[US] Kyle é capa e recheio da Rolling Stone US
May 29, 2024 1:40:25 GMT
Post by ggabxxi on May 29, 2024 1:40:25 GMT
Nesta edição, a equipe da Rolling Stone entrou em contato com uma figura ascendente da música alternativa e rock, Kyle. Ele lançou seu álbum "the night also hugs the waves" ano passado e agora, quase um ano depois, lançou uma nova versão dele, a "breaking dawn edition", que contém duas faixas bônus, além de um curta para essa era. Confira a entrevista com o astro do rock abaixo.
Entrevistador: Você quer apresentar a si mesmo?
Kyle: Absolutamente. Oi, eu sou Kyle, artista do álbum "the night also hugs the waves", agora com a versão breaking dawn edition quentinha do forno. Eu gosto muito de música rock e alternativa, é claro, é o que eu faço. Eu sou um ex-dependente químico, mas apoio a nossa amada maconha. Eu gosto de pêlos em homens, eles adicionam uma textura, um tempero. O que mais eu falo?
Entrevistador: Tudo o que você quiser! -*ele dá risada.*
Kyle: Ah! Lembrei. Eu também tô super sexy na capa dessa edição, calças abertas e tudo. Espero que alguém faça uma homenagem especial pra essa capa, se é que você me entende.
Entrevistador: Não entendo.
Kyle: Tudo bem, eu não vou explicar aqui, mas os homossexuais cronicamente online e bem tesudos vão entender.
Entrevistador: Podemos ir pras perguntas?
Kyle: É claro, Sr… Gutierrez?
Entrevistador: Isso mesmo.
Kyle: Esse nome não me é estranho… Bom, deixa pra lá. Vamos às perguntas, Sr. Gutierrez!
1. O que te inspirou a seguir uma carreira na música?
Kyle: É um pouco irônico falar isso, já que meu primeiro álbum é cheio de tristeza, autossabotagem, ódio e rancor, mas o que me inspirou a fazer música foi o amor… foi… a primeira vez que eu senti amor de verdade e escrevi minha primeira música real. é brega pra caramba mas é a verdade, o que eu posso fazer se eu sou um garoto apaixonado?
2. Quais são suas maiores influências musicais?
Kyle: Bom… eu não sei dizer, pra falar a verdade, não sei se tem muitas pessoas que inspiraram o meu som… ele nasceu naturalmente. Mas acho que eu aprendi muito sobre esse imaginário mais dark e toda essa honestidade crua com a Agatha Melina, pra falar a verdade. Ela era a pessoa que escrevia letras que conversavam comigo enquanto a maioria dos artistas estavam fazendo coisas totalmente diferentes. "Violence" é um dos meus álbuns preferidos.
3. Como você descreveria o seu estilo musical?
Kyle: Eu acho que… acho que eu sou honesto com a minha mente pessimista. Eu acho que não seria muito fora da realidade comparar meu estilo de composição com o da minha irmã, nós temos influências parecidas então somos brutalmente honestos, mas ela por uma lente otimista e esperançosa enquanto eu sou puro pessimismo. Eu acho que… bom, eu gosto bastante de misturar rock com elementos da música eletrônica e acho que isso é bem aparente, num mesmo álbum a gente tem "ocean eyes" e "hard rain"… eu diria que sou muito bom em expressar situações humilhantes pra mim como… sonhar com alguém que foi embora ou usar drogas até cair, embora eu não me identifique mais com isso porque… uma pessoa me convenceu a ficar limpo e eu já estou limpo há uns bons meses… mas o ponto é que eu acho que ninguém quer parecer a pessoa ruim, mas eu gosto muito de parecer a pessoa ruim, porque é o que todos nós temos dentro da gente. Ninguém é bom o tempo todo, todo mundo faz merdas como as que eu fiz e expus como um emblema de escoteiro. É isso.
4. Qual foi a primeira música que você escreveu?
Kyle: A primeira música que eu escrevi… foi "the sky hugs the sea waves", uma faixa bônus da versão breaking dawn do the night also hugs the waves. Essa foi a música que saiu da minha necessidade de escrever uma música pra expressar tudo que eu sinto pra alguém especial. Ela é provavelmente a única que me traz memórias boas de todas as músicas que eu já escrevi.
