[ÁSIA] SOFÍA X NHK R1
May 21, 2024 20:12:51 GMT
Post by adrian on May 21, 2024 20:12:51 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA NO SÉ CUANDO SE ACABÓ & PRIVATE TEACHER]
Há um mês do início dos shows de sua turnê no continente asiático, Sofia é convidada pela rádio japonesa NHK R1 para uma entrevista em que foram abordados assuntos como a preparação para os shows em outro continente, aproximação com os fãs da Ásia e outros assuntos. A conversa foi realizada mediante ligação via Skype e reproduzida na íntegra durante a programação do veículo de comunicação. A entrevista foi conduzida pela apresentadora Saiko Desu.
SAIKO - Olá, Sofía! É um prazer estar com você, mesmo que remoto, no nosso programa!
SOFÍA - Oi, Saiko! Eu agradeço pelo convite. Em breve nós poderemos conversar pessoalmente.
SAIKO - Isso! No dia 21 do próximo mês se iniciam os shows da sua turnê mundial nos países asiáticos, certo?
SOFÍA - Siiim! Estou muito animada para reencontrar todes vocês no palco. Faz quase um ano que estive aí pela última vez.
SAIKO - A HASTA QUE SALGA EL SOL [POR EL MUNDO] está acontecendo, atualmente, na América Latina e está arrebatando shows com dezenas de milhares de público. Como você se sente com tudo isso?
SOFÍA - Olha, eu fico cada dia mais admirada de que realmente existam pessoas que pagam para assistir um show meu [risos]. Brincadeiras a parte, sou muito grata por ter uma base de fãs tão animada e engajada nos meus trabalhos. Começar os shows pela minha casa foi uma decisão estratégica já que o álbum celebra as minhas raízes. E o público correspondeu a isso. Hoje mesmo estou estreando os shows no Chile e estamos esperando receber mais de 48 mil pessoas apenas hoje! E vamos repetir isso em mais dois dias. É insano!
SAIKO - Cara, eu já sinto uma responsabilidade imensa só de me comunicar por aqui, nem imagino o que seja se apresentar para um público tão grande assim.
SOFÍA - Eu poderia dizer que com o tempo nos acostumamos, mas isso não acontece. É uma luta diária para acreditar que somos capazes e olha que sou uma pessoa confiante naquilo que faço. Contudo, como você já deve imaginar, as pessoas estão ali porque gostam de você e, além disso, pagaram por aquele show. É uma pressão dupla e isso interfere na maneira como nos posicionamos e pensamos no palco.
SAIKO - Como você se prepara para isso? E como fez para lidar com a pressão?
SOFÍA - Eu não sei se sei lidar ainda [risos]. É sério. Parece que quando você acha que sabe de algo, vem algo e te diz que não, ainda há muito a aprender. E isso é bom, nos mantém sempre num estado de alerta que considero essencial para não cairmos na mesmice. Sobre a pressão, acredito que é encarar e ir. Não há como, ou pelo menos não descobri ainda, como eliminar esse peso que sinto nas costas. E olha que faço terapia.
SAIKO - Hoje você detém o recorde de maior arrecadação em turnês da história. A sua última turnê arrecadou 800 milhões de dólares e isso te garantiu uma folga nesse ranking.
SOFÍA - É e isso é interessante. Todo mundo acha que o artista desembolsa todo esse dinheiro, mas os custos de uma turnê são altíssimos. Há sempre alguém que reclama que o preço dos ingressos está caro, mas esquece que tem toda uma estrutura física e humana empenhada no show. Não dá para contratar dançarinos e não oferecer o máximo de conforto e recompensa para o seu trabalho, por exemplo. Eles têm que ter camarim, comida farta e descanso em boas locações. Tudo isso custa dinheiro. Fico feliz de dizer que todos saem com uma boa quantia em seus bolsos.
SAIKO - Qual é a sua relação com o dinheiro?
SOFÍA - Não serei hipócrita em dizer que “dinheiro não importa”; importa e muito. Não sou refém dele, entretanto. Há um trabalho e eu recebo por ele. E sei que o que eu recebo é bem mais do que outras pessoas ao meu redor recebem. Novamente, não sou escrava desse sistema de acúmulo monetário incessante. Grande parte do meu dinheiro vai para os meus pais ou fundações sociais que apoio, como a Lucca Lordgan Foundation.
SAIKO - Ah, isso! Você foi uma das artistas que apoiaram o Lucca nessa empreitada. Foi um gesto muito lindo, sabia?
SOFÍA - Eu acho um gesto necessário. Sabemos que a comunidade LGBTQIAP+ é diariamente interpelada por uma série de violências às quais não encontram amparo nas nossas leis. Nesse caso, é imprescindível que haja movimentação social em favor de seus direitos e por justiça! Não é possível que achem normal alguém ser agredido na rua por estar de mãos dadas com quem ama. Se você é contrário a isso e tem poder econômico para ajudar, ajude.
SAIKO - Claro, claro! Além dessa fundação do Lucca, há outras que você participa?
SOFÍA - Sim! Pelo menos desde os meus quinze anos contribui com uma ONG local que preconizava o acolhimento de mulheres em cárcere. Esse acolhimento era baseado em conversas, formação acadêmica e profissional. Hoje eu não consigo contribuir fisicamente, mas sou uma das apoiadoras [financeiras] do projeto que, felizmente, está chegando a diversas localidades no México.
SAIKO - Mas você não acha perigoso ajudar esse tipo de gente?
SOFÍA - Acho. Acho perigoso que tenhamos comunicadores com grande alcance com pensamentos tão pequenos e excludentes. Ao nos depararmos com pensamentos do tipo “nossa, elas realmente merecem isso” aconselho a pensar sobre as motivações que possam tê-las levado ao mundo do crime. Foi a pobreza? O abandono? Enfim, para que um indivíduo ultrapasse determinados limites, como a da lei, é preciso que haja algum limite que, para elu, não existe há muito tempo.
SAIKO - Não foi bem isso que quis dizer…
SOFÍA - Então escolha melhor as suas palavras. Já basta de ditos e não-ditos. Somos pessoas adultas e capazes de raciocinar sobre aquilo que queremos falar. Podemos continuar ou posso ir embora?
SAIKO - Não, calma!! Ainda tenho algumas questões para fazer, se você não se incomodar é claro.
SOFÍA - Incomodada eu já estou, mas assinei um termo para estar aqui, então faça.
SAIKO - É… calma, fiquei nervosa. Sim. Qual o impacto que a sua última turnê teve, levando em consideração não só a arrecadação, mas o número de ingressos vendidos.
SOFÍA - Olha, preconceituosa, eu não sei. É difícil fazer esse tipo de análise sem um recorte específico. O impacto ao qual estamos falando é econômico? Então não sei, pergunte aos meus contadores. Agora, se estamos falando de impacto cultural, acredito que possa falar mais sobre isso. Acho que pela primeira vez foi dada a oportunidade do mundo conhecer o poder e a força do mundo latino com uma turnê grandiosa em nível de estrutura e investimento. Óbvio que já tivemos outras turnês igualmente incríveis, mas nenhuma teve essa repercussão. Sabe, eu ganhei o prêmio de Touring Artist no AMA. Uma premiação norte-americana que, como todos nós sabemos, nos tratam, a nós latinos, como a ralé. Foi uma quebra de barreiras que considero da maior importância para a nossa cultura.
SAIKO - Ia deixar esse assunto para o final, mas já que tocou nele. As indicações para o American Music Awards foram reveladas e você está concorrendo nas categorias de POP. Como é para você ter chegado nesse patamar, levando em consideração que o mercado norte-americano é, relativamente, bem conservador.
