Ao subir ao palco, Tieta é recebida com uma salva de palmas entusiasmada pelo público do M!C, que aguarda ansiosamente para ouvi-la. A música começa com os acordes característicos do violão e com um triângulo nordestino, criando uma atmosfera envolvente e diferente para o público que costumava consumir o programa. Os demais instrumentos se fundiam ao início enquanto Tieta dançava no centro do palco com um vestido típico do sertão e descalça, ela girava fazendo com que o tecido da roupa esvoaçasse.
Glória, a Deus senhor nas alturas
E viva eu de amarguras
Das terras de meu senhor
Assim que Tieta solta a primeira nota, a plateia é imediatamente envolvida pela sua presença. Ela entona sua voz, cheia de nuances e emoção, trazendo à tona toda a energia e o drama da letra de "Carcará". Ela conta a história do pássaro do sertão, símbolo de resistência e luta contra a seca e a pobreza nos anos 50 e tenta fazer com que cada palavra ganhe vida. Ela cantava pausadamente, dando ênfase às características da ave.
Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará quando vê roça queimada
Sai voando, cantando, carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Enquanto canta, Tieta andava pelo palco transmitindo uma intensidade por meio de sua expressão facial e movimentos corporais sutis. Sua entrega apaixonada à música é evidente em cada gesto e olhar. Ela se conecta profundamente com a letra e a melodia, capturando a essência da canção e compartilhando com o público de forma visceral.
Quando chega o tempo da invernada
No sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará pega, mata e come
Carcará num vai morrer de fome
Carcará, mais coragem do que homem
Carcará pega, mata e come
Durante a performance, o público se deixa levar pela voz de Tieta e pela sua interpretação carismática. Ela domina o palco, transitando entre momentos de suavidade e explosões de emoção, demonstrando toda a sua habilidade, encarando por vezes a câmera, como se estivesse falando também com a audiência de casa.
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele pega no bico inté matá
Carcará pega, mata e come
Carcará num vai morrer de fome
Carcará, mais coragem do que homem
Carcará pega, mata e come
Carcará
A plateia vibrava com os instrumentos que tornavam a música um xote cada vez mais rápido e aplaude efusivamente no ritmo. À medida que a música se aproxima do clímax ficando mais rápida, Tieta aumenta a intensidade, voltando para o centro do palco, falando os dados da migração de nordestinos para o sudeste do Brasil enquanto os backing vocals repetiam o nome do pássaro.
Já depois da ultima frase, os instrumentos nordestinos continuaram em um solo enquanto Tieta rodava até que ela levantasse o braço como uma regente, fazendo com que a banda parasse, finalizando a performance com uma pose de impacto.
(Carcará) em 1950, mais de 2 milhões de nordestinos
(Carcará) viviam fora dos seus estados natais
(Carcará) 10% da população do Ceará emigrou
(Carcará) 13% do Piauí
(Carcará) 15% da Bahia
(Carcará) 17% de Alagoas
(Carcará) pega, mata e come
Carcará num vai morrer de fome
Carcará, mais coragem do que homem
Carcará pega, mata e come