[USA] SOFÍA X BILLBOARD US
Jul 11, 2024 1:10:26 GMT
Post by adrian on Jul 11, 2024 1:10:26 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA JUICIO FINAL & NO SÉ CUANDO SE ACABÓ]
Em uma breve conversa com a Billboard dos Estados Unidos, Sofía desabafa sobre os desafios da indústria musical em aspectos como a ética, a moralidade e questões pertinentes à identidade musical.
A noção de estrela não cai bem em qualquer um. Há ingredientes essenciais para a receita de como se tornar um ícone da música entre os quais a autenticidade, o carisma e a vontade de fazer história. Se há artista que melhor cozinhou a sua carreira, esse alguém se chama Sofía. A mexicana rompeu barreiras e fez história ao se tornar uma das artistas mais comentadas de todo o universo da música atual. Ela quebra recordes e faz seu nome no hall da fama da música latina e também mundial. A Billboard USA conversou com a artista que revelou suas feridas e abriu o coração para a revista.
[BILLBOARD] Como você enxerga o sucesso hoje, de uma maneira mais geral?
[Sofía] O sucesso, para mim, vai além de dados quantificados e se estende para a realização pessoal de quem vive isso. Eu me sinto uma artista e pessoa de sucesso por conseguir ocupar espaços que anteriormente não eram permitidos para pessoas que vinham de onde eu vim. A música latina hoje é mais reconhecida e respeitada e eu tenho orgulho de ser uma das porta-voz dessa cultura que para mim tanto significa. Sucesso é, também, ver que companheiras e companheiros estejam sendo reconhecidos pelo seu trabalho duro na propagação de nossa música, respeitando as identidades latinas em suas diferenças. Plastique, Tieta, Bru, Awa e tantos outros fazem diferença nessa indústria que não nos via antes. Essa é a minha definição de sucesso. Já falei muitas vezes a respeito do quando eu não pretendo quantificar a minha carreira e muitos entenderam isso como se eu tivesse falado “números não são importantes”, muito pelo contrário. Eles importam e muito, mas a nossa carreira não deve ser voltada apenas à isso. É por isso que temos cada vez mais e mais artistas plastificados e sem alma. E não estou querendo me colocar acima dos outros; falo de uma perspectiva crítica em relação a mim mesma. Desde o início da minha jornada musical fui assolada por questões semelhantes e demorou muito tempo para que pudesse formular resoluções para todos esses conflitos internos e externos que se apresentaram à mim. Não é um processo fácil, mas hoje me considero bem sucedida na construção de uma prática profissional baseada na qualidade e na narrativa, não apenas focalizando os números. Ressalto, mais uma vez, a importância destes números, afinal, não me lançaria em um mercado – respeitando o próprio nome – se assim não quisesse arrecadar recursos. Enquanto artistas devemos buscar uma prática profissional assentada em ideias artísticos liberais e progressistas, entendendo-a como consignadas às nossas realizações pessoais. Me considero, hoje, extremamente bem sucedida em tudo o que me propus a fazer. Eu tenho números e ainda sou artista, já dizia uma velha amiga minha que morreu.
[BILLBOARD] E quando o sucesso incomoda?
[SOFÍA] Pouco se fala sobre essa dimensão danosa que a fama traz para as nossas vidas, mas é essencial lançarmos luz sobre essa questão. E não vou entrar em um discurso vitimista, não me entendam mal. Estou pronta para compartilhar a minha experiência de ser uma grande estrela da música em sua integralidade. Há bons causos para contar, mas há também os ruins que não podem passar despercebidos nem por nós pelo público. A fama incomoda quando perdemos a nossa privacidade. Tudo o que fazemos, ou deixamos de fazer, vira notícia para além daquilo que imaginávamos. Às vezes você sai para tomar sorvete, chega em casa e vê uma notícia dizendo “Sofía estava com tanto calor pelo tesão que teve que se resfriar com um picolé”. Isso é danoso, principalmente, para o seu psicológico. Desde que fui focando mais famosa me sinto sempre perseguida e, na maioria das vezes, eu estou. Um dia desses tinha um grupo de fotógrafos me esperando na porta de um quarto de hotel. E quando você tenta impor um limite é vista como “grosseira” ou “desrespeitosa” por essas mesmas pessoas que invadem a tua privacidade. Não dá para mensurar os impactos que isso nos dá. É comum vermos pessoas justificando esse tipo de atitude dizendo que somos pessoas públicas e é claro que íamos ser alvo da mídia; algo que não fica claro é que entendemos essa dimensão, mas não concordamos que a nossa vida pessoal deva ser, também, publicizada a todo instante como se fôssemos meros brinquedos. Temos nossas vontades, desejos e fraquezas que nem sempre estamos dispostos a dividir com o mundo. O assédio da mídia é constante e não para nunca. Já cheguei a ter crises de pânico escondida em meu camarim pois havia descoberto um jornalista infiltrado dentro do baú que guardo meus figurinos. Não sei o que esses pseudos-profissionais pensam que estão fazendo, mas não se trata de um trabalho sério e ético.
