[US] Liam Graham para Folie Magazine
Aug 1, 2024 17:19:08 GMT
Post by ggabxxi on Aug 1, 2024 17:19:08 GMT
Entrevistador. Esse mês, uma banda nova surgiu na cena underground lançando dois singles de uma vez, “Spirit Desire” e “So It Rained”, e já conquistou os corações das jovens adultas mais ávidas do Tumblr com uma intro falada por ninguém mais, ninguém menos que a queridinha vencedora do último Best New Artist no Grammy, Harmon Moore! Agora, o vocalista da banda Liam Graham nos concede uma entrevista acompanhada de um ensaio fotográfico cheio de beleza e sensualidade. Boa noite, Liam! Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória musical e como você se tornou o vocalista da sua banda?
Liam: Claro! Bem… na verdade, eu, Miguel, Owen, Rory, David e Finn somos amigos há um bom tempo, nós nos conhecemos desde o ensino médio. A gente já era uma banda, mas só tocava cover em casamento e festa de formatura. Aí, a gente acabou seguindo caminhos diferentes por um tempo, fomos estudar em lugares diferentes… mas aí, o David e o Miguel participaram do Showdown e finalmente disseram que sempre quiseram fazer aquilo. Todos nós sempre quisemos fazer música, mas depois desse ponto a gente começou a tratar a música como uma profissão ao invés de um hobby. Depois disso, começamos a escrever, tocamos algumas músicas em bares mais conhecidos… e agora estamos lançando nossas músicas, finalmente. Foi em um desses bares que eu conheci o Kyle, nós nos conhecemos no Viper Room, um bar bem icônico na história do rock americano e de Hollywood no geral. Claro, a força que o Kyle e a Harmon nos dão nos ajudou bastante.
Entrevistador. Qual foi o momento decisivo em sua carreira que fez você perceber que queria ser músico?
Liam: Eu acho que parte de mim sempre soube que eu era músico, eu só não fui necessariamente ensinado que arte tinha um valor gigantesco e que também é possível trabalhar com isso. Minha mãe é cirurgiã e meu pai é contador, então, não preciso dizer que não são tão interessados pela arte como talvez um professor de inglês ou uma historiadora seriam. E foi justamente um professor de inglês que eu tive quem virou minha chave. Ele era fã de rock e eu também, então costumávamos falar muito sobre música… e uma vez eu disse “eu queria muito poder fazer uma vida de toda esse rock”, ao que ele respondeu “mas você pode!”. Eu sei, parece óbvio mas minha mente estava tão configurada em fazer algo mais seguro, em teoria… e aí eu quero dizer fazer uma graduação prestigiosa e ter um emprego menos dependente da opinião pública… mas todos os caras da banda só não queriam desistir da música… todos nós na verdade já temos diplomas, mas estamos dando tudo pela música.
Entrevistador. Quais são suas maiores influências musicais?
Liam: Ah… muitas… bom, como eu já comentei antes, o Caleb Roth é uma das minhas maiores inspirações em questão de composição. Eu acho que… em questão de sonoridade, não tem muita gente que realmente nos influencia. Quer dizer… não tem tanto rock na ativa, eu conheço por exemplo o Headless Angel mas eles estão muito distantes do Cosmic Dept., por mais que nós gostemos deles. Não acho que nosso rock é parecido com nada atualmente e eu gosto disso.
Entrevistador. Como é o processo de composição das músicas da banda?
Liam: Bom… Spirit Desire foi uma exceção, ela foi um improviso mas eu acho que no geral todo mundo ajuda. Nós temos um grupo de chat e nele, nós documentamos qualquer inspiração que conseguimos, alguma frase que lemos em livros ou alguma melodia que surge na mente casualmente… bom… é muito aleatório na verdade mas eu tenho um exemplo. Todos nós temos um tipo de clube do livro, não é tão sério, nós só recomendamos livros e todos nós acabamos lendo. Enfim. Nós encontramos esse livro, “Cartas para Milena”, de Franz Kafka. E ele serviu de inspiração pra uma das nossas músicas, provavelmente a música de encerramento do álbum que nós revelamos na pré-venda, se chama “Poetry Material”. Uma das passagens dele nos deixou muito inspirados e é o tipo de metáfora que nós gostamos de fazer na nossa música. Bom, eu escrevo a maioria das músicas porque eu realmente estou escrevendo ou lendo o tempo todo… é meio estranho mas eu até escuto audiobooks quando estou treinando, porque é claro, meu corpo não se faz sozinho… -*ele dá uma risada.*- mas nós sempre tentamos colocar mais de uma perspectiva… principalmente porque bem, eu sou gay mas nós temos o Owen e o Rory que são heterossexuais, o Finn e o Miguel são bissexuais. Só eu e o David somos realmente gays. Além disso, temos o Miguel que é um cara biracial, ele vem por um lado de família palestina e por outro, latino-americana. O Owen é britânico e o Finn é canadense… então temos culturas diferentes, vivências raciais diferentes e sexualidades diferentes… eu acho que isso faz todo mundo da banda ter um esforço em criar música que esteja acima de tudo isso. Música que possa mover qualquer um, qualquer pessoa. Então… eu acho que nosso processo de composição é assim. Todos focam em algo atemporal e universal. Queremos escrever música que converse com todo mundo e que sempre soe fresca, seja atemporal.
Entrevistador. Qual está sendo a inspiração por trás do álbum da banda?
Liam: Bom… eu acho que todo o álbum tem um conceito bem abstrato. Eu não acho que ele é realmente uma mensagem bem definida, ele é mais sobre encontrar a fera anterior e ter coragem para libertá-la. O nome do nosso álbum por agora é “Cosmic Drive” e provavelmente esse será o nome até o lançamento porque é realmente isso que nós estamos tentando retratar, uma vontade abstrata, um ímpeto sem precedentes. Eu não acho que queremos discutir isso, mas eu acho que queremos causar esse sentimento que está há tempo adormecido nas pessoas. E pra isso, vamos falar sobre o que desperta ele. O que desperta a voracidade ou a calmaria, o que desperta o amor ou o ódio. O que eu quero dizer é… eu acho que é isso que nos torna humanos. A capacidade de querer mais do que nossas necessidades fisiológicas, mais do que nosso nicho ecológico. Talvez intelecto tenha a ver com isso, mas mesmo antes de nos tornarmos o que somos hoje, o que moveu os primeiros seres a evoluírem foi o desejo de fazer algo diferente, de alterar o ambiente ao invés de ter a vida determinada por ele. Eu não quero dizer que isso é necessariamente bom ou ruim, mas é uma coisa inerente à humanidade.
Entrevistador. Você escreve as letras das músicas sozinho ou é um esforço colaborativo?
Liam: Geralmente eu e o Miguel escrevemos letra e melodia, eu mais letra e ele mais melodia, mas isso não impede que os outros participem também. Finn costuma participar e é claro, todos ajudam com a melodia dando sugestões, todos são instrumentistas afinal de contas.
Entrevistador. Como você decide quais temas abordar nas suas canções?
Liam: Eu não decido, eles vêm até mim e eu sempre quero escrever sobre tudo então… não tem uma seleção. Se você pensar nos dois singles, Spirit Desire e So It Rained, o segundo é sobre uma história específica que pode ser trivial pra outras pessoas, mas é um momento especial pra mim… e então Spirit Desire é sobre um tema geral com o qual eu acho que todo ser humano pode se identificar, estar deslumbrado com alguém a ponto de querer que os outros também o conheçam como você conhece. O que eu quero dizer com isso é que não tem nada coordenado, é tudo muito… efêmero, eu acho que posso dizer.
Entrevistador. Alguma vez uma música sua foi mal interpretada pelo público? Se sim, como você lidou com isso?
