[EUR] SOFÍA X A LATIN STORY (DOCUMENTÁRIO - BBC)
Dec 7, 2023 13:22:55 GMT
Post by adrian on Dec 7, 2023 13:22:55 GMT
[DIVULGAÇÃO PARA MUJER BRUJA]
Dias após o lançamento do primeiro single do mais novo trabalho de Sofía, a rede de televisão britânica BBC anuncia um documentário a respeito da história e da vida da cantora latina. A produção audiovisual se lança na tradição mexicana da artista e celebra a sua carreira retornando às suas origens em entrevista com familiares e amigos. O documentário é roteirizado, apresentado e dirigido por Emanuela Sanchez.
A câmera panorâmica sobrevoa toda a Cidade do México, local em que Sofía foi criada desde os seus cinco meses de vida. Ao longo do trajeto vislumbram-se ambulantes, pessoas, que viviam suas vidas normalmente, mas que, mesmo sem querer, compartilhavam da vizinhança com a maior estrela pop da América Latina e, quiçá, do mundo. A voz da apresentadora se sobrepõe ao som ambiente.
[Emanuela Sanchez] Criada em uma pequena casa da cor rosa em Coyoacán, na Cidade do México, Sofía foi criada e educada por dois pais espanhóis. Ariana Ocaña e Taylor Ocaña se mudaram para o México após a falência dos negócios da família e, buscando novas oportunidades, chegaram à América Latina com uma mala, um bebê e um sonho. O sonho, contudo, se converteu em uma estrela da música pop mundial. Hoje conheceremos um pouco da infância e da juventude de Sofía.
Ao final da frase, a câmera adentrava lentamente em vielas recheadas de grafites e as mais diversas imagens da população vivendo sua vida normalmente. Emanuela passeava pelas ruas enquanto vestia um sobretudo da cor rosa que escondia o restante de seu visual. Aos poucos se aproximava de um pequeno parque localizado bem no centro de Coyoacán. A apresentadora parecia deslizar entre as verdes gramíneas que cobriam o solo de um México primaveril. Em um dos bancos do parque estava sentada uma senhora que aparentava cerca de oitenta anos. Em seus ombros caídos, fios de seu cabelo extremamente branco caíam sobre o seu membro. Vestia um simples vestido florido e esperava para conversar com Emanuela.
[Emanuela Sanchez] Dona Margarida! Que prazer conhecê-la, finalmente. Depois de tantas reuniões online sobre a história da sua família e de como esta afeta a carreira de sua neta, podemos falar pessoalmente sobre o grande fenômeno que é Sofía.
[Avó Margarida] Querida, você não sabe o quanto me fez feliz nos últimos meses, tendo a oportunidade de recuperar histórias da minha família e do quanto a minha neta é essencial para o sustento da nossa família.
[Emanuela Sanchez] O prazer é todo meu, querida. Você mencionou a importância de Sofía para o sustento da sua família, certo? Nas minhas pesquisas pude compreender o forte vínculo afetivo que ela mantém com vocês mesmo depois de se tornar uma estrela global, incluindo o sustento financeiro dos estudos de primos, por exemplo.
[Dona Margarida] Ficamos surpresos, para falar a verdade. E não por ela ser ingrata conosco, muito pelo contrário, mi cariño sempre foi uma estrela radiante e não negava ajuda a quem quer que fosse. Só que sempre vemos como a fama e o dinheiro muda a índole das pessoas, motivo pelo qual ficamos receosos de como nossa menina iria ser transformada por este novo ambiente.
[Emanuela Sanchez] A fama de Sofía amedrontou vocês?
[Dona Margarida] Todos nós, querida. Inclusive a própria Sofía. Sair do anonimato para a fama que ela tem hoje era impensável até mesmo para o maior sonhador entre nós.
[Emanuela Sanchez] E como vocês e ela driblaram essas adversidades percebidas?
[Dona Margarida] Com muita persistência na educação que proporcionamos a ela durante a infância e adolescência. Apesar de um mundo renovado e repleto de perigos, Sofía sempre foi ensinada a ser bondosa e caridosa com aqueles que precisassem. Tivemos medo, mas tínhamos esperança de que ela não mudaria. E estávamos certos. O primeiro salário dela foi dedicado a pagar a mensalidade da escola de um de seus primos.
[Emanuela Sanchez] Conte-nos um pouco, por favor, como era a Sofía na infância e sua relação com a música.
[Dona Margarida] Ah, minha querida Sofía, desde pequena já mostrava um amor especial pela música. Lembro-me de vê-la brincando com instrumentos musicais improvisados, como colheres de pau transformadas em microfones, e cantando pela casa. Ela sempre teve uma voz encantadora, tão pura e cheia de emoção, mesmo pequena. A música sempre foi uma parte importante da nossa família, e creio que isso influenciou a paixão dela desde cedo. Acho que o dom estava nele desde o começo, como se a música corresse em suas veias.
[Emanuela Sanchez] E vocês incentivaram essa carreira? Nós sabemos que não é um ofício muito fácil.
[Dona Margarida] Oh, com certeza! Desde o início, nós sempre incentivamos a Sofía a seguir seus sonhos, especialmente quando se tratava de música. Claro, sabemos que o caminho na indústria musical pode ser desafiador, mas acreditamos no talento dela e na paixão que colocava em cada nota. Lembro-me de passarmos horas juntas, cantando canções tradicionais mexicanas e compartilhando histórias sobre a música que moldou nossas vidas. Sempre soubemos que a jornada seria difícil, mas o importante para nós era que ela seguisse aquilo que a fazia feliz. Estamos incrivelmente orgulhosos da trajetória dela e de como ela enfrentou os desafios com tanta determinação.
[Emanuela Sanchez] Sofía foi um prodígio desde mais nova, então. Hoje ela é uma mulher que não tem medo de se posicionar e, infelizmente, é muito atacada por isso. Como vocês, familiares, lidam com todo esse ódio voltado a ela?
[Dona Margarida] Sim, ela sempre demonstrou um talento excepcional desde jovem. Quanto aos desafios que ela enfrenta agora, é verdade que o caminho dela é marcado por opiniões diversas. Em nossa família, sempre nos apoiamos mutuamente. Nós a amamos incondicionalmente e estamos aqui para apoiá-la, não importa o que aconteça. Acredito que o amor da família é um alicerce fundamental para enfrentar as adversidades. Lidamos com o ódio e as críticas da melhor maneira possível, focando no amor e na compreensão. Sempre ensinamos à Sofía a ser fiel a si mesma e a nunca comprometer seus valores. É difícil ver alguém que amamos sendo alvo de ataques, mas sabemos que ela é forte e resiliente. Estamos aqui para apoiá-la emocionalmente e lembrá-la de que o mais importante é ser autêntica consigo mesma, independentemente do que os outros possam dizer.
A imagem de ambas as mulheres foi substituída por um vídeo no qual mostrava os diferentes tipos de ataques virtuais que a cantora sofreu nos últimos anos. As imagens eram exibidas enquanto uma música dramática preenchia toda a tela. Em seguida, estávamos na cidade, porém, em uma casa modesta e duas pessoas ali estavam sentadas atrás de uma mesa repleta de comidas. Eram os pais de Sofía.
[Emanuela Sanchez] Evaluna e Camilo, vocês são espanhóis e vieram com a Sofía bem pequena para o México. O que levou vocês a virem para cá e quais os medos envolvidos nessa viagem?
[Evaluna Ocaña] Bom, nós viemos para o México quando Sofía ainda era muito pequena. A decisão de mudar foi motivada por uma série de fatores, principalmente a busca por oportunidades na carreira de Camilo e meu desejo de criar uma base sólida para nossa família. O México é um país incrível, cheio de cultura e calor humano, e nós nos sentimos abraçados pela riqueza musical e pela hospitalidade do povo mexicano.
Claro, como em qualquer mudança significativa, havia alguns medos. Medo do desconhecido, de como seria construir uma nova vida longe de nossas raízes. No entanto, acreditamos que era uma decisão necessária para o crescimento de nossa família e para perseguir os sonhos que tínhamos na música. O México se tornou não apenas nosso lar, mas também um lugar onde Sofía pôde florescer musicalmente, e estamos muito gratos por isso.
Claro, como em qualquer mudança significativa, havia alguns medos. Medo do desconhecido, de como seria construir uma nova vida longe de nossas raízes. No entanto, acreditamos que era uma decisão necessária para o crescimento de nossa família e para perseguir os sonhos que tínhamos na música. O México se tornou não apenas nosso lar, mas também um lugar onde Sofía pôde florescer musicalmente, e estamos muito gratos por isso.
[Emanuela Sanchez] Como era Sofía na escola? Tinha muitos amigos ou era mais reservada como ela é hoje?
[Camilo Ocaña] Sofía sempre foi uma criança muito carismática na escola. Desde pequena, ela tinha uma energia contagiante que atraía os outros. Ela tinha facilidade em fazer amigos e sempre se destacava por sua simpatia e amor pela vida. Sua paixão pela música também a tornava única, e muitos colegas ficavam fascinados com o talento dela desde cedo.
No entanto, apesar de ser extrovertida, Sofía também tinha um lado mais reservado. Ela apreciava momentos tranquilos para se concentrar em sua música e em seus próprios pensamentos. Essa característica mais introspectiva sempre esteve presente, mesmo quando era mais jovem. Hoje em dia, vemos como essa combinação de extroversão e reserva contribui para a autenticidade e profundidade que ela traz à sua arte e à maneira como se posiciona no mundo.
[Emanuela Sanchez] Hoje a Sofía é uma popstar e justamente por isso o nome dela está envolvido em diversas polêmicas. As principais, contudo, sempre resvalam para o lado do machismo e da misoginia. Inclusive de colegas da indústria musical. Como vocês veem isso?
[Evaluna Ocaña] Como mãe, é difícil ver minha filha enfrentando discriminação e desrespeito apenas por ser uma mulher na indústria da música. No entanto, sabemos que esses desafios são uma triste realidade para muitas mulheres na sociedade e na indústria. Nós a apoiamos incondicionalmente em sua luta contra o machismo e a misoginia. Acreditamos que é fundamental levantar a voz contra essas injustiças e trabalhar para criar uma indústria musical e uma sociedade mais justas e igualitárias. Encorajamos Sofía a ser forte, a não se curvar diante da pressão, e a usar sua plataforma para inspirar mudanças positivas. A batalha contra o machismo é uma luta coletiva, e estamos ao lado dela para enfrentar esses desafios juntos.
[Camilo Ocaña] Apesar de muitas vezes estarmos separados pela distância, sabemos que nossa menina sofre com todos esses ataques e buscamos estar presentes e auxiliá-la no que precisa. É difícil e doloroso ver uma garota tão gentil e tão frágil sendo atacada de maneira tão vil como ela está. Sofía é uma mulher forte, mas que tem seus momentos de queda. Estaremos sempre lá para segurá-la quando for preciso.
[Emanuela Sanchez] Vocês falaram de distância e ela está por aí, desbravando o mundo. Como vocês, sendo genitores, enxergam o sucesso de Sofía?
[Camilo Ocaña] Ver nossa filha desbravando o mundo da música e conquistando seus sonhos é uma alegria indescritível. Desde que ela era pequena, cultivamos um ambiente que incentivava a busca pelos objetivos dela, e vê-la alcançando tantas realizações, é uma recompensa para todo o apoio e amor que investimos nela. Ao mesmo tempo, entendemos que o sucesso vem com desafios, especialmente no cenário público. Estamos cientes das pressões e críticas que ela enfrenta, mas estamos aqui para apoiá-la emocionalmente e orientá-la da melhor maneira possível. Queremos que Sofía saiba que o sucesso vai além das paradas musicais e prêmios; é sobre ser fiel a si mesma, espalhar amor através de sua arte e impactar positivamente a vida das pessoas.
[Evaluna Ocaña] Nosso desejo é que ela continue a crescer como artista e como pessoa, mantendo-se verdadeira a seus valores e encontrando alegria no caminho que escolheu. O sucesso é maravilhoso, mas vê-la feliz e realizada é o que mais importa para nós como pais.
[Emanuela Sanchez] E vocês nunca tiveram vontade de se envolver na carreira de Sofía? Acompanhá-la em shows e similares?
[Evaluna Ocaña] Estamos presentes em eventos, shows e gravações sempre que possível, oferecendo nosso apoio emocional e celebrando a sua carreira. Além disso, fornecemos conselhos quando solicitados, garantindo que ela tome decisões informadas em sua carreira. É uma bênção poder compartilhar esses momentos significativos com Sofía e testemunhar o crescimento dela como artista. Nossa participação ativa na carreira dela é uma expressão do amor e apoio que temos por ela, buscando sempre garantir que ela siga o caminho que a faz feliz e realizada.
Em seguida são mostradas imagens da infância de Sofía. Uma delas chama atenção pela garota estar reunida com outras três meninas em um grande abraço. A fotografia possuía uma legenda no rodapé que ficava cada vez mais visível com o zoom dado às palavras ali escritas em uma letra cursiva bem desenhada: “en recuerdo de: luna, zeta y gina”.
Tela preta. A voz de Sofía ouvia-se ao fundo do vídeo e ela parecia estar rindo. Uma imagem sua em um dos primeiros momentos de sua carreira no palco era exibida no momento em que um áudio seu, enviado para a sua mãe, era reproduzido junto à uma legenda no canto inferior centralizado.
[Sofía] Mãe, eu não aguento mais. (som de choro). É tão difícil viver isso. Ao mesmo tempo que sinto que estou realizando um sonho, é como se estivesse imersa em um pesadelo. É doloroso ver que eles me odeiam e a troco de nada. Eu não aguento mais. Eu não aguento mais. Quando eles irão parar? Quando eles irão parar?
Em seguida, o som se cessa e imagens diversas vão preenchendo toda a tela do vídeo. Estas, por sua vez, mostravam tweets de anônimos e famosos - como Caleb Roth e Harmon Moore - em que Sofía é atacada. A dimensão dos ataques é tamanha que a conexão com o áudio recém reproduzido é instântaneo. A imagem da Emanuela retorna aos olhos do público. A apresentadora está andando em algo que parece um túnel, mas é, na verdade, um cenário reproduzido em estúdio. Em sua caminhada diversas imagens de Sofía são reproduzidas à esmo. Havia chegado à uma mesa redonda, pequena e com duas cadeiras. Sentou em uma delas e esperou. Respirou fundo e se pôs a falar.
[Emanuela Sanchez] Você aí de casa pode, muitas vezes, pensar que a vida de uma artista de sucesso como a de Sofía é recheada apenas de vitórias, de glórias, de muito dinheiro. Mas, jamais nos esqueçamos, de que os artistas que consumimos seus trabalhos, por mais famosos que sejam, ainda são humanos e são afetados pelos desencontros da vida. E assim acontece com a nossa estrela latina.
[Emanuela Sanchez] Este documentário se justifica por considerarmos que a cultura latina, que a pouco vem ganhando espaço na indústria musical, precisa ser ouvida e que os seus membros são, para além de grandes nomes da música, humanos. E para isso, convidamos Sofía para ser a nossa primeira protagonista. Que possamos recebê-la, então: acostumada a ser antagonista, nossa protagonista é Sofía!
Sofía surgia do breu e olhava para a câmera decidida, mas com um sorriso calmo em seus lábios avermelhados. Seu cabelo curto estava em um tom avermelhado e a maquiagem em seu rosto era leve. A sua vestimenta era simples: composta por uma calça da cor preta, um cropped da mesma cor com o seu nome estampado em letras brancas e um casaco jeans também preto.
[Sofía] Olá, a todes! Estou muito grata por estar aqui hoje celebrando não só a minha história, mas também a cultura latina como um todo. Depois de muitos anos no esquecimento e na marginalidade, creio que finalmente conquistamos um espaço só nosso.
[Emanuela Sanchez] Nós agradecemos a sua disponibilidade em vir aqui e também de abrir o grande baú da sua história desde a mais tenra idade. Sabemos, pois eu também sou uma mulher latino-americana, da dificuldade de se conquistar espaços sendo quem nós somos; você, contudo, é uma das principais figuras de exemplo que jovens garotas latinas têm quando o parâmetro é sucesso.