5. Como é o seu processo criativo?
Kyle: Bom… eu leio bastante e vivo esbarrando em ideias ou conceitos que geram uma identificação em mim. Por exemplo, eu ando lendo bastante Franz Kafka e ele está sendo a inspiração principal pro meu segundo álbum, já sendo escrito. No caso do the night also hugs the waves, tem várias inspirações literárias também, mas eu também tirei inspirações de várias outras coisas. Por exemplo, a ideia de "the sky hugs the sea waves" veio porque eu estava com meu caderninho na praia e eu fiquei olhando o horizonte, bem onde o mar e o céu se encontravam, e achei que se o mar e o céu fossem deuses, eles com certeza seriam mutuamente apaixonados por como eles se abraçam e se seguram. E eu pensei que eu queria abraçar alguém como o céu abraça o mar, eu queria ter um amor como o deles e eu sabia, eu sei quem é o meu mar. E depois… daí também surgiu a ideia pro conceito geral de the night also hugs the waves, que mostrava que eu e o meu céu também somos noite. É pra ser um choque de realidade, algo que mostre que talvez eu não tenha sido digno de ser o céu do meu mar e por isso, tudo ficou noturno. Ou, eu acho que principalmente essa dualidade é justamente uma mímica da dualidade de qualquer um, mas também um foco no que me faz falho, que é metaforicamente a noite.
6. Qual a história por trás do seu álbum mais recente?
Kyle: Bom… a história exata é… que eu tinha alguém… pra quem eu escrevi "the sky hugs the sea waves". E eu mostrei meu pior lado pra essa musa, eu machuquei ela covardemente mas ainda tive a coragem de lamentar quando ela desistiu de mim.
7. Você tem alguma música favorita do seu próprio repertório?
Kyle: É difícil dizer… acho que atualmente, minha música preferida é "good friends" mas eu tenho uma relação abusiva com ela. Ela me abusa diariamente. Ela me lembra sem descanso que às vezes nenhuma esperança de ser feliz de novo é suficiente pra te perdoar e te livrar dos seus erros. Não é sobre isso que ela é… ela é sobre… amar, de novo. Eu quis fazer ela ter uma pegada mais infantil, inocente, ainda que eu esteja falando de dois adultos como a própria música diz, porque eu respeito muito o amor sobre o qual eu tava escrevendo e eu acho que só é amor de verdade quando as duas pessoas conseguem unir suas crianças interiores e assistir enquanto elas fazem amizade e brincam no parque. E nenhum trauma ou dor consegue mudar isso, porque isso é coisa de gente crescida e o amor é coisa de gente que não deixou tudo de si crescer e se conformar.
8. Como você lida com críticas negativas?
Kyle: Eu não lido. Eu não sei se é errado falar isso, mas eu faço música pra mim mesmo. Minha música está entre as minhas preferidas justamente porque eu não vou me submeter nunca a ser outra pessoa e mudar meus métodos e meus sentimentos por isso. Ninguém é forçado a escutar minha música, você pode só… não ouvir. Se você não sentiu, a música só não é pra você e acabou.
9. O que você mais gosta em se apresentar ao vivo?
Kyle: De imaginar todo mundo pelado! -*ele dá risada.*- Bom… eu acho mesmo que meu forte não é performances então… eu ainda gosto muito de me apresentar, só não acho que vou fazer toda e qualquer performance que aparecer. Eu amo cantar ao vivo e eu mal posso esperar pra sair em turnê por isso é o que eu acho que mais vou gostar.
10. Qual foi o momento mais memorável da sua carreira até agora?
Kyle: Provavelmente ganhar vídeo do ano no AMA. Eu atuei, dirigi, escrevi músicas, escalei os melhores atores possíveis… não preciso dizer que deu muito trabalho e acho que foi um full circle moment ter sido reconhecido por algo que combina todos os meus trabalhos em uma obra só.
11. Você tem alguma colaboração dos sonhos?
Kyle: Com certeza Agatha. Eu acho que ela é sensacional e eu espero um dia poder ver o processo criativo por trás de tanta genialidade acontecer na minha frente.
12. Como você escolhe os temas das suas músicas?
Kyle: Bom… todas as minhas músicas são muito pessoais então eu meio que não escolho, eu só passo por alguma coisa, sinto alguma coisa e aí geralmente algum tema vem na minha cabeça.
