SOFÍA - LA REINA PERDIDA [SHORT-FILM]
Mar 9, 2024 0:52:43 GMT
Post by adrian on Mar 9, 2024 0:52:43 GMT
Título: La Reina Perdida - Short Film
Duração: 09 minutos e quinze segundos
Direção: Sofía, Calors Muñoz
Roteiro: Sofía
Estávamos abrindo os olhos em uma floresta desconhecida. As cores em preto e branco contrastam entre si. No chão, um corpo feminino inerte encoberto pela grama alta e molhada. Embora inconsciente, Sofía não parecia estar machucada. Aos poucos suas pálpebras foram se mexendo e seus olhos castanhos tornaram-se foco da câmera. O único som que se podia ouvir eram os dos cantos dos pássaros e das copas das árvores chocando-se umas às outras com o impacto da ventania. Aos poucos seu corpo foi deixando o chão. A força de seus braços a ergueu até que ficasse sentada sobre a grama. O filtro da imagem em preto e branco não permitia ver, mas a grama era extremamente esverdeada. Ao redor, apenas árvores. Nada mais. Algo pareceu chamar a atenção da artista: um barulho vindo das moitas fez com que franzir o cenho instantaneamente. Levantou e foi em direção ao barulho.
Andou alguns poucos minutos até que encontrou algo que parecia um vilarejo totalmente destruído. As poucas casas que ainda estavam em pé desmoronaram com o simples toque do vento. Era um cenário de guerra ao qual pareceu mexer muito com a protagonista. O seu andar era lento, mas firme. Olhava com temor para os destroços das residências. Em uma das casas que ainda permanecia de pé, um brilho chamou a atenção de Sofía. Foi em direção ao local e encontrou um quarto infantil, aparentemente da cor rosa, e com diversos brinquedos empoeirados ou queimados. Em cima da cama, um colar prateado fulgurava em meio a uma camada grossa de poeira. Ele tinha um fecho. Sofía o pegou em suas mãos e limpou o grosso da sujeira. Com um pouco de dificuldade, graças à ferrugem do objeto, abriu. Nele, uma fotografia de uma menina. Era ela mesmo. Sofía havia encontrado o seu quarto. Em seguida, imagens de uma infância feliz foram sendo sobrepostas. A cantora não parecia saber o que aquilo significava.
O som de um canhão irrompeu sobre o cenário, o que assustou Sofía. Ela correu para fora do quarto para conferir a origem do barulho. Não parecia haver nenhuma arma ou exército que justificasse o barulho. Então, de onde veio? No céu, pássaros voavam tranquilos, como se nada os houvesse perturbado. O rosto estava levemente contraído, em claro sinal de desconforto. Novamente, o som de uma explosão foi ouvido por Sofía. Dessa vez ela correu na direção em que este parecia ter vindo. A câmera captava o seu passo apressado e a paisagem em movimento. A destruição do pequeno vilarejo foi cedendo espaço para o que parecia ser outra vila, mas esta não estava destruída e isolada. Havia pessoas se reunindo em torno de barracas, crianças brincando nas ruas de terra e muitas gargalhadas.
Aproximando-se daquelas pessoas, Sofía percebeu que elas não haviam notado a sua presença, embora houvesse encostado em muitas delas sem querer. Pareciam ser apenas imagens flutuantes. Tentou mais de uma vez tocar em algumas pessoas, mas sem sucesso. A sua boca gesticulava, mas não se ouvia som algum. Aliás, o único som transmitido desde o início do vídeo eram os da natureza, o da explosão e os das risadas infantis. Ela, Sofía, parecia não pertencer àquele mundo. Afinal, onde estávamos?
A resposta pareceu estar perto. Ao olhar mais adiante, algo estranho lhe chamou a atenção. Uma borboleta voava na direção de uma casa. Até aí, tudo normal, com exceção de que o pequeno inseto era colorido e não em preto e branco. Sua presença parece ser um sinal. Sofía o seguiu até aquela casa e entrou. Estava completamente vazio, com exceção de uma mesa velha na qual a borboleta repousava. Emitia uma luz azulada bruxuleante, mas voou assim que a mulher se aproximou. Além do móvel, na parede repousava um quadro. Nele estava emoldurado um desenho infantil na qual representava duas mulheres: uma delas possuía asas, já a outra possuía uma coroa dourada que repousava sobre seus cabelos de linhas tortas. Antes que pudesse esboçar alguma reação, a porta abriu e bateu. Ninguém havia entrado. Mas alguém havia saído. Sofía não estava mais lá.