[Sofía] Acho que já falei disso anteriormente, mas gosto sempre de reiterar: não me considero exemplo para ninguém. Fico honrada de que a minha trajetória seja uma inspiração para esta nova geração, mas não posso perder de vista que tive muito privilégio em tudo isso. Sou uma mulher branca e isso me levou mais longe, mesmo que intencionalmente. Mulheres negras, por exemplo, têm sobre seus ombros uma carga de estereotipia tão profunda, mas tão profunda, que pode ocasionar diminuição da autoestima quando se comparada às realizações de uma mulher branca como eu, por exemplo. Sempre tenho muito cuidado quando se trata desse tópico: todas vocês podem seguir e conquistar seus objetivos, mas não será fácil. E pode dar errado. Mas a persistência e a consciência de si mesma são pontos aos quais considero de extrema importância nessa trajetória.
[Emanuela Sanchez] Eu admiro muito a sua consciência, afinal, você não promete o impossível.
[Sofía] Que tipo de artista eu seria se dissesse que “vamos lá, todas vocês podem chegar aonde eu cheguei”? Seria uma mentirosa. Vivemos em um mundo desigual: as oportunidades são diferentes, o acesso a determinados lugares é orientado por sua cor, orientação sexual, classe social. Novamente, tive muitos privilégios. O caminho que eu percorri, embora difícil, foi facilitado por uma série de fatores sociais e culturais que não abarcam outras meninas, por exemplo. Imagina o quão difícil não é para uma cantora brasileira, negra e transexual como a Bru lidar com uma indústria que está, diariamente, tentando silenciá-la? Essa mulher tem um potencial incrível, sabe? E o reconhecimento é tão pequeno perto do talento dela. Não dá para ignorar essa desigualdade que assola a sociedade.
[Emanuela Sanchez] A Bru é um dos grandes nomes da indústria que vieram aos holofotes recentemente. E de fato, trabalhos como o dela repercutem como se fossem de nicho, o que implica dizer que o alcance é dirimido por essa distância social. Como você, enquanto artista consciente de seus privilégios, atua para atenuar os efeitos da desigualdade em seu cotidiano?
[Sofía] Bem, em primeiro lugar, acredito que diariamente busco conhecimento sobre outras formas de viver a vida. E de como essas vivências são desiguais e perpassadas por diferentes formas de opressão tais como a de gênero, raça, classe, orientação sexual, religião e tantas outras. Eu começo por aí: me abastecendo de conhecimento sobre o outro. Em seguida, busco auxiliar no que posso àqueles que necessitam de apoio. Ter um nome grande na indústria cultural me possibilita ter acesso à lugares e aos grandes figurões da mídia. Eu tento usar isso a favor daqueles que mais necessitam. No mais, me aproximo das causas e ajudo financeiramente, juridicamente quando necessário. Recentemente possibilitei a formação profissional de cem mulheres que, recém-saídas do cárcere, estavam à mercê do desemprego. Era provável que voltassem a cometer delitos, afinal, todos precisamos comer e por mais infeliz que seja, foi a única solução que encontraram anteriormente.
[Emanuela Sanchez] Algum motivo específico para esta relação com ex-presidiárias?
[Sofia] Sim. Quando eu tinha dez anos de idade fui vítima de uma tragédia que nenhuma criança deveria passar. Éramos um grupo de quatro meninas. E uma delas, não sabemos até hoje a motivação por trás disso, tentou nos matar em uma noite do pijama. E ela foi presa, em um internato para menores infratores, e de lá ela nunca mais voltou. Ela se foi por conta própria. E nós três nos separamos. Desde então penso em quantas mulheres estão lá dentro, sem serem ouvidas e apenas castigadas por um sistema cruel. Não defendo nenhuma prática criminosa, claro, mas por trás de cada delito há uma história por trás, um ser humano único. E eu quero que possamos entendê-las a partir de suas dores e que a sua recuperação seja assegurada. A morte dessa minha amiga foi infeliz e sinto que, apesar do que ela tenha feito, a sua vida lá no internato só piorou. Foi um final bem amargo. E até hoje não retomamos a amizade que tínhamos; algo se quebrou junto ao acontecimento da fatalidade.
Lágrimas saiam dos olhos castanhos de Sofia e a apresentadora ofereceu um lenço de papel para que pudesse enxugá-las. O silêncio tomou conta do estúdio e a cantora olhava compenetrada para a mesa de vidro que a separava de Emanuela.