13. Qual foi o maior desafio que você enfrentou na indústria musical?
Kyle: Aprender a lidar com os muitos parasitas que ela tem. Porque… bom… eu tenho 21 anos agora, entrei nessa indústria com 19 e eu era um jovem que acreditava na bondade de estranhos. Essa foi a minha ruína e eu não queria aceitar que acreditar nas pessoas é um erro, até que algo incrivelmente horrível aconteceu e me fez crescer, por bem ou por mal.
14. Quais são seus hobbies fora da música?
Kyle: Os mais nerds possíveis que você consegue imaginar. Eu sou viciado em videogames e eu também gosto bastante de RPG de mesa… claro, eu também gosto de ler.
15. Como você lida com o bloqueio criativo?
Kyle: Eu sinto que o bloqueio criativo acontece quando você se prende demais na criação da arte do que na sua expressão, escrevendo coisas pra caber num prazo ao invés de ir ter experiências com pessoas pra ver. Quando eu estou em bloqueio criativo, eu sempre penso em alguma coisa meio fora de rotina ou maluca pra fazer, tipo… arrumar uma briga de bar… Se você tem dificuldade pra escrever sobre suas experiências, faça mais experiências.
16. Qual é o seu álbum favorito de todos os tempos?
Kyle: Muito difícil dizer, eu acho que existem muitos álbuns que eu escuto com muita frequência hoje em dia… eu já citei o "Violence" da Agatha Melina mas eu acho que apesar de eu amar muito ele, eu não consigo definir como o único álbum preferido… eu também gosto muito do "Aphantasia Part I" do Apollyon, eu gosto bastante do "Japanese Superstar" da Hina Maeda… eu acho a Babushka uma artista genial. E também preciso citar a mártir do novo rock, a Banshee. Ela é a maior inspiração por trás do Headless Angel, todos nós falamos sobre como nosso objetivo é passar o legado dela adiante, um legado de não conformidade e de rebeldia, nós não temos muito mais artistas politicamente ativos. Nada contra minha irmã, é claro, mas imagina só uma artista bubblegum pop ser a única artista com uma plataforma grande a se pronunciar sobre o genocidio palestino? O rock já esteve em melhores mãos. Enfim. Eu acho que meu top3 provavelmente seria "Japanese Superstar", o "Violence" e o "X Nation", não necessariamente nessa ordem porque eu acho que amo esses álbuns igualmente.
17. Qual é a sua música preferida para tocar ao vivo?
Kyle: "wildfire". Com certeza. É incrível como todo show, todos cantam juntos e o show vira um coral. Além disso, ela tem uma vibe de verão… eu gosto muito dessa música.
18. Como você se prepara para uma performance?
Kyle: Bom… eu ensaio bastante e eu aqueço minha voz… eu acho que eu não sinto tanta pressão pra performances, talvez porque elas não me interessam tanto… eu gosto mais da parte da criação do que da parte da apresentação.
19. Qual é a sensação de ouvir uma multidão cantando suas músicas?
Kyle: Cara… eu acho que essa é uma das coisas que me fez querer fazer mais um álbum ao invés de ser só o baixista da Headless Angel e diretor nas horas vagas… eu acho que todo o amor que "wildfire" e o álbum no geral receberam me fazem querer mostrar mais de mim mesmo. Claro, eu acho meio estranho que tanta gente esteja cantando minhas músicas que às vezes são tóxicas e depressivas, mas eu acho que aprendi que isso não vem da influência mas da identificação. Eu não tô deixando pessoas depressivas, só tô fazendo músicas nas quais elas se vêem e isso é bom, não é?
20. Como você equilibra a vida pessoal e a carreira musical?
Kyle: De um jeito bem merda, pra falar a verdade. Minha vida pessoal hoje em dia é quase inexistente. Eu acho que já teria deixado minha humanidade de lado se não fosse pelos meus amigos da Headless Angel me chamando todo final de semana… a gente toca em alguns bares da Sunset Strip tipo o Whisky A Go Go, o Viper Room… mas a gente sempre escolhe um de surpresa, já que chegamos ao ponto de atrapalhar quando marcamos… tirando isso, eu tento não pensar nas outras partes da minha vida pessoal. Não é equilibrado fazer isso, mas é o que dá certo pra mim agora.
21. Você tem algum ritual antes dos shows?
Kyle: Eu tinha… mas como eu tô sóbrio agora, meu único ritual é beber água e depois, comer um bolo no final de todo show. -*Ele dá risada.*- Açúcar também é uma droga altamente viciante assim como as minhas antigas, mas ninguém tem um problema com ele, ele só pode te dar diabetes e eventualmente te fazer perder um membro ou te matar, mas qualquer um pode te substituir na máquina capitalista se você morrer. Viva o açúcar!
