[EUR] SOFÍA X EL RESERVADO
Jun 13, 2024 16:00:08 GMT
Post by adrian on Jun 13, 2024 16:00:08 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA JUICIO FINAL & NO SÉ CUANDO SE ACABÓ]
Tornar-se um artista reconhecido é algo que muitas e muitos jovens almejam desde a infância, mas poucos se destacam em um cenário que, além de desigual, é competitivo ao extremo. E quando quase tudo conspira para que seus objetivos não sejam alcançados e mesmo assim você consegue? Poucos serão aqueles que se reconheceriam por completo, mas, entre eles, Sofía é um case de sucesso. De participante de reality-show à artista mais famosa do cenário musical, a cantora mexicana nos conta sobre o caminho do sucesso: dos obstáculos até o pódio. Sofía é a entrevistada da vez do segmento “Histórias” do programa espanhol El Reservado. A entrevista aconteceu na casa da artista, no México e foi conduzida por Andaluzia Torres.
[Andaluzia] É um prazer imenso estar aqui com uma das mulheres mais admiráveis que podemos ter no mundo da arte. Sofía, obrigado por nos receber em sua casa. Sabemos o que significa abrir as portas de sua residência para a imprensa e somos gratos pela confiança.
[Sofía] Não precisa agradecer, querida. O prazer é todo o meu. Que você e a sua equipe sintam-se à vontade em minha casa.
[Andaluzia] Aproveitando a deixa, você mantém moradia fixa no México, apesar de ser uma artista globalmente conhecida. Hoje você está aqui pois ainda há compromissos, mas em alguns dias você já estará na Ásia. É quase uma vida nômade.
[Sofía] Eu me sinto um pouco nômade muitas vezes. Há dois meses que não vinha em casa e já estava morrendo de saudades da minha cama, mas esse é o preço por fazer turnês mundiais e tão longas. Eu sou feliz assim, embora reconheça que há algo em mim que se entristece por não estar aqui. Morei nessa casa durante toda a minha vida e tenho muitas lembranças em cada corredor desses. Hoje ela está reformada, pois moro com meus pais e demos uma boa aumentada na construção. Fizemos um belo jardim no qual cultivamos frutas, legumes e verduras. O oposto dessa vida de cantora que levo [risos]. Sinto que aqui posso ser mais eu. Não há nada que fazer além de viver. E isso é incrível, não? Ontem mesmo estava deitada na grama do jardim e me peguei pensando no início de carreira e do quanto eu não sabia o que estava me aguardando. Aqueles primeiros momentos foram difíceis: era jovem e inexperiente. Adentrar naquele mundo, saindo desse aqui, foi um choque de realidade tremendo.
[Andaluzia] Como você descreveria aquela Sofía que saiu desse pequeno vilarejo para conquistar o mundo?
[Sofía] Eu era inexperiente e com vontade de fazer acontecer, mas quando me deparei com determinados elementos tudo pareceu fluir contrário a esse ímpeto. Não me leve a mal, mas essa ideia de ter que sofrer para, enfim, conquistar algo é ridícula. E, normalmente, isso só aplica a algumas pessoas que, como eu, têm determinados privilégios. E naquela época eu talvez não tivesse a noção que tenho hoje de que caminhos se abrem mais facilmente a partir do seu status social, da cor, da orientação sexual ou com quem você dorme. Veja, é um cenário completamente diferente do qual estava acostumada. De certa forma fui criada em uma bolha. Meus pais me deram a melhor criação que puderam, é claro, mas me protegeram de muitas coisas. Fui descobrir determinadas situações-problemas quando me permiti jogar-me ao mundo. E foi muita informação junta. Chegou um momento que achei que não aguentaria lidar com tudo aquilo e pensei realmente em desistir. Foi então que percebi que não deveria, se o meu sonho era aquele eu deveria conquistar meu próprio espaço. Foi com esse propósito que cresci como pessoa e profissional.
[Andaluzia] Você sempre me pareceu ser muito consciente de tudo o que acontecia ao seu redor, então parece difícil associá-la a essa imagem mais fragilizada.
[Sofía] Nossa, você deveria ter me conhecido antes para saber como eu era. Tive que mudar muitas coisas para consegui lidar com tudo aquilo se impunha para mim. Não procurei sofrer xenofobia, por exemplo, mas foi uma situação que me obrigou a repensar a forma pela qual lidava com esse tipo de pessoa e me afirmar como sujeito. Era muito mais inocente e hoje até eu mesma olho para esse momento e fico pensando quando foi que essa mudança aconteceu. Foi uma sucessão de movimentos que me trouxeram e me fizeram ser o que é hoje que datas e momentos específicos são nublados. Mas, enfim, de verdade, eu era uma pessoa muito diferente do que sou agora.
[Andaluzia] Hoje, com 28 anos, você está próxima de se tornar uma lenda, não só na música latina, mas no cenário musical como um todo. Como você encara ser ainda tão jovem e já ter conquistado tanto?
[Sofía] Eu tenho medo de que isso possa me impactar de uma forma que não deveria. Não pretendo que a minha carreira seja puramente algo a ser quantificável. Não estou dizendo que não me importo com esses números todos ou algo do tipo, mas que, no fim do dia, eu não me sinto plenamente realizada se não estiver satisfeita com a qualidade daquilo que submeto ao mundo. Eu fico bastante chocada quando conheço pessoas que acham que chegar ao topo é a única missão. Vamos nos divertir mais, pessoal. E sim, eu sei que pode parecer hipócrita falar isso sendo que sou uma artista mainstream, mas não é algo que condiciona à minha carreira. Se fosse, por exemplo, o meu álbum não seria uma grande coletânea de ritmos latinos, algo que não é de fato apreciado pela maioria do público em geral. Eu ia fazer um álbum mais pop-eletrônico de início, como sabem, uma ideia que ainda ecoa em mim, mas conversando com amigos decidi explorar um lado meu que estava realmente desejoso para sair.