Liam: Com certeza. É comum por exemplo dizerem que Spirit Desire é sobre nada com nada, não faz sentido. Eu temo um pouco pela banda e também por nossos colegas que são realmente compositores competentes e desafiadores porque nós estamos em uma crise de interpretação monstruosa nesse período da história e eu acho que tudo só tende a piorar, as pessoas não querem mais se sentar numa mesa e escutar uma música atentamente, pensar nas coisas que ela pode estar dizendo, se relacionar com uma música. Não há mais esforço pra entender uma metáfora ou uma possível ambiguidade. Não entendem “eu te amo” se não estiver escrito eu te amo. Minha cunhada, a Harmon, é um bom exemplo disso eu diria. Uma das minhas músicas preferidas dela se chama “Canvas” e bem, essa música não foi bem recebida, é descrita por muitos como a pior do último álbum dela… mas sinceramente, eu acho que é uma música muito forte, muito sólida. “No meio dessa loucura, faça do meu corpo sua tela”, fala sério… eu não quero desmerecer a Harmon, eu sou apaixonado por essa música, mas como é possível que alguém não entenda isso? Como assim “não faz sentido”? É claramente um momento de amor grande e vulnerável, pedir pra ser pintado por outra pessoa, moldado por outra pessoa. Se ela tivesse escrito “eu posso ser qualquer coisa que você quiser” as pessoas entenderiam, mas aí qual seria a graça? A vida já tem a literalidade, deixem a arte ser fantástica, metafórica, misteriosa. Deixem a música ser um quebra-cabeça. É legal e empolgante quando uma música ou um livro não te dão tudo de mão beijada, você eventualmente entende o que a arte quer dizer e então aprecia o trabalho que foi investido em fantasiar aquilo, construir um cenário ao redor daquilo. Ou será que também acham que a Agatha Melina está falando literalmente de corredores assombrados?
Entrevistador. Há alguma música que seja particularmente pessoal para você? Qual e por quê?
Liam: Eu acho que tudo que eu escrevo é pessoal até certo nível, mas eu diria que So It Rained. Porque ela é realmente sobre uma experiência pessoal minha com… bom, não uma mas duas pessoas que eu aprecio muito. Kyle, é claro, e um… um bom amigo nosso, que eu admiro e respeito muito. Eu e Kyle pensamos nesses dois singles juntos e eu escrevi os dois sobre a mesma experiência, só que So It Rained é mais sobre o sexo enquanto Spirit Desire é sobre a pessoa com quem nós ficamos, a segunda não é tão pessoal porque por mais que essa pessoa estivesse na minha mente, ela é só um exemplo do que eu chamo de o tal “desejo do espírito”. Eu acho que So It Rained, apesar de mais coberta em metáforas, é mais detalhada quando você a entende.
Entrevistador. Como você lida com bloqueios criativos?
Liam: Eu bebo. Eu amo cerveja mas eu acho que é possível ver isso na minha cara. Na verdade, não é que eu beba por conta dos bloqueios criativos, tá mais pra… eu sempre tô escrevendo, então quando um bloqueio surge e eu não posso escrever, a outra coisa é beber, é claro. E bem, eu também trabalho e treino então a música sempre vem nos intervalos entre isso… se não tem música no tempo livre, tem cerveja mas a prioridade é sempre a música.
Entrevistador. Como a evolução da sua vida pessoal influenciou sua música ao longo dos anos?
Liam: Bom… eu tenho bastante música que provavelmente ninguém nunca vai escutar porque eu comecei a fazer isso há 10 anos então… tem muita coisa ruim no meio. -*ele dá risada.*- Eu acho que minha vida pessoal não influenciou minha música mais do que a música influenciou minha vida pessoal. Quer dizer, hoje eu tenho 25 anos então já dei uma aquietada mas durante o começo da minha adolescência, quando eu comecei a escrever, eu não escrevia sobre minha vida naturalmente, eu era um adolescente rebelde pra ter assunto pra música, se é que isso faz sentido! -*ele dá uma gargalhada.*- Eu fazia coisas tipo… quebrar a janela e fugir de casa, usar drogas, ir nas festas mais fodidas só porque eu achava que minha música tinha que ser sobre as coisas mais malucas, o que eu julgava interessantes, e eu não tinha a mesma ideia que eu tenho hoje. Na época, eu achava que composição era escrever sobre coisas interessantes enquanto hoje eu acho que o ponto da composição é justamente deixar interessantes as coisas mais mundanas e comuns. Isso não me impede de me aventurar, eu só não sinto mais que preciso ser maluco pra caralho pra escrever sobre enlouquecer. Eu posso amar de um jeito normal e escrever sobre um personagem que é um amante perturbado. Mas é claro que desenvolver maturidade vai mudar a abordagem de qualquer artista, tipo… eu escrevia sobre sexo como um ato de rebeldia, já que eu vim de uma criação religiosa cheia de tabus em relação ao sexo, então realmente já era um ato de resistência fazer sexo, imagina só quando o sexo é gay? Mas hoje não é mais uma rebeldia porque eu não tenho mais motivo pessoal pra tratar isso como rebeldia, eu tenho uma vida só com pessoas que falam sobre sexo normalmente e não com terror e julgamento, então hoje eu escrevo sobre isso como algo natural e apaixonado, como é So It Rained.
Entrevistador. Qual é a sua abordagem para a melodia e a harmonia?
Liam: Eu e o Miguel, o Finn, o David, o Rory e o Owen preferimos fazer algo contínuo, ao invés de algo que cresce e tem um auge. Por isso, a maioria do nosso álbum que vocês vão escutar no futuro se parece mais com Spirit Desire do que com So It Rained, que chega num auge e segue nele até o final. Eu acho que tudo é meio pensado pra parecer uma aventura do começo ao fim, com um final otimista.
Entrevistador. Como você descreveria a dinâmica da banda?
Liam: Eu acho que por sermos amigos há muito tempo, nós não temos uma dinâmica profissional. Nós não somos pessoas que por acaso trabalham juntas, somos amigos que perceberam que podem se unir e fazer algo realmente bom. Então nossa dinâmica é realmente só… amigos fazendo qualquer merda, é como se juntar pra jogar videogame pra gente.
Entrevistador. Quais são os desafios de trabalhar tão próximo com outras pessoas criativas?
Liam: Eu acho que… nós não temos muitos desafios. Tipo… é claro, temos diferenças criativas mas tudo é resolvido democraticamente e nós nos respeitamos bastante.
Entrevistador. Alguma vez houve um conflito significativo dentro da banda? Como vocês resolveram?
Liam: Claro! Amigos brigam pra caralho. Hm… o último que eu consigo lembrar foi quando o Finn pegou minha cerveja na geladeira do estúdio. Ele bebeu todas as 6 garrafas! Mas tudo se resolve depois de umas porradas.
Entrevistador. Como vocês celebram as vitórias da banda?
Liam: A gente sempre vai beber no mesmo lugar. Viper Room. É um dos nossos lugares preferidos, algumas lendas do rock tocaram lá antes de serem lendas.
Entrevistador. Como a amizade entre os membros da banda evoluiu ao longo dos anos?
Liam: Bom… nós fomos de amigos de videogame pra amigos de estudos pra amigos de banda, nossa amizade sempre foi a mesma. O grupo sempre foi só nós seis e praticamente nossa vida inteira foi com a companhia um do outro, então eles se tornaram família pra mim.
Entrevistador. Quais são as qualidades que você mais aprecia em cada um dos seus colegas de banda?
Liam: Hm… Eu aprecio a personalidade do Miguel, ele faz o que quer sem se importar com a opinião dos outros. Lembram quando ele fez uma referência a Rocky Horror Picture Show no Showdown? Eu aprecio muito o profissionalismo do David. Ele faz de tudo e investe o corpo e a alma dele em tudo o que faz. Acho que vocês viram o videoclipe do meu namorado, em que ele fez o personagem Logan… ele é um ator muito bom, um guitarrista muito bom e também é um ótimo vocalista. Ele é quem sempre harmoniza comigo quando é necessário nas músicas. O Rory… eu aprecio as habilidades sociais que ele tem. Ele é uma pessoa muito sociável e extrovertida, eu não entendo como ele sempre se dá bem com todo mundo. O Owen… ele é um faz tudo. Sim, ele é nosso baixista, mas ele poderia fazer qualquer coisa na banda já que sabe tocar tudo, além disso, ele sabe um pouco de mecânica de carros e sabe cozinhar praticamente todos os pratos que eu já ouvi falar na vida. O Finn… é uma pessoa muito sensível, ele é um empata nato e sempre consegue perceber quando alguém tá chateado ou escondendo alguma coisa ruim da vida pessoal. Ele também é muito bom em transmitir isso pra música. Tipo… as melodias dele realmente soam como as letras, o sentimento que elas querem transmitir. E elas são muito intensas e únicas. O Finn é uma grande parte da magia da Cosmic Dept. E claro, eu também admiro a autoestima dele, às vezes ela é um pouco demais, tipo, ele realmente se acha mais gostoso que eu? -*ele diz, e dá uma risada.*- Mas isso é bom também, eu acho.