[Emanuela Sanchez] É muito corajoso da sua parte, querida.
[Sofía] Sinto que essa é uma parte de mim que estava lutando para sair há muitos anos. Eu não sou essa dor, mas minha alma estava impregnada pelas sombras de um passado rememorado. Espero que falar possa me ajudar na libertação dessas sombras e, se assim o for, que possa libertar outras pessoas que possam ter passado ou estejam passando por alvo parecido.
Nesse instante a tela escurece. E surge em letras garrafas a palavra POLÊMICAS. Em seguida, as duas estavam novamente frente a frente para uma nova etapa da entrevista.
[Emanuela Sanchez] Você é conhecida por alguns por suas polêmicas, o que eu acho injusto, e embates com grandes figurões da música. Entre esses podemos citar a própria Bru, Lucca Lordgan, Vittor, Icaro, Hina Maeda, Caleb Roth e Harmon Moore. São muitos, né?
[Sofía] Bastante (risos).
[Emanuela Sanchez] Começaremos por aqueles que você já se resolveu. Conte-nos sobre a sua relação atual com Vittor e Ícaro.
[Sofía] Eu não sei se com os dois eu estou bem resolvida, mas se tiver oportunidade, gostaria de me desculpar todas as controvérsias que tive com ambos, principalmente o Vittor. Nós colaboramos em A Un Paso de la luna e foi em um reality-show que tudo isso começou e, em grande parte, por minha culpa. Ele é de fato uma pessoa iluminada e gostaria que pudéssemos reestabelecer uma conexão minimamente cordial. Já o Ícaro, tivemos alguns embates, mas nunca fomos próximos de verdade. Mas desejo que possamos também estabelecer uma nova etapa de paz. Eu adoro os dois e desejo sucesso para ambos.
[Emanuela Sanchez] Bru e Tieta foram grandes rivais suas dentro e fora do reality-show ao qual você participou. Como estão hoje?
[Sofía] A Tieta e eu estamos bem hoje, na verdade. Nós tivemos um pequeno relacionamento amoroso, mas descobrimos que separadas funcionamos melhor. A considero hoje uma grande amiga. Não que isso implique não poder beijá-la, mas estamos neste estágio. Eu errei bastante com ela, assim como ela errou comigo; mas são águas passadas na vida de ambas. Inclusive, penso até em chamá-la para uma parceria futuramente. Talvez até mesmo para este álbum.
Já sobre a Bru é bem mais complexo. Não foi só desentendimento entre nós duas, mas chegou ao ponto de que estive defendendo uma fala problemática da finada Monet, em que ela expressava toda uma série de pensamentos transfóbicos. Eu me calei na hora, não repudiei, e isso é o mesmo que concordar com o que ela disse. Foi um longo processo para entender a dimensão disso tudo. Demorei anos para falar sobre isso e pedir desculpas. Foi erro atrás de erro. Hoje me sinto confortável para falar sobre as minhas faltas e estudar para que nenhuma delas volte a se repetir. Bru, adoro você e espero que possamos trabalhar juntas em breve. Um beijo!
[Emanuela Sanchez] Aliás, recentemente você e Lucca Lordgan celebraram a reconciliação em uma canção.
[Sofía] Isso. Colaboramos em Mandame Un Audio e foi incrível. Novamente, nos distanciamos por desencontros e nos tornamos rivais. O que foi uma pena, na verdade, Lucca é um artista incrível e eu só tenho a agradecer por voltar a ter amizade com ele. A ideia da música, eu já falei anteriormente, era a de uma canção de amor: e o que mais significativo disso quando dois amigos entoam o seu amor um pelo outro? Conversamos e resolvemos todas as nossas questões.
[Emanuela Sanchez] E são dois exemplos de sucesso máximo. Les Hommes e DESENCANTO figuram no top 2 de álbuns mais vendidos deste ano.
[Sofía] Falar disso é tão estranho, sabe? Os números são importantes, claro, mas me parece tão pedante el alguns momentos. Agradeço a todes que compraram o álbum e o fizeram chegar tão longe. Foi um trabalhão para que ele viesse ao mundo e saber da repercussão positiva é um acalento para este coração preocupado com a percepção dos fãs.
