[LATINO] AWA é convidado do Conversa com Bial
Aug 7, 2024 3:23:09 GMT
Post by luis on Aug 7, 2024 3:23:09 GMT
[Divulgação pra AWA - Vampiro]
"Conversa com Bial" é um programa de entrevistas brasileiro apresentado pelo Pedro Bial. O programa estreou em 2017 e é conhecido por suas conversas profundas e reflexivas com convidados variados, que incluem celebridades, artistas, políticos e outras figuras públicas. AWA é o grande convidado da noite, estando pela segunda vez. O formato do programa busca explorar histórias pessoais e temas relevantes, muitas vezes levando a conversas significativas e inspiradoras.
"Olha, por muito tempo eu vivi em um local que eu sempre sabia pelo menos um pouco de todo mundo. Era difícil conhecer alguém que eu não sabia o nome e um ou dois fatos aleatórios. Não que fosse do meu interesse saber da vida alheia, mas às vezes esse círculo do showbusiness é só pequeno demais, mais do que vocês imaginam. Mas quando esse cara apareceu, chegou como um cometa. Uma constelação se formou na minha frente e num piscar de olhos, eu já achava que conhecia ele durante minha vida inteira. Cantor, produtor, premiado, aclamado, e apenas aos 28 anos e com 6 anos de carreira se consagra no ranking de maiores artistas que o Brasil já teve. Ou melhor, que o Brasil tem! Ainda temos muito que falar e ouvir dele, AWA."
Pedro Bial: Finalmente consegui te receber aqui de novo, hein?
AWA: Eu sei, eu sei (risos). Eu juro que não é pessoal e eu juro que vi os outros seis convites pra cá. Pelo menos é a segunda vez (risos). Eu sou bem resistente em relação a prestar entrevistas e aparições públicas. Eu venho me permitindo mais um pouco de um tempo pra agora não só porque eu me sinto bem pra isso, mas pra tá falando um pouco mais de mim e do meu trabalho. Eu sei que tem muita gente aí que quer saber mais de mim e eu acho que devo isso a elas.
Pedro Bial: É possível saber mais de você do que o Brasil todo já sabe? Você foi assistido o dia inteiro por milhares de câmeras por 3 meses. Não acho que tem muito o que esconder ainda.
AWA: Provavelmente não mesmo (risos). Mas cê sabe, quem sabe demais não sabe de nada. Eu tenho milhões de lados, nem eu mesmo sei tudo de mim. Acho que ainda tô nesse processo, saber mais de mim mesmo. Tem sido uma experiência bem legal pra mim e mais legal ainda compartilhar essa jornada com quem vem me ouvindo.
Pedro Bial: Eu quero começar com uma pergunta que eu acho que todo mundo já se fez. Vamos pelo começo: AWA? Porque? Seu nome é esse mesmo?
AWA: As pessoas sentem vergonha de fazer essa pergunta pra mim por algum motivo. Não, meu nome não é AWA (risos). Eu escolhi esse nome porque na língua tupi-guarani ele signifca "gente, humano" e embora eu tenha nascido já distante da cultura indígena, minha família ainda é. Nós não moramos em tribos e nem nada disso que o pessoal pensa porque a minha parte da família já se urbanizou muito... a gente ainda mantém costumes porque foram passados por criação mesmo, sabe? Quando eu fui pra São Paulo eu perdi mais ainda disso, então AWA também é um resgate pra mim e um lembrete do lugar que eu venho e do meu propósito no mundo. Mas fora de casa e fora do palco eu só Elias mesmo.
Pedro Bial: Tem alguma ligação entre seu propósito no mundo com o fato do seu nome artístico significar "humano" pra você?
AWA: Intrinsicamente. Meu propósito no mundo é ser cada vez mais humano e mais eu mesmo nas coisas que eu faço. Essa questão de identidade é um tema bem... delicado pra mim. Eu... nunca tive uma autoestima muito boa. Saber quem eu era de fato e que marca eu queria deixar nos outros era um tipo de pensamento muito frequente na minha adolescência, acredito que na maioria das pessoas aqui também. Existe um trecho de uma poesia de Fernando Pessoa que diz “sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim”. O ‘Eu’ é muito complexo. Concordo com Fernanda Pessoa, um pouco de mim, é um pouco de outros.
Pedro Bial: A gente pode dizer que você lidou bastante com expectativa quando ainda era só um participante de reality e começou a lidar mais ainda depois que decolou com a carreira de músico. Você acha que atendeu elas?
AWA: Eu acho que nunca vou, Pedro. Porque as pessoas podem ter expectativas, mas nenhuma é maior que a minha. Eu sou uma pessoa que se cobra muito, muito mesmo. Agora eu tenho conseguido me expandir pra outros países de uma forma bem concreta, e mais que nunca eu sei que preciso ter alinhado a minha expectativa com o que eu sou. Ainda não tenho como afirmar que hoje sei o que sou, mas eu sinto que sou alguma coisa. Pela primeira vez, em muito tempo, me sinto na direção correta.
Pedro Bial: Na direção pra que?
AWA: Pra ser quem eu sempre visualizei que um dia eu poderia. Um artista honesto, bem sucedido e principalmente, visto. Não é isso que todo mundo quer, afinal? Eu já consegui essas três coisas, mas algumas coisas funcionam como uma balança travessa com uma tonelada de areia do outro lado. Eu perdi muito o controle da situação em que eu estava, e agora eu tô buscando de volta. E eu tô conseguindo.