A porta bateu novamente. E o que antes era preto e branco, agora era cheio de cor, de vida e esplendor. Sofía agora vestia um vestido da cor vermelha, decotado e com alguns babados no pé do vestido. Sobre o tecido estavam colados algumas linhas de strass. No seu pescoço estava brilhando um colar de pedras também avermelhadas. O instrumental de La Reina Perdida iniciou e a câmera acompanhou Sofía enquanto ela dublou a si própria. Os seus passos eram graciosos e encantavam a todos que ali passavam. Ela já não era mais invisível. Enquanto passeava pelas barracas, os transeuntes pareciam estar hipnotizados com a sua presença.
Quando o primeiro refrão explodiu, um grupo de cerca de dez bailarinos, vestidos como os demais habitantes do pequeno vilarejo, se aproximaram de Sofía. Todos formaram um círculo em volta da artista para realizar a coreografia da canção. A câmera captava os mais diversos ângulos de Sofía e de sua equipe de bailarinos. As cores das roupas e do ambiente eram vivas. O vermelho do vestido de Sofía parecia pegar fogo quando a luz do sol incidia sobre o tecido. Logo em seguida, o círculo foi desfeito, mas os dançarinos continuaram a acompanhar Sofía, realizando passos de dança, enquanto andavam pelo vilarejo. Todos eles vestiam roupas monocromáticas: amarelas, vermelhas, azuis, verdes e outras.
Em um momento chegaram a um coreto que ficava no centro da vila. Cerca de cinco bailarinos entram junto à Sofía no coreto, enquanto os demais, acrescido de uma infinidade maior de dançarinos que se reuniam no momento. Formou-se, então, um foco de cem dançarinos que realizavam a coreografia enquanto Sofía cantava na plataforma de madeira em que se posicionou. A câmera voava sobre os corpos das pessoas e mostrava a coreografia a partir de uma visão panorâmica e superior. Já Sofía esbanjava um sorriso brilhante. Todos os dançarinos sorriam enquanto dançavam.
No céu, pássaros e folhas verdes se confundiam em um emaranhado de objetos. Até que, de repente, o que parecia ser um mar vermelho invadiu a tela. Eram pétalas de rosa da cor vermelha que choviam sobre o vilarejo. A rotação da câmera em 360º em torno de Sofía mostrava por outro ângulo essa chuva de pétalas. Ao findar da canção, Sofía fechou os olhos e o barulho acabou. Não se ouvia e nem via mais nada. Ela abriu os olhos e tudo mudou.
Estava agora no mesmo casebre. Em suas mãos, segurava o colar que continha uma foto sua enquanto criança. No quadro, já não havia mais nenhum desenho. A imagem não possuía mais filtro preto e branco, assumindo cores quentes como predominantes visuais. Sofía parecia desnorteada, sem saber o que estava acontecendo. Novamente, ouviu-se um barulho de porta. Sofía já não estava mais lá. O vilarejo não existia, era apenas uma terra vazia: sem pessoas, sem animais, sem nada. Era apenas uma clareira enorme aberta em meio a uma floresta. Uma lágrima caiu dos seus olhos enquanto observava o horizonte.
Deu poucos passos quando, de repente, percebeu algo vermelho entre a gramínea esverdeada. Era uma pétala vermelha. Seus olhos se estreitaram e olhou ao redor para conferir se não havia mais nenhum vestígio do que parecia ter vivido anteriormente. Nada. Apenas o assobio do vento e o cantar dos pássaros. Nas mãos da artista ainda estava o colar com seu nome. Ela o apertou e virou em uma de suas mãos e encontrou uma mensagem gravada "mi niña perdida". Tudo pareceu desmoronar. As árvores pegaram fogo, o solo caía. Sofía gritou, gritou e gritou. A tela escureceu.
- Eu não sabia o que estava acontecendo. Era como se ninguém me enxergasse, como se fosse um nada, um fantasma. Dentro desse relacionamento, me senti perdida. Eu não sabia o que fazer. Ao mesmo tempo que me imaginava em uma grande fantasia romântica, sabia que nada daquilo era real. Era um sonho. Doloroso. Doía. Eu não sabia o que ele poderia fazer. - Sofía chorou.
O cenário era a de um consultório psiquiátrico. Sofía estava sentada em uma poltrona marrom. Na sua frente estava uma psiquiatra. A mulher encarou Sofía com olhos duros e firmes, mas não parecia agressivo; muito pelo contrário. Mostrava maturidade e compaixão pelo sentimento de sua cliente.
- Sofía, querida. Eu imagino o quão doloroso foi. E o quão doloroso deve estar sendo agora por rememorar o que viveu e, além disso, aceitar que tudo isso foi uma violência. Mas saiba que, nada do que aconteceu, é culpa sua. Sonhar é direito de todos. Mas, a partir do momento que esse direito é violentado por outros, é necessário que saibamos tomar uma posição.