Entrevistador. Como vocês decidem os papéis e responsabilidades dentro da banda?
Liam: Bom… eu acho que como qualquer banda…? Quer dizer, é padrão né? Cada um aprende sua parte e faz ela… mas é claro, todo mundo tem o mesmo poder de fala sobre tudo. Sobre lançamentos, contratos, apresentações… tudo…
Entrevistador. Qual é a coisa mais divertida de estar em apresentações com seus colegas de banda?
Liam: Eu acho que é muito foda ver como nossos instintos são sincronizados. Quero dizer, todos nós temos a mesma energia em palco, parece que nós somos coordenados ou ensaiamos mas na verdade, nossas apresentações sempre são um pouco improvisadas. É claro, ensaiamos músicas novas mas não é como se a gente ensaiasse sempre toda vez antes de toda apresentação.
Entrevistador. Vocês têm algum ritual antes de subir no palco?
Liam: Um beijo sêxtuplo. -*ele dá risada.*- Não, eu to zoando. A gente sempre come algo doce antes de cada apresentação, geralmente nós seis comemos um bolo sozinhos. A gente nunca come doce em nenhuma outra ocasião, mas é bom ter o açúcar antes da apresentação.
Entrevistador. Como vocês mantêm a coesão do grupo mesmo com agendas diferentes? Quer dizer… vocês também são compositores, produtores…
Liam: É senso comum entre nós que a banda sempre vem primeiro, eu acho. Todo mundo adia os próprios compromissos quando temos que fazer algo por nós.
Entrevistador. Como você equilibra a vida amorosa e a carreira musical?
Liam: Ah… eu e o Kyle nos apoiamos muito, de verdade. Nós fazemos tudo juntos, então, ele também faz parte da minha carreira musical e eu faço parte da carreira dele, de certa maneira. Nós sempre nos ajudamos, mas preferimos não colocar créditos um do outro na nossa música porque bem, não queremos pessoas tirando nosso mérito, dizendo que eu escrevo as músicas dele ou ele escreve as minhas. O Kyle é um anjo e eu tenho muita sorte de ter ele do meu lado, eu nunca deixaria ele de lado pela carreira de qualquer maneira.
Entrevistador. O que o amor significa para você?
Liam: Tudo. Eu acho que o amor é o que nos move, eu sei que eu não seria nada sem o Kyle, meus amigos, a música, enfim… tudo o que eu amo. Uma vida sem amor é uma tragédia.
Entrevistador. Como suas experiências amorosas influenciam sua música?
Liam: Eu acho que… de toda maneira. Eu acho que num geralzão, a Cosmic é sobre o amor pela vida e pelo mundo… e eu só amo o mundo porque eu amei muitas pessoas nele. Eu não tive muitos namorados antes do Kyle, o que eu tive na maioria das vezes foram relações casuais, porque era tudo o que me era oferecido por algum motivo. Mas o Kyle é diferente. Eu sei que se algum dia eu fizer uma merda, ele vai me machucar de verdade antes de ir embora, ele tem isso, eu acho que é uma maneira de ele conseguir um encerramento. Mas até então, nós estamos perfeitamente bem. E isso se traduz nas minhas músicas, eu tenho esperança por causa dele e do amor, eu tenho felicidade e tudo isso que ele me faz sentir é o que inspira minha música.
Entrevistador. Como você e Kyle se conheceram?
Kyle: Na verdade, foi na porta da Arcade. Nós nos esbarramos, mas a verdade é que eu já tinha visto ele há muito tempo. O Viper Room também é um dos lugares preferidos do Kyle. Na verdade uma das melhores amigas dele, a Lizzie da Headless Angel, trabalhava lá antes de eles ganharem dinheiro o suficiente pra ficarem tranquilos. Ela é conhecida como a sereia do Viper Room. Então, eu desenvolvi um interesse pelo Kyle antes de ele sequer saber quem eu era. Eu assistia ele dançar de longe toda semana no Viper. Então, quando a gente se esbarrou na Arcade, eu tomei coragem e aquele foi o dia do nosso primeiro encontro. Foi incrível.
Entrevistador. Qual foi a primeira impressão que você teve do Kyle?
Liam: Bom… eu achei ele bem descolado. Ele é 4 anos mais novo que eu então ele realmente faz o tipo mais jovem e inconsequente. Eu também achei ele misterioso e instigante, e ele ainda estava lá com a banda… nós dois estávamos com nossa banda nos apresentando então foi um motivo muito bom pra usar pra conhecer ele.
Entrevistador. O que você mais admira no Kyle?
Liam: A resiliência dele. Todo mundo fala merda do Kyle porque ele fez isso ou aquilo mas ele ainda resiste e se expõe pro mundo todo na carreira dele. O Kyle teve que participar do reconhecimento do corpo da própria mãe quando tinha oito anos porque o pai dele estava longe e toda a companhia que ele tinha era a Harmon. O Kyle já foi abusado… algumas vezes e ele resistiu. O Kyle está entre nós agora mesmo vivendo uma vida inteira sem mãe e vendo o pai se afundar no álcool por causa da perda que ele também sentia. Ele é um sobrevivente do descaso, abuso e dependência química. Eu admiro muito meu namorado, ele é minha inspiração também.
Entrevistador. Como vocês lidam com a distância e os compromissos profissionais?
Liam: Eu acho que nós dois estávamos preparados pra isso desde que começamos a nos relacionar, afinal, nós estamos no mesmo ramo então é claro que a gente vai se entender sempre. A distância nunca foi suficiente pra diminuir o nosso amor.
Entrevistador. Qual é a sua memória favorita com Kyle?
Liam: A primeira vez que saímos com a Harmon e contamos pra ela que a gente tava junto. A Harmon já me conhecia também e a gente tinha uma amizade porque ela é praticamente uma sócia honorária da Arcade, ela recebe todo mundo que começa a trabalhar lá e ajuda todo mundo também… mas foi muito legal, a gente foi pra uma festa nós três, ela até tirou uma das minhas fotos preferidas, talvez A minha preferida... com o Kyle. É uma que ela postou esses dias no Twitter. Deixa eu procurar... -*ele mexe no celular*- É… essa aqui. Ela é muito caótica e nós dois estamos se mexendo e parece que o Kyle tá pregando uma peça e eu to me fodendo! Representa perfeitamente a nossa dinâmica como namorados.
Entrevistador. Vocês costumam compor juntos?
Liam: Sim! Eu e o Kyle compomos muita coisa juntos, provavelmente grande parte disso vai estar no Cosmic Drive e no segundo álbum solo do Kyle.
Entrevistador. Como você descreveria a importância de Kyle na sua vida?
Liam: Ah… eu acho que hoje em dia eu não consigo mais ver minha vida sem o Kyle. Ele tá em tudo, absolutamente tudo que eu vivo. Meu trabalho no estúdio tem a presença dele, toda vez que a gente sai pra se divertir estamos juntos, nós temos nosso apartamento onde moramos juntos agora também… eu acho que um relacionamento é isso, um vira a vida do outro.
Entrevistador. Quais são os desafios de estar em um relacionamento público?