22. Qual é a sua opinião sobre o estado atual da música pop rock alternativa?
Kyle: Eu acho que estamos em um bom momento… apesar de ter alguns artistas que não entendem muito bem a parte "rock". É um momento ok, mas definitivamente não é o que já tivemos na época de ouro da trindade Plastique Condessa, Agatha Melina e Banshee. Eu particularmente gosto muito mais de artistas rock femininas e fazia muito bem pro meu coração roqueiro e gay ver três mulheres fodas dominando o gênero. Plastique e Agatha ainda estão com a gente, fazendo música excelente como sempre, mas a evolução artística delas, por mais que tenha sido totalmente positiva, levou elas a caminhos diferentes. E agora temos, tipo… Alec Bradshaw. Alguém acreditou naquele negócio todo de good boy gone bad? Nada contra ele mas eu acho que ele é um artista rock pra fãs de música pop, o rock mais diluído e amigável da atualidade, eu sinto falta de um artista rock desafiando a igreja católica ou falando de política, rock não é ser isentão, a música rock existe também pra rebeldia, pra acordar as mentes das pessoas, a Plastique e a Agatha já fizeram muito disso, a Plastique principalmente tem um legado de luta contra o moralismo hipócrita e o elitismo muito foda, ela é provavelmente a ultima roqueira que tivemos. Então… é… se formos falar de POP rock… é o que é, né? Até alguém mudar o cenário, ele não vai ser sério e não vai ter nada de rock, mas vai ser só um pop meloso com umas guitarras pra se disfarçar de rock e edgy, mas sempre cheira a algo ensaiado e não genuíno.
23. Como você vê a evolução da sua música ao longo dos anos?
Kyle: Bom… eu trabalho muito com a música rock junto com a Headless Angel, eu acho que pra minha carreira solo eu planejo me distanciar cada vez mais do rock agressivo, até um pouco do metal que estamos preparando pro nosso álbum. Quero ir mais pro lado do rock n roll dos anos 70 e 80, tipo… talvez um pouco de cosmic american… eu não sei, o meu segundo álbum ainda tá na fase inicial de produção, só tenho duas músicas prontas e a sonoridade delas não tá tão conectada, preciso escrever mais músicas que sejam capazes de fazer essas duas parecerem coesas num mesmo álbum, entende?
24. Quais são suas expectativas para o futuro da sua carreira?
Kyle: Eu… não sei se me importo tanto com minha carreira tanto quanto me importo com minha música em si. Tipo, eu me sinto muito feliz e lisonjeado pelas conquistas que eu tive com o "the night also hugs the waves" mas o que eu mais gosto nele é A MÚSICA. Eu espero que as pessoas continuem gostando da minha música que está por vir, mas quando a questão é a minha arte, não tem negociação. Eu vou escrever músicas e é isso. Não vou colocar nem tirar coisas por causa dos outros, não vou me forçar a escrever hits se eu terminar de me expressar no meu caderno e nenhum hit surgir. Eu não me importo em ser considerado fracassado ou one hit wonder ou algo assim, eu acho que… quando é a sua arte, é a sua arte, você não a negocia. Porque quando a arte vira negócios e os negócios não dão certo, é você, COMO ARTISTA, que vai ser culpado por isso. Vão falar que suas músicas não foram boas o bastante por sua culpa, sendo que você sacrificou sua criatividade em troca de ter um hit no álbum. Por mais que o Brendon, o CEO, sempre tenha apoiado o "the night also hugs the waves", eu já escutei pessoas na Arcade dizendo que era loucura eu manter uma música como "lantern" no álbum, porque era uma música contínua e sem refrão, ouvi falar que essa música nunca ia vingar e… não consigo imaginar a perda que seria pro álbum se eu tivesse sido convencido a remover ela. Então… minhas expectativas pra minha carreira é que… eu espero que entendam que eu tendo a ficar cada vez mais distante e introspectivo e eu espero que gostem disso porque eu não vou mudar só pela hipótese de não gostarem.
25. Como você escolhe os músicos que tocam com você?
Kyle: Eu não costumo tocar com uma banda ao apresentar meu trabalho solo, mas quando toco, é com a Headless Angel. Lizzie, Sky, Levi, Tony e Sid são minha família, sempre vão ser eles. Headless Angel ou ninguém.
