[EUR] BBC - desvendando Tales com Stefan Lancaster, Parte 3
Mar 1, 2023 16:03:29 GMT
Post by infinitesnow on Mar 1, 2023 16:03:29 GMT
(divulgação para 'file B + file N' e 'file V')
Como antecipado com a primeira e segunda partes do quadro na semana anterior e o quadro sobre sua carreira nas semanas anteriores, nessa semana, a rede de televisão britânica BBC exibiu, em seus canais e meios de divulgação online, a terceira e última parte de "Desvendendo Tales From Other Trails", quadro no qual Stefan Lancaster, ainda imerso no personagem do detetive Nathaniel F. Ceasars, conta sobre cada faixa do álbum, explicando suas histórias, vítimas, culpados e motivações, enquanto exibem fotos e informações de cada arquivo (físico e manuscrito) além de algumas prévias de cenas e bastidores do filme para o álbum, referentes à cada uma das 3 faixas comentadas nessa parte, e claro, também usando músicas do álbum como trilha sonora.
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“file R” também conta uma das situações mais tristes que já investiguei, mas não de uma forma devastadora. Foi um caso que me deixou tão... frustrado, irritado, aumentando cada vez mais minha vontade de evitar injustiças desse tipo, ou pelo menos fazer com que a devida justiça chegue aos culpados desse tipo de situação. Uma... certa empresa, que ainda está pagando e usando todos os métodos possíveis pra que eu não os cite diretamente em público, cometeu inúmeras fraudes, principalmente atos de charlatanismo, para aumentar seus lucros através de mais vendas para mais clientes – nada muito incomum até esse ponto – mas dois pontos tornaram esse caso ainda mais severo que a maioria. O primeiro foi a total falta de preocupação sobre as consequências de saúde extremamente prováveis que poderiam afetar seus consumidores. Já o segundo ponto foi aquele ao qual dei um pouco mais de atenção: a forma como alguns funcionários de base foram coagidos a participarem desses esquemas, principalmente como bodes expiatórios, alguns deles sendo coagidos pelos gerentes e administradores... e outros sendo coagidos pelas próprias condições de vida. Sabe, existe uma diferença muito grande entre a ganância daqueles que sempre tiveram tudo, e a ganância daqueles que nunca tiveram nada. Ambas podem ser perversas, mas somente a segunda pode ter uma real justificativa. Uma das vítimas com quem lidei em Mykonos na Grécia, onde está uma das sedes dessa empresa, me lembrou de muitas outras pessoas que vi e conheci ao longo da vida. Alguém que diariamente luta por sua sobrevivência e vive sem esperança de melhorias, para si mesmo e para aqueles com quem mais se importa. Alguém assim recebeu a ‘oportunidade certa’ que poderia mudar suas vidas, sem saber direito no que estava se metendo, e só entendendo de verdade quando já estava muito aprofundado nesses esquemas e em sua própria ganância. Essa... meio vítima, meio culpado, havia encontrado uma oportunidade de ultrapassar os mares que sempre havia visto como mais um de vários limites em sua vida, sua existência – e é por isso que faço esse tipo de referência no subtítulo ‘Oceanic’ e no restante de meu relato, com rios, navegações e afins: “Our rivers flow down low / From springs high above / Every stream leads differently / Hoping to find the wide ending / But none led to the same ocean / Always a different beach / ... / Watch how there are new paths / No longer on your map / ... / But you look back through the stern / See how far you have turned”. Outro questionamento relevante que trouxe nesse relato foi a dicotomia entre o externo e o interno, entre o que outros dizem e o que alguém diz pra si mesmo, entre a satisfação material e a emocional. Sei que... para pessoas em condições como essa que citei, nem sempre há como separar esses extremos, mas ainda acredito que seja relevante considera-los quando se fala em ambições, por isso, tomei o ponto de vista tanto da pessoa se questionando entre eles – “Why did I never dive into something / That could bring much more meaning / To existing? / Inside or outside then? / Don't know where's the problem” – quanto o ponto de vista de quem tenta ajudar e aconselhar – “Will it ever be enough to satiate / The void that never cared / Because you never were the one who put it there / It's voices telling you what you should have”.