- Lembro de minha mãe dizendo que era sua "niña perdida" por ela considerar que eu estava fora do mundo, viajando entre os meus sonhos e mais impossíveis desejos. Ele dizia que eu era la reina perdida. E sinceramente? Acho que eu estava realmente perdida. Sinto que agora, entretanto, estou me encontrando. Como mulher e como ser humano. Mas, ainda tenho sonhos que parecem tão vívidos. De dançar em um pequeno vilarejo. Ser banhada por pétalas avermelhadas. - Sofía falava com a voz embargada.
- Sonhos. O que dizer sobre eles? Invenções ou subproduto da nossa psique? Não temos uma resposta unânime. Eu gosto de acreditar, e a ciência não vai concordar comigo, que são lembranças reais. Afinal, por que as construções de nossa mente não podem ser reais? - A psiquiatra parecia estar em outro mundo enquanto falava.
- Não sei. Elas podem? - Questionou Sofía.
- É claro, querida. - A profissional respondeu.
- Não entendo.
Não há muito o que entender, na verdade. Os sonhos são expressões do nosso inconsciente, se baseiam no que é real ou no que desejamos ser real. Mas, afinal, é tudo realidade. Do choro mais profundo à que do arranha-céu mais alto do mundo, todos os nossos sonhos são reais. Diga-me, com o que você sonha?
Sonho com um mundo em preto e branco. Tudo é silecionso. Tem um lugar destruído, mas, logo depois, encontro o mesmo lugar repleto de vida. Ninguém lá consegue me ver, ouvir ou encostar. Até que... encontrei uma casa. Não, espere! Antes eu encontrei nos escombros de um quarto um pingente prateado. Ele era daqueles que se abria ao meio para colocar fotos. No lado oposto eu vi que tinha escrito "mi niña perdida".
- Um pingente? Ah, desculpe por interromper. Pode continuar. - Falou a psiquiatra.
- Então encontro uma casa nesse vilarejo cheio de vida. Tem uma mesa só, um quadro com um desenho infantil e... tudo vira um musical, do mais completo nada. Senti que era feliz enquanto cantava. Se não me engano, a música falava algo sobre uma rainha perdida, mas não lembro bem do que se tratava. Mas... era como eu estava. Depois tudo acabou em um mar de pétalas de rosas. Não faz sentido algum, né?! - Disse Sofía.
- Não sou eu quem deve decidir se faz sentido ou não, Sofía. É você mesma.
- Entendo...
O barulho de alarme vindo de um relógio despertador tocou anunciado o fim da sessão.
- Obrigado por tudo, Ana. Nos vemos na próxima semana, certo? - Perguntou Sofía.
- Não sei se poderemos nos encontrar na próxima semana. Eu, provavelmente, terei um compromisso para o mesmo dia e será impossível estar aqui. Mas podemos remarcar, tudo bem? - Respondeu Ana.
- Claro! Você me mantém informada e eu venho quando for possível. Tchauzinho!
- Espere! Eu tenho algo para te dar. Não vá.
A psiquiatra foi na direção de um armário de madeira recém-pintado. Parecia ser antigo. Dentro dele retirou uma caixa de metal com um laço prateado na tampa. O entregou a Sofía.
- Abra apenas quando estiver no carro, ok?! E não abra antes, em hipótese alguma. - Falou com a voz severa.
Sofía assentiu e saiu da sala.
A porta do consultório bateu e Sofía saiu da sala com um sorriso leve em seus lábios. Enquanto andava pelo estacionamento lotado de carros em direção ao seu, uma gota de água caiu do céu em direção ao seu rosto. Ela olhou para o céu e viu que não havia nuvens ou nada que parecesse que iria chover. Deixou para lá e seguiu para seu carro. Antes que pudesse abrir a porta do motorista, observou algumas pétalas vermelhas abaixo do veículo. Seus olhos se arregalaram no primeiro momento, mas logo foi substituído por um olhar que parecia felicidade. No seu colo, a caixa prateada parecia lhe chamar. Tirou a tampa e seus se arregalaram mais uma vez com o que estava ali dentro: o pingente prateado de seus sonhos. Sofía havia acabado de se encontrar.
- Eu não sabia o que estava acontecendo. Era como se ninguém me enxergasse, como se fosse um nada, um fantasma. Dentro desse relacionamento, me senti perdida. Eu não sabia o que fazer. Ao mesmo tempo que me imaginava em uma grande fantasia romântica, sabia que nada daquilo era real. Era um sonho. Doloroso. Doía. Eu não sabia o que ele poderia fazer. - Sofía chorou.
O cenário era a de um consultório psiquiátrico. Sofía estava sentada em uma poltrona marrom. Na sua frente estava uma psiquiatra. A mulher encarou Sofía com olhos duros e firmes, mas não parecia agressivo; muito pelo contrário. Mostrava maturidade e compaixão pelo sentimento de sua cliente.