[Andaluzia] De fato, lembro que você até começou a divulgar esse álbum eletrônico e depois mudou de ideia completamente. E você estava saindo de um outro disco, o DESENCANTO, que te levou a outro nível artístico.
[Sofía] DESENCANTO me abriu portas aos quais eu nunca imaginei. Fez sucesso comercial, mas a crítica também foi positiva. E olha que nem é meu melhor álbum [risos]. Os frutos que vieram desse disco ainda os colho hoje em dia, sabe. Tenho muito orgulho do que fiz ali. Apesar de achar que ele é meu terceiro melhor disco, ficando à frente apenas do SPOILER, sempre me sinto realizada por ter feito ele daquela forma.
[Andaluzia] Você realmente não gosta do seu primeiro álbum?
[Sofía] Não me entenda mal, eu amo o álbum. Só que olhando em retrospecto vejo que ainda não tinha tantas condições de entregar algo realmente grandioso e que eu tivesse consciência de tudo que ali estava posto. É um disco que pouco reflete sobre maturidade, por exemplo, mas eu entendo que à época, eu também não era a pessoa mais madura de todas. Eu sou feliz pelo caminho percorrido até aqui, mas isso que falo é comparando o significado que cada um destes quatro discos representa para mim a nível pessoal. Ele me apresentou pessoas incríveis e me introduziu de fato ao mundo da música.
[Andaluzia] Eu sei que você já respondeu isso, mas gostaria de salientar isso, como foi o lançamento do primeiro álbum e o que mudou/continuou desde então?
[Sofía] Parando para lembrar daqueles momentos eu consigo ver o quão difícil e trabalhoso foi para que eu conseguisse ter espaço na indústria. Assim como hoje, há grandes nomes da música que, por tamanho de carreira ou investimento, tem maior oportunidade de divulgar seus trabalhos e serem aceitos ao mesmo tempo; isso não aconteceu comigo quando comecei. Eu era ninguém e para algumas coisas continuo sendo isso até hoje. E veja, não é algo que me doa e me faça paralisar, mas me incomoda que, mesmo depois de tantos anos, ainda tenha que ouvir ou ler que não sou ninguém. É burro, é estúpido. Gostem ou não, eu sou um dos maiores nomes da música e tudo isso foi sem ter nenhuma influência. Foram anos para que, enfim, pudesse ser reconhecida e sabe quem pode tirar isso de mim? Ninguém. Aquela menina de vinte anos que estava lançando um álbum, se jogando num reality-show não teria essa consciência a respeito do posicionar-se. Por muitas vezes me senti perdida, principalmente no momento do pós-reality. Havia uma coisa, que eu não vou saber dizer o que é, no ar que tornava tudo mais difícil. Uma espécie de nuvem carregada e que, de certa forma, ainda persiste.
[Andaluzia] Já que estamos falando da primeira fase de sua carreira, você sentiu alguma diferença do lançamento desse primeiro álbum para, por exemplo, o segundo?
[Sofía] Eu estava mais confiante por já ter passado por algo parecido, mas ainda havia em mim um quê de dúvida a respeito do potencial artístico das canções ali dispostas. E, para minha surpresa, foi um álbum muito recepcionado pela crítica, nele ganhei meus primeiros prêmios relevantes, de fato. Alcancei números e status na indústria. Eu considero como o meu nascimento enquanto artista maistream, que é vista e reconhecida pelo público. Em termos de narrativa, eu pretendi contar uma história que, através das músicas, tanto o público quanto a mim mesma pudesse achar um caminho pelo qual se chegaria à minha essência. Então eu estava buscando a mim mesma e o nome do álbum é reflexo dessa dúvida. No momento que ainda estávamos trabalhando nele, pensei só em “Camiños”, “Rutas” e decidi por um título mais extenso por dois motivos: o primeiro, eu adoro coisas cumpridas; e segundo, se eu deixasse uma ou duas palavras, talvez, o álbum ficasse disperso e eu queria ser óbvia no que estava propondo. Não deixando margem para interpretações de que seria um álbum nostálgico, o próprio visual do disco já indicava isso.
[Andaluzia] Você não esperava todo o sucesso desse álbum?