Liam: Muitos. Eu acho que principalmente em relação ao Kyle, as pessoas perdem a mão, é como se pessoas famosas não pudessem errar, não pudessem ser humanas. O Kyle errou muito mas eu também errei, e errei muito mais na idade dele. Todo mundo errou muito na idade dele. Meu garoto tem 21 anos agora, ele passou por tudo aquilo, todo aquele drama com o Lucca Lordgan aos 19 e 20 anos, sendo observado microscopicamente por milhões de pessoas que tratam celebridades como animais num zoológico. Muitos falam coisas horríveis pra mim como se estivessem fazendo um favor à humanidade e me salvando de um monstro, me dói o coração imaginar como o Kyle se sente ouvindo isso, ouvindo dos outros que eu não posso confiar nele, que ele vai me trair… ninguém sabe que ele se machucou também. Mas essa é uma história dele pra expor se ele quiser, quando ele quiser. Bom, resumindo, não é bom estar num relacionamento público mas eu não trocaria isso por nada no mundo. Eu nunca pensei que fosse ser fácil de qualquer maneira, mas eu também não imaginava que o Kyle fosse ser tão incrível pra mim a ponto de tudo o que a gente sofre como um casal gay público parecer nada demais.
Entrevistador. Como você lida com a atenção da mídia sobre sua vida pessoal?
Liam: Eu ainda não lido muito bem, tudo isso é novo pra mim. Algumas situações me irritam muito e eu sou uma pessoa muito controlada, mas não quando o assunto é a segurança e os sentimentos do Kyle. Quando ele tá no meio, minha paciência se esgota muito rápido.
Entrevistador. Como você aborda temas de sexo em suas músicas?
Liam: Como uma coisa preciosa e infinitamente amada por mim. Eu amo sexo, ele é quase como se fosse algo etéreo, espiritual, na minha impressão. É algo que eu só faço com quem despertou algum sentimento em mim, e ao mesmo tempo é algo que me afasta temporariamente da minha humanidade. É um pouco mágico pra mim como o sexo pode nos tornar ferais, eu acho que só uma influência a nivel espiritual pode influenciar seu comportamento assim. Então eu sempre gosto de escrever sobre sexo através de metáforas tremendamente belas, como em So It Rained… o corpo se arqueando pra me receber como uma pode que me leva até o paraíso, a chuva fresca que é como o suor refrescando os corpos depois da ejaculação… eu não entendo como as pessoas tratam o sexo como algo sujo ou alguma transgressão, sexo é amor, é conexão.
Entrevistador. Você acha que há tabu em torno de discutir sexo na música?
Liam: Com certeza, ainda mais quando o sexo que você descreve nas músicas é o sexo gay. É claro, a demonização do sexo gay veio depois do cristianismo e do começo do capitalismo, já que não é lucrativo pra elite que as pessoas se divirtam com o sexo sem gerar mão de obra pra eles… mas eu acho que no geral, o sexo é um tabu sim, mesmo o heterossexual. Eu não sei qual a utilidade prática que a igreja viu em criar os conceitos de depravação, fornicação, o crime do sexo antes do casamento, mas eu sei que nada é por acaso. De qualquer maneira, acho a pior idiotice. As mesmas pessoas que abominam que você fale sobre sexo apoia os gigantes que vendem sexo pra você diariamente. Alguém muito importante disse uma vez “vai haver uma revolução eventualmente, e ela será sexual”. Eu acredito totalmente nisso. O sexo vai nos libertar quando nós tomarmos ele pra nós novamente. Nosso sexo é nosso e ele não pode ser vendido, não pode ser propaganda.
Entrevistador. Qual a importância da representação da sexualidade nas artes, na sua opinião?
Liam: Eu acho que é justamente papel da arte quebrar tabus, entre eles o tabu do sexo. Eu sempre acreditei que a função da arte é libertar as almas dos demônios que as aprisionam, os externos e os internos. É importante falar sobre o desejo sexual, falar sobre como tesão é algo inerente à natureza e não possessão demoníaca. Quase todos que vivem nesse planeta sentem vontade de transar, isso é fato. O que precisa ser conhecido como fato é que isso não é crime, transgressão ou pecado. Grandes astros do rock já fizeram isso e não foi por nada, eles sabiam o que precisava ser feito. Eu acho que o legado que eles construíram, desde glam rock ao punk, foi um legado de liberdade, alguns foram mais agressivos que outros mas todos tinham um mesmo ideal. Sexo é liberdade, não vergonha.
Entrevistador. Como você se sentiu ao falar publicamente sobre sua sexualidade pela primeira vez?
Liam: Ansioso, é claro. Pode se dizer que minha família é progressista mas eu não sabia o que esperar deles mesmo assim. Eu não tinha medo deles, mas eu sabia que tudo ia mudar e eu não sabia se estava preparado pra lidar com a mudança. Eu sou o filho único deles, então… eu entenderia se eles ficassem chateados, afinal eles tinham alguns sonhos que dependiam de mim, como o sonho de serem avós, mas felizmente minha família nunca exigiu a realização das vontades deles. Nem todos têm a sorte de ter uma família que os trata como seres únicos e desvinculados, ao invés de os tratarem como apêndice. Eu acho que… o que eu tinha mais medo era que eu sabia desde muito cedo que algumas pessoas iam querer me machucar depois que eu me assumisse, eu não tinha medo de ter minha vida ameaçada afinal eu sempre fui um cara de lutar de volta, me defender. Eu acho que a única coisa que me amedrontava era saber que meus pais nunca iam se recuperar se alguma coisa séria acontecesse comigo.
Entrevistador. Você acha que ser aberto sobre sua sexualidade impactou sua carreira de alguma forma?
Liam: Com certeza. A Arcade não é a primeira nem segunda gravadora que eu tento entrar. Muitas disseram que “nenhum fã de rock realmente quer escutar uma banda com um frontman gay mais, isso ficou nos anos 80”. Eu sei de algumas estações de rádio que se recusam a tocar nossas músicas porque alguns de nós não somos heterossexuais.
Entrevistador. Quais são os maiores desafios que você enfrentou em relação à sua sexualidade?
Liam: Eu não enfrentei muitos desafios em relação à minha sexualidade, pra falar a verdade. É claro, todos nós vivemos com medo mas além de eu ser um gay que o mundo considera mais aceitável, já que eu não sou muito afeminado, além de eu ter feito de tudo pra parecer o mais intimidador possível, e aí alguns otários tinham medo de falar o que pensavam na minha cara. Acho que meu maior desafio foi perceber que nem todo mundo na minha família foi compreensivo como meus pais. Eu não vejo mais meus avós e bem, meu avô paterno morreu e ele ficou os últimos 10 anos sem me ver. Minha primeira música foi escrita sobre ele.
Entrevistador. Como você vê a aceitação da comunidade LGBTQ+ na indústria musical hoje em dia?
Liam: Com certeza é bem melhor hoje em dia. Nós temos estrelas LGBTQIA+ no mainstream como a Hina Maeda e o Lucca Lordgan mas é claro que ainda temos um longo caminho a percorrer. Isso fica claro quando vemos as críticas que o Lucca recebeu por explorar sexualidade especificamente gay no último álbum dele. Não tem nada de imoral ou exagerado, ele simplesmente falou sobre a própria sexualidade enquanto homem adulto e independente. Eu acho que precisamos de mais coisas assim porque não é normal que um homem gay falando de sexualidade seja algo controverso, ninguém falaria nada se fosse um homem hetero cantando sobre foder mulheres em carros caros. Na verdade, temos exemplos disso na indústria que nunca foram repreendidos como Lucca foi, e olha que as músicas dele falam sobre o parceiro sexual dele com mais respeito do que provavelmente qualquer homem hetero na indústria já falou.
Entrevistador. Alguma vez você sentiu pressão para esconder ou alterar sua sexualidade?
Liam: Eu acho que esse é meio que o modus operandi de qualquer pessoa da comunidade. Eu li um artigo muito bom um dia desses sobre como pessoas LGBTQIA+ demoram mais pra amadurecer porque enquanto pessoas hetero estão se descobrindo enquanto pessoas, durante a adolescência, nós só começamos a nos descobrir depois que a vida adulta chega porque passamos a adolescência escondendo todo tipo de sentimento e desejo por pessoas do mesmo sexo, muitas vezes até se forçando a performar heterossexualidade. Minha primeira experiência sexual foi com uma mulher e por que eu fiz isso se eu já sabia desde cedo que eu era gay? A gente sempre sente uma pressão de tipo… tentar a todo custo ser hetero antes de aceitar a própria sexualidade.