- Sofía, querida. Eu imagino o quão doloroso foi. E o quão doloroso deve estar sendo agora por rememorar o que viveu e, além disso, aceitar que tudo isso foi uma violência. Mas saiba que, nada do que aconteceu, é culpa sua. Sonhar é direito de todos. Mas, a partir do momento que esse direito é violentado por outros, é necessário que saibamos tomar uma posição.
- Lembro de minha mãe dizendo que era sua "niña perdida" por ela considerar que eu estava fora do mundo, viajando entre os meus sonhos e mais impossíveis desejos. Ele dizia que eu era la reina perdida. E sinceramente? Acho que eu estava realmente perdida. Sinto que agora, entretanto, estou me encontrando. Como mulher e como ser humano. Mas, ainda tenho sonhos que parecem tão vívidos. De dançar em um pequeno vilarejo. Ser banhada por pétalas avermelhadas. - Sofía falava com a voz embargada.
- Sonhos. O que dizer sobre eles? Invenções ou subproduto da nossa psique? Não temos uma resposta unânime. Eu gosto de acreditar, e a ciência não vai concordar comigo, que são lembranças reais. Afinal, por que as construções de nossa mente não podem ser reais? - A psiquiatra parecia estar em outro mundo enquanto falava.
- Não sei. Elas podem? - Questionou Sofía.
- É claro, querida. - A profissional respondeu.
- Não entendo.
Não há muito o que entender, na verdade. Os sonhos são expressões do nosso inconsciente, se baseiam no que é real ou no que desejamos ser real. Mas, afinal, é tudo realidade. Do choro mais profundo à que do arranha-céu mais alto do mundo, todos os nossos sonhos são reais. Diga-me, com o que você sonha?
Sonho com um mundo em preto e branco. Tudo é silecionso. Tem um lugar destruído, mas, logo depois, encontro o mesmo lugar repleto de vida. Ninguém lá consegue me ver, ouvir ou encostar. Até que... encontrei uma casa. Não, espere! Antes eu encontrei nos escombros de um quarto um pingente prateado. Ele era daqueles que se abria ao meio para colocar fotos. No lado oposto eu vi que tinha escrito "mi niña perdida".
- Um pingente? Ah, desculpe por interromper. Pode continuar. - Falou a psiquiatra.
- Então encontro uma casa nesse vilarejo cheio de vida. Tem uma mesa só, um quadro com um desenho infantil e... tudo vira um musical, do mais completo nada. Senti que era feliz enquanto cantava. Se não me engano, a música falava algo sobre uma rainha perdida, mas não lembro bem do que se tratava. Mas... era como eu estava. Depois tudo acabou em um mar de pétalas de rosas. Não faz sentido algum, né?! - Disse Sofía.
- Não sou eu quem deve decidir se faz sentido ou não, Sofía. É você mesma.
- Entendo...
O barulho de alarme vindo de um relógio despertador tocou anunciado o fim da sessão.
- Obrigado por tudo, Ana. Nos vemos na próxima semana, certo? - Perguntou Sofía.
- Não sei se poderemos nos encontrar na próxima semana. Eu, provavelmente, terei um compromisso para o mesmo dia e será impossível estar aqui. Mas podemos remarcar, tudo bem? - Respondeu Ana.
- Claro! Você me mantém informada e eu venho quando for possível. Tchauzinho!
- Espere! Eu tenho algo para te dar. Não vá.
A psiquiatra foi na direção de um armário de madeira recém-pintado. Parecia ser antigo. Dentro dele retirou uma caixa de metal com um laço prateado na tampa. O entregou a Sofía.
- Abra apenas quando estiver no carro, ok?! E não abra antes, em hipótese alguma. - Falou com a voz severa.
Sofía assentiu e saiu da sala.
A porta do consultório bateu e Sofía saiu da sala com um sorriso leve em seus lábios. Enquanto andava pelo estacionamento lotado de carros em direção ao seu, uma gota de água caiu do céu em direção ao seu rosto. Ela olhou para o céu e viu que não havia nuvens ou nada que parecesse que iria chover. Deixou para lá e seguiu para seu carro. Antes que pudesse abrir a porta do motorista, observou algumas pétalas vermelhas abaixo do veículo. Seus olhos se arregalaram no primeiro momento, mas logo foi substituído por um olhar que parecia felicidade. No seu colo, a caixa prateada parecia lhe chamar. Tirou a tampa e seus se arregalaram mais uma vez com o que estava ali dentro: o pingente prateado de seus sonhos. Sofía havia acabado de se encontrar.
CENA ADICIONAL
Sofía apareceu em uma sala de cinema particular. Ela estava chorando, mas o motivo de seu choro não foi mostrado. Antes que a câmera pudesse captar mais do seu choro, a cantora se levantou do assento e foi embora. Contudo, seu celular ainda repousava sobre o assento. Ele tocava sem parar e era um alerta de lembrete com os seguintes dizeres: 15.03