[Sofía] Eu não esperava muita coisa por que não havia nada em que me conectar para criar expectativas grandiosas. Eu acreditava naquilo que estava lançando, óbvio, mas de sucesso comercial esperava muito pouco. Novamente, fazer música latina é uma experiência difícil e, por vezes, você só consegue se aproximar de algo como o “sucesso”, essa coisa idílica ao qual nós artistas tanto procuramos, se deixar de lado um pouco as suas raízes e investir em algo mais globalizado. E acho que eu fiz isso nesse segundo álbum, também no terceiro, que me deram base para sustentar algo mais regional nesse quarto disco, por exemplo. A recusa ou a desconfiança do público em relação às minhas músicas eram... curiosas. Eu sei que há todo um imbróglio em relação a composição das músicas, enfim, mas em parte eu sentia que era rejeição à minha própria pessoa mesmo. E talvez a palavra rejeição esteja sendo mal colocada aqui por mim, mas era o que sentia. Nesse período principalmente surgiram algumas críticas que me afetaram e quase me fizeram desistir. Não foi fácil, realmente. Eu sou uma pessoa muito reservada e isso afetou as minhas relações sociais e as formas pelas quais eu me comunicava com as pessoas, então o meu grupo de amigos era bem reservado. Então, chegou um momento que eu não percebia que tinha reconhecimento, respeito daqueles que estavam ao meu redor. Não fazia mais sentido para eu estar num lugar que, em um primeiro momento era acolhedor e depois se tornou tão opressor a ponto de me levar a desistir daquilo que eu mais sonhava. Foi um período realmente que me tirou do eixo e me fez desistir, abandonar, adiantar o fim da era. Eu não terminei a divulgação do disco da forma como pretendia no início, eu acabei lançando os últimos singles só para preencher o planejamento da gravadora. O último single foi “niña de ojos tristes” e não foi à toa. Eu estava me sentindo muito depressiva e cabisbaixa pela forma que estavam me tratando e olha que eu nem sou uma pessoa muito sensível. Estar nessa indústria é uma tarefa árdua e eu não tinha tanta noção disso até sofrer com crises de ansiedade recorrentes. Tem que ter muita força de vontade e resiliência para persistir mesmo quando tentam te derrubar. E veja, não estou querendo dizer que sou uma coitadinha e “aí, todo mundo me odeia”. Só que eu percebia que atrás de críticas que poderiam sim ser positivas ou construtivas, havia um ataque pessoal a mim. E isso foi o ápice que me fez desistir.
[Andaluzia] Esse lado, o do ódio e dos ataques gratuitos, é muito pouco falado quando se aborda o assunto fama.
[Sofía] É mais fácil falar das coisas boas que das ruins, convenhamos. Ninguém quer olhar para uma criança que quer ser... sei lá, advogada. Ninguém olha para ela e diz “poxa, mas é uma profissão que vai te oferecer tantos riscos de vida”. Normalmente ninguém quer ser esse tipo de pessoa e tudo bem. Mas eu sou sincera para falar da minha carreira e do lugar que ocupo. É um mundo que pode ser cheio de glamour e felicidade, mas há também lugar para que a tristeza e o ódio te açoitem diariamente. Lidar com isso não é fácil, muito pelo contrário; às vezes temos que nos calar e seguir adiante, pois se formos enfrentar sabemos que sairemos mais machucados do que já estamos.
[Andaluzia] O que mais te surpreendeu negativamente em todos esses anos de carreira?
[Sofía] Como as pessoas podem ser maldosas, vestindo uma fantasia de ovelhinha fofa e meiga. Não custa muito você chegar em alguém e dizer o que pensa dela; não precisa fingir. Não é o melhor dos exemplos, mas vejamos o meu caso com o Caleb. Eu não gosto dele e ele não gosta de mim. E não fazemos media para agradar alguém ou para nos mostrarmos “superiores” aos outros através de discursos fajutos e programados. Todas as nossas discussões, por piores e baixas que sejam, são orgânicas e verdadeiras. Não há nada pior que pessoas que te oferecem uma fachada bonitinha e cor de rosa quando, na verdade, não é isso que realmente está sendo vivenciado. E não digo para essas pessoas chutarem o balde como Caleb e eu fazemos, mas que não ajam como se fossem “certinhos” ou donos das razão. Há um tempo atrás eu diria que era ridículo, mas, hoje, além de ridículo, também complementaria que sinto pena de pessoas assim.
[Andaluzia] Você e o Caleb tem essa inimizade de anos e ninguém realmente sabe como começou.
[Sofía] Nem eu, para ser sincera. Nos vimos uma única vez antes de todo esse rebuliço começar a se tornar algo palpável. Eu lembro que ele deu em cima de mim e eu recusei, então comecei a acreditar que tenha sido essa a motivação dele. Não tenho certeza, mas o ego de um homem hétero é sempre tão frágil que não me surpreenderia se isso fosse verdade. Acho que chegamos em um patamar que não tem mais volta para essa relação tão conturbada. No máximo, se houvesse disposição de ambos os lados, um “cessar-fogo”, mas amigos não daria. Você já viu as coisas que falamos um para o outro [risos]?
[Andaluzia] Além do Caleb, você já se envolveu em polêmicas com outros artistas e isso até chegou a te render uma imagem negativa na mídia. Você sente que conseguiu reverter esse quadro ou isso nunca chegou a te incomodar?
[Sofía] Chegou um momento que eu cansei de brigar todos os dias. Não fazia sentido para eu desgastar tanto a minha saúde mental a troco de nada. Por isso, fiz questão de me aproximar de algumas pessoas as quais já havia brigado, como o Lucca, por exemplo. Nos desentendemos por comentários mal colocados e intervenções alheias, e foi fácil para nós dois continuarmos nossa relação em lados antagônicos e belicosos. Quando você não quer enxergar o erro é mais cômodo ir para esse caminho. Outras eu sei que não há volta mesmo e tudo bem. Agora, sobre a imagem que a mídia formulou de mim eu realmente não ligo. Eu sou agressiva quando necessário e não meço esforços para saberem quando e o quanto estou furiosa. Eles, a imprensa, e já peço desculpas a você, sempre vão buscar o que dá clique, visualizações e likes. Se eu fizer ou não, continuarei sendo notícia. Então eu decidi por mim mesma não me podar de fazer determinadas coisas, de falar em situações apenas para me “render” ao que esperam que eu faça. Como eu disse, não me encaixo nessa categoria de artistas “certinhos”, de moral elevada e “superior”, que não se envolvem em polêmica apenas para manter uma fachada de fofura. Desde criança os meus pais já me alertavam sobre a minha irracionalidade em situações que estavam foram do meu controle. Sem querer cair em determinismos, mas fui criada ao lado de muitos meninos e as brincadeiras deles eram sempre violentas, então foi um campo ao qual eu me acostumei. Sempre fui daquelas meninas que enchiam os meninos de porrada e não importava que eles fossem “homens” e eu uma “mulher”. Aprendi que o meu punho não distingue gênero desde cedo.
[Andaluzia] Há algo que te pega mais nas críticas ou ataques que você recebe?
[Sofía] Quando é algo mais pessoal, realmente me afeta bem mais. As críticas em relação aos meus trabalhos são, de verdade, muito bem-vindas. Agora, quando acontece dessas críticas vierem mascaradas com ataques a minha pessoa, é outro assunto. É algo que me pega e me embrulha o estômago só de pensar. Para mim é mais fácil você ignorar ou falar a verdade, ficar de floreios só é prejudicial. Acho uma falta de respeito e de maturidade gigantesca.
[Andaluzia] Existe alguma música em específico que retrate isso? Eu pergunto porquê é comum que artistas levem o que mais dói para o seu trabalho.
[Sofía] Mujer Bruja foi escrita para os meus críticos e haters. Acho que a letra já indica isso se colocada a mesa, mas eu estava realmente muito furiosa quando estava me preparando para escrever esse álbum. Eu precisava extravasar isso de alguma forma e a música foi um vetor para isso. A dimensão do sentimento e a forma pela qual ele é alocado em uma canção é uma etapa importante do processo de composição. A faixa poderia ser sobre outra coisa: poderia ser sobre sexo, mas é sobre vingança. Eu renasci, de fato, com essa música. Tanto é que é uma das minhas preferidas de toda a carreira. Uma resposta um tanto quanto direta a respeito daquilo que falavam de mim, sempre associando a minha imagem a coisas negativas e eu busco reinventar essa narrativa. Aos estúpidos que duvidaram a minha capacidade de escrever mostrei que, além de escrever as minhas próprias músicas, eu faço sucesso sem depender de ninguém. É uma música de empoderamento também. Quando você consegue sair de uma posição passiva, na qual te foi colocada por outrem, e você assume a si mesmo como sujeito é um momento imprescindível do crescimento pessoal. Então é isso, basicamente, essa canção é dedicada principalmente a quem me criticou por não compor, por não ser “original”, como se elas mesmas fossem. Precisava dar uma resposta? Não, mas eu quis dar e fiz sucesso.
[Andaluzia] De fato, Mujer Bruja é um marco na sua carreira, tanto numericamente quanto de narrativa. Você havia apresentado uma persona mais contida e chegou com dois pés na porta para reivindicar um lugar de mulher sexy, empoderada e sensual.
[Sofía] Acho que esperavam de mim algo que se aproximava de um estereótipo de mulher latina, que é aquela retratada por filmes estadunidenses, principalmente. E em que consiste essa mulher representada? Primeiro, ela é sempre impiedosa ou, quando não, muito ingênua. É como se ela estivesse afastada da sociedade e precisasse de proteção. Outra que é que mais aparece é a de uma mulher muito sensual, usando roupas curtas e provocantes e que estão sempre querendo sexo. Uma visão bastante sexualizada das mulheres latino-americanas. E eu não queria contribuir para reforço dessa representação equivocada. Me foi oferecido nos primeiros anos músicas que eram mais animadas e sensuais, mas, ao mesmo tempo, queriam que eu vendesse a minha imagem de uma menos artística e mais sexual. Como se o que fosse apresentado ao público não fosse a música, mas o meu corpo. E vejam, não quero que transformem isso em moralismo, pois não é. Mas estou falando de uma estrutura que domina o imaginário e impacta as ações que são tomadas na vida real. As mulheres se veem impelidas, muitas vezes, a utilizar desses artifícios para ganharem espaço, pois, se não o fizeram, não serão sequer vistas. Estamos falando de poder e eu não queria me submeter a essas estruturas misóginas. Os nossos sonhos eles são prioridades, mas nem tudo é apto e positivo para que alcancemos eles. Eu não estava pronta e não queria vender a minha imagem como a de uma latina sensual. A minha música ficaria em segundo plano e eu estava insegura comigo mesma e com meu próprio corpo. Então, por mais que eu tivesse uma noção das consequência desse estereótipo eu fui afetada. Achava que faltava, da minha parte, remodelar meu corpo para me encaixar em determinados padrões. Eu era magrinha, quase não tinha peito. Isso foi aterrorizante pra mim enquanto indivíduo.
[Andaluzia] E quando isso mudou?
[Sofía] Quando eu senti que já estava pronta para isso, para crescer. E não foi atendendo ao que o mercado exigia de mim, mas atendendo a minha própria necessidade. Eu precisava crescer enquanto cantora e Mujer Bruja foi esse impulso para outro momento de vida. Me dediquei mais as coreografias e passei a me sentir cada vez mais forte. A menina Sofía ainda existe aqui, óbvio, mas hoje eu sou uma mulher adulta, dona de si e que sabe sensualizar por que assim quer e não porquê outras pessoas estão dizendo que “tem que ser assim”. EDEN seria esse primeiro passo, mas olhando em retrospecto, eu ainda mantinha essa imagem mais infantil e acanhada dos últimos álbuns. Embora eu ache que DESENCANTO tenha sido uma transição para essa pessoa mais adulta que mostrei em HASTA QUE SALGA EL SOL.
[Andaluzia] Vamos falar um pouco sobre EDEN. Seria a ideia original para o quarto álbum, mas você descartou. Qual era a ideia, porque da desistência e o que continuou para o HASTA? Se continuou algo, é claro.
[Sofía] A ideia do álbum era a de pegar uma narrativa bíblica, a do jardim do Éden, e transformar em algo mais contemporâneo e mundano, se assim posso dizer. Não seria algo que a igreja aprovaria, por exemplo. Então, em resumo, eu pensei que poderia ser algo que remetesse a novos começos, mantendo uma essência que estabelecesse conexão com meus trabalhos anteriores, por isso mesmo a escolha por um pop eletrônico e semelhantes. Seria algo como o HASTA que representa uma nova Sofía, mas a partir de outra narrativa e muito menos disruptiva. As músicas eram mais chicletes, menos profundas e genéricas, se assim posso dizer. A desistência veio quando nós, a minha equipe e eu, tanto como amigos, e percebemos essa continuidade incômoda: ao mesmo tempo que havia a prerrogativa de mudança, ainda estava na minha zona de conforto. Não era esse o meu objetivo. Eu queria transpassar uma barreira que para mim era incômoda. Continuar nesse caminho não era o que eu queria, então decidimos por desistir. Na verdade, eu quem desisti e só depois avisei. Não faria sentido com o que estava sentindo na época. E para o HASTA QUE SALGA EL SOL eu trouxe essa ideia de ruptura, de renascimento, só que resgatando as minhas origens e dando mais vazão aos meus sentimentos. As músicas do álbum são bem sinceras, algumas são mais pesadas que outras, mas refletem esse momento de crescimento individual.
[Andaluzia] É um álbum realmente encantando quando pensamos em um mercado musical em que a música latina tem pouco espaço. E a maior artista do mundo hoje decidiu, simplesmente, lançar um álbum de influências regionais e que, talvez, afastasse boa parte do seu público. Você não teve medo?
[Sofía] Tive. E muito. A minha decisão foi tomada de imediato e confesso que não pensei muito nas consequências. Até o momento da semana que antecedeu o lançamento do disco, estava super tranquila. Na véspera do lançamento do álbum eu dei uma surtada legal [risos]. Bateu em mim uma consciência que ainda não tinha tido e foi bem irresponsável da minha parte, na verdade. Eu sou uma cantora, mas por trás de toda a minha carreira, uma equipe imensa se constituiu e eles dependem de mim financeiramente, assim como eu dependo deles. E se o álbum não fizesse sucesso? Como iríamos nos virar para fazer a turnê, por exemplo? Os gastos com shows em estádios são gigantescos, você nem imagina. Boa parte do que é arrecadado é para garantir que não haja rombo financeiro nas nossas contas. Eu precisava que o álbum fizesse sucesso comercial, para além dos fãs gostarem. Parece hipócrita eu dizer isso agora quando, anteriormente, falei que a minha carreira não deveria ser quantificável; mas esse é outro elemento: eu não trabalho sozinha e tenho que pagar meus colaboradores. Eu preciso desses números para garantir um salário digno e que corresponda ao que eles me oferecem: a perfeição. No mais, quando vimos os resultados da pré-venda já ficamos satisfeitos e, depois, foi só alegria. Hoje toda a equipe vê que foi a decisão correta a ser tomada.
[Andaluzia] Há algo de interessante nessa sua nova era: diferente dos outros álbuns que tiveram versões diminutas, os EP’s, lançados antes, esse não teve.
[Sofía] Sim! E foi porque não tivemos tempo para preparar algo, sendo bem sincera. Nós descartamos o EDEN, que não teria um EP também, por escolha própria. Em tempo hábil não conseguimos nos organizar para lançar um EP. E aí vocês podem se questionar de porque não lançamos uma versão pequena e, depois, lançar o resto: não fazia sentido para mim. Naquele momento eu só queria que esse álbum, completo, saísse e viesse ao mundo. Estava inquieta e definitivamente não conseguiria esperar mais para o lançamento. Então terminamos, nos asseguramos que estava bom e foi lançado. Só por isso mesmo.
[Andaluzia] Isso chamou atenção, claro, levando em consideração que o seu último EP, o Plastic World, foi indicado à Álbum do Ano no GRAMMYs.
[Sofía] Eu até fico incrédula com essa indicação, embora eu ame esse EP. Não acho que isso implique numa “obrigação” de lançar esses trabalhos menores anteriores ao álbum. Antes eu achava que fazia sentido, mas nesse quarto álbum não aconteceu isso. Queria que os fãs tivessem acesso a todas as músicas ao mesmo tempo. Não é um álbum para ser ouvido de forma fragmentada, por exemplo. Eu o fiz e pensei em todo o conjunto como se fosse uma grande festa, começamos à meia noite e terminamos no fim do dia seguinte. Não é a toa que a última música, 360, tenha ali alguns sons que remetem à arrancada de carros em movimento. Não fazia sentido realmente.
[Andaluzia] Você aparenta uma maturidade impressionante para uma jovem de vinte e oito anos.
[Sofía] Para sobreviver nesse cenário de disputa intensa é necessário criar uma casca para não ser tão afetada pelas coisas. E querendo ou não somos levados a crescer.
[Andaluzia] Como é cultivar essa maturidade?
[Sofía] Olha, eu não sou uma dessas pessoas que olha o passado como algo ruim, mas, sem cair em romantismo, vejo que toda a minha história está pautada por histórias diversas que, entremeadas entre si, me fizeram evoluir como ser humano. Então toda essa nossa conversa, por exemplo, já dá indícios de quanto o que se passou foi essencial para a minha formação. Estamos todos nós em um processo gigantesco de evolução moral e espiritual. Então o cultivo dessa maturidade, como você mesma falou, veio de uma trajetória dura. O que me aconteceu na adolescência e início da vida adulta me transformaram nessa mulher que eu sou hoje. Novamente, não quero cair em romantismos inúteis. E o que eu entendo por romantismo é quase que uma visão que diz que o sofrimento é o passo necessário para a evolução humana. Balela. O sofrimento é condicionante do crescimento, mas não é fator essencial. Eu poderia ter crescido e amadurecido sem sofrer, mas não foi isso que aconteceu. Hoje eu sinto que sim há uma evolução da minha parte, mas é fruto de algo maior.
[Andaluzia] A Sofía jovem já imaginava todo o sucesso que iria conquistar no futuro?
[Sofía] Sonhos são expectativas e eu digo que sim, tinha uma expectativa de fazer sucesso. Ninguém entra em uma carreira sem pensar em ser bem sucedida naquilo que você tá fazendo. Então, assim, as minhas expectativas eram grandiosas. É claro que sabia que deveria colocar os meus pés no cão e pensar racionalmente, mas havia algo em mim que já me dizia que eu iria chegar lá, bastava esperar e trabalhar para isso. Isso se desfez um pouco quando no momento do primeiro álbum, claro, pelo desempenho comercial mesmo. Não foi ruim, pelo contrário, mas você sempre espera mais. Mas aprendi que as expectativas são... projeções e que elas podem ou não se realizar. Sempre fui bem madura em relação a isso.
[Andaluzia] A maturidade muitas vezes envolve reconhecer e aceitar nossas falhas e limitações. Você poderia compartilhar uma experiência em que precisou confrontar e aceitar um aspecto difícil de sua personalidade ou vida?
[Sofía] Vou falar de um momento mais recente que foi o show do SUPERBOWL. Estava super nervosa e as minhas ações estavam sendo motivadas pela apreensão e pelo medo. Essas duas características me fizeram repensar e muito o meu caminhar sobre o mundo e sobre como eu me portava comigo mesma e com as pessoas. Enfim, sobre a situação concreta: havia um planejamento inicial que não foi aquele que foi mostrado para o público. Eu estava à frente e a minha consciência era bem megalomaníaca, para ser sincera. Queria helicóptero, fogo, água, raios e etc. Só que chegou um momento em que eu percebi que aquilo não fazia sentido. O show deveria ser meu e não da tecnologia complementar. O ímpeto de grandiosidade me pegou em um momento que poderia me levar ao completo fracasso. Tinha coisas nos meus planos que não eram possíveis, mas eu queria. E a minha sorte foi que tinha uma equipe pé no chão e organizada para me frear e ver que eu estava sendo ridícula. Tivemos uma reunião com a equipe da NFL e meu mundo caiu. Nada ou pouco do que aquilo que havia imaginado poderia ser realmente efetivado em campo. Havia limitações estruturais óbvias e que eu, no afã de oferecer coisas grandes e incríveis, não consegui perceber. Eu passei por um momento de autorreflexão rápido e aceitei que eu não sabia de nada. Seguimos com o plano da minha equipe, em diálogo com a NFL. A única coisa que sobrou foram os artistas convidados, de resto tudo foi descartado por não poder se executado em tempo hábil ou ser realizado no mundo real mesmo.
[Andaluzia] Queria tocar nesse assunto de autorreflexão. Sendo essa pessoa, artista que é capturada por câmeras a todo o momento, é seguida por fãs incansáveis, como você enxerga e pratica esses momentos de isolamento?
[Sofía] São momentos que eu prezo muito, mas não consigo praticar muito hoje em dia. A dinâmica da minha carreira não permite que eu tenha esses momentos comigo mesma. Quando eu tenho a oportunidade aproveito. Eu queria explicitar o que eu considero como autorreflexão: um estado de consciência que as minhas ações e pensamentos são reorganizados e encadeados em uma sequência minimamente racional, não esquecendo que há um elemento afetivo que não pode ser desconsiderado. Eu preciso ficar sozinha, necessariamente, para que isso se efetive integralmente. Eu aprendi a meditar aos treze anos e desde então é a forma pela qual eu consigo conectar comigo mesma e refletir sobre a vida. Já tentei, por exemplo, meditar nos aviões quando estamos viajando, mas não consigo. Uma forma que consegui desenvolver para fazer essa reorganização mental nos momentos mais dinâmicos da minha vida foi a de fazer um diário e escrever todos os meus pensamentos, dúvidas. Só depois que eu releio o que escrevi e busco dar uma significação para elas.
[Andaluzia] Há alguma filosofia ou religião que te auxilia nesse processo que é de autodescoberta?
[Sofía] Eu não sigo nenhuma religião ou filosofia, apesar de aproximações familiares com o catolicismo. A minha vida sempre foi permeada por dogmas religiosos e hoje eu não me reconheço com participante desse tipo de grupo, mas enxergo elementos aproveitáveis e faço uso deles na minha vida. Por exemplo, o respeito ao corpo e a mente como integradores de um mesmo ser. Esse respeito comigo mesma foi particularmente necessário para me manter no lugar e não surtar. Já apareceram diversas situações em que o trabalho passava por cima de qualquer coisa e, como já sabemos, o equilíbrio é a chave para o sucesso. Enquanto eu não entendi que deveria equilibrar o pessoal e o profissional as coisas não andavam para mim. Li um livro de autoajuda uma vez e odiei, mas algo havia me chamado a atenção: o quanto a narrativa é capaz de te prender e modificar o seu cérebro. O livro era muito ruim, de verdade. Assim como todos dos gênero. Mas, mesmo sendo ruim, me trouxe um ensinamento que eu não sabia que precisava. Então eu procurei ajuda psicológica e fui trabalhando as questões que mais me incomodavam. Foi um processo coletivo e não individual.
[Andaluzia] Como a ajuda profissional te ajudou a lidar com a fama?
[Sofía] Quando eu cheguei na minha psicóloga já sabíamos que tínhamos muito trabalho a fazer. A minha cabeça estava realmente bagunçada. Isso aconteceu antes do lançamento do DESENCANTO. Já estava trabalhando no meu próximo disco e simplesmente os trabalhos não estavam rendendo da forma que eu queria. Havia uma pressão exercida por mim mesma que me levava para baixo. Às vezes a pressão é externa e, de certo modo, é mais fácil de lidar; agora, quando vem de você, é muito mais difícil. O primeiro passo é reconhecer. Quando eu entrei no consultório foi o momento mais árduo dessa jornada: reconhecer o que me incomodava e colocar isso em palavras. A sensação é a de que quando nos mantivermos em silêncio o problema não existirá, o que nos dá sensação de poder; quando sai, o poder se esvai e os problemas se cristalizam. Ter a oportunidade de me comunicar e colocar para fora todos esses medos e angústias tornou o problema palpável, real; contudo, por ele ser palpável, era também frágil. É paradoxal, mas o que dá força a ele (a palavra) é o que o mata. Dado esse processo de reconhecimento, iniciamos o de enfrentamento. Depois que sai a parte mais difícil é encará-lo. Eu me sentia pequena, suja e amedrontada. Era como se fosse uma ameba. Nada. Tive realmente muita sorte de ter o auxílio de uma profissional tão competente e amorosa comigo e com as minhas questões. Por isso digo que o trabalho se deu de forma coletiva: ela, eu, a minha família e a minha equipe. Não adianta pensar que iremos nos dedicar a sessões de uma hora semanal e tudo estará resolvido, pelo contrário. A terapia acontece no mundo real, quando não estamos no consultório. Então eu voltava para o estúdio e tentava aplicar o que me foi dito. Era lá que os meus problemas ganhavam corpo e o medo assumia o meu ser. A situação era tão problemática que só o pensar em cantar me assustava e me dava medo. E isso não podia acontecer. Foi preciso revisitar todos os meandros do meu ser para descobrir de onde vinha a minha força e resiliência. Acho que com a alta demanda de trabalho eu esqueci que era uma fortaleza e deixei que os medos tomassem conta de mim. Quando eu redescobri essa força... não havia mais nada que pudesse me parar.
[Andaluzia] Você vem apresentando um discurso e uma veia política muito potente, mas não é uma posição que você apresentou desde o inicio da carreira, por exemplo. O que te motivou a assumir esse ativismo político?
[Sofía] De fato, no início eu não me posicionava, tanto é que tive inúmeros problemas para essa omissão. O aprendizado foi na marra e através de um processo de interiorização dos meus erros e acertos. Não dava mais para continuar a ignorar questões centrais que, por mais que não me atingissem, atingiam meus fãs. Insistir nessa postura omissa significaria apoiar o sofrimento daqueles me mais me apoiavam. Então busquei estudar e entender o máximo de coisas que poderia, porquê para mim não bastava apenas defender, mas entender as dinâmicas de opressão e atuar como alguém que realmente auxilie na atuação em favor das minorias sociais. O ativismo vazio não era para mim e, talvez por isso, a demora em me manifestar publicamente, mas já atuava fora das câmeras. Eu estava com medo, para ser bem sincera. Medo de como a minha postura ia ressoar entre os meus fãs, principalmente. Esse tipo de posicionamento implica muito mais do que o mero falar, mas de responsabilização por tudo o que propagamos ou defendemos. E meus fãs tiveram pouco disso, infelizmente. Fui uma artista omissa e me envergonho por isso, mas estou estudando e me esforçando para ser parte da mudança desse mundo.
[Andaluzia] Por quê é tão importante que artistas se reconheçam como seres influentes e se posicionem publicamente.
[Sofía] Você já adiantou um pouco da minha resposta que é de justamente perceber o poder de influência que nós possuímos. E não significa que um tweet será capaz de subverter a ordem, mas nosso alcance leva mensagens à mais lugares. A internet, especificamente, é um espaço que discursos se espalham rapidamente e nós temos que aproveitar essa oportunidade para defender os interesses da humanidade. Se for para defender medidas conservadoras, liberais e de direita é melhor que fique em silêncio mesmo. Já basta de propaganda gratuita para a extrema direita. Temos que ecoar a luta das pessoas negras, indígenas, dos países pobres, da população LGBTQIAPN+, do meio ambiente! E essas lutas contém em si um germe revolucionário e, no meu entendimento, se faz necessário que as vozes dessas pessoas sejam amplificadas e cheguem a mais pessoas. É imprescindível para um sistema democrático a garantia de liberdade para ser quem somos.
[Andaluzia] Você ter se descoberto e assumido publicamente a sua bissexualidade mudou a sua visão de mundo?
[Sofía] Com certeza! E olha que eu já me sentia mudada, mas depois que isso ficou público algo em mim se tornou mais latente. E hoje eu posso dizer que é o amor. Não existe força mais poderosa que o amor. E quando falo de amor não estou me limitando ao amor romântico, mas ele em todas as suas dimensões e complexidades. Amar me salvou de muitas tragédias e meu último relacionamento, que foi com a EMÍ, me trouxe lições bem bacanas. Era um momento delicado para ambas, mas nosso sentimento não permitiu que nos afastássemos. Ela hesitou bastante e eu entendo ela. Namorar uma artista com todo o alcance que tenho é um desafio e tanto. Logo ela que estava começando e isso poderia acarretar em falatórios de que ela estaria comigo apenas por interesse, etc. Mas, veja bem, desde sempre fomos sinceras sobre o que sentíamos e o amor nos levou a consumar essa relação Namoramos durante dois meses e nesses sessenta dias eu me tornei uma mulher melhor e um ser humano bem mais evoluído. E esse é o poder do amor. Ele tem a capacidade de te renovar, de tirar tudo o que é ruim e preservar as melhores coisas em seu interior.
[Andaluzia] A EMÍ vem passando por uma onda de hate gigantesca nos últimos dias e alguns veículos apontam ela realmente como interesseira e dependente da sua imagem para ser bem sucedida. Muitos acreditam que a sua participação no álbum dela foi justamente para aumentar as vendas.
[Sofía] Óbvio que tudo isso é falso e criado para criar polêmicas em torno de nosso nome. E o que mais me dói é perceber que o que ela tinha medo se realizou. O nosso relacionamento impulsionou esse tipo de narrativa midiática. Me dói saber que não consegui protegê-la desse tipo de situação. Às vezes me pego pensando que a culpa de tudo o que está acontecendo hoje é minha e que essa relação nunca deveria ter se tornado pública . Por outro lado, tenho a plena consciência de que esses boatos surgem para minar a autoestima de alguém. E escolhem fazer isso com violência e jogando um jogo cruento com os nossos sentimentos. Uma pena que o que essa mídia assassinada tenha apreendido do nosso relacionamento foi uma mentira contada por outrem. Eu participei do álbum dela para garantir que ela tivesse um álbum para lançar! Infelizmente, depois do reality-show que ela participou as oportunidades que haviam sido prometidas se mostraram falsas. O contrato que ela havia assinado era uma prisão. Eu quase não pude ter ela em Mujer Bruja por questões contratuais. Então eu estava na parte criativa, mas auxiliei no processo burocrático junto a gravadora. Ela pensou em tudo, não pensem que nada foi dado a ela. Sejam mais justos e respeitem o nosso trabalho e as nossas vidas pessoais!
[Andaluzia] Eu realmente lamento pelo o que colegas de profissão estão fazendo vocês duas passarem. O jornalismo não é isso.
[Sofía] Não se preocupe, eu sei que há jornalistas competentes e realmente engajados na profissão de forma ética. E você é uma delas. Quando você tem uma ocupação que lida, principalmente, com seres humanos há algo que eu chamo de “autoconsciência” que todes devemos ter. Essa autoconsciência reflete o nosso pensar sobre o mundo, sobre a nossa prática profissional em consonância com as demandas que nos surgem. É claro que ser cantora é diferente de ser jornalista, mas s conexão se faz justamente nesse ponto: trabalhamos com e para outras vidas. A responsabilidade é enorme e, por isso mesmo, eu fico irritada quando vejo boatos como esse surgirem livremente. É claro que a internet também fomenta isso, porquê os boatos poderiam passar despercebidos se ninguém os consumisse ou compartilhassem mentiras.
[Andaluzia] Vivemos em uma era que a desinformação ganhou corpo e quase tudo, infelizmente, é cercado pelas falsificações da mídia, de narrativas políticas. E concordo com você quando diz que nós temos uma responsabilidade que é inerente ao fazer profissional. É, contudo, difícil fazer com que a grande maioria se dê conta disso. Você não acha?
[Sofía] Sim! Eu imagino que para as pessoas é mais ser, como eu era, omissa e não se importar com aquilo que veiculam através de seu trabalho. É uma posição cômoda que, entretanto, te faz ser um verdadeiro agente da desgraça. Quantos jovens já não se mataram por boatos que surgiram on-line? Imagina achar que isso não é responsabilidade da mídia que veicula esses tipos de conteúdo. Eu entendo que uma parte dos meios de comunicação tenham que atrair cada vez mais cliques para seus trabalhos, eu me indago a respeito das estratégias para conseguir tal feito. A ideia é destruir a vida alheia? Se for assim, eu acho que temos que nos unir para acabar com isso em dois tempos. Eu sei que algumas pessoas vão falar de “liberdade de expressão” e eu que posso estar querendo tolher esses profissionais. Não é isso, mas sim de fazer com que esse tipo de narrativa, que eu não considero um trabalho sério, tenha limitações legais. Não é pedir demais para que as pessoas sejam responsabilizadas por aquilo que falam, que inventam e que compartilham.
[Andaluzia] Já estamos nos encaminhando para o fim da entrevista, mas antes de finalizarmos, tenho uma última pergunta e ela é mais voltada para a sua carreira mesmo. O que a Sofía planeja para os próximos meses?
[Sofía] Em primeiro lugar eu gostaria de agradecer pelo espaço que vocês estão me dando e por todo o carinho e respeito pelo o qual me trataram. Estejam sempre bem-vindos para retornar. Eu tenho muitas coisas planejadas para o futuro e estou me dedicando para que estas coisas possam ser lançadas ainda nesse segundo semestre. Nesse próximo mês estarei fazendo shows na Ásia, mas estou me comprometendo com alguns trabalhos interessantes, como a construção do deluxe do HASTA QUE SALGA EL SOL. Lançarei músicas novas, em parceria e sozinha, que estarão na nova versão. E vou continuar com essa homenagem e resgaste dos ritmos latinos, é isso que eu posso adiantar do deluxe agora. Eu também estou trabalhando com diversos outros artistas ultimamente e todes poderão me ver e ouvir junto a outros cantores, vai ser bem legal a experiência. E fora isso eu planejo outras coisinhas que vocês saberão logo, logo.
[Andaluzia] E hoje finalizamos por aqui. Sofía, agradecemos por sua disponibilidade e simpatia conosco. Saiba que sempre tivemos o compromisso ético com os nossos entrevistados e agora, principalmente depois dessa sua aula, estaremos cada vez mais atentos as formas pelas quais lidamos com o mundo artístico.