[Emanuela Sanchez] Mas você merece, querida. Continuando aqui, temos a Hina Maeda.
[Sofía] Acho que toda essa confusão com Hina é mais hilariante que as demais. Nós não paramos para conversar, desde então venho tentado uma aproximação, mas nada realmente incisivo. Não sei, mas ela some bastante. Lança single e álbum para, logo em seguida, sumir no mundo. A admiro muito por isso, inclusive [risos]. Eu adoro as músicas e o estilo dela e, assim como o Lucca, considero que tenham sido os desencontros que nos levou ao desentendimento. Quero fortalecer todo esse networking que tenho com as mulheres da indústria para apoiarmos umas as outras.
[Emanuela Sanchez] Parece que a Harmon Moore não se encontra nesse nível de reconciliação, certo?
[Sofía] Eu não tinha nenhuma questão com ela, para ser bem sincera, mas acabou que um abismo surgiu entre nós duas, acentuada pelo relacionamento que ela tem com o Caleb Roth. Ele tem essa capacidade de obscurecer tudo e todos que estão ao seu redor. Hoje eu já não tenho mais paciência para lidar com esse tipo de gente que vomita arrogância. Ele eu entendo que o problema é a impotência sexual que tenta compensar através de seus comentários constante sobre sexo. Eu tenho pena dessa mulher, só isso. Acho, sim, que ela tem muito talento e o Clueless, álbum de estreia dela, comprova isso. E é problemático o quanto uma mulher forte tende a se diminuir quando se relaciona com um homem como ele.
[Emanuela Sanchez] E como você se sente tendo o Caleb como o seu principal rival?
[Sofía] Eu nem considero ele como rival, para falar a verdade. Em termos de público estamos bem distantes, sabe? Eu canto para um segmento e ele para outro. Não rivalizam diretamente. O meu problema com ele é realmente mais pessoal. Eu não vou conseguir te dizer como tudo isso começou, ou qual o estopim, mas me surpreendeu o quanto isso escalou, de ambos os lados. Eu nunca fui uma pessoa tão reativa como eu sou quando se trata dele. Eu lembro que não tivemos nenhuma interação real, apenas nos cumprimentávamos quando nos víamos e só isso. Acontece que, quando o ego de um homem como ele é ferido, uma coisa se acende nele. Acho que até hoje ele não conseguiu dormir com uma “imigrante ilegal”, ele se refere a mim dessa maneira até hoje.
[Emanuela Sanchez] Ele tentou uma aproximação com você?
[Sofía] Sim. Felizmente, para mim, eu não achei a minha boca no lixo. E outras coisas também. É um homem que se presta ao papel ridículo de atacar outras mulheres apenas porque não conseguiu se deitar com elas. E ele vai responder “nunca deitaria com nenhuma delas”, mas não deitaria porque nenhuma quer. Ele é a pessoa mais ordinária que eu já conheci na minha vida. E agradeço aos céus todos os dias por estar longe de alguém tão pequeno, em muitos sentidos, como ele. No mais, desejo coisas boas para ele. Espero que ele faleça.
[Emanuela Sanchez] Você já teve alguma experiência com assédio sexual ou algo semelhante? Eu sei que é uma pergunta difícil, mas temos diversos relatos de como a indústria musical é nociva para com mulheres, principalmente as estreantes como um dia você já foi.
[Sofía] Assédio mais direto não, mas sempre tem algumas piadas e olhares que nós sabemos o que verdadeiramente significa. Meu total apoio às mulheres que sofreram com abuso sexual e sequer imagino a dificuldade que tiveram em expor tudo isso. Somos constantemente silenciadas para não falar daquilo que nos fizeram, mas chega uma hora que isso cansa. Está na hora de ouvirem as nossas vozes, pois é apenas com a discussão e reflexão sobre a misoginia e o sexismo é que iremos avançar enquanto sociedade.
[Emanuela Sanchez] Dos muitos desafios que você enfrentou na música nesses últimos anos, quais você destacaria como o principal?