26. Você prefere trabalhar em estúdio ou se apresentar ao vivo?
Kyle: Eu acho que são trabalhos muito diferentes para serem comparados. Eu gosto muito da parte da criação, gosto muito de estar no estúdio tentando fazer letras e melodias se encaixarem e como eu disse, eu prefiro a criação do que a apresentação, mas ao mesmo tempo… eu acho que depende muito do contexto da apresentação. Eu não gosto muito de fazer performances em premiações, eu acho que quando isso acontece é quando minha arte é muito exposta aos que não entendem ela e falam merda, mas eu amo tocar quando eu só estou tocando pros meus fãs, porque eu sei que naquele público, todo mundo me entende, canta comigo e sente cada verso.
27. O que você acha da importância das redes sociais na carreira de um músico?
Kyle: Eu não sei se consigo dizer que tem alguma importância… quer dizer, a internet é muito boa pra divulgação mas eu não acho que redes sociais especificamente contribuem pra música, elas contribuem é pra coisas como fofoca, jornalismo amador e stan wars. E eu não digo isso pra querer ser diferente e contra redes sociais, eu amo postar besteira no twitter, eu só acho que ela no âmbito musical ela tem mais uma utilidade de manter o nome do artista vivo por coisas que são sobre tudo menos música então pode se dizer que isso é importante pro músico ou que é importante pra qualquer artista enquanto pessoa pública? Quero dizer… o Kyle pessoa publica, com certeza se beneficia da exposição, mas o Kyle compositor e músico? Não acho que importa tanto assim pra minha música se o twitter me ama ou me odeia.
28. Qual conselho você daria para alguém começando na música agora?
Kyle: Eu não sei, eu meio que estou começando na música agora, eu sinto… mas acho que com meu pouco conhecimento atual, eu diria: se importe com o que você faz no mundo, com o que você gosta na sua música. Todo o resto, números, premiações, até algumas amizades… não são só sobre música, tem muita coisa envolvida. Todo o resto são distrações.
29. Você tem algum projeto paralelo além da sua carreira solo e no Headless Angel?
Kyle: Bom… por enquanto, não exatamente um projeto meu, mas eu estou trabalhando com algumas pessoas novas em algo novo. Eu não posso falar muito sobre isso. São alguns amigos que eu fiz e que têm ideias muito boas.
30. Qual foi a experiência mais surreal que você já teve com um fã?
Kyle: Uma vez, um fã me pediu pra autografar a bunda dele. Foi muito massa. É claro que eu autografei.
31. Como você vê a influência das plataformas de streaming na música?
Kyle: Argh… eu não sei, sinceramente, eu não entendo de números, sou muito podre em matemática e nunca me interessei o bastante pra entender o que são streamings e o que eles fazem, pra mim essa coisa parece muito com bitcoin.
32. Qual foi o show mais memorável que você já fez?
Kyle: Eu… eu me lembro de uma apresentação que eu fiz com a Headless Angel, a gente tocou "Die For Me" e depois me crucificou e jogou sangue em mim, tal… foi muito foda. Foi o dia em que eu mais me senti um rock star na minha vida.
33. Você se envolve na produção dos seus álbuns?
Kyle: Com toda a certeza. Eu diria que eu e o Levi competimos pelo posto de produtor principal, nós dois trabalhamos muito bem juntos. Mesmo assim, meu forte é na composição lírica e melódica mesmo.
34. Como é a sua rotina de gravação em estúdio?
Kyle: Não tem rotina no dia de gravação. É gravar tudo que tem pra gravar e se precisar fazer uma pausa, pedimos KFC no estúdio. Eu preciso fazer tudo de uma vez, gravar minhas músicas requer um certo mood que eu só atinjo quando to muito fodido da cabeça.
35. Você tem alguma superstição ou hábito estranho quando está compondo?
Kyle: Sim. Eu não sei porque mas eu não me permito escrever mais de duas músicas completas em um dia porque eu não tenho certeza se consigo chegar a quatro e eu não gosto de produzir nada em números ímpares, me deixa maluco da cabeça.
36. Qual foi a maior mudança que a fama trouxe para a sua vida?
Kyle: O fato de que eu sempre fui uma pessoa quebrada e fodida, mas de repente todo mundo quer ter uma opinião sobre isso. Eu sempre fui muito reservado com minha vida pessoal, eu já fiz coisas malucas que nem meu pai e a Harmon sabem, mas de repente todo lugar tem alguém querendo registrar coisas de mim pra mandar pro TMZ ou algum outro filho da puta.