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“file L” foi um dos casos mais recentes que investiguei, e também um dos mais simples em comparação aos outros escolhios, por isso o relato mais curto e sua posição como o último dos 8 arquivos principais, mas... algo ali me marcou de uma forma que foi o primeiro sinal de que eu deveria começar a compartilhar esses relatos. Durante a última década estive cercado por tantas mortes e tragédias que preciso admitir que me tornei dessensibilizado, então, ver um crime sendo cometido para proteger uma vida – não a própria, mas de outra pessoa – certamente foi uma mudança única e bem vinda. Nunca pensei que diria isso sobre um culpado, mas de certa forma, tenho algo a agradecer a Morjiana Carillo, por suas errôneas, mas, no fim de tudo, consideravelmente nobres tentativas de perjúrio obstrução da justiça, uma justiça errônea e equivocada, para proteger uma vida. Buscamos refletir o contraste entre a mundanidade e simplicidade comparada à grande realização que isso trouxe, tanto na variação da sonoridade em si e a mudança de foco entre minhas palavras e este plano de fundo que se torna frontal e grandioso, entre questionamentos profundos – “But what builds value is rarity, not repetition / Perhaps helping us realize that is our mission” e simplesmente aproveitar aquele momento especial como um brinde, mas ainda parte do dia-a-dia: “There are some moments that are not bound by the clock / Not bound by mere lands, skies or docks / But you’ll understand me, much more than most So tonight, to you, I raise this toast”. Não é exatamente um... final feliz, não acredito nesse tipo de noção, mas sim a capacidade de, como também tentei fazer com esses relatos, olhar para trás e ser capaz de filtrar memórias e focar no que há de positivo para ser tirado dali: “Couldn't even finish our old bottle of wine / Too much excitement so I tripped and cried / Not out of pain or self pity / Only thanks to cheers to the living”.
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E chegamos assim na etapa final de “Tales From Other Trails”, aquela que mais pode ser descrita como uma reflexão pessoal, eu e meus próprios pensamentos, formamos esse “Epilogue”. Por um momento, por alguns momentos em minha vida na verdade, me imaginei como uma ‘pessoa normal’, que não é envolvida com um tipo de trabalho tão complexo quanto o que tenho, até porque, debaixo de toda a experiência e resistência que adquiri, também sou ‘só’ um ser humano como os outros, e preciso me ver desta forma com certa frequência para que o orgulho não suba a minha cabeça e afete minhas habilidades, mas dessa vez, fui mais fundo, sendo o ponto ao qual cheguei após desenvolver todos os outros relatos. “Do I really attract that many troubled people? / Am I just a well they can pour their issues into? / A drawer to stuff full of info too? / ... / And yet I have to give an answer, support / No matter how much myself I contort”... Comecei a me questionar sobre porque e como cheguei a essa posição de... aquele que ajuda os outros em seus problemas mais complexos, nos momentos mais complicados de suas vidas, indo a diversos lugares do mundo para isso e fazendo mais por eles do que jamais poderiam fazer por mim, e muitas vezes muito mais do que iriam querer fazer por mim: “Is it selfish or is it sane / To compare how much I receive in return? / Some of them have helped me out so many times / Others won't listen to me talking for even a minute / And others don't even look at me anymore”. Não digo isso de forma egoísta, pelo menos não intencionalmente, nem por realmente querer algo a mais deles por meu trabalho. Reflito sobre isso no sentido de... fiz tudo isso, várias e várias vezes, e a que ponto cheguei? Valeu a pena? Estou satisfeito? E mais importante nesse último ‘relato’, o quanto que esse trabalho e esses casos formaram e reformaram quem eu sou hoje? Somente pensando sobre e entendendo melhor esse tipo de dúvidas sobre nós mesmos é que nