco mais ameno. Por exemplo, quando me descobri bissexual foi uma mudança de impacto grandioso na minha vida. Pela primeira vez me senti viva e apta a viver aquilo que queria viver sem que ninguém se intrometesse na forma que eu levaria a minha própria vida. Sabe, há algo de libertador em poder beijar a sua namorada em público. Em termos profissionais, sei que há uma pressão e um estereótipo em torno das identidades latino-americanas e principalmente sobre nós, mulheres.
Jimmy – Nos últimos tempos você se posicionando de maneira muito mais pontualmente e radicalmente. Como isso impacta na sua arte?
Sofía – Veja, Jimmy, quando nos posicionamos politicamente estamos fazendo com que nossas vozes sejam ouvidas e, outras também. Os meus posicionamentos mais enfáticos vem de uma percepção de que eu, enquanto pessoa e artista, não posso ficar alheia ao que acontece no meu mundo. Se eu ficar calada, serei conivente com tudo aquilo que acredito ser errado. Não tinha noção disso quando entrei para a indústria e me tornei mainstream, mas há necessidades que não podem simplesmente ser esquecidas e deixadas ao relento. Fico feliz de ver que é um movimento que ultrapassa a mim mesa e outros artistas estão investindo em aprimorar o alcance de seus discursos políticos e militantes. É preciso que nossas vozes ecoem através dos nossos públicos e os inspirem a olhar para o mundo com um olhar crítico, determinado e ativo. Nós artistas temos um papel preponderante na influência de opinião de pessoas; não podemos confundir isso com práticas de alienação, muito pelo contrário. Nossas vozes devem trabalhar para que muitas outras possam ser ouvidas no mesmo tom e com a mesma atenção.
Jimmy – Bem, todo esse nosso papo me deu uma vontade imensa de te escutar. Então, que tal te ouvirmos cantar ESPADA, o último single do álbum HASTA QUE SALGA EL SOL? Acho que você nunca a performou ao vivo, certo?
Sofía – Não e será um prazer apresentá-la para vocês!
Jimmy – Iremos, agora, para um breve comercial enquanto Sofía se prepara para a sua performance. Até logo mais.
Após os comerciais, Jimmy apareceu na câmera para avisar que a apresentação iria acontecer em um estúdio próximo daquele e por isso a plateia iria assistir apenas por meio do telão disponibilizado pela equipe do programa.
Sofía estava no centro de um círculo formado por quinze corpos humanos em transe. Ela vestia uma roupa que aparentava estar desgastada: a camisa que vestia estava rasgada em alguns pontos, com os buracos variando em tamanho; a calça que vestia era preta, mas manchas esbranquiçadas estavam por todo o cumprimento da peça. A maquiagem em seu rosto indicava que ela havia acabado de sair de uma batalha. Em sua mão esquerda, a dominante, segurava o microfone e, na direita, uma espada verdadeira. Era nítida a força desprendida pela artista para segurar o objeto. A composição do cenário não era possível de ser analisada em sai integralidade devido à escuridão. No teto foi preparado uma armação circular de holofotes móveis: estes poderiam se mover graças a um equipamento circular que permitia a mobilidade destes. No local onde Sofía estava o chão era decorado com uma imagem de si mesma: era uma imagem que correspondia às suas diversas facetas na carreira até o quarto álbum.
Ainda cerca pelo círculo humano, ela lentamente começou a se mover pelo espaço a sua frente. O circulo foi desfeito para que o seu desfile pudesse continuar. A câmera captava os seus passos e alternava com takes de seu rosto. O seu semblante era duro, mas havia algo de divertimento próprio em seus olhos. A espada que segurava na sua mão direita arrastava no chão e fazia um barulho estridente. Os seus dançarinos continuavam imóveis. Ao chegar próximo às câmeras, ela largou a espada no chão. A queda reverberou um som incômodo durante cerca de cinco segundos e apenas neste momento que os dançarinos se moveram. Eles correram na direção da cantora e a erguem no ar. Sofía estava, então, deitada sobre as mãos daqueles homens e mulheres quando começou a cantar. Sem o instrumental, os dois primeiros versos foram entoados a capella. Em seguida, o instrumental agitado e animado segue-se ao canto. Os dançarinos a colocam no chão para a execução da coreografia. Todes se organizaram, novamente, em um círculo no qual o centro era ocupado pela artista. Sofía estava animada e demonstrava isso enquanto articulava habilmente as palavras ao mesmo tempo que mostrava um belo sorriso. Seu corpo se movia lentamente com quebras de quadris e movimentos de vai e vem laterais. A movimentação não parecia fazer qualquer efeito na habilidade vocal demonstrada pelo artista.
O grupo de bailarinos reuniam-se em torno da cantora movimentando-se em uma área circular. Seus movimentos integravam os costumeiros movimentos de dança contemporânea. A coreografia mesclava elementos do balé com os movimentos próprios do hip-hop. Os corpos pareciam não ter qualquer controle sobre si próprios; os seus movimentos eram rápidos, complexos e surpreendentes. Uma das bailarinas, por exemplo, quando o primeiro refrão atravessou o palco na horizonte dando piruetas no ar. Os demais realizavam alguns passos no chão e outros utilizavam os corpos de outros para acrobacias arriscadas. As luzes do palco incidiam sobre os corpos de forma a salientar as suas curvas e a habilidade de seus movimentos. Sofía também se movimentava enquanto cantava. Os seus passos eram mais contidos que a do seu balé, mas mesmo com as limitações, mostrava toda o seu controle corporal.
A partir da segunda metade da faixa, caíram correntes da mesma estrutura metálica circular em que as luzes estavam apoiadas. O palco, então, estava circundado por correntes prateadas e muito bem polidas, nas quais os dançarinos se agarraram a elas. Assim que todos eles estavam presos nas correntes, a estrutura que as segurava começou a girar em uma velocidade constante; ao mesmo tempo, as luzes começaram a piscar continuamente. Sofía estava sozinha no meio da plataforma enquanto entoava os demais versos de seu single. A sua postura era altiva e a sua voz ressoava imponente. Ela parecia estar até mesmo acostumada com aquela apresentação irreverente. Os dançarinos não estavam só atados às correntes, como também realizavam movimentos de acrobacia.
Se preparando para encerrar a performance, a própria Sofía agarrou a uma das correntes em movimento de forma que, assim com os dançarinos, girava sobre o palco. Uma de suas mãos segurava a corrente, enquanto a outra estava ocupada em segurar o microfone. Neste momento as luzes adquiriram um tom avermelhado e a voz da artista ressoou imponente em todo o palco. O final da performance se deu com as correntes sendo abaixadas e Sofía cantou as últimas palavras de seu single enquanto olhava detidamente para uma de suas bailarinas.
O programa foi, novamente, aos comerciais para que pudessem retornar para a programação preparada para Sofía. O quadro a seguir seria o Ew! em que Jimmy Fallon e a própria Sofía estavam vestidos como adolescentes. O cenário novo era de um quarto exageradamente rosa de uma adolescente. Havia uma cama grande em que Jimmy e Sofía estavam sentados. Ele vestia uma calça larga, uma camiseta branca riscada por canetas e um cabelo esculpido por quantidades exageradas de gel fixador. Já Sofía estava caracterizada como uma típica adolescente norte-americana: vestida de líder de torcida e usando rabo de cavalo. Havia alguns elementos cobertos no cenário para que eles pudessem interagir em seguida.
Jimmy – Olá, querida amiga! Estamos aqui para o quadro Ew! em que, de forma deliberada, nós imitamos de forma caricata dois adolescentes em plena puberdade. No telão que está acima de nossa cabeça irão aparecer nomes de pessoas, objetos e situações e nós iremos responder cada um com “Ew!” caso não gostemos ou “cool” caso nós gostemos. Entendido?
Sofía – Por mim, tudo está tranquilo! Poderemos começar assim que você estiver pronto, Jimmy.
Jimmy – Soube que agora nós iremos reagir a cartas que nos enviaram no colégio, amiga.
Sofía pega a caixa cor de rosa que estava em uma mesa ao lado e despeja as cartas no colchão entre ela e ele. Ela, então, pega o primeiro envelope, abre e lê em voz alta.
Sofía,
Não consigo parar de pensar em você desde que te vi pela primeira vez. Foi em uma aula de matemática, e, desde o início, soube que a nossa equação seria perfeita. Você é o 'x' que eu quero isolar na minha vida. Seu sorriso ilumina meu mundo como a luz do meu celular à noite. Quando você me emprestou sua borracha na prova, eu senti algo... algo mais profundo que uma equação de sehundo grau. Por favor, me deixa te levar ao baile de formatura, e podemos resolver essa equação de amor juntos.
Com amor,
Seu Pitágoras Apaixonado, Carlos"
Jimmy – Que forte! Mas achei muito meloso, não? Essa coisa toda de matemática me dá sono. Então, para mim, é “ew!”.
Sofía – Sendo bem sincera, eu achei muito romântico. Tá bom que eu não entendo absolutamente nada de matemática e metade da carta não está no nível do meu intelecto resíduo, mas adoraria resolver pintar esse buraco com o lápis dele. Sabe, como uma boa garota norte-americana, não necessito muito além de uma piada sexual de baixa qualidade. As coisas não precisam ser tão complicadas assim, não é? Só não entendi a parte do “seu sorriso ilumina o meu mundo” como o celular o ilumina... ele se masturba e lembra dela, é isso?
Jimmy – Espero que não, isso seria ainda mais nojento. Ew!
A plateia ri.
“Queridx Sofía,
Naquele dia no refeitório, quando você pegou o último pedaço de pizza, eu soube que você era diferente das outras garotas. O jeito desajeitado que você comeu aquele pedaço, com tanto entusiasmo... uau! Eu queria ser o guardanapo que você usou para limpar sua boca. Cada vez que você passa por mim no corredor, meu coração pula como pipoca no micro-ondas. Eu não posso parar de pensar em você, minha rainha do refeitório. Vamos dividir mais pizzas juntos? Gostaria de ser a calabresa da sua pizza.
Sofía – Desculpe, não era eu. Eu sou vegana e na cantina não tem pizza veggie. Talvez você tenha me confundido com outra garota americana qualquer: somos iguais em todos os aspectos. Inclusive na falta de intelecto, pré-requisito para ser norte-americana. E outra: isso é muito estranho, cara. Não se fala isso para mulher alguma, sabe? Parece perseguição... e talvez seja. Por favor, se afaste de mim.
Jimmy – Você é vegana? Nossa, quem diria. Dia desses vi você com um linguição na boca.
Sofía – O-o-quê?
Jimmy – Brincadeira! Não vi nada, querida.
Sofía – Ufa! Claro que não viu. Eu estava muito bem escondida no almoxarifado. Vamos para a próxima carta e essa é... para você!
Querido Jimmy,
Toda vez que vejo você dissecando aquela rã na aula de biologia, eu me perco nos seus olhos. Por um instante quis ser um anfíbio prestes a ser dilacerado por uma lâmina afiada. Depois desisti pois a ideia seria realmente estranha. O que quero que saiba é que te admiro, assim como o Elons Musk admira as bolas de Donald Trump.
Sofía – Então ele te admira demais [risos]. Eu achei fofo, embora problemático utilizar de cadáveres de animais para o ensino. Isso é tão retrógrado! Já passamos de uma fase em que esse tipo de coisa é necessário. Isso sim, para mim, é ew!
Jimmy – Sabe, às vezes, mas só as vezes, acho que você não é tão burra quanto diz ser.
Sofía – E por que você acha isso? Eu caí da cama e bati a cabeça quando tinha apenas dois anos. Depois disso a minha vida nunca mais foi a mesma.
Jimmy – Oh! Perdão por isso, querida. Não queria te trazer gatilhos. Vamos falar da minha carta? O que você achou?
Sofía – Elu me parece romanticamente interessado por você e politicamente posicionado. A menção jocosa à postura subserviente de um bilionário em relação a outro é muito subversiva. Aliás, esse ano teremos eleições e precisamos estar atentos a todes que estão ao nosso lado e ver em quem eles irão votar!
Jimmy – É isso o que você tem a dizer sobre a minha carta?
Sofía – Sim! Vamos para a próxima atração? Me disseram que eu deveria reagir à algumas celebridades. Eu não gosto de estar nessa posição de julgadora, mas acho que é isso que move o mundo hoje em dia, não é mesmo?
Jimmy – Exatamente! Vamos lá, deixe eu pegar as minhas revistas aqui. Aqui! Eu começo: o que você acha da Jennifer Lopez?
Sofía – Acho que ela deveria parar de querer ser latina. Eu entendo que os familiares dela são latinos, mas ela não é. Ela nasceu no Bronx. Eu sei que os estadunidenses tem uma visão de que toda a América Latina é um grande gueto, mas não é assim que funciona.
Jimmy – Uh! Isso foi muito duro da sua parte, não?
Sofía - Você acha? Estou cansada de tantas pessoas, hoje, se auto intitularem latinos apenas por seus avós terem nascido no Novo México. Nos Estados Unidos. Nem faz sentido. Não quero mais falar sobre isso, por favor. Vamos lá... o que você acha do tanquinho do Justin Timberlake?
Jimmy – Do Justin todo ou só do tanquinho?
Sofía – Ninguém gosta genuinamente da pessoa do Justin Timberlake. A única coisa que presta ali é, até o momento, a beleza. E nem tá mais essa coisa.
Jimmy – Uau! Você é realmente muito maldosa. Eu gosto do tanquinho do Justin Timberlake. Para a idade dele está ótimo. Digo, não quero dar a entender que corpos velhos não possam ser sensuais ou algo do tipo; mas não é comum, certo?
Sofía – Sabe o que é comum? O etarismo.
Jimmy – Ah, qual é! Não vamos exagerar em uma simples frase. Vamos nos ater ao tanquinho única e exclusivamente do Justin Timberlake. Ok? Você tem algo a comentar ou podemos ir para o próximo?
Sofía - E a Bru, o que você acha dela? Ela é descrita aqui como uma das favoritas para ganhar Álbum do Ano no GRAMMYs.
Jimmy - Eu acho ela muito gostosa. Se ela estivesse aqui na escola eu com certeza já teria me aproximado dela.
Sofía - A dúvida aqui é se ela se aproximaria de você, meu querido.
Jimmy - Não entendi! Não sou o suficiente para ela?
Sofía - Não. Próxima pergunta.
Jimmy - Engraçadinha você, não?! Deixa eu ver um outro aqui... Apollyon.
Sofía - Eu acho ele meio bonito, meio estranho. Então a minha reação dependeria do dia ou da roupa que ele estivesse vestindo.
Sofía - E a Bru, o que você acha dela? Ela é descrita aqui como uma das favoritas para ganhar Álbum do Ano no GRAMMYs.
Jimmy - Eu acho ela muito gostosa. Se ela estivesse aqui na escola eu com certeza já teria me aproximado dela.
Sofía - A dúvida aqui é se ela se aproximaria de você, meu querido.
Jimmy - Não entendi! Não sou o suficiente para ela?
Sofía - Não. Próxima pergunta.
Jimmy - Engraçadinha você, não?! Deixa eu ver um outro aqui... Apollyon.
Sofía - Eu acho ele meio bonito, meio estranho. Então a minha reação dependeria do dia ou da roupa que ele estivesse vestindo.
Sofía – O próximo ou a próxima é... Lucca Lordgan. Um grande amigo meu.
Jimmy – Ele já esteve aqui uma vez. Achei ele muito antipático, sabe? Não senti verdade nele.
Sofía – Acho que foi o nariz. Ele exagerou na rinoplastia quando criança e aí ficou um pouquinho estranho, mas garanto que ele é uma ótima pessoa. Talvez, no dia, ele não tivesse transado. Isso sim é um problema considerável.
Jimmy – Se ele quisesse eu poderia ajudar, sabe.
Sofía - Ele não teria negado. Já pegou coisa pior.
Jimmy – Vamos nos encrencar por causa desse papo, hein. Será que eles nos processam?
Sofía - Você tem dinheiro o suficiente para pagar uma boa indenização?
Jimmy – Sim...
Sofía - Eu soube que a Agatha fez aplicação de hidrogel nos dois peitos dela, mas não deu certo porque o cirurgião esqueceu de costurar e escorreu pela cama do hospital.
Jimmy - Sério?
Sofía - Não, eu só queria criar uma polêmica e fazer você pagar pelo processo e honorários dos meus advogados.
Jimmy – Hahahaha! Quer saber? Estou cansado! Quero ouvir você cantar, que tal?
Sofía - Bem, fui chamada aqui para isso não? Brincadeiras à parte, gostaria de agradecer pelo convite da produção do programa e pela parceria carinhosa e honesta que pudemos estabelecer. Sou muito grata por poder me apresentar nesse programa que é histórico. Obrigado pela recepção calorosa e por respeitarem a minha arte. Adoro estar aqui. Convido a todes para ouvir o meu novo single PARADISE em colaboração com Bru e Plastique Condessa. Esta é uma canção da qual me orgulho muito. Mas, não só isso, é apenas uma primeira etapa de uma nova história ao qual escreveremos juntes.
Jimmy - Hummm... Que história?
Sofía - Bom, vocês descobrirão mais logo, logo.
Jimmy - Hummm... Que história?
Sofía - Bom, vocês descobrirão mais logo, logo.
Para o último segmento do programa, Sofía retornou ao mesmo cenário em que realizou a primeira performance. O estúdio estava muito mais decorado que anteriormente. Em um plano mais amplo era possível ver algo que se assemelhava aos Jardins da Babilônia. Havia um pátio central coberto por um piso de tijolos cinzas e uma fonte que jorrava água no centro. O fluxo de água era intenso e azulado. Ao redor estavam posicionados pilares de tipo egípcio com inscrições imagéticas de mulheres. A câmera passou perto destas inscrições e revelava-se ser representações das três intérpretes originais da canção: Sofía, Bru e Plastique Condessa. Havia dois andares compostos por paredes de cor cinza e com as mesmas inscrições dos pilares. Para além disso, havia gramíneas dispostas em todas as paredes e pilares a imitar um cenário idílico, mitológico, divino.
Sofía entrou no cenário vestindo um vestido da cor branca, com uma transparência evidente. O seu rosto estava coberto por uma maquiagem simples, mas que ressaltava seus olhos esverdeados. No seu cabelo havia uma coroa de flores e pedras brilhantes. Em sua mão esquerda estava um microfone na cor branca. Seus pés estavam descalços e tocavam nus o solo empoeirado. Ao seu lado, quatro mulheres que utilizavam um vestido na cor azul marinho. Elas carregavam consigo arranjos de flores coloridas. No andar superior, cerca de dez dançarinos e dançarinas utilizando roupas semelhantes daquelas que acompanhavam Sofía se posicionavam no espaço disponível. O instrumental da faixa iniciou e levou os dançarinos da parte superior a deslizar pelo espaço disponível. Surpreendendo a todes, um holograma de Bru surgiu ao lado de Sofía para cantar a primeira parte da faixa.
Assim que a parte de Bru findou, o seu holograma sumiu e Sofía assumiu os vocais. Cantando em inglês, a cantora dava preferência para uma performance vocal e se movimentava pouco. Ao seu lado, as quatros dançarinas estavam rodopiando pela fonte ainda com os arranjos de flores em mãos. A voz de Sofía era potente e harmoniosa, cantando cada palavra tão abertamente que o público poderia sentir de fora. Ao se aproximar do primeiro refrão, os arranjos de flores foram jogados a ar e explodiram. Uma nuvem de algo que parecia ser “poeira estelar” dominou todo o palco e encobriu-o como se fosse uma cortina palpável. A cantora separava-se da câmera por uma camada relativamente densa da fumaça prateada. O seu cabelo estava, inclusive, brilhando com o acúmulo da “poeira” em seus fios negros.
Assim como aconteceu com a cantora brasileira que não pôde estar presente naquela noite, um holograma de Plastique foi projetado no interior da fonte, como se fosse uma deusa da água. A sua voz era firme e o som não era o mesmo do estúdio: Bru e Plastique gravaram uma versão exclusiva para essa primeira performance. Mesmo sendo um holograma a água da fonte parecia se agitar enquanto ela se movimentava sobre o líquido azul-transparente. Enquanto a sua colega assumiu os vocais, Sofía, enfim, conseguiu acompanhar as suas dançarinas na coreografia oficial. Os passos de dança davam maior importância aos movimentos do corpo de forma coordenada e simples. Os quadris se mexiam ao ritmo da canção e os braços cortavam o ar com graça. A névoa prateada ainda encobria o palco.
O segundo refrão irrompeu e a água da fonte cessou de jorrar para baixo e, como um chafariz, expeliu o líquido transparente para o alto, molhando a todos que estavam próximos de si. Sofía e as quatro dançarinas dançavam ao redor da fonte: a cantora mantinha passos mais simples para dar foco aos vocais, enquanto as suas bailarinas realizavam os passos da coreografia. No andar de cima, os bailarinos dançavam uma coreografia mais livre, embora com semelhanças àquela dançada no andar de baixo. A força da água era suficiente para molhá-los por completo. Os vestidos, as camisas colavam-se aos corpos de todos os homens e mulheres ali presentes, incluso Sofía.
Aproximando-se do fim, o holograma de Bru e de Plastique surgiram novamente. Dessa vez, a cantora brasileira assumiu os vocais enquanto as duas colegas posicionavam-se ao seu lado bem na frente da fonte. Sofía estava no meio de ambas. Bru parecia se divertir enquanto explorava a sua voz até o limite. O seu controle vocal e a extensão impressionaram a todos. O último refrão chegou e com ele a água parou, enfim de jorrar, e um arco-íris cobriu todo aquele cenário divino. As três cantavam juntas os versos derradeiros enquanto os dançarinos acompanham com seus movimentos perfeitamente coreografados. O instrumental da canção cessou, mas os hologramas das duas cantoras permaneceram ao lado de Sofía. A câmera se aproximou o suficiente para enquadrar apenas aquele trio que, no segundo final de exibição, sorriu.