[BILLBOARD] Falando em ética, mas também em moral, como você articula ambos na sua vivência profissional?
[SOFÍA] Eu tenho bem consolidado em mim uma noção de que o meu sucesso independe do fracasso de outrem. Da mesma forma, tento levar a ética e a moral como pilares da minha carreira para não cair nesses buracos que se armam, como armadilha, para nos pegar e aprisionar em determinadas caixas. Ao mesmo tempo, há algo me faz temer por seguir determinados princípios éticos e ficar parada no tempo. Sabemos que há determinações que fogem do nosso querer e são instituídos de cima, por uma força superior. Então eu busco me interrogar a respeito do que é ética e do que é a moral e do onde ela vem. Há práticas discursivas hoje que entendem tanto a ética como a moral armas de controle e de limitação pessoal. Então busco seguir essas regras, mas não me limito apenas a segui-las, mas também a questionar e me posicionar frente às quais eu enxergo como limitantes. Somos seres sociais e, justamente por isso, as estruturas nos condicionam frente à determinados comportamentos, ideias ou noções.
[BILLBOARD] Você é conhecida por suas colaborações com artistas de diferentes gêneros. Como essas experiências enriquecem seu trabalho e qual foi a colaboração mais desafiadora e gratificante que você já fez?
[SOFÍA] As parcerias que surgem no nosso caminho são justamente às oportunidades que nos fazem a desenvolver e aprimorar o nosso senso artístico. De fato, já colaborei com muitos artistas e tive tanto tesão em cada uma destas faixas. Vittor, Monet, Awa, Plastique, Kijikush, Blanca, EMÍ, Lucca, Rique, Las Trinity, MAVI, LEO, Western Union, Alexa Bloom. São alguns dos artistas dos quais agora me lembro, peço desculpas se esqueci de alguém. Uns são mais distantes daquilo que faço como o KIJIKUSH e a Plastique, embora ela agora esteja mais voltada à música regional latino-americana. Considero que houve um crescimento criativo e profissional que teve origem nesses trabalhos em conjunto. Com cada um eu pude experienciar novas perspectivas e modelos empíricos de trabalho. No meu primeiro álbum colaborei com o Vittor e a Monet e foi incrível pela experiência de estar em estúdio com outros artistas e dividir com eles essa oportunidade. Ao mesmo tempo que tudo se torna mais fácil, há uma dificuldade explícita em juntar duas vozes diferentes em uma canção que tem que se mostrar coesa, preservando a singularidade de cada um. E isso é difícil. Há um paradoxo evidente: a música tem que constituir um todo harmônico, mas isso não deve significar homogeneizar as vozes e as identidades dos componentes da canção. Engraçado é que os vínculos se fortalecem no processo, mas sinto que há uma restrição evidente pelo elemento “trabalho” envolvido nessas relações. Temos que ser sérios, dizem, e o estúdio acaba sendo um lugar próximo a um espaço de privação de liberdade. Sempre busquei me afastar desse ideal redutor e limitante, por isso considero todas as minhas parcerias como um grande sucesso. No estúdio sempre brincávamos e estabelecíamos uma relação de parceria, cumplicidade e alegria para àquilo que nos juntamos para fazer. É essencial que haja essa percepção de que o estúdio não deve ser uma prisão, mas um espaço na qual a liberdade e a criatividade encontram um ambiente seguro e amplo para prosseguir. Me considero uma pessoa muito aberta as contribuições alheias e todas essas canções contaram com a participação mútua de ambos os artistas. Se estabeleceu, portanto, uma relação de cumplicidade entre nós. Em relação à parceria mais desafiadora, eu considero que foi a com KIJIKUSH, Tequila and Soju. Eu não compus essa faixa, mas foi difícil cantar e me ver dentro de um mundo que eu estava alheia. É, talvez, ainda hoje a minha faixa mais fora da curva daquilo que faço normalmente. Tenho orgulho dessa canção e mal posso esperar para me aprofundar nesse mundo. Estou esperando convites de artistas asiáticos, inclusive. Fora essa, posso elencar as minhas parcerias com EMÍ como muito desafiadoras também, Mujer Bruja e Verte Arder. Essa primeira, por exemplo, foi a minha primeira composição original e foi um tanto complicado lidar com a ideia de juntar nossa vozes e permitir que tanto eu quanto ela pudéssemos nos destacar.