Entrevistador. Como você acha que sua música pode ajudar outras pessoas a se sentirem mais confortáveis com sua própria sexualidade?
Liam: Eu acho que só o fato de ter mais um artista abertamente LGBTQIA+ já ajuda mas… eu gosto de pensar que minha música foge do estereótipo que as pessoas querem nos encaixar e até mesmo a própria comunidade nos encaixa às vezes, como seres hiperssexualizados sem senso de amor. Eu não me importo que algumas pessoas sejam menos apegadas nisso mas eu sei que tem muita gente da comunidade que assim como eu, só quer uma história de amor longa e feliz, eu acho que é importante inserir pessoas LGBTQIA+ nisso também porque é importante que nossa existência também seja representada com todas as possibilidades que ela carrega.
Entrevistador. Você acha que sua sexualidade influencia a maneira como as pessoas percebem sua música?
Liam: Provavelmente não. Quer dizer, é claro que todo mundo vai assumir que eu estou falando de amor gay mas não é como se nossa música tivesse essa única possibilidade, elas são escritas de primeira pra segunda pessoa justamente por isso. É sempre “eu” e “você”, não “eu” e “ele”, entende? É uma música pra todos. Talvez não tanto pra homens hetero porque o gosto deles tende a flutuar mais para artistas que não mostram toda a vulnerabilidade que existe nas nossas músicas, artistas curtidos por eles geralmente passam uma pose mais impessoal, menos sensível. Eu nunca poderia escrever dessa maneira porque eu sou uma pessoa muito sensível. Mas no geral eu não acho que minha sexualidade é um fator determinante pra minha música, ela seria a mesma coisa e causaria a mesma impressão se eu não fosse gay ou fosse um gay não assumido.
Entrevistador. Quais são as mudanças que você gostaria de ver em relação à aceitação da diversidade sexual na música?
Liam: Eu acho que… eu gostaria de ver mais artistas LGBTQIA+ serem reconhecidos e recompensados pelo nosso trabalho, afinal, existem pessoas que usam nosso nome e nossa cultura pra simular uma inclusão que não existe de verdade enquanto nós somos deixados de lado na indústria.
Entrevistador. Como você se sente sendo um ícone para a comunidade LGBTQ+?
Liam: Eu não acho que sou um ícone mas eu fico feliz de ser uma representação pra pessoas que se identificam com uma personalidade como a minha, não existem muitas pessoas como a gente assumidos justamente porque é estar num limbo.
Entrevistador. Você acha que a visibilidade LGBTQ+ na música está melhorando?
Liam: Com certeza. Não é ideal, mas eu acho que reconhecer nossas conquistas é tão importante quanto correr atrás dos nossos objetivos.
Entrevistador. Como a aceitação ou rejeição da sua sexualidade impactou suas experiências na indústria?
Liam: Bom… eu já esperava boicotes mas uma coisa que impactou minha experiência na indústria que eu não esperava é como existem pessoas não assumidas na indústria. Tipo… eu entendo, nem todo mundo está preparado pra lidar com a resistência a nós que essa indústria tem mas eu imagino… como seria diferente se pessoas poderosas assim se assumissem e tomassem os direitos lgbt como objetivo.
Entrevistador. Qual conselho você daria para jovens músicos LGBTQ+ que estão começando suas carreiras?
Liam: Eu diria pra não ter medo. Eu não vou mentir, a indústria ainda resiste a nós como água e óleo, mas nada vai mudar se a gente continuar se escondendo e a Arcade é prova viva de que existe gente com poder e influência na indústria querendo ajudar os artistas LGBTQIA+ a mudarem isso. Vocês não precisam mais se esconder, ser queer não é mais sinônimo de estar fora de um emprego. Nós temos uma das maiores gravadoras da indústria, tanto no ocidente quanto no oriente, comandada por um CEO bissexual, que acolhe todo tipo de artista. E, bem, um conselho para artistas em geral: se você realmente ama música, escreva suas próprias músicas, é insana a possibilidade de coisas que a gente pode fazer com isso.
Entrevistador. Como você vê o futuro da representação LGBTQ+ na música?
Liam: Eu acho que ela tende a melhorar, sinceramente. Exatamente pelo que eu acabei de falar, nós temos gente na indústria que querem também comprar essa briga, nos ajudar na luta por mais representatividade.
Entrevistador. Você acredita que as letras de suas músicas refletem sua identidade sexual?
Liam: Sim. Não necessariamente minha homossexualidade mas com certeza a maneira como eu vejo o sexo se reflete no que eu escrevo.
Entrevistador. Como foi a reação de seus familiares quando você se assumiu?
Liam: Meu pai é mais emocional enquanto minha mãe é mais prática. Então, ele foi tipo “meu deus, meu filho, você tem que se cuidar, as pessoas são monstros” enquanto minha mãe só disse “tudo bem, mas isso não significa que você pode descartar a camisinha, se proteja”. Foi bem engraçado.
Entrevistador. Qual é a importância de ter um parceiro compreensivo como Kyle na sua vida?
Liam: Eu acho que faz toda a diferença ter um namorado que entende minhas prioridades e me apoia. O Kyle sabe que nós temos que trabalhar e nem sempre sobra tempo pra gente se divertir como namorados e ele entende isso totalmente. Eu nunca poderia ficar com alguém imaturo que acha que tem que ser sempre o centro da minha vida. O Kyle é o centro da minha vida, mas com certeza não porque ele exige.
Entrevistador. Como você e Kyle lidam com preconceitos e discriminações?
Liam: Sendo maiores que eles. Trabalhando pra ser tão grandes a ponto de nenhum dos idiotas nos alcançar mais. A melhor vingança que você pode fazer contra os homofóbicos é ser maior e melhor que eles.
Entrevistador. Você já enfrentou desafios fora da indústria musical por causa da sua sexualidade?
Liam: Sim. Com certeza. As notícias se espalham muito rápido então não demorou muito pra todo mundo da cidade minúscula em que eu morava saber depois de eu contar pros meus colegas. E aí, foi o que acontece em qualquer cidade do interior, né? Mas ninguém tinha coragem de vir de mão pra cima de mim e dos meus amigos, quase todos sendo os integrantes da Cosmic. Vantagens de ter genética endomorfa e ser fissurado em esportes, eu acho.
Entrevistador. Quais são os momentos de maior orgulho na sua carreira em termos de representação LGBTQ+?
Liam: Bom, nós ainda somos uma banda nova e emergente, mas… eu acho que um momento muito marcante nesse sentido foi quando nós conseguimos fazer o Viper Room fazer o sábado ser o dia LGBTQIA+, então toda semana eles apoiam artistas queer novos no rock com uma apresentação e também tocam artistas rock conhecidos por começar a representatividade queer como Bowie ou Mercury. É foda.
Entrevistador. Como você e Kyle passam tempo juntos apesar das agendas ocupadas?
Liam: Bom, uma coisa boa em trabalhar no mesmo lugar é que a gente sempre consegue agendar o estúdio ao mesmo tempo e como trabalhamos sempre ao mesmo tempo, também folgamos ao mesmo tempo. A gente até tem uma agenda foda mas se é sempre a mesma, a gente dá um jeito.
Entrevistador. Qual é o papel de Kyle na sua vida profissional?
Liam: Bom… eu acho que todo mundo sabe que o Kyle é um faz tudo né… ele é diretor, produtor, compositor e multi instrumentista, tipo… ele poderia ser uma banda de um homem só se ele quisesse. Então é claro que a gente sempre acaba opinando um da música do outro, mas é sempre um trabalho cooperativo. Nós dois somos muito defensivos quando se trata da nossa arte então é um combinado não falado que não é pra fazer nenhuma crítica. -*ele dá risada.*
Entrevistador. Você costuma compartilhar novas músicas com Kyle antes de lançá-las?
Liam: Claro! O Kyle é a primeira pessoa a ouvir absolutamente tudo que eu escrevo, tudo que eu componho. Sim, ele ouve até mesmo antes do Miguel. Uma vez, eu acordei de um pesadelo de madrugada e escrevi uma coisa… e aí, eu fiz um café e esperei acordado até ele acordar só pra tocar a música pra ele enquanto ele tomava café na cama. Essa é So It Rained.
