[EUA] SOFÍA X Z100
Jun 27, 2024 19:46:01 GMT
Post by adrian on Jun 27, 2024 19:46:01 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA JUICIO FINAL & NO SÉ CUANDO SE ACABÓ]
Sofía é entrevista por Guinle Montoy em um programa na rádio norte-americana Z100. A artista foi convidada para refletir sobre os seus ideais artísticos, da carreira e das dificuldades inerentes ao processo de criação musical.
[Guinle] Como você gostar de contar as suas histórias?
Sofía é entrevista por Guinle Montoy em um programa na rádio norte-americana Z100. A artista foi convidada para refletir sobre os seus ideais artísticos, da carreira e das dificuldades inerentes ao processo de criação musical.
[Guinle] Como você gostar de contar as suas histórias?
[Sofía] Veja, eu gosto de criar narrativas que possam ser entendidas a partir da experiência vivida de cada um dos meus ouvintes. Não que seja m experiências universais, mas são sentimentos comuns à toda a humanidade. Eu prezo para que o conceito não se sobressaia ao que realmente importa: a conexão com a música. O que busco sempre falar é que a música precisa ser explícita naquilo que pretende passar; o que não significa ser simplista e se despir dos mecanismos que a tornam complexa, mas sim de que a ideia seja acessível e que faça sentido ao ser ouvida. O que adianta ter uma super ideia e não conseguir transmitir isso em seu fazer profissional? Desculpa, mas isso para mim não é genialidade. Genial, para mim, são aqueles que compreendem esses diferentes aspectos. A conexão é mais importante que qualquer conceito que você tenha. Admiro a criatividade de meus colegas, mas é fato que nem sempre ideias ressoam compreensíveis. Há uma limitação óbvia quando acontece de você se achar demais, ser um puta artista incrível, mas não conseguir transpor tudo isso de uma maneira agradável para o público. Eles vão pensar “poxa, que ideia bacana, mas a execução é uma bomba”. E novamente, isso não significa ser simplista, mas de saber manusear e articular a ideia e o resultado. Podem dizer que eu sou pouco criativa, mas não podem negar que consigo criar músicas compreensíveis e que conectam ao público ouvinte. E esse é, com certeza, uma das minhas maiores habilidades e potenciais.
[Guinle] A originalidade é algo essencial na sua música? E como você enxerca essa busca desenfreada por ser original que há hoje em dia?
[Sofía] Eu não diria que é algo essencial, ao menos não para mim. Há algo que me incomoda bastante no mundo da música que é que alguns artistas se levam a sério demais. Todo trabalho tem que ter trezentas referências, trezentas frases que ninguém entende, mas, segundo eles, tem um sentido escondido. Novamente, não significa que isso não possa ser feito, afinal, os rumos que as nossas carreiras levam são de nossa própria responsabilidade; mas a minha crítica é a essa busca exagerada para você parecer o auge da intelectualidade, da criatividade artística. E depois não dá para reclamar quando há críticas a respeito de, por exemplo, sentimentos. Eu diria que se tem algo que devíamos ter como essencial para fazermos música é buscar essa relação de reconhecimento do público para com o que fazemos através da afetividade. Então as músicas tem quer um conteúdo ultrapasse as próprias letras e signifiquem algo de verdade. E não precisa ser coisa culta, às vezes você só quer dizer que quer transar e isso está ótimo. É isso que te faz ser original: ter sentimento por aquilo que produz. E assim eu enxergo a situação atual da indústria: prioriza-se o conceito e as narrativas e o sentimento vai para o ralo. O artista se torna só uma marionete de regras gramaticais, conceitos e abobrinhas.
[Guinle] Você já foi muito cobrada por isso, principalmente na internet porquê diziam que as suas músicas eram todas iguais.
[Sofía] Eu discordo disso, mas, antes, eu queria dizer que por mais que “fossem todas iguais” eram mais memoráveis que qualquer uma das originais que lançaram. Enfim, eu discordo desse tipo de fala porque vejo que as músicas que lançava seguia um mesmo ritmo, tinham semelhanças entre si, afinal, principalmente a partir do segundo álbum, eu apostei na mistura do pop e do reggaeton em uma forma mais clássica, por assim dizer. E era isso que eu queria fazer, não era minha intenção ser uma “artista experimental” ou algo do tipo. Eu levo muito em consideração que, ao fazerem esses tipos de comentários, há uma carga de preconceito bem evidente. Ninguém reclama, por exemplo, que as músicas country ou rock ou até mesmo kpop são sempre as mesmas. Nunca ouvi ninguém reclamar publicamente que grupo x ou y de k-pop estão fazendo coisas iguais, mas quando é uma artista latina ou africana, por exemplo, com o afrobeat somos bombardeadas por essas críticas infundadas. Então eu considero que existe um estigma social fora no que concerne à música latina, mas não só, como algo fechado e imutável. O que fazemos na América Latina não é apenas reggaeton, mas também salsa, tango, bachata, merengue, mambo, samba, funk, pagode e tantos outros ritmos que enriquem a nossa cultura. Em cada país há um miríade de gêneros e formas de fazer músicas diversificadas. E eu busquei trazer um pouco disso nesse meu quarto disco que é cheio de referências de ritmos latino-americanos, por exemplo.
[Guinle] O Hasta Que Salga El Sol vem numa pegada mais regional, embora com influências também de uma música globalizada e que, ao meu ver, se aproximam de uma identidade regional e, ao mesmo tempo, configuram um produto que passou por uma intervenção artística e própria que é sua.
[Sofía] Eu fico feliz de você falar isso, pois era exatamente o que pensei quando estava no processo de desenvolvimento do disco. Como já falei em algumas oportunidades, não tive tanto tempo para trabalhar nele por ter pensado em outra ideia anteriormente, descartado e investido nessa homenagem às minhas raízes. Então, no pouco tempo que eu e minha equipe tínhamos até o lançamento pensamos como imprimir a minha personalidade em canções que buscavam lembrar as grandes lendas da música latina. Empreendemos uma busca pela revalorização desses cantores, dessas bandas a partir de uma imagem que me era familiar, mas, ao mesmo tempo, era estranha. Estranha no sentido de distanciamento de gerações. Eu cresci ouvindo esses artistas, mas não era o que a minha geração estava produzindo. O que eu ouvia quando criança era a geração dos meus pais. No segundo álbum há essa referência à música pop-rock, ao pop em si, do que era feito na época em que eu nasci e cresci. E o trabalho no quarto disco foi mediado por essa dupla característica: eram ritmos e canções que me eram próximas por ter crescido ouvindo-as, mas eram distantes por ser de uma geração diferente. Não era possível e nem eu queria que fosse feita uma reprodução fiel do que foi feito, mas de buscar homenagear trazendo muito de mim para as canções.
[Guinle] Você ficou satisfeita com o trabalho que fez? Acho que é importante essa pergunta, porquê nós, o público, podemos achar que tudo é uma maravilha, mas esquecemos que vocês, artistas, têm suas próprias ideias e conclusões sobre o trabalho feito.
[Sofía] Eu concordo com você, até agora ninguém nunca havia me perguntado se estava satisfeita com os meus trabalhos. É uma pergunta interessante, na verdade, pois me leva a pensar o que eu fiz a partir de uma ótica mais crítica e afetiva. Eu amei esse álbum, não chega a ser o meu preferido entre os meus quatro discos, mas é um álbum que tenho orgulho de ter feito e de ter participado integralmente de todos os processos. Acho que faltou um processo de escrita mais consistente, mas, considerando que foi a minha primeira experiência como compositora, acredito que tenha feito um trabalho bacana. Talvez, eu trabalharia mais nesse aspecto, embora eu ache que as letras não tenham ficado ruins, pelo contrário, mas sempre dá para melhorar. Há algumas escolhas que eu fiz e que hoje me parecem não fazer sentido, como a adição de algumas músicas no trabalho final. Eu ouço o álbum e me parece distante. Eu não tiraria nada, mas me pergunto o que aconteceria se não tivesse tomado certas decisões. Uma delas é, por exemplo, La Que Baila. Eu gosto, mas parece estar perdida no conjunto do disco. Em geral, sou muito feliz com esse disco e tudo o que eu quis passar foi passado. Não poderia esperar uma recepção do público melhor e a crítica também foi bacana comigo.
[Guinle] Há algum arrependimento flagrante em termos de música lançada?
[Sofía] Para ser bem sincera, não. Sempre fui muito consciente acerca daquilo que buscava levar ao mundo e talvez por isso eu seja tão segura com as coisas que já lancei. É claro que surgem dúvidas e questionamentos, como La Que Baila, mas não é um arrependimento e não chega a ser algo negativo. E acho que é saudável revisitarmos os nossos trabalhos e questionar o estatuto que antes tínhamos dele. Eu olho para o meu primeiro disco hoje e fico um pouco envergonha, mas arrependida nunca. Acredito que é um processo de aprimoramento longo e que eu ainda estou percorrendo. Era uma jovem garota, prestes a iniciar em uma indústria gigantesca e com um senso de competição acirrada. Na época foram lançadas canções que, ao meu ver, faziam sentido naquele momento. Hoje pode não fazer muito, mas eu também não gostaria de mudar o que foi feito. A pessoa que sou hoje deve muito àquela que fui ontem. Então eu aprendo com tudo o que faço, seja positivo ou negativo. Me sinto corajosa e empoderada quando busco esse olhar crítico e não-cômodo acerca das coisas que faço e já fiz. Sou uma das minhas maiores críticas, com certeza.
[Guinle] Sabemos que o estilo de música que você canta, mais voltada ao regional, não é comumente associada à sucesso comercial, mas você conseguiu dar a volta e fez um álbum com inspiração de onde nasceu, com ritmos nichados de certa forma e teve sucesso em desempenho. A que você deve todo esse sucesso?
[Sofía] É difícil precisar um motivo para que um álbum tenha esse sucesso comercial, então não sei dizer. O que posso falar é que é um disco muito pessoal, mas concilia algumas exigências que o mercado faz para nós que somos artistas. Eu não posso esquecer que tem muitas pessoas que dependem de mim e, por isso, vender bem, seja um single ou um álbum, é importante. Eu estava com medo no início pois, de fato, essa música com raízes regionais poderia não interessar a maioria do público. Eu sei que há um certo estereótipo na música latina, mas não queria focar nisso.
[Guinle] Como você lida com essa necessidade de ser uma artista comercial e, ao mesmo tempo, manter uma essência e não ser apenas um produto.
[Sofía] É difícil, pois constantemente há uma sensação de que estamos nos perdendo em meio ao que esperam de nós em termos comerciais. Até mesmo a questão da originalidade é algo que se tornou um produto, e por isso mesmo tem muita gente que vende isso. Ser original hoje não significa apenas manter uma essência, mas de comercializar uma ideia que foi pouco trabalhada ou não trabalhada. Não dá para negar que todos somos e compomos esse ambiente comercial da música, mas o grau de dependência a esse estatuto depende muito de como nos posicionamos e nos reconhecemos. É preciso repensar a nossa própria imagem e a forma pela qual fazemos artes. E isso é difícil, não é fácil, com certeza. Colocar nós mesmos em prova é algo que não costumamos fazer, pois é dito que as críticas devem vir de fora e não de dentro. Temos que acreditar no que fazemos, óbvio, mas é essencial termos esse incômodo acerca do que estamos fazendo.
Às vezes somos levados a acreditar que devemos sempre olhar para o nosso trabalho como olhares positivos, não os criticar; mas isso faz com que a nossa produção seja permeada por uma visão acrítica e muitas vezes alienada. Não tem sentido que nós mesmos não o façamos isso, inclusive, poderia evitar eventuais críticas tanto do público como dos meios de comunicação. Auxilia, também, na tomada de decisões em relação ao rumos que você quer tomar na sua carreira. Ao colocar em questão o que é comum para nós é que temos a oportunidade de enxergar um mundo expandido para além dos elogios. Pode parecer que estou divagando e saindo completamente do assunto, e apenas a primeira assertiva é correta [risos], mas o que quero dizer é que quanto mais nos reconhecemos, e esse reconhecimento passa por um processo crítico de observância do nosso trabalho, mais podemos evitar tornar-nos produtos sem alma.
[Guinle] E como se deu esse seu processo de reconhecimento?
[Sofía] É um processo sempre difícil. Venho seguido esse caminho, entre intensidades variadas, ao longo de todos os meus anos de carreira, mas, principalmente, acentuado a partir do DESENCANTO. Esse álbum representou a quebra de diversas barreiras para mim, tanto como profissional como indivíduo. Mas não é o meu trabalho mais marcante, falando artisticamente, e, ao perceber isso, fiquei incomodada com essa situação. Então eu precisei pensar e repensar quem eu era para poder prosseguir. Eu tive que recuar em determinadas posições para enxergar algum avanço em mim mesma. A composição foi um desses elementos que mais me deixou inquieta. Era cobrada a torto e a direita para assumir uma direção criativa muito maior naquilo que lançava e eu pensava “foda-se todos, continuarei fazendo isso da maneira que eu acho melhor”, mas nesse período de reflexão fui pega por uma postura inflexível e burra de mim. Eram críticas válidas e eu não soube, no primeiro momento, aproveitar do ímpeto renovador que elas me ofereciam. Quando eu pus a mão na caneta e compus a minha primeira canção, Mujer Bruja, todas as minhas certezas caíram. E foi difícil largar essa idealização que eu tinha sobre os rumos da minha própria carreira. Esse momento aconteceu e novos caminhos se abriram para mim e eu sinto que, desde então, despontei como artista. Me sinto mais completa e mais realizada, mas não por que outras pessoas disseram para eu fazer algo, mas porquê eu fiz e considerei que era essencial para meu crescimento.
[Guinle] Você sente alguma pressão para entregar trabalhos melhores em comparação com os seus antigos?
[Sofía] De certa forma, mas acredito que essa pressão seja mais minha que do mundo externo. Eu sempre espero uma evolução em termos técnicos e vocais em cada trabalho novo que vem ao mundo, então eu me cobro muito para ser sempre melhor. É claro que externamente há uma expectativa de que a qualidade seja sempre maior e a curva se configura para cima não para baixo, mas, para mim, isso nunca me afetou. Eu sou a minha própria algoz e isso me irrita até certo ponto. Eu não sei ser outra coisa que isso. Tudo o que faço é permeado por uma série de entraves que eu mesma me coloco e isso vai além de um olhar crítico, mas de um sensação de impostor. Às vezes acontece de não conseguir enxergar aquilo como digno ou merecedor de sair ao mundo e isso implica em me ver como uma artista menor. Não faz sentido e isso é o que me dói mais. Para o lançamento de Hasta Que Salga El Sol foi necessária toda uma preparação psicológica. Eu me cobro muito, parece até que sou agiota, mas não sou só uma fodida com problemas em acreditar em si mesma.
[Guinle] Tendo em vista esse cenário, como você consegue manter uma atitude altiva em meio ao caos e a incerteza?
[Sofía] Eu não sei, sendo bem sincera. As coisas acontecem e eu tento dar o meu melhor para evitar possíveis roubadas ou que eu me sabote a ponto de ser algo realmente negativo para a minha carreira. Eu sou uma mulher forte e empoderada, mas isso não faz com que eu tenha momentos de reclusão e de incertezas. Esses momentos, em geral, surgem quando há problemas que me deixam ansiosa e, por isso mesmo, os mecanismos de controle mentais estão enfraquecidos e os pensamentos negativos se proliferam de maneira deliberada e constante. No atual ritmo da vida é difícil parar e ter em mente que são apenas pensamentos e que não constituem a base da realidade. É difícil, porém necessário. Eu desenvolvi alguns mecanismos próprios para lidar com a ansiedade, mas há momentos que nem mesmos eles funcionam e aí eu me permito sofrer, mas sofrer com a ajuda de profissionais. Quando eu precisei me afastar da música foi a primeira vez que me permiti sofrer. Esses momentos de introspecção são essenciais para uma vida plena, pois nem sempre estamos bem e temos que retroceder para avançar. Pode parecer um tanto contraditório, mas é a verdade. Somos seres sencientes até demais e para que as nossas emoções não entrem em descontrole precisamos parar.
[Guinle] Quando você tá envolvida em um processo criativo quais são as primeiras coisas que você faz?
[Sofía] Bem, a primeira coisa que tenho em mente é aquilo que eu quero fazer. Então eu já me preparo para um processo que tem início, meio e fim. Eu tenho que saber aonde quero chegar e, a partir do estabelecimento desses objetivos, eu inicio os meus trabalhos. Vou dar o exemplo da composição de Juicio Final, meu mais recente single. Era uma ideia que estava para ser lançada em outro álbum, mas a essência se manteve mesmo com o cancelamento e a troca dos álbuns. Já sabia que queria uma canção sobre um amor que transgrede regras sociais e vi na representação bíblica do pecado original uma imagem que eu poderia manipular e desenvolver para dar conta dessa narrativa. Esse foi o primeiro passo. E em seguida eu e a minha equipe fomos desenvolvendo aspectos mais técnicos como a linguagem a ser utilizada e as características minhas e do Awa que deveriam estar na faixa. Afinal, as nossas identidades deveriam estar presentes na canção. Somos duas pessoas que amamos e esse amor ele é transgressor, então não havia um parceiro melhor que o Awa. Depois, então, estabelecido a temática e a letra propriamente dita, sempre gosto de pensar em uma representação visual e imagética, mesmo em caso de canções que não serão músicas de trabalho ou que terão clipe, isso sempre ajuda a visualizar o todo desse trabalho que é um álbum. Esteticamente tem que fazer sentido, não necessariamente isso significa a adoção um padrão linear e que se repete, muito pelo contrário, como dá para perceber nas capas dos singles. Tudo é pensado e estruturado.
[Guinle] Há alguma técnica ou método que você utiliza para inspirar a criatividade no processo musical?
[Sofía] Algo mais sistematizado não, a minha música é muito livre de amarras e sistema pré-concebidos. A criatividade é algo que não se força, ela é trabalhada a partir da liberdade de pensamento. Ao meu ver, consigo estabelecer alguns rituais que me ajudam no processo de composição como ouvir músicas que eu gosto, não necessariamente referências, mas para estimular esse pensamento artístico e crítico. Eu sempre levo horas para iniciar esses processos criativos pois é repleto de momentos distintos e que se conectam um com o outro. Eu preciso ter essa dose de arte para fazer arte. E por isso é tão importante cultivar exemplos, referências e artistas que amo sempre comigo. Uma outra coisa que faço é cozinhar, sempre que possível. A cozinha é um lugar em que a arte se faz e os alimentos transformados são uma materialização desse senso artístico do cozinheiro ou da cozinheira.
[Guinle] O processo criativo ficou mais fácil ou mais difícil levando em consideração todos esses anos de carreira?
[Sofía] Mais difícil, com certeza. E isso se deve a uma complexificação dos processos tomados para a criação de músicas. Eu me propus a compor um álbum inteiro por mim mesma e isso foi muito difícil, antes isso não acontecia. Tinha um trabalho de concepção e criação de narrativa que era meu, mas a partir do momento que tomei a iniciativa de compor as canções todo o trabalho que eu tinha triplicou. Eram muitas variáveis a controlar e dispor de uma maneira organizada e que fizesse sentido no fim. Não sabia se ia ficar bom ou ruim, era uma experimentação e a minha música sempre esteve atrelada a algo sólido e seguro. Para mim, o processo criativo se tornou complexo e muito difícil. Considero que ainda hoje é um dos meus maiores obstáculos para lançar novas canções, principalmente por estar privilegiando canções autorais. Isso não acontecia antes. Não é algo que me arrependa, mas observo com curiosidade essa relação.
[Guinle] O que mudou para você quando começou a lançar músicas originais e não escritas por outras pessoas?
[Sofía] Foi uma sensação bem bacana que eu, sinceramente, não esperava. Eu sei que não sou a melhor compositora e ainda tenho muito a evoluir, mas considero uma vitória ter lançado um álbum bom só de músicas originais. Embora eu ache que compor seja algo muito superestimado atualmente. Há artistas que não compõe e que se são extremamente talentosos e em nada perdem para àqueles que compõem. Enfim, isso não importa discutir agora. Eu me sinto mais dona daquilo que tenho mãos, justamente por ter saíde de mim, literalmente. Quando eu decidi compor eu já sabia que todas as decisões seriam tomadas por mim e por nenhuma outra pessoa. Hasta Que Salga El Sol é o álbum mais sincero e mais original que já lancei, retomando aquele assunto de originalidade. É uma situação completamente diferente e é desgastante. Nunca tive tanto trabalho em produzir algo como foi com esse disco. E tá sendo ainda mais desgastante agora com a continuação dele.
[Guinle] Essa continuação de que você fala é a versão deluxe?
[Sofía] Eu não posso falar muito sobre, mas é sim uma espécie de versão deluxe do disco, embora eu ache que não é da maneira como a maioria das pessoas está esperando. Acredito que não estão preparados para o que vai vir, mas podem ter certeza que a qualidade vai se manter. Eu pretendo internacionalizar mais um pouco, com algumas referências internacionais misturados nos ritmos latino-americanos. Eu penso nesse projeto como um encerramento e a abertura para uma nova era, então o meu planejamento é a de um espaço de transição. Por isso, talvez, a demora e esse ser um processo extremamente lento. Quero entregar o melhor para acrescer essa era de músicas incríveis e dar espaço para que coisas novas possam surgir futuramente. Estou realmente muito empolgada, podem esperar de mim muitas surpresas e mais músicas para embalar as suas noites de dança. Sou apaixonada nesse projeto de rememoração das minhas raízes e quero trabalhar da melhor maneira possível. Mais informações serão divulgadas logo mais e acho que pelo menos até o inícios dos shows nos Estados Unidos você já poderão escutar esse projeto.