[Sofía] As relações interpessoais, eu acho. Aspectos como o sexismo e a xenofobia entram nesse tópico também. Eu tive muita dificuldade em me relacionar com as pessoas e acho que isso se mantêm até hoje. Não tenho uma grande rede de amigos, por exemplo. Talvez por ser reativa e, ao mesmo tempo, introspectiva, eu afaste as pessoas que estão ao meu redor.
[Emanuela Sanchez] Falando um pouco mais sobre o seu trabalho especificamente: nós sabíamos que você viria com um estilo mais próximo do eletrônico e, de repente, toda essa ideia foi descartada e uma nova veio. Então tivemos Mujer Bruja que é, em resumo, um hino latino e diferente daquilo que você propunha anteriormente.
[Sofía] Eu já falei disso, mas percebi que muitas pessoas não entenderam. A ideia de EDÉN era o de celebrar a vida, como se estivéssemos todos dançando em uma grande balada. O álbum todo seria como uma grande narrativa a respeito de uma noite de diversão com os amigos. Era um álbum mais divertido, mas as letras proporcionavam também uma reflexão maior sobre os desafios da vida. Até que dias antes do lançamento de LA REINA DEL POP, o primeiro single deste trabalho, conversei com alguns colegas e eles me alertaram para um aspecto que sempre me incomodou quando fãs e haters falavam do meu trabalho: que as minhas músicas pareciam sempre as mesmas ou que eu não saía de uma zona de conforto. Eu acho a ideia de “sair da zona de conforto” problemática, afinal, eu nunca estive nela. Não sei nem o cheiro desse lugar [risos].
Diante disso, eu decidi repensar os meus futuros lançamentos. Eu tinha engavetada uma ideia de retornar ao mundo latino por meio de uma perspectiva mística e a primeira figura que surgiu na minha mente foi a da bruxa. Essa figura, mulher, que é sempre uma transgressora dos padrões impostos por uma sociedade hierarquizada e conservadora. Eu me enxergo um pouco nessa categoria. Sempre fui podada e tida como uma intrusa. Então, Emília e eu escrevemos Mujer Bruja para celebrar o empoderamento feminino e repensar o lugar da feiticeira ou da bruxa nessa mitologia ancestral.
[Emanuela Sanchez] E todo o álbum seguinte, que se chamará HASTA QUE SALGA EL SOL, seguirá nesta mesma toada?
[Sofía] Sim! Será um álbum com uma pegada mais sexy, urbana e que não vai deixar de celebrar a vida. Eu estou me reconhecendo bastante nas músicas que venho pensado nessas últimas semanas. Estava feliz com EDÉN, mas com o álbum atual estou radiante. Mal posso esperar para que todes possam ouvi-lo e desfrutar de um trabalho que celebra a cultura latina em suas múltiplas dimensões. Estou ansiosa também para entrar em turnê e conhecer novos fãs e reencontrar os antigos.
[Emanuela Sanchez] Inclusive, recentemente foi divulgado que você dará continuidade à turnê mundial do álbum DESENCANTO.
[Sofía] Isso mesmo. Eu sentia que não pude me despedir verdadeiramente dos palcos com o DESENCANTO. Então, vai ser uma série de onze shows, todos na América Latina e nos Estados Unidos. Logo mais sairão as datas e podem esperar grandiosidade. Vamos estar em grandes estágios. Os novos shows prometem. E logo mais terá também a turnê mundial que promove o meu quarto álbum de estúdio. Como eu disse, amo estar no palco. Ouvir todos os fãs cantar alto a sua música, viver as letras como se fossem deles… é surreal. Eu sequer consigo descrever a sensação, sabe? Eu amo, amo e amo. Se algum dia tiver que escolher uma única coisa para fazer o resto da vida com certeza seria viajar e cantar pelo mundo.
A imagem de Sofia se desfez e as imagens que se seguiram-se mostraram uma retrospectiva breve dos shows da cantora.
A imagem seguinte exibiam os próximos acontecimentos que iriam ao ar na semana seguinte, nas quais Sofía fala abertamente sobre a sua bissexualidade, romances juvenis e faz um apanhado geral de cada álbum seu.
A imagem seguinte exibiam os próximos acontecimentos que iriam ao ar na semana seguinte, nas quais Sofía fala abertamente sobre a sua bissexualidade, romances juvenis e faz um apanhado geral de cada álbum seu.