Entrevistador. Como Kyle te apoia emocionalmente durante apresentações e gravações?
Liam: Eu não acho que eu precise tanto assim de apoio emocional, eu realmente acredito no talento e na vontade da banda, mas o Kyle faz uma diferença imensa só de estar lá, de me beijar antes e depois de cada show ou no intervalo entre casa música quando estamos no estúdio. Sendo uma pessoa tão versátil e tão ocupada como ele é, eu não sei como ele arruma tempo pra ser um namorado tão presente e envolvente.
Entrevistador. Qual é o maior desafio que vocês já enfrentaram juntos?
Liam: Eu acho que… bom, nós já estávamos ficando há um bom tempo, mas eu acho que a gente ainda não estava confortável pra compartilhar isso com o mundo, principalmente eu. Então a gente não tornou nosso relacionamento público quando queríamos, a gente se viu obrigado a fazer isso antes de estarmos prontos porque… bem, eu não queria que o Kyle continuasse recebendo acusações de um certo esquisito aí na indústria. Então nós dois achamos que seria bom mostrar que ele realmente já tinha seguido em frente, que nós estamos muito apaixonados e ele não tem olhos pra mais ninguém. Eu ouvi falar que aqueles dois terminaram depois desse surto que ele começou, mas ei, isso são só as consequências dos atos dele, né? Ninguém gosta de um maluco ciumento possessivo que afasta todos num raio de 10 metros do namorado. Principalmente um espírito livre e cheio de personalidade como o Lucca nunca aceitaria esse comportamento de ninguém, pessoas como ele nunca aceitam se reprimir pra caber no mundinho pequeno dos outros.
Entrevistador. Como você mantém a chama acesa no relacionamento?
Liam: Eu e o Kyle temos muitos interesses em comum. A gente sempre conversa muito sobre todo assunto possível. A gente curte as mesmas músicas, têm as mesmas opiniões sobre política e sobre basicamente tudo o que dá pra ter opinião. E, claro, a gente encaixa muito na cama. É perfeito.
Entrevistador. Quais são os hobbies que vocês compartilham?
Liam: Eu e o Kyle somos dois nerds, cara. Nossos hobbies são as coisas mais nerd possíveis tipo… RPG de mesa? World of Warcraft? A gente também ama maratonar Senhor dos Anéis e O Hobbit… uma vez, a gente foi numa festa a fantasia, ele foi vestido de Link e eu de Ganondorf, dois personagens do jogo The Legend of Zelda. Depois, ele tirou a tinta do meu corpo todinha… enfim, eu acho que o único hobby que nós não compartilhamos é que o Kyle gosta bastante de sair enquanto eu sou um cara mais caseiro.
Entrevistador. Como você se sentiu ao apresentar Kyle para seus companheiros de banda?
Liam: Ah, todos eles já conheciam o Kyle. Claro, ele já era bem conhecido desde o ano passado. Além disso, eu comentei com eles sobre ter interesse no Kyle antes de sequer falar com ele. Então não foi uma surpresa muito grande mas meus amigos são foda, eles me apoiam e já são todos amigos do Kyle.
Entrevistador. Como você descreve a influência de Kyle em sua vida pessoal e profissional?
Liam: Transformadora, mas nunca invasiva. O Kyle não é uma pessoa que fala muito, começa por aí. Ele é uma pessoa mais física, ele gosta de confortar os outros com carícias, abraços, beijos… mas ele tem opiniões muito fortes que ele é profissional em abordar de um jeito passivo, não imposto. Ele é o tipo de pessoa que te faz escutar sem exigir que você escute. Então, a influência dele é suave e quieta, mas muito eficaz. E é claro, ele tem ideias boas, ele é uma pessoa muito informada e muito criativa, então a influência dele sempre é bem-vinda. É claro, sempre é a banda quem bate o martelo, mas todos costumam também gostar do que o Kyle tem a dizer então… ele é, sim, uma força forte por trás da gente. Assim como ele é por trás do Headless Angel como compositor ou até da Harmon, como diretor e antigo produtor da música dela.
Entrevistador. Vocês têm planos de colaborar artisticamente no futuro?
Liam: Não temos nenhum plano específico mas é claro que eu adoraria ouvir uma música em que nossas vozes estivessem juntas. Eu quero um registro do nosso amor, da gente fazendo juntos o que a gente mais ama que é a música. Seria incrível.
Entrevistador. Qual é a coisa mais romântica que Kyle já fez por você?
Liam: O Kyle faz muitas coisas românticas… mas eu acho que o que eu mais lembro foi um ato que a maioria das pessoas diria que é simples, mas foi o que me fez perceber que eu nunca poderia perder ele. Bom, a nossa casa atual tem escadas, né… e eu tenho uma mania de sempre sair do banho e ir de toalha, direto, encontrar ele. É um tipo de piada ou provocação… mas uma vez, eu escorreguei na escada e acabei quebrando a perna. O Kyle foi um cuidador muito eficiente e muito carinhoso também. Ele me levou pro hospital imediatamente, me ajudando a andar, depois a gente ficou a noite inteira no hospital. Ele dormiu comigo e não aceitou sair enquanto eu não pudesse sair também. Eu acho que nunca me senti tão amado antes. O Kyle é uma pessoa especial, eu lamento por quem perdeu ele.
Entrevistador. Como vocês lidam com os momentos de estresse no relacionamento?
Liam: É claro que eu e o Kyle brigamos como qualquer casal, mas nunca na vida aconteceu de a gente se agredir ou nada parecido. A gente grita e às vezes se xinga mas o ponto fraco dele é meu senso de humor idiota, então geralmente acaba com a gente dando risada da própria briga… ou, quando os dois tão putos, é sempre provocação pra virar algo mais também…
Entrevistador. Como é a sua relação com Harmon Moore?
Liam: É esquisito falar isso porque nós dois temos a mesma idade mas ela é como uma irmã mais velha pra mim do mesmo jeito que é pro Kyle. Claro, ela puxa mais saco pra mim porque ele é o irmão dela, mas eu aprecio muito a Harmon e também admiro muito ela. É incrível como ela me tratou como família desde o começo do meu namoro com o Kyle. A Harmon é minha melhor amiga e também… tem algumas coisas em mim que ela entende até mais que o Kyle, não foi por nada que a gente escolheu ir juntos pra falar de composição musical no quadro Songwriters on Songwriters da Variety. Ela é uma compositora muito afiada, por mais que as pessoas odeiem admitir só por ela ser uma artista pop, e eu acho que nós trocamos muitas ideias e melhoramos nosso trabalho em todos esses meses que a gente teve contato. Ela mudou minha forma de ver composição.
Entrevistador. Vocês já colaboraram em algum projeto musical juntos?
Liam: Musical não, mas… bem, eu não sei se posso falar isso, mas ela tem um videoclipe pra Barbie World prontinho que ela acabou não lançando por vários motivos burocráticos e pessoais. Mas nesse clipe, eu era um dos Kens. Ele é divertido mas eu entendo que não é mais onde ela se encontra enquanto artista. A Harmon tá mais ambiciosa quanto à arte dela e composição hoje em dia.
Entrevistador. Qual é a sua opinião sobre a música da Harmon?
Liam: Eu gosto bastante. Eu gosto de como ela equilibra os hinos pop como Clueless e Sidelines com baladas tipo Never Grow Old e pop mais suave e sentimental tipo Canvas e Southside. Pop não é a minha praia mas eu acho que a Harmon tem uma particularidade em relação a outros artistas pop que é a sensibilidade e a personalidade das músicas dela. O imaginário dela enquanto persona artística não gira em torno de ser uma diva pop intocável, na verdade as letras dela dizem o contrário. Ela fala de um passado, de nostalgia, saudade, de inseguranças e momentos mais mundanos tipo ciúmes ou se comparar com a ex do seu namorado, como Like I Would, que também é levemente sentimental e é com certeza um pop bop. Eu acho que a Harmon mudou a música pop de algo excessivamente conceitual pra algo mais descontraído e humano, mas sem voltar pra quando as cantoras pop eram plásticas e só cantavam sobre beber e festas e como elas são melhores que as outras garotas.