37. Como você lida com a pressão de sempre criar algo novo e inovador?
Kyle: Eu não sinto essa pressão, eu acho que eu não deixo outras pessoas ditarem qual vai ser a proposta da minha arte. Eu nunca prometi ser o artista que vai mudar o curso da indústria, eu só quero ser eu mesmo e fazer minhas merdas do jeito que eu bem entender, se isso não significa ser inovador pras pessoas, foda-se.
38. Qual é a sua cidade ou local favorito para tocar?
Kyle: Nova Iorque. Eu acho que Nova Iorque tem uma comunidade queer muito ativa e eu acho que, de uma maneira, LGBTs e rock andam de mãos dadas. Muitas coisas que eles fazem são punk rock. Pra mim, Stonewall foi tão punk rock quanto sei lá o que aconteceu na Inglaterra com os Sex Pistols e a Vivienne Westwood. A comunidade LGBT novaiorquina é muito foda, eles são os donos de nova iorque. As drag queens, os artistas alternativos que surgem lá… bom, eu nasci em Nova Iorque então tenho uma parcialidade por lá também, mas eu não vejo muito do movimento de lá em outros lugares. É eletrizante tocar lá.
39. Como você escolhe o repertório para os seus shows?
Kyle: No dado. -*ele dá risada.*- Mas é sério, eu tento fazer justiça a todas as faixas então, a não ser que seja uma coisa como um evento ou um festival, nos meus shows normais eu só faço um sorteio, se não dá pra tocar todas.
40. Você tem alguma colaboração no seu currículo que foi particularmente especial?
Kyle: Eu tenho. Mas eu não posso falar sobre ela ainda, provavelmente vai estar no meu próximo álbum. É uma colaboração… previsível, eu acho, mas ainda sim muito especial. Eu acho que uma das melhores que eu poderia ter em um álbum. Mesmo assim, acho que toda colaboração em projetos meus deve ser especial pra acontecer, tem que ser alguém que entende minha abordagem artística e que entende que é você que coloca limites na sua arte, ninguém mais. É meio que por isso que não existe nenhuma colaboração do "the night also hugs the waves", eu não conhecia outros colegas tanto assim e eu não gosto de escolher fazer colaborações só pelo potencial comercial.
41. Qual foi a coisa mais louca que já aconteceu durante um show seu?
Kyle: Cara, uma vez no Viper Room, um cara subiu no palco e me bateu porque ele achou que a namorada dele tava dando em cima de mim. Ninguém avisou ele que mesmo se fosse verdade, não ia dar em nada.
42. Como você se mantém saudável física e mentalmente?
Kyle: Quem disse que eu sou saudável física e mentalmente? -*ele rebate a pergunta e dá risada.*
43. Você já teve vontade de explorar outros gêneros musicais?
Kyle: Bom, eu acho que já exploro bastante, com base em toda a diversidade sonora que o "the night also hugs the waves" tem, mas… depende. Como eu disse, eu planejo explorar mais a origem tradicional do rock, o rock n roll base mesmo, mas isso não significa que meu álbum não vá ter influências diferentes. Nem a música pop está além do horizonte pra mim, eu só preciso antes descobrir como fazer ela soar de alguma maneira que me agrade o suficiente pra acompanhar os sentimentos que eu coloco nas minhas letras. A Harmon conseguiu fazer "Southside" numa sonoridade pop e eu gosto muito do que ela fez, apesar de não ser pra mim. Eu acho que não me vejo fazendo pop mas eu também não sei que caminho o pop vai tomar futuramente, quem sabe? Eu não sei se também devo considerar explorar mais a música eletrônica, acho que eu já fiz maravilhas com hard rain, não sei se consigo superar essa. Muito boa, de verdade. Mas… eu não sei, ainda tem muita música pela frente, tudo pode mudar.
44. Como você vê a relação entre música e política?
Kyle: Indispensável. Quer dizer, não só a música, mas a arte no geral. Ainda sim, acho que nenhuma outra arte tem o potencial de fazer um levante como a música tem. Só eu sei como eu me senti quando escutei "Anarchy" da Agatha, "The Wife's Lament" da Banshee ou "Catholic Boy" da Plastique . Eu acho sim que a música também tem o dever de falar sobre injustiças sociais, eu pensei muito nisso quando escrevi "Die For Me" da Headless Angel com o Levi.