[BILLBOARD] Em relação à essa confluência de diferentes artistas, há uma questão latente que é a desconstrução de gêneros musicais atualmente. Você acha que essa categorização ainda é relevante? E como isso afeta a sua carreira?
[SOFÍA] Bem, eu não acho que haja uma desconstrução. E se houver, eu sou totalmente contrária. Entendo que algumas pessoas podem vir a critica uma certa “determinação” e imobilismo dos gêneros musicais, mas não concordo que haja essa difusão. Ao meu ver isso pode levar à destruição de identidades, principalmente àquelas não-hegemônicas. Sim, a música é uma linguagem universal, mas não significa que devamos agir em busca de uma homogeneidade. Música é música, claro, mas há distinções fundamentais que distinguem o lugar social de que ela é originária. Não dá para pensar a cultura latino-americana dissociada das inspirações indígenas, urbanas, africanas em confluência com a modernidade. Há sempre uma revitalização e reapropriação das tradições de forma que nada seja imóvel, mas sempre dinâmico. A música é um devir. E, por isso mesmo, acho necessário destacarmos as diferenças entre cada ritmo. Já imaginou colocar o R&B e o reggaeton no mesmo patamar? Não é só uma questão de instrumentalização de conceitos, mas, como falei, de destacar a singularidade, a alteridade, a cultura. Nós artistas devemos advogar pelo fortalecimento dessas determinações, ao mesmo tempo que não podemos presumir que interferências externas não devam ser atribuídas ao que é tradicional. É recolocarmos em questão a apropriação e a determinação cultural. A produção musical gesta em uma determinada localidade e, a partir desta, se constrói um significado que constitui uma identidade individual e coletiva. Hoje eu me considero uma artista multicultural, mas que é intercedida, principalmente, pelo gênero urbano latino e pelo pop. É um lugar de um indivíduo que se reapropria da tradição e se põe aberta ao novo e à interferência de uma cultura globalizada. Quando eu afirmo essa minha posição estou dizendo que a minha carreira se baseia em uma identidade multicultural e dialética. Estou sempre me colocando em uma posição aberta à novas influências, respeitando sempre o que há de mais significativo na cultura de onde nasci, naquele local que chamo de lar. É um retorno às origens. Isso é muitas vezes confundido como um retrocesso, mas eu não enxergo assim. É a partir desse retorno, dessa busca pelas reminiscências de uma cultura ainda viva. Os fantasmas não existem, pois, essa cultura se materializa na música que faço e nas demais formas de arte. Ela ainda está viva, mesmo que interpelada e “atropelada” pelo trem da modernidade. Não me sinto satisfeita quando faço algo que não tem nada de originário, seja na letra, no ritmo ou na essência mesmo da canção. Sim, eu sou culturalista e defendo a minha cultura como inerente à minha forma de fazer música. Saibam que Sofía é um sujeito social que defende a cultura originária, o que não significa estar parada no tempo. As pessoas podem não entender que as tradições, por mais que sejam resguardas por um ideal estático, são móveis. A música latino-americana já não é a mesma de vinte anos atrás, mas não significa que não seja música latino-americana. Isso entra no mérito dessa categorização e, talvez, de uma possível crise desses marcos fronteiriços os quais você falou. Precisamos interpretar as modificações como um processo inerente a forma e ao conteúdo das tradições; somos seres inerentemente móveis, inquietos e ávidos pela mudança, por mais que possamos vir a ter medo da novidade. Em suma, não acho que essa “desterritorialização” esteja acontecendo e, como já falei, se tiver eu me posiciono contrária. Os gêneros musicais tem uma história que é indissociável de sua própria prática e saber-fazer. O funk brasileiro surge, por excelência, de uma cultura marginalizada, periférica e que mostra o potencial artístico/criativo das classes mais pobres frente a uma sociedade que tende a minar o seu poder criativo. Imagina tirar esse elemento tão identificador de sua história? O mesmo acontece com o jazz e o country, por exemplo. Esses estilos têm origem da cultura afro-americana, embora estão sendo apropriados por pessoas brancas em detrimento de suas origens afro. Essa desterritorialização, ao meu ver, só fomentaria essa confusão histórica. Temos que, a todo custo, evitar essa involução – se é que essa palavra existe – da exaltação da cultura.