Entrevistador. Vocês costumam se encontrar fora do ambiente profissional?
Liam: Raramente, a Harmon tava começando a turnê dela quando eu o Kyle realmente oficializamos nosso namoro pros amigos então ela meio que tá sempre em ambiente profissional, eu nunca encontro ela porque bem, meu trabalho é aqui e agora ela tá lá no Brasil, depois vai pra Europa e então Oceania, depois Ásia… enfim, não preciso ressaltar que ela tá viajando pelo mundo e meu trabalho tá todo aqui nos EUA. Então não, nós quase nunca nos vemos em um ambiente descontraído. A última vez foi quando saímos eu, ela, o Kyle e o Russell, nosso amigo e o produtor que está trabalhando com todos nós.
Entrevistador. Como Harmon influenciou seu crescimento pessoal ou profissional?
Liam: A Harmon me fez perceber que a indústria não é um bicho de sete cabeças e também que eu não preciso participar dela ferrenhamente pra ser um artista bem sucedido. A Harmon não costuma entrar em conflitos e participar de todo assunto que todo mundo tem, ela recebe farpas aleatórias aqui e ali mas ela não está inclusa em toda essa bagunça que os artistas mainstream se encontram e isso dá um ar diferente a ela. A relação dela é com a música e com os fãs, dificilmente com outros artistas, a não ser é claro os que estão inclusos na vida pessoal dela tipo o Brendon, o Lucca, a Yves, o Caleb, a Jamie… o que eu quero dizer é que ela me mostrou que a indústria musical é cheia de mídia, alguns artistas por aí são desesperados pra aparecer e são egocêntricos a ponto de tentar boicotar eventos culturais nacionais só porque não recebeu tudo na mão aos termos que eles exigiam. A Harmon nunca quis se incluir nesse ambiente e isso tornou a magia dela especial. Ela nunca se importou com o ego, ela já se apresentou em tapetes vermelhos e trios de carnaval no Brasil. Ela é humilde enquanto alguns artistas vivem numa mania de grandeza a que… ela nunca quis se expor e eu também não quero. E eu só sei que tenho essa opção porque ela me mostrou na prática. A Harmon é uma artista gigantesca e ela não precisou apelar pra ego nem pontos de simpatia, as pessoas gostam dela por gostar e isso é orgânico, isso é genuíno. Ela é uma artista, não uma vendedora de produtos.
Entrevistador. Qual é a coisa mais engraçada que aconteceu entre você e Harmon?
Liam: Ah cara… tem muitas… eu acho que uma das melhores situações foi quando a gente tava no estúdio, ela tava lá também e… bom, ela não viu eu e o Kyle se beijando no chão em uma das salas e aí, ela encostou um pé na minha cabeça e deu um pulo, soltou um grito super agudo que até assustou nós dois. Aí depois ela disse “Ah, são só vocês! Meu deus, Liam, parece que meu irmão tá sendo esmigalhado e engolido por um URSO! Toma cuidado com esse moleque de um metro e meio, por favor, eu preciso dele, tipo, emocionalmente e profissionalmente também!” mas tipo ela tava muito tentando manter a pose de mulher responsável e irmã mais velha mas era fácil perceber que ela só tava fazendo isso pra disfarçar enquanto ela corria pra fora da sala pra não ficar mais um segundo ali enquanto a gente ficava no chão, ela foi dando passos largos e tampou os olhos com a mão… foi muito engraçado.
Entrevistador. Você já recebeu algum conselho valioso da Harmon?
Liam: Sim. Ela me disse, e eu lembro com todas as palavras e na ordem certa: “Não negocie sua arte. As pessoas vão falar que você precisa se segurar um pouco ou fazer sua arte de um jeito diferente do seu pra ficar amigável pro público mas isso não faz o menor sentido. Pessoas são plurais, existe uma infinidade de pessoas que vai se identificar com você verdadeiramente, que vai entender o que algumas outras talvez não entendam e tá tudo bem. Você vai achar seu público simplesmente porque nós, artistas, falamos de sentimentos e não existem sentimentos totalmente individuais. Muita gente vai se identificar com o que você tem a dizer. É melhor conquistar um público que converse com você do que conquistar o maior público que nunca vai te entender porque você conquistou ele com mentiras”.
Entrevistador. Como Harmon e Kyle se dão?
Liam: Eu ouvi falar que eles já foram brigados por um tempo, mas hoje eles se dão super bem. Claro que eles discordam em muitas coisas, os dois são dramáticos mas a Harmon é de um jeito otimista, esperançoso, enquanto o Kyle gosta de melancolia, tá na alma dele. Eu entendo os dois, eu acho que o meio termo entre eles seria o equilíbrio, mas isso não é possível, eles são pessoas totalmente diferentes que passaram por muitas experiências em comum mas nem por isso seriam parecidas. Apesar disso, eu acho que eles se contagiam. O Kyle tá virando uma pessoa menos mórbida e a Harmon tá entendendo que a tristeza às vezes precisa ser sentida e expressada.
Entrevistador. Como você vê a evolução da carreira de Harmon?
Liam: Eu acho que ela chegou muito longe mas esse é só o começo. Nós tivemos origens parecidas então ela inspira muito a gente, todos da banda também, e ver ela crescer e se tornar a estrela que é, mas ainda sim sendo uma artista honesta e uma pessoa genuína, eu diria que ela é a referência de como ser. Ela não é a mais rica ou a que mais vende, mas ela é um conjunto ideal. Eu acho que ela adestrou a indústria ao invés de ser engolida por ela.
Entrevistador. Vocês já pensaram em fazer uma turnê juntos?
Liam: Cara, pior que a gente já pensou, sim. Ela queria que a gente viajasse com ela pelo restante da Clueless World Tour mas eu falei pra ela que a gente precisava trabalhar num álbum antes disso, por mais que seria divertido e uma ótima oportunidade.
Entrevistador. Qual é a música de Harmon que você mais gosta?
Liam: Ah, cara… eu não sei se consigo escolher entre Canvas, Southside, Never Grow Old ou Heart Cleft… ela derramou o coração dela em cada uma dessas músicas. Eu gosto de como Heart Cleft tem alguma raiva nela, mas também gosto muito da construção de Canvas, o storytelling de Never Grow Old e acho que o meu verso preferido dela está em Southside. Ela foi muito esperta quando escreveu “even when your eyelids turn into two islands”. Eyelids e islands é uma rima bem original, eu nunca vi ela sendo usada antes na minha vida, além de eu achar uma maneira muito linda e muito poética de metaforizar a ação de chorar. Quando suas pálpebras se transformam em ilhas! E aí as lágrimas seriam o oceano que fica ao redor das ilhas… eu acho que até ela se assusta ao pensar em como ela chegou nesse verso.
Entrevistador. Como Harmon reage à ascensão de sua banda?
Liam: Ela fica muito feliz, realmente. A Harmon é o tipo de pessoa que torce por todo mundo e gosta de todo mundo até que essa pessoa erre com ela de alguma maneira. Ela realmente gosta de ver as conquistas de todo mundo que nunca machucou ou maltratou ela. A relação dos meninos com ela sempre foi gentil e minha relação com ela é uma grande amizade. Não teria porque ela reagir de outra maneira. A Harmon não é uma pessoa que sente inveja, ela quer mais é que outros artistas também tenham um momento na luz. É só não ser babaca e ela te dá o mundo.
Entrevistador. O que você diria para o seu eu mais jovem se tivesse a oportunidade?
Liam: Eu diria pra ele: “você não é nada mal em matemática realmente, mas acorda logo pra vida cara. Você é um artista, você nasceu pra isso, pela emoção de tudo!”
Entrevistador. Qual é a sua maior realização até agora?
Liam: Eu acho que só o lançamento dos singles da Cosmic já é uma conquista foda, uma grande realização. Existem muitas pessoas mundo afora que não têm a chance que nós tivemos e significa o mundo pra gente.