SOFÍA - Que ótima pergunta! Veja, eu fiquei muito feliz pelo reconhecimento que tive na premiação, mas sei que tudo isso se refletiu no que consegui arrecadar em números. Novamente, é difícil que artistas fora desse eixo estadunidense ou, do k-pop que tem uma aceitação pública imensa, tenham êxito nos Estados Unidos. E, para mim, é uma barreira incômoda. Sinto que há, de fato, um muro nos separando. Entretanto, fico extremamente feliz que nós, latinos, estamos recebendo mais reconhecimento. Torcendo para que possamos ainda mais fortes depois da premiação. E sobre o conservadorismo, acredito que, para além dos artistas, há um pacto social que privilegia esse tipo de pensamento.
SAIKO - Há algum tipo de silenciamento, é isso?
SOFÍA - Acredito que sim, mas aí entra um ponto importante: é a cultura deles. Não dá para obrigar alguém a ouvir um single ou álbum de um artista que eles não se conectam. Eu sou bem diferente de Caleb, Chelsea ou até mesmo a Harmon. Para eles, por exemplo, o mercado latino é tão difícil quanto para mim é o norte-americano. O Caleb é a representação do homem branco médio dos Estados Unidos. Há um reconhecimento nessa figura masculina que, para se afirmar como tal, precisa invalidar minorias e compensar o tamanho irregular de seus genitais.
SAIKO - Em compensação você está preparando uma série de shows nos Estados Unidos, também em estádios.
SOFÍA - Eu já lotei estádios lá, sabe? Por mais que a minha música não esteja bem posicionada nos charts, eu tenho demanda. E isso para mim é essencial. Imagina você angariar milhões e milhões de plays e vendas e não conseguir vender 20 mil ingressos? Que tipo de sucesso é esse? Não há nenhum problema que deve ser resolvido? Enfim, são apenas algumas divagações da minha parte.
SAIKO - Aproveitando a deixa, como você enxerga essa dualidade entre o mundo tecnológico e o virtual?
SOFÍA - Nem sempre quem é leão na internet age como tal. Tem uns que na vida real são tchutchuca. É engraçado, mas serve para refletir sobre como o virtual está mascarando e produzindo inverdades. Sim, vivemos em um mundo digital; mas fora da internet é que acontecem as coisas. Ninguém faz uma porea de show no Fortnite! Isso é ridículo. Aluga um estacionamento e vai, cara. Aí, vai lá no joguinho, tem dois milhões de pessoas acompanhando o show e não consegue lotar uma arena de 15 mil pessoas de capacidade? Por favor!
SAIKO - Isso se aplica a algum artista que nós conhecemos?
SOFÍA - Olha, eu não sou de ficar criando picuinhas ou intrigas com meus colegas de indústria, mas você já viu o público dos shows do Caleb? Então… Veja, ele tem bons números e, supostamente, talento. O que explica ele não conseguir vender ingressos para o seu show? Eu explico. Primeiro, ingressos muito caros para um show que não vale a pena. Qual a graça de ver um homem branco de roupa? Ele ganharia mais dinheiro sendo gogoboy, sejamos sinceras. Mas nem tudo é sobre dinheiro, até aí tudo bem. Quando um artista eleva o preço dos seus shows há um motivo, para além da ganância: significa que a estrutura e os preparativos demandam um alto custo para o artista e sua equipe. Se você não entrega isso, lamento, mas nenhuma promoção vai fazer com que comprem o seu ingresso. Hoje ele faz show em LA, para um público itinerante e que pode ou não consumir o trabalho dele depois. Fim de carreira, né?
Nesse momento, Sofía pega o celular e faz um tweet e sorri travessa.
SAIKO - Inclusive, você não gostaria de fazer shows em Las Vegas? Dizem que lá há mais oportunidades visuais e de preparo.