[Guinle] O que te diferencia, hoje, dos demais artistas do mercado musical?
[Sofía] Essa é uma pergunta difícil, pois somos tão diferentes e eu vejo isso como algo claro e inquestionável. E essa diferença a meu ver reside, principalmente, na forma pela qual lidamos com a carreira e com a imagem pública. Hoje eu sei que sou uma das artistas que mais mobiliza fãs na internet e isso foi fruto de uma abertura minha para esse mundo virtual e em me aproximar daqueles que me davam suporte. Eu quero estar mais próxima dos fãs, da forma que for. Ao mesmo tempo, sinto que a minha geração de artistas é muito medrosa. Talvez possamos nos autocriticar e saber que a nossa influência é muito mais poderosa do que angariar votos para uma premiação, por exemplo. Temos uma responsabilidade social intensas com aquelas nos rodeiam e dão o caráter às nossas carreiras. Eu sou uma pessoa muito aberta acerca daquilo que penso e do que quero. Talvez essa seja a principal diferença.
[Guinle] Afinal, qual o impacto da internet no fenômeno que você se tornou?
[Sofía] A internet se mobilizou, desde o início, para dar me uma base de apoio que eu não imaginava que seria possível. E o início remonta à minha participação em um reality-show no qual eu consegui admiradores em nível global. A partir desse momento, com o impulso da visibilidade na televisão, sinto que o virtual me abraçou. E a partir disso eu senti que, depois, as ruas me abraçaram e eu me tornei alguém admiradora tanto fora da internet quanto dentro dela. Eu lotei estádios ao redor do mundo e isso é a maior comprovação de sucesso. Eu tenho números de reproduções em serviços de música, mas eu também posso colocar 60 mil pessoas em uma única localidade de pessoas que pagaram para me ver. Hoje eu consigo ter uma relação próxima com todas essas pessoas través das minhas redes sociais.
[Guinle] Você já havia se imaginado lotando estádios ao redor do mundo?
[Sofía] Tinha o desejo, a expectativa e o sonho, mas nunca imaginei ser realmente possível atingir esse patamar. Eu via os meus artistas favoritos fazendo turnês mundiais em grandes locais e imaginava quando seria a minha vez de ter um público como aquele. Quando comecei a fazer turnês foram em locais grandes, teatros e arenas e já foi incrível. A energia que sinto dentro do palco e visualizando aquelas milhares de pessoas é indescritível. Não tenho palavras para te dizer o que sinto a cada show. Toda noite é única e especial para mim. Tenho muito orgulho dos meus shows e daquilo que proporciono aos meus fãs. É, de longe, o meu momento favorito quando estou trabalhando um disco. Já falei que é uma das primeiras coisas que penso: quero sair em turnê! Eu sou apaixonada em cantar ao vivo e ouvir as pessoas cantando comigo. São especiais até mesmo aqueles momentos que o público não te acompanha, você fica confusa e tenta descobrir o porquê de não gostarem daquela canção, enfim. É um experimento artístico, profissional e individual profundo demais. E não, não imaginava que pudesse chegar onde cheguei. O meu primeiro álbum não foi nenhum sucesso então ali eu comecei até me enxergar como uma artista indie [risos]. Quando eu tive a oportunidade de sair em turnê com a THE HIGHWAY TOUR um novo mundo se abriu para mim. Fora as experiências em premiações, até aquele momento não havia experimentado um show completo só meu. Quando pisei no palco pela primeira vez... nossa! Fui a pessoa mais feliz do planeta terra.
[Guinle] Para finalizarmos, como você gostaria que a sua música fosse lida pelas gerações futuras?
[Sofía] Gostaria que, no futuro. As novas gerações possam ouvir aa minhas músicas e sentir toda uma experiência voltada à celebração da identidade latina, do empoderamento feminino e da arte como ferramenta política. Não quero que as minhas músicas sejam descartáveis, mas que signifiquem algo para alguém. Gostaria que as jovens mulheres latinas, por exemplo, consigam se reconhecer no que um dia eu cantei e possam me ter como referência do sucesso e de que nós sim podemos chegar lá. E eu quero que saibam que não é um processo fácil ou indolor, pelo contrário, foi conquistado através de muita luta e esforço. Quero ser um símbolo de resistência para os meus. Tenho pensado muito em como impactar positivamente a cultura da qual faço parte honrando as raízes e adicionando novos aspectos.