[BILLBOARD] Em um mercado tão competitivo, como você mantém sua identidade artística e autenticidade? Existe algum conflito entre manter-se fiel a si mesma e atender às expectativas do mercado e dos fãs?
[SOFÍA] Busco sempre ser sincera comigo mesma e com as pessoas que me acompanham. Há uma pressão gigantesca por nos mantermos sempre no topo das paradas e ostentar números grandiosos como se isso fosse a única coisa que importasse. Esse movimento pode trazer uma dimensão alternativa ao que nós gostaríamos de chamar de identidade própria; me considero, ai fim, uma artista autêntica naquilo que me proponho a ser. Não estou visando lucro ou à ser uma artista com grandes números, apesar disso ser uma consequência do meu trabalho duro. Cheguei aonde estou hoje por mérito próprio. Me matei de divulgar em diversos programas, rádios, lancei videoclipes, fiz promoção com versões alternativas com o intuito de fazer a minha música ser conhecida em todos os cantos do mundo. Nessa caminho eu obtive um sucesso gigantesco de números, acúmulo de certificados e recordes. E eu tenho medo de me perder nesse processo. É muito fácil se agarrar em números grandiosos e perder de vista o que realmente importa: a essência da arte e daquilo que ela representa para nós. Entretanto, considero que lido bem com todas essas pressões e influências externas. Não me vendi ao mercado, ao mesmo tempo que não estou afastada dele. Entendo que estou vendendo um produto, vendendo a mim mesma. A questão é que eu devo moldar as regras do jogo e não permitir com que a minha liberdade seja tolhida pelas iniciativas do mercado. Tenho plena consciência de que esse meu discurso possa parecer dúbio, e é, não irei negar. Ao mesmo tempo que me proponho uma iniciativa de manter a minha essência, sei que há outra influência externa, além do mercado, que é a dos fãs que molda às formas pelas quais a minha carreira se forma. Sei que esperam de mim algo muito comercial, sempre voltado à uma música mais universal e fiquei com medo quando lancei esse meu quarto álbum. Não era algo que eles esperavam, eu acho. Havia um receio gigantesco a respeito de como eles iriam receber essa novidade e eu fiquei impressionada como foi bem recebida por toda a comunidade que construímos ao longo desses anos. E ali eu percebi que, apesar das expectativas que muitos podem ter, eles me aceitariam em todas múltiplas dimensões e experiências que eu quisesse experimentar. Tanto é que hoje me sinto mais forte e apta a experimentar novas coisas na minha carreira sem ter medo do que os meus fãs vão achar. Eu faço música para mim, mas também é para eles; quero que se sintam conectados pelas letras, pela melodia e pela significação. Alcançar o público através da minha arte é uma perspectiva que está sempre na minha mente quando penso em escrever algo e lançar algo.
[BILLBOARD] Quais são os desafios e as perspectivas que você enxerga para o mundo da música, no geral, e para si mesma?
[SOFÍA] Penso que estamos em um cenário musical muito complexo e difuso, no qual as experiências são cambiantes e proporcionam ao público uma série de significações diferentes e que enriquecem as formas pelas quais interpretamos o saber e o fazer artístico. Talvez, o que me dá medo, é uma inclinação à tornar as músicas algo que “sem alma” e que não tenha uma essência. Não estou advogando por um idealismo ou um essencialismo barato, mas que não esqueçamos que o nosso fazer precisa atingir os nossos admiradores a partir de uma narrativa sincera, respeitosa e honesta. Falta honestidade em nossa indústria e isso me toca em um ponto muito sensível. Fico pensativa quando vejo artistas moldando uma personalidade ou uma persona propriamente dita que é falsificada, irreal, plástica. Já fui alvo de muitos destes e um dia já fui afetada pelo o que diziam e hoje eu paro e penso “fui afetada por isso?” hoje eu dou risada e contemplo essa ignorância. Busco me afastar desse tipo de comportamento, não é algo que eu queira que meus fãs identifiquem em mim como artista e como pessoa.