SOFÍA - Não é a ideia que eu tenho para a minha carreira. Não me atrai o fato de que ficaria presa a um único lugar por não sei quanto tempo. Definitivamente, não. Não está em meus planos. Só se algo der muito errado, aí sim.
SAIKO - Você já pensou na velhice? Talvez artistas muito jovens não pensem nisso, mas e você?
SOFÍA - Olha, eu sou muito tranquila com esse lance de envelhecer. A minha preocupação é ficar velha e com saúde. Não tenho nenhuma pretensão de aos quarenta anos parecer uma jovem de vinte e poucos. Quero que saibam a minha idade, pois eu tenho orgulho. Hoje tenho vinte e oito anos e construí um império ao meu redor. Tem algo mais inspirador que isso? Que foda seria para outras mulheres saberem que alguém como eu sobreviveu tanto tempo nessa merda de sociadade preconceituosa e conservadora? Eu quero ser exemplo. Toda a minha carreira é construída para isso: ter um futuro melhor.
Nesse momento a atenção de Sofía se volta ao seu celular que, após fazer um comentário inocente e sem pretensão de ofender ninguém, inicia uma discussão acalorada com Caleb Roth mais uma vez.
SAIKO - Você está brigando com o Caleb? Agora? Que falta de pro…
SOFÍA - Você viu isso aqui que ele escreveu? Isso é um absurdo. Tenho que pensar numa resposta calma, fria e que não ofenda ninguém. Não posso me rebaixar ao nível dele.
Então ela digita no celular durante vinte segundos e para. A apresentadora vai ver o que ela tweetou e grita chocada.
SAIKO - É isso que você chama de calma? Cara…
SOFÍA - Eu me descontrolei um pouco, foi um destempero. Agora podemos continuar ou já encerramos?
SAIKO - Aproveitando o momento, qual o problema entre você e o Caleb?
SOFÍA - Veja, há algum tempo, antes mesmo dele se relacionar com a Harmon, ele me cortejou e eu neguei. Não há nada nele que pudesse me atrair na época, hoje muito menos. Então acho que dói nele que eu não o quis e aí sobrou a Harmon.
SAIKO - Como ele teve acesso a você?
SOFÍA - Através do BBMD, eu acho. Ali que eu desapontei de fato na mídia e me tornei mundialmente conhecida.
SAIKO - Entendi. Mas isso não é prejudicial à sua imagem? Brigar de forma tão baixa assim?
SOFÍA - Eu não fui baixa, fui bem superficial. Não me importo com o que vão pensar de mim, senão já teria me auto aprisionado em uma jaula. Sabe o quanto de hate eu já sofri desde que comecei a fazer sucesso? Não? Eu também não, porque é muito grande. Há uma massa de robôs que tá ali, todo dia, constantemente dizendo que eu não mereço estar onde estou, por exemplo. Então eu já sou muito julgada, um julgamento a mais ou a menos não vai fazer diferença em quem sou.
SAIKO - Essa bravura vem de onde?
SOFÍA - Da necessidade de ser vista e reconhecida. Se eu deixar que essas pessoas se apoderem de mim e da minha força, não existiria Sofía. O que eu construí até agora foi com muita garra e dedicação. Errei? Bastante, mas aprendi com todos esses erros. Há algo de ideal em ver que nem sempre nossos passos foram corretos, mas foram passos; de uma forma ou de outra aprendemos com tudo aquilo que fazemos. Sou grata por poder entender e ter esse poder de me auto conscientizar acerca dos meus desvios.
SAIKO - Acho que podemos encerrar por agora, antes que você xingue a minha mãe.
SOFÍA - Pode ficar tranquila, querida. Desde que você peça desculpas pelo que falou das mulheres em cárcere. Agora.
SAIKO - Desculpa.
SOFÍA - Ótimo! Então, encerro a minha participação por aqui e agradeço pela atenção de todes. Espero vê-los nos meus shows no próximo mês e que possamos celebrar o amor, a paz e a paciência. Amo vocês!