Entrevistador. Onde você se vê daqui a 10 anos?
Liam: Aos 35 anos? Eu me vejo fazendo música por muito mais tempo ainda, eu acho que só vou sair da música quando eu sair do mundo.
Entrevistador. Qual é o legado que você deseja deixar na música?
Liam: Eu não tenho ambição quanto a isso, nem todo artista é um artista de legado. Eu fico satisfeito por poder tocar os corações das pessoas no presente. Mas se eu for deixar um legado, eu espero que seja positivo, otimista e livre de preconceitos. Eu quero poder ajudar artistas queer que virão pela frente a sentir que esse espaço na música é deles também.
Entrevistador. Como você define sucesso na sua carreira?
Liam: Eu não sei dizer… eu acho que sucesso pra maioria das pessoas é sucesso comercial ou sucesso crítico mas… eu particularmente vou me sentir bem sucedido quando eu estiver num show e fazer as pessoas se emocionarem com as minhas composições, com todo o trabalho da banda. Tudo que nós investimos. É claro, todo mundo quer dinheiro, a gente vive num sistema que pune com a morte quem não ganha dinheiro mas… eu só quero poder comer e fazer música que move as pessoas de alguma maneira. O Caleb move pessoas de uma cultura que o entendem, o Lucca move pessoas pela libertação das amarras do moralismo, a Harmon move as pessoas pela honestidade sentimental e poética, a Plastique move as pessoas por uma emancipação política… a Agatha move pessoas adaptando sentimentos crus, brutalmente honestos num imaginário totalmente singular, uma identidade que só ela tem. E temos vários outros exemplos muito bons. Pois bem, eu também quero tocar as pessoas dessa maneira, mas de um jeito nosso também.
Entrevistador. Qual é o conselho mais importante que você recebeu na vida?
Liam: Provavelmente o conselho que a Harmon me deu e eu comentei mais cedo… ah, e também, todas as vezes que o Kyle me responde com anexins tipo… “tá no inferno, abraça o capeta” ou coisa assim. É engraçado como uma pessoa multitalentosa como o Kyle fala tanto por anexins. Acho que é algum tipo de piada mas… ele tem uma forma de fazer parecer menos brega. Ou talvez eu só não ache porque ele é um homem lindo por quem eu tô perdidamente apaixonado também…
Entrevistador. Como você lida com a pressão de estar sempre sob os holofotes?
Liam: Eu não estou sob nenhum holofote… e espero que isso não mude drasticamente em um bom tempo. Eu não sou o tipo de cara que aceita ter uma equipe de relações públicas e eu com certeza vou acabar morrendo pela boca.
Entrevistador. Qual é o seu maior sonho ainda não realizado?
Liam: Tocar como headliner no Rock in Rio, no Brasil. Algumas lendas do rock fizeram shows nesse festival que ficaram pra história. O único tipo de legado que captura minha ambição é ter um momento histórico de muita troca emocional assim. Deve ser um sentimento inigualável.
Entrevistador. Como você equilibra a vida pessoal com as demandas da carreira?
Liam: Bom… Pelo bem da minha saúde física e mental, eu sempre preciso de no mínimo duas horas de treino durante a semana e também, nada de trabalho aos domingos. Nesses, eu me reúno com os caras da banda, o Kyle e quem mais quiser participar. Inclusive, foi em uma dessas reuniões que a Harmon gravou aquele vídeo que ela postou falando que eu sou tipo um tanque de água depois de eu beber quase dois litros de água em 5 segundos…
Entrevistador. Qual é a coisa mais importante que você aprendeu sobre si mesmo através da música?
Liam: Uau. Essa é uma pergunta muito boa. Eu… eu acho que a música me salvou, na verdade. Ela me mostrou tudo sobre mim que eu uso pra me descrever pra qualquer um que pergunte quem eu sou. Eu ainda seria um robô sem sentimentos que só faz cálculos se fosse ela. Eu seria um poeta preso no corpo de um contador ou algo assim. A música me deu tudo que eu sei sobre mim e toda a felicidade que eu tenho na minha vida. Desde a satisfação no próprio ato de fazer música até os meus amigos Finn, Miguel, David, Rory e Owen, o Kyle, a Harmon…
Entrevistador. Como você gostaria de ser lembrado pelos seus fãs?
Liam: Um grandalhão de dois metros, muito músculo e muita vontade de espalhar felicidade. Eu acho que… bem, nem todo mundo vai pegar essa referência mas pra quem pegar: eu gostaria que me lembrassem de mim como se eu fosse um tipo de Braum do League of Legends na vida real. Um himbo bem forte com o coração do tamanho do mundo.
Entrevistador. Quais são seus próximos projetos musicais?
Liam: Com certeza o lançamento do Cosmic Drive, mais alguns singles, alguns clipes… provavelmente uma turnê, eu e a banda sonhamos em fazer uma turnê. Deve ser muito foda viajar por aí e encontrar muita gente, cantar bastante…
Entrevistador. Você tem algum ritual ou rotina para manter sua voz em boa forma?
Liam: Ovo cozido toda manhã e exercícios de aquecimento antes de qualquer apresentação. Eu não faço ideia se esse costume do ovo faz algum sentido, mas dizem que ajuda na voz. É claro que eu também tenho minha rotina de exercícios e eu sempre me mantenho bem hidratado, então minha voz é protegida. Desnecessário dizer que eu não fumo, cigarro é o maior inimigo de vocalistas.
Entrevistador. Como você se prepara mentalmente para os shows?
Liam: Ah… um abraço em banda, um beijo no Kyle e um golinho de whisky. Isso deixa minha mente blindada.
Entrevistador. Qual é a sua música favorita de todos os tempos?
Liam: Que pergunta difícil! Talvez… Hm… Under Pressure? Queen e Bowie? É. Eu acho que essa música é talvez a mais atemporal na minha playlist. Quando a gente fizer uma música como essa, eu vou ficar feliz.
Entrevistador. Como você define felicidade?
Liam: Caralho… eu acho que… felicidade é tipo… sei lá cara, muita coisa pode ser felicidade. Pra mim é deitar na cama à noite e não ter nada pra pensar, nada pra te deixar ansioso ou arrependido. Não pensar em nada que você deixou de fazer ou o que fez errado.
Entrevistador. O que você diria aos fãs que estão passando por momentos difíceis?
Liam: Eu acho que… o que eu posso dizer é sempre, todo dia, pensar que amanhã vai ser melhor. Mesmo se não for, continue repetindo esse mantra porque eventualmente VAI ser melhor, é um fato. E é claro, é sempre bom ter pessoas com quem você possa contar, nós somos seres sociais e toda carga compartilhada é menos pesada.
Entrevistador. Qual é a mensagem central que você quer passar com sua música?
Liam: Eu acho que eu gosto muito de escrever sobre experiências humanas. Eu não acho que curto fazer músicas imperativas, eu prefiro que elas falem sobre ser quem você é, sem tabus, sem amarras sociais, sem convencionalidade.
Entrevistador. O que você mais gosta de fazer quando não está envolvido com música?
Liam: Eu gosto de experimentar bebidas novas… gosto de fazer comida e… gosto de fazer o meu namorado.
Entrevistador. Quais são os seus planos imediatos após esta entrevista?
Liam: Pra falar a verdade, eu tô me segurando pra não correr pro estúdio agora mesmo. Essa entrevista me fez pensar em muitas coisas sobre as quais eu quero escrever. Realmente foi muito inspiradora.
Entrevistador: É claro! Bom, que ótimo, espero pegar quais músicas você escreveu sobre nosso momento quando ouvir o Cosmic Drive! Podemos encerrar por hoje, muito obrigado pelo seu tempo, foi uma ótima entrevista.
Liam: Claro! Muito obrigado pelo seu tempo, interesse e por me deixar tagarelar por uma hora e meia, eu realmente amo falar. Espero que escutem So It Rained e Spirit Desire de uma forma diferente depois de tudo que eu falei aqui.
Entrevistador: Eu com certeza gosto mais das duas agora!
[DIVULGAÇÃO PARA SO IT RAINED E SPIRIT DESIRE]