45. O que você espera que os fãs sintam quando ouvem suas músicas?
Kyle: Entendimento, identificação e companhia. Eu acho que existem poucos artistas que têm coragem de expor os próprios sentimentos honestamente sem se importar com quão loucos ou socialmente reprovados eles sejam. Eu sei que existe uma parcela da população que vai escutar minhas músicas e me condenar, falar que eu não sirvo pra esse mundo, que eu não sirvo pra ser amado e amar, mas existem pessoas que entendem a confusão de um garoto que passa a morar só com a irmã mais velha e em um ano, descobre a própria sexualidade e passa por um zilhão de emoções que ele não compreende. Eu não sabia muito bem que eu era gay antes… bem… do meu primeiro namoro. Porque eu nunca me importei com isso, eu só me importava com conseguir ser um diretor e músico, e de repente eu consigo ser diretor, músico e tenho um namorado mas eu não sei nada sobre como gerenciar tudo, eu tinha 19 anos e a vida começou de um dia pro outro pra mim. Obviamente nem todos os meus fãs são gays, músicos e diretores, mas acho que quase todo mundo passa pela experiência de se sentir jogado no mundo pra ter tudo de uma vez mas sem nunca ter aprendido o que fazer quando você consegue.
46. Como a sua música reflete a sua personalidade?
Kyle: Eu acho que… a minha música fala bastante de mim, ela é sexy, apaixonada pelo verão do mesmo jeito que é pela tristeza, ela é romântica mas sempre com uma gota de tesão… ela é às vezes política mas muitas vezes também íntima, eu falo de direitos queer mas também falo sobre como eu sou uma pessoa fodida e… eu acho que isso também é importante. Porque a sociedade tende a só respeitar vítimas perfeitas. Nós não precisamos ser livres de qualquer desvio moral ou de caráter para merecer respeito e justiça, ninguém é perfeito. Eu sou muito imperfeito e eu acho que esse é o meu charme, minha personalidade e minha arte também.
47. Você tem algum lugar específico onde gosta de compor?
Kyle: Sim. Desde antes de tudo começar a acontecer, eu trabalho em muitas músicas com a Lizzie atrás do palco do Viper Room e aquele lugar virou uma espécie de QG pra nós do Headless Angel. Claro, hoje a gente tem acesso a estúdios mas pelo menos a parte inicial, nós sempre fazemos lá. Talvez a gente só pare quando acontecer de alguém escutar e vazar músicas mas até lá, sempre vai ser nosso canto.
48. O que te motiva a continuar fazendo música?
Kyle: Ah… eu não sei. Eu acho que a própria música. Eu não me imagino parando de escrever, isso é algo que eu faço em qualquer circunstância. Eu acho que escrevo pra viver. Pra entender as coisas melhor, pra imaginar perspectivas e abraçar sentimentos que eu tendo a rejeitar.
49. Qual é a maior lição que você aprendeu na sua carreira até agora?
Kyle: Nunca conte pros seus amigos as coisas da sua vida. Eles vão virar obsessores e sair falando tudo pros outros, até meias verdades. Isso também é uma dica pra alguém muito especial.
50. Como você vê a importância da originalidade na música atual?
Kyle: Por incrível que pareça, eu acho que a música atual parece bem original, não consigo pensar em muitos artistas semelhantes. Claro, existem nichos, acho que todo mundo diria que nós da Headless Angel nos encaixamos num grupo com Hina Maeda, por exemplo, mas mesmo assim nós somos muito diferentes. Eu acho que o problema da música atual não é a falta de originalidade, é o excesso de acomodação. Especialmente nas novas gerações da música rock mainstream. Talvez por isso, artistas do rock que são fenômenos nascidos da música alternativa e indie tenham mais reconhecimento, e talvez também por isso haja essa necessidade de colocar artistas de outros gêneros no imaginário do rock. Enfim. Eu acho que sempre há esperança pra música, e acho que talvez os artistas entendam a importância do não-conformismo na nossa arte. Nós precisamos de mais Agathas e Hinas, e não de mais da mesma coisa apolítica, totalmente segura e com medo de riscos. Roqueiros de verdade não têm equipe de relações públicas.
[DIVULGAÇÃO PARA THE NIGHT ALSO HUGS THE WAVES E WILDFIRE]