Pedro Bial: Eu e você tivemos uma conversa bem interessante na última vez que você veio aqui, foi rápida mas que deixou bastantes incógnitas aqui comigo. Seu doutorado em sociologia, veio?
AWA: Eu infelizmente não tenho mais tempo de seguir com a carreira acadêmica. Escolhi parar no mestrado e foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida. Quero muito poder dar aulas um dia de novo. Acho que vai ser difícil pros meus alunos, mas dá pra tentar. História pra contar eu com certeza tenho (risos).
Pedro Bial: Dona Jacira e seu Roberto. Um tempo que não te vejo tocar nesses nomes.
AWA: Ah, eu amo meus pais mais que tudo nesse mundo. Claro que não falo muito sobre eles na mídia porque eu sou a figura pública, não eles. Eu respeito muito e prezo pela privacidade dos meus pais. Castanhal é uma cidade que cresceu bastante nessa última década e eles sofreram bastante assédio no início, assim que eu estourei. Foi bem difícil pra gente. Mas hoje tá tudo bem, eles estão bem, vivendo uma vida normal e muito confortável porque hoje eu posso proporcionar. Tenho sentido muita falta e morrendo de saudades, já faz meses que eu tô aqui produzindo meu disco e organizando as próximas coisas que estão por vir. Pai e mãe, um beijão pra vocês que devem tá me assistindo aqui agora (risos).
Pedro Bial: Ter uma relação saudável assim com os pais e cantar músicas tristes que nem umas suas é um conflito bem questionável pra mim (risos).
AWA: Em alguma coisa eu tinha que ter sorte (risos). Tudo de sorte que eu tive em ter pais maravilhosos que nem eles, eu não tive no amor. É simples assim. Mas também, nem sempre foi desse jeito. Tudo é história e tudo é construção, viu? Eles não sabiam que eu era um homem gay até entrar no reality. É claro que tivemos nossas questões, principalmente com a fama entrando no meio. Mas hoje é claro que já está tudo bem e eu posso ter eles como porto seguro de novo.
Pedro Bial: Você tem planos com o novo disco, tem planos de carreira internacional, mas sobraram planos pro Elias? Ou melhor, pro AWA?
AWA: Foi até bom você tocar nesse assunto porque eu preciso voltar pra academia (risos). E sério, eu me coloquei a frente de carreira por tempo demais. Olha quanto tempo aí sem música (risos). Eu quero focar mais em lançar música, fazer música e promover elas porque eu também amo isso. Mas aqui no âmbito pessoal, eu só planejo voltar a malhar e voltar a ir pra praia. Nossa, que saudades da praia. Por enquanto, só isso. Minha vida por agora tem sido "quem sabe demais não sabe de nada" e eu meio que amo isso.
Pedro Bial: Porque você escolheu "vampiro" pra começar seus trabalhos de novo?
AWA: Eu disse numa outra entrevista que eu acho "vampiro" uma música pegadinha, porque ela parece uma letra romântica e engraçadinha mas no contexto do meu álbum isso se perde um pouco (risos). As outras músicas não tão muito puxadas pra esse lado, eu admito. Mas eu escolhi por dois motivos: acho uma música gostosa de cantar, foi um prazer ter produzido essa, eu juro. Mas também porque ela me lembra muito o AWA antigo, o da época de "Cadeado", e isso me deu um sentimento muito bom de expressar brasilidade. Tô muito feliz com o sucesso que a música tem feito, mesmo. E espero que isso passe pro disco também porque eu acho que ele tá muito bom também e merece fazer sucesso. A gente só sente que algumas coisas merecem ser vistas, sabe? Esse é um trabalho feito com muito amor e ele merece ser visto porque eu sei que tem qualidade nele, eu confio nisso. Eu tomei a escolha de não lançar mais nenhuma música antes que o álbum saia em setembro. E sei que essa é uma decisão que pode frustrar muita gente já que a música também não tem clipe, mas eu preciso que confiem em mim. O "quem sabe demais não sabe de nada" é um álbum que eu quero que as pessoas escutem completo e tenham uma experiência completa também. E sei lá, tô pensando em clipe ainda. Uma hora eu decido.
Pedro Bial: (Risos) Maravilhoso. Você é assim, livre mesmo. Faz as coisas do seu jeito e eu acho isso admirável. Tem mais alguma coisa que você quer falar do álbum antes que a gente encerre a noite?
AWA: Eu sou livre, gosto de me achar meio Rita Lee embora eu passe bem longe disso (risos). Mas eu sou tão livre e faço tanto as coisas do meu jeito que acho que eu posso revelar o nome de outra música, que tal? Faixa número 10, a penúltima do disco, se chama "insensatez". É uma das minhas letras favoritas. Eu não vejo a hora de poder compartilhar ela com todo mundo. Vai ser lindo demais.
Pedro Bial: AWA, eu nem sei como te agradecer por ter participado aqui do Conversa mais uma vez. É sempre bom prestigiar o ser humano lindo que você é, a música que você faz e é melhor ainda exaltar sua importância pra cultura brasileira. Foi muito bom ter esse papo e eu espero poder te receber aqui a terceira, quarta, quinta, milésima vez. Você será sempre bem-vindo.
AWA: Eu é quem agradeço poder participar desse programa culto, de gente culta! Eu amo gente (risos). Foi uma delícia, a mesma sensação ótima que eu tive da primeira vez. Fico muito grato, de verdade.
Pedro Bial: Estamos encerrando aqui o Conversa com Bial com o digníssimo AWA. Te vejo na semana que vem, nesse mesmo horário, com outro convidado pra gente ter uma conversa. Espero você lá! Obrigado!