[LATIN] SOFÍA X COSMOPOLITAN
Feb 28, 2024 19:16:18 GMT
Post by adrian on Feb 28, 2024 19:16:18 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA LA REINA PERDIDA & MUJER BRUJA]
Dias após o lançamento de seu quarto álbum de estúdio, Sofía é capa da edição mexicana da revista COSMOPOLITAN. Para a revista, Sofía contou acerca do processo criativo que embasou todo o disco, destcando a busca pela sua identidade latina como a chave-mestra para a construção da narrativa de HASTA QUE SALGA EL SOL. Para além disso, ressalta a importância de referências de outros artistas para o resultado final do projeto. Ainda na entrevista, promete uma turnê maior que a anterior e revela que, em breve, seu filme com a Netflix será anunciado, bem como fará parte da trilha sonora com música original.
Como você descreveria a jornada criativa por trás do seu novo álbum "HASTA QUE SALGA EL SOL"?
Desafiadora. Já falei algumas vezes o quanto esse álbum significou para mim um verdadeiro recomeço em minha carreira. Eu vinha seguindo uma linha mais pop, talvez até genérica como diziam alguns, e era muito pressionada para mudar os rumos da carreira. Eu, pessoalmente, discordo quando dizem que as minhas músicas se parecem uma com a outra. Todos os meus três álbuns anteriores possuem uma particularidade sonora diferente; e se há repetição, porque há, é porquê é a minha marca registrada. Neste álbum, por exemplo, acredito que ANA é La Que Baila são mais próximas de algo que já fiz antes. É a minha essência. Então, eu me desafiei para sair de uma caixinha já pré-estabelecida. Ao mesmo tempo, senti necessidade de cantar sobre e com a minha terra. Um dos meus medos é passar uma imagem de artista sem alma e por mais que não houvesse indícios disso, ainda é um temor que perpassa meu corpo e minha mente.
Quando decidimos descartar todo um álbum, fortemente eletrônico, já sabíamos que iríamos homenagear a grandiosidade e a versatilidade da música latina. Busquei inspirações em cantoras que houvia na infância e a imagem de grandiosa Selena Quintanilla me inspirou não só musicalmente, mas como uma potência feminina. A bachata que é o ritmo que mais se sobressai nesse disco, nos ouvíamos 24 horas por dia em casa. Era minha fascinação me imaginar uma dançarina profissional de bachata. Nesse cenário atual da música também senti uma abertura para explorar esses gêneros conhecidos na música latina. Até pouco tempo atrás eu achava que isso não seria possível, mas é e muito.
Quais foram as principais fontes de inspiração para as músicas deste álbum?
Já citei a Selena Quintanilla como a maior inspiração do disco. Ela foi assassinada por uma fã, mas a sua arte transcende o véu entre a vida e a morte. Me sinto orgulhosa de poder escutar esta mulher, então considero ser essencial celebrar a sua herança. Colocaria a minha mãe nesse rol de referências do disco por ela ter sido a primeira a me dizer que gostaria de um disco latino, em essência. E é justo considerá-la como inspiração porquê a música me foi apresentada por ela e meu pai desde jovem; a minha mãe, contudo, me fez aprender a dar importanciao aos trabalhos de mulheres porque para podermos chegar em um patamar próximo ao dos homens precisamos trabalhar duas vezes mais.
Como você vê a evolução da sua música desde os seus primeiros trabalhos até este álbum mais recente?
Acho que essa evolução diz muito respeito ao meu próprio crescimento enquanto pessoa e artiata. À epoca do SPOILER, por exemplo, estava em um cenario ainda mais desafiador que este: era uma novata, latina e lidando com músicos talentosíssimos e com um grande poder dentro da indústria musical. Foi difícil me afirmar como artista nesse meio. A partir do meu segundo álbum, contudo, vi que tinha potencial para ir ainda mais longe; ele foi uma ruptura com a imagem mais contida que eu tinha. Tanto é que continua sendo a minha era favorita. A Sofia adolescente sonhadora retornou naquele disco e, ao mesmo tempo, pude perceber que o sonho já virara realidade. DESENCANTO é o meu trabalho mais maduro depois de HASTA QUE SALGA EL SOL. Ali eu entendi o quão artista sou e posso ser. Em um período ao qual duvidavam da minha capacidade, inclusive eu mesma, ele me puxou de volta à confiança. Hoje sou uma mulher feita, mais confiante e livre das amarras de uma sociedade que tenta, todos os dias, pôr uma coleira no pescoço de mulheres indicando que seus lugares estão em um patamar menor do que o dos homens. E eu digo não. Não mais!
Qual é a mensagem central que você deseja transmitir aos seus fãs através deste novo projeto?
A mensagem que espero passar é a de que a felicidade deve ser o objetivo último de todos nós. Há momentos em que a tristeza se apossa dos nossos sentimentos, mas temos que ter em vista que não nos reduzimos aos maus momentos; pelo contrário, somos seres felizes e capazes de suportar todas as adversidades. Espero que ao ouvirem este disco, meus ouvintes reconheçam a importância do autoamor. Os problemas virão, mas até que o sol saia, estaremos sempre carregados pelo bem que a felicidade nos traz.
Como o título do álbum reflete o seu significado e as músicas que o compõem?
HASTA QUE SALGA EL SOL é a minha máxima para a eternidade! Afinal, por mais que não o vejamos, o sol sempre está sobre nós. Mesmo que obscurecido pela lua, ele renasce todos os dias. E assim sou eu. Renasci e ainda o faço todos os dias que ponho os pés para fora da minha cama. Esta é uma ideia de que, apesar de uma hora tudo estar obscurecido, a luz voltará a brilhar acima de todos e que os caminhos serão visíveis.
Em relação às canções, sigo o mesmo conceito de celebrar a vitória, apesar de algumas músicas possuírem um conteúdo mais denso, como no caso de ANA e Adicto. No fim, tudo o que importa é sabermos que no dia seguinte as coisas se renovam. E que às vezes temos que aceitar algumas coisas que não sairão da nossa maneira, mas que não invalida todo o esforço que tivemos.
Podemos esperar uma mudança de estilo ou abordagem musical neste álbum em comparação com os seus lançamentos anteriores. Como você acha que será a repercussão entre o seu público fiel?
Eu acho que será boa, afinal, não é nenhuma reinvenção, apenas o resgate de algo que já fazia parte de mim desde o primeiro disco. Acredito que a globalização da música abre portas para que novos ritmos sejam ouvidos sem pré-conceito. Aos novos que vão chegar, espero que consigam apreciá-lo em profundidade e se juntarem a mim para os próximos trabalhos. Essa é a minha criação mais significativa.
Há alguma colaboração especial neste álbum que você gostaria de destacar?
Neste álbum teremos três faixas em parceria com cantores mundialmente reconhecidos e que admiro bastante. A minha música com Emília todos já conhecem, é claro, Mujer Bruja. Emília é uma querida amiga. A canção tem sido um sucesso estrondoso e nós realmente não imaginávamos que isso aconteceria. Foi uma surpresa ter chegado ao topo dos charts. E não por não acreditarmos na faixa, mas que há uma dominação quase absoluta de músicas norte-americanas e do kpop. Estrear em terceiro foi uma vitória, mas passar quatro semanas no top 1? Nossa, nem em nossos melhores sonhos.
Outra canção é Juicio Final, com o meu amigo AWA. Essa é a mais romântica de todas, acredito. AWA e eu acreditamos muito no poder do amor e nessa faixa ressaltamos que ele é tão poderoso quanto o pecado original. Tem o poder de mudar dinâmicas outrora já estabelecidas. E, além disso, nos divertimos nos bastidores. E, por fim, Hasta Que Salga El Sol qual divido vocais com o Rique, um cantor brasileiro em ascensão. Outra canção divertida, ela representa o álbum por inteiro, assim.
Como o processo de gravação deste álbum foi diferente dos seus projetos anteriores?
Acho que neste álbum precisamos de uma imersão maior nas nossas referências. A minha equipe também mudou, pois sentia que deveria prestigiar artistas da minha terra, então tivemos só latinos na equipe. E isso foi uma mudança considerável no processo. Se antes tínhamos uma predominância da música pop com elementos latinos, agora temos uma música essencialmente latina com elementos da música pop. Talvez tenha sido o disco mais divertido de se gravar. A sinergia da equipe foi primordial para um ambiente de trabalho saudável e criativo. O Big [One] que é o produtor executivo do álbum foi um grande amigo nesse processo. As ideias que ele tinha e como ele trabalhou as nossas próprias
sugestões deixou tudo bem mais leve. Uma parte da preocupação de se levar a sério demais foi dissipada, algo que não ocorreu nos meus três discos anteriores.
Existe uma música específica no álbum que tem um significado especial para você? Se sim, por quê?
Todas possuem um significado especial para mim, mas eu destacaria três: ANA, Adicto e Pa’ Mala Yo. ANA, como todos ja sabem, é um desabafo que resultou de um dos periodos mais obscuros da minha vida que foi quando enfrentei uma anorexia severa. Eu escrevi ela em um momento de fragilidade minha. Estava na cama e comecei a ter pensamentos autodestrutivos em relação ao meu próprio corpo. Na cama, escrevi enquanto chorava e relembrava do pior que me aconteceu. Até que a primeira versão era, com certeza, uma balada, mas não me satisfez. Eu estava bem naquele momento, não seria justo comigo mesma lançar uma canção triste sobre algo que ainda me afetava e precisava desabafar. Por isso escolhi refazer toda a letra e encaixar a sonoridade do reggaeton. Não quero mais chorar, quero celebrar a minha vida.
Adicto é outra canção que me toca muito. Ela é resultado de uma experiência horrível que tive em um relacionamento. Muitas vezes não conseguimos perceber o quão destrutivo são os laços de amor. Entre garrafas e xingamentos sentia que estava me perdendo. Quem era a Sofía que passava por tudo aquilo calada, aceitando todas as violências possíveis da pessoa amada? Então, com ajuda de amigas e familiares me libertei desse relacionamento tóxico.
Pa’ Mala Yo embora possa não parecer, tem um conteúdo emocional para mim. Remonta ao início da minha carreira, especificamente quando o meu segundo álbum foi lançado. Todos sabem que me envolvi em muitas polêmicas à época, certo? Eu tinha uma má fama no meio artístico, inclusive diziam que eu era vilã. Anos depois eu repensei esta época e todas as atitudes que tive e vi que, talvez, estivessem certas. No entanto, acho uma alcunha injusta quando tínhamos outros artistas com atitudes piores. Nessa música, e em Mujer Bruja, assumi a persona de vilã. Reconheço todos os meus erros, mas me perdoei.
Como você descreveria a sonoridade geral deste álbum em comparação com o seu trabalho anterior?
DESENCANTO é um álbum pop ao qual me orgulho muito de ter dado a vida. Estávamos em um período que o “o conceito” era a principal busca de artistas e a liberdade criativa era tolhida por essa busca desenfreada por um significado oculto. Eu queria ser livre, não levar tão a sério toda essa merda. É chato, sabe? Tenho que me colocar em um lugar de artista intelectual, pois só assim serei reconhecida. Que vá a merda! Conceito sem significado pessoal, seu, não tem sentido. É um discurso vazio. Eu só queria um álbum divertido, leve e que não necessariamente tivesse algo por trás. Ele foi reflexo do meu desejo de fazer música com alma. Todas as canções foram selecionadas por me divertirem e, é claro, que juntas contam uma história minha.
Eu continuo com o mesmo pensamento neste álbum que lancei, mas acredito que muito mais confiante de mim mesma e daquilo que me propus a fazer. É um álbum pop, claro, mas o colocaria muito mais próximo do latin pop e da música urbana. Temos canções de cumbia, dembow e reggaeton que permitem encaixá-lo em urbano. Categorias à parte, é um álbum mais pessoal e menos comercial, acredito. É por isso que desacreditei do sucesso de Mujer Bruja. À época de lançamentos anteriores com uma pegada sonora mais cultural, o desempenho ficou bem aquém daqueles que tive com canções mais “globais”. É uma realidade infeliz, mas espero que neste álbum possamos romper com esse pré-conceito.
Qual foi o maior desafio que você enfrentou durante a criação deste álbum?
Lidar com a insegurança, eu acho. Nas minhas falas eu consigo perceber que muito pouco transparece dessa faceta, mas todos os meses em que me preparei para o lançamento de Hasta Que Salga El Sol foram permeados por muita insegurança. Não sabia se era o caminho correto a seguir, sabe? É sempre uma aventura esse período de pré-lançamento de álbum. A gravadora tinha dado OK para o projeto anterior que era muito mais comercial que esse, e eu e minha equipe ficamos realmente receosos de algo atrapalhar o nosso trabalho no quarto disco.
Querendo ou não, estamos sempre lidando com as expectativas alheias além das nossas. Por trás de um álbum há sempre um grupo de empresários te cobrando por dinheiro, os fãs de um lado e, por último, você mesma. Dessa vez, contudo, tentei pensar mais em mim que nos outros. Afinal, se eu não me sentir realizada e feliz com aquilo que fiz, como esperar que meus fãs também o sintam? Então todo esse processo me levou a mergulhar na minha própria insegurança.
Como o cenário musical atual influenciou as escolhas artísticas deste álbum?
Acho que eu devo voltar ao que havia preparado para o EDÉN e as decisões que me levaram a construir um projeto novo. Eu sempre fui uma artista que se posicionava no gênero pop, mas com a minha essência latina; isso é um ponto. Contudo, algo que fui percebendo, é que eu estava imersa em influências estrangeiras e a minha cultura ficou em segundo plano. Eu lançaria o EDÉN, mas quando me disseram “acho que você tem que se desafiar” tive uma crise de identidade. Quem era eu? Eu não sabia, e como não sabia, as minhas músicas daquele álbum também não significavam nada, foram feitas por ninguém. Depois que percebi isso foi muito fácil jogar tudo na lata do lixo e recomeçar do zero.
O cenário atual é repleto de artistas que exploram gêneros diversos e que dão a cara a tapa para reafirmar-se enquanto artista. Isso me tocou profundamente quando, por exemplo, pensei em Plastique, Stefan e Tieta. São três nomes aos quais admiro, que buscam se reinventar a cada trabalho novo, mantendo, é claro, sua essência. Foi a partir disso que tive a ideia de ir em direção às minhas raízes, à minha infância e daí buscar a mim mesma. Esse é álbum que eu grito e homenageio todas as cantoras, cantores e bandas que tocavam nas rádios de manhã cedo e que coloriam o meu café da manhã.
Este álbum possui elementos visuais específicos ou uma narrativa visual que o acompanha?
Diferente do DESENCANTO, o planejamento visual para esse álbum é mais sóbrio, mais contido. Tínhamos um quê de psicodélico no DESENCANTO aliado a uma pegada mais futurista. Nesse disco, nós realmente pensamos que deveríamos ir mais devagar. Então a paleta de cores segue o branco, em primeiro plano, mas mesclando cores mais vivas que são a minha marca também: o vermelho, o rosa, o preto, o azul. A cor predominante é branca, mas outras cores também fazem parte dessa narrativa.
Em nenhuma das minhas eras eu estabeleci uma ligação visual restrita entre as partes. No fim, por mais que um álbum seja coeso, acredito que cada canção tem sua individualidade. Talvez o meu segundo álbum tenha tido algo mais forte em relação a isso, acredito. Para o quarto álbum pensamos em algo mais sóbrio, como falamos, mas queremos muito explorar o misticismo de contos latino-americanos; por isso, vão encontrar muitas referências do mundo espiritual, de roupas características de festejos locais, enfim. É um álbum que busca religar a minha conexão com a cultura latino-americana, pensando ela num todo, não apenas ao México.
Há uma faixa em particular que você acredita que irá surpreender seus fãs de uma maneira única. Pode nos contar mais sobre ela?
Acho que quem já ouviu o álbum já sabe qual é. Ela se chama Espada e é a minha primeira canção em que eu canto rap. Isso é inédito. Foi muito divertido gravar a canção. Eu ouço muito, mas nunca tinha tentado entrar nesse gênero. É óbvio que estou apenas começando e tenho muito a melhorar, mas fiquei satisfeita com ela.
Liricamente a faixa conta uma história de embate entre mim mesma e o mundo. O mundo é representado por uma pessoa, conhecida, que traja uma espada consigo. A figura da espada para mim é a personificação da violência ao qual nosso mundo está rodeado. Como pessoa pública me vejo rodeada de celulares, câmeras e… tudo isso me violenta de alguma forma. A privacidade não existe mais; meu corpo não é mais meu. Tudo isso é violência. E ESPADA é justamente sobre combater todos os comportamentos violentos aos quais estamos sendo cotidianamente expostos.
Qual é a importância das letras das músicas neste álbum? Elas contam uma história específica?
Não estamos falando de um álbum que conta uma história única, sabe? Ao mesmo tempo que elas dialogam entre si, são independentes. Talvez a exceção, sejam as duas primeiras faixas que contam essa história de vilania, mas acredito que não. A ideia era proporcionar diversas sensações em doze faixas que possuíssem significação isoladamente, mas que, ao nível mais amplo, se conectarem com as demais.
Como o tempo e o lugar em que você está atualmente na sua vida se refletem nas músicas do álbum?
Recentemente fui premiada como a Artista do Ano em 2027 e isso tem um peso gigantesco em cima de uma artista. Esperam muito de mim por receber uma das principais categorias do GRAMMYs, mas eu só quero fazer música. E, ao mesmo tempo, entendo as cobranças. Fui agraciada com tal prêmio e me sinto no dever de fazer jus a ele. Mas essa é uma situação dúbia. Primeiro, estou sendo motivada por uma força externa que pode ou não gostar daquilo que propus e, se não gostarem, não vai adiantar muito ter feito tudo o que fiz, eles irão apenas criticar. Segundo, eu poderia não gostar daquilo que fiz, pois pensava em agradar outrem e não a mim mesma.
Eu não gosto da ideia de me chamarem de la reina del pop; não gosto de me pôr neste lugar de superioridade frente às minhas colegas de indústria. Eu me divirto por que é engraçado, mas me pego refletindo sobre o peso disso tudo em mim e nas outras. É estímulo a uma competição inútil. Somos todas rainhas e todas teremos nosso lugar no mundo. Há, obviamente, questões materiais que condicionam determinados lugares e posições que você ocupa. Eu, por exemplo, como uma mulher branca, tenho muito mais oportunidades que uma mulher negra ou indígena.
Atualmente estou sendo eu mesma como sempre pensei. Não me importo com números, apesar de achá-los importante. É consequência do meu trabalho, apenas isso, e do amor dos meus fãs que consomem ele.
Se você pudesse descrever o álbum em três palavras, quais seriam?
Felicidade, superação e autoconhecimento.
Como você vê o papel da música na cultura contemporânea e como seu trabalho se encaixa nesse contexto?
Como já falei em alguns outros momentos, a música se torna uma arma de posicionamento dos artistas, cujo potencial não se limita a angariar streams em plataformas digitais. Eu quero que a minha música auxilie meus fãs a se empoderar. Não é alienação. Acredito que outros artistas não tenham essa noção da dimensão da música, mas é apenas uma questão de tempo que tenham esse discernimento.Neste álbum eu busquei resgatar as minhas origens e, para além de ter sido uma escolha afetiva, foi também uma escolha política. Os grupos políticos de extrema-direita que se levantam em todo o mundo, estão concretizando uma série de políticas anti-imigratórias que afetam muito o povo latino que sai de sua realidade para buscar um mundo melhor. Em especial nos Estados Unidos. Como não lembrar quando, no governo Trump, eles enjaularam crianças latinas?
Deste modo, HASTA QUE SALGA EL SOL é também um pequeno movimento para que a minha cultura se levante e possa ser ouvida em todo o mundo. Chega de perseguição e de exclusão. Nós também temos talento, muito mais que as amarras dos preconceitos é incapaz de enxergar. É por isso que decidimos focar nossa divulgação na América Latina. Quero ser reconhecida pelo meu povo.
E em músicas como ADICTO e ANA eu penso em assuntos mais específicos que já me tocaram em algum momento da minha vida. A anorexia e o abuso foram realidades indissociáveis do meu comportamento como pessoa; e de outras pessoas também. Meu álbum é político. Eu tomo a decisão de rasgar todos os estereótipos e mandá-los à merda! Somos artistas como qualquer outro, ou melhor, somos melhores.
O que você espera que seus fãs sintam ao ouvir este álbum pela primeira vez?
Ouvir um álbum ou música pela primeira é sempre uma sensação de angústia. Temos sempre uma certa expectativa acerca dos nossos artistas preferidos. Então, eu imagino que aqueles que estão ouvindo o álbum pela primeira vez pensamentos como: “meu deus, que merda é essa?” ou “meu deus, que hinário” estão afluindo. Estou doida para poder saber o que acharam do disco.
Lembro que a primeira vez que eu o ouvi completo, chorei no banho por oito dias consecutivos. Ia banhar, lembrava do álbum e chorava. Eu estava tão emocionada com o trabalho que fizemos. Mal podia esperar para lançá-lo ao mundo e fazer com que as pessoas vejam mais de mim e das minhas origens. Foi um sentimento renovador.
Como você equilibra a autenticidade artística com as expectativas dos fãs ao criar música?
Acredito que hoje eu enxergo essa relação de maneira bem mais simples. Eu faço música hoje, que eu gosto; e que também são as que meus fãs gostam. Não há uma dissociação entre mim e eles. Penso que aqueles que me acompanham até aqui estão satisfeitos com os rumos e sonoridade que venho assumindo ao longo dos anos. Eu nunca lancei nada sem realmente gostar daquilo que estava levando ao mundo. Não é do meu feitio como artista. Gosto de gostar do meu trabalho. Se fosse diferente, qual seria o sentido?
Você teve a oportunidade de explorar novos gêneros musicais neste álbum. Qual foi o sentimento?
Eu me senti realizada. A cumbia, por exemplo, ouvi muito na minha infância e poder ter a oportunidade de gravar músicas que exploram tal ritmo musical me fez feliz a cada dia de gravação. E sabe que pensei que daria muito ruim? Eu ouvi muito, mas nunca tinha parado para pensar que um dia realmente eu lançaria singles e álbum que seguissem essa sonoridade.
Outro gênero que me desafiou foi o rap, nossa, foi incrível. Fizemos uma sessão de inspiração ouvindo artistas já reconhecidos para nos inspirar. Foi tão divertido. Rimos bastante e conseguimos uma canção que, como falei, apesar de ser de uma iniciante, está ótima.
Como o processo de criação desse álbum se conecta com a sua identidade como artista?
Foi um processo de renovação e assim me identifico com o momento da minha identidade. Eu estou constantemente me renovando. Quando da criação do disco como ele está, eu passava por uma crise de identidade que nunca vivenciei antes. Não sabia quem eu era, o que queria fazer. O mundo parecia estar desabando sobre os meus pés, entende? Então, a partir do momento que conseguimos construir a espinha dorsal do disco, eu também me reconhecia enquanto artista. A Sofía de DESENCANTO havia sido suplantada por outra: exatamente igual, mas totalmente diferente.
Como a cultura e as experiências da sua terra natal influenciaram a criação deste álbum?
As experiências e a cultura que vivi ao crescer influenciaram profundamente as letras e melodias deste trabalho. Cada canção é uma expressão autêntica das minhas raízes, e eu quis compartilhar um pouco da riqueza da minha herança cultural através da música. É uma celebração da minha identidade, é uma forma de homenagear as influências que moldaram quem eu sou como artista. Espero que ao ouvir o álbum, as pessoas sintam essa conexão especial com as minhas origens e possam se identificar com a autenticidade que quis transmitir.
Existe uma música que, para você, encapsula perfeitamente a essência deste álbum?
Hasta Que Salga El Sol, com certeza, não à toa que o disco leva o nome dela. Essa canção é divertida, repleta de referências. E sendo ela uma colaboração, eu imagino como um hino à amizade. Rique e éramos na próximos, só realmente pela Plastique. Mas o menino é muito bom naquilo que faz. E ele aceitou rapidamente o convite. Eu fiquei agraciada com a presença dele no estúdio. Fomos levados à um estágio emocional de felicidade ao qual eu nunca estive preparada. Todo o cenário musical que nos cerca é mega competetivo e as coisas boas, contudo, aparecem muito pouco. E por isso é uma canção tão divertida, possui um fundo bem bacana.
Como você enxerga a relação entre moda e música, especialmente quando se trata da sua imagem como artista?
Olha, a moda é um componente essencial para aqueles que estudam e vivem disso, mas, para mim, o que importa é a música. De nada adianta visuais bonitos se a música não for boa. Então, eu dou prioridade ao que deve ser prioridade. Exceto se seja algo realmente imprescindível para o trabalho que o artista se propõe, não vejo necessidade em seguir um dress code para toda a era. Imagina que chato vestir a mesma roupa por que o conceito do álbum impõe isso? Imagino que seja um pesadelo. Então, para quem gosta, acho ótimo. Para mim, a moda não influencia no que faço musicalmente, embora goste de desfilar nos tapetes das premiações, enfim. Na música isso nunca foi um problema.
Como você lida com as expectativas que cercam o lançamento de um álbum, especialmente depois do sucesso de projetos anteriores?
Eu faço o que posso [risos]. Está além de minha garantir que gostem ou não, mas faço disso uma missão. Se eu gostei, tenho um parâmetro bom para saber se quem me admira vai gostar ou não. O sucesso dos álbuns anteriores é um peso, mas não é determinante para mim. Não gosto de pensar que “ah, esse tem que vender um bilhão de cópias para compensar o anterior” ou algo do tipo. Isso aprisiona muito o artista e digo sapo por conhecimento de causa. Fui assim na passagem do primeiro para o segundo álbum e foi muito nocivo.
Se você pudesse escolher uma pessoa, viva ou falecida, para ouvir este álbum e dar feedback, quem seria e por quê?
Vou falar duas, uma viva e uma morta. A pessoa viva que eu colocaria para ouvir seria a Alexa. Ela está se tratando de depressão e vício em cocaína e não tivemos mais contato desde então. Sinto a falta de sua voz, de seu carinho. Alexa é uma grande amiga a qual quero levar para a vida. Acho que iríamos fritar e curtir muito esse disco. Sem drogas, claro. Eu fiz PROERD.
Agora, uma morta… seria a Selena Quintanilla. Ela foi a principal inspiração para o disco e seria uma honra poder saber que ela está me ouvindo, sabe? E que ela, enquanto uma mulher pioneira, vê que outras estão conquistando o mundo sendo cantoras. Infelizmente a sua vida foi ceifada por uma maníaca, pois o futuro que lhe aguardava era de sucesso mundial. Amo esta mulher e a suas músicas. Sinto sua falta e espero que HASTA QUE SALGA EL SOL chegue no paraíso em breve.
Como o título "HASTA QUE SALGA EL SOL" representa a jornada emocional do álbum?
Ele é bem literal, sem segredos. Até que o sol saía estaremos nos divertindo e rompendo com os entraves da vida. O sol nunca sai. Então eu convido a todos à, todos os dias, a qualquer momento, levantar-se para a vida. O disco é uma celebração de vida! Da primeira canção até a décima segunda eu tento mostrar o que há de melhor em mim. Eu me considero uma guerreira por conseguir atravessar todos os obstáculos que me foram apresentados em meus vinte e oito anos.
O que os fãs podem esperar da turnê relacionada a este álbum e como você planeja conectar-se com eles através da música ao vivo?
Em breve faremos o anúncio da turnê e já posso adiantar algumas coisas. Será a maior turnê que já fizemos. Se a DESENCANTO TOUR foi gigante, podem esperar algo ainda mais gigantesco para os novos shows. Será uma turnê em arenas e estádios, nos principais pontos de todo o mundo. Uma turnê mundial é sempre cansativa, mas eu amo estar nos palcos. Sentir a energia dos fãs a cada show, em lugares distintos, é uma parte essencial da minha carreira. Não imagino como seria ela sem essa conexão.
Cantar as minhas músicas ao vivo, olhando para uma multidão que sempre me acompanha, longe dos estúdios e da perfeição. Nos shows os fãs percebem que, às vezes, desafinamos, temos crises de ansiedade, cansamos muito facilmente. A vida de artista é difícil e são nesses momentos mais íntimos, por mais que não possa parecer, eles podem ver muito de nós.
O que mais os fãs podem esperar de Sofía em 2028?
Olha, acho que vocês não sabem o que está por vir. A turnê vai ser grandiosa e meus planos para a música, mas também para o cinema estão me animando. Eu queria muito poder contar absolutamente tudo para vocês, mas o que posso adiantar é que vocês irão gostar muito e, para aqueles que me acompanham desde o início, verão um sonho meu realizado. A Sofía de ontem celebra a Sofía de hoje por saber que os desejos estão sendo realizados.
Vamos ter músicas para trilhas sonoras de filme, acho que isso pode adiantar. E será um filme ao qual eu mesma serei protagonista [risos]; o meu filme com a Netflix finalmente virá ao mundo e está muito divertido. É uma comédia romântica, estilo retrô e cheio de clichês. Eu tenho certeza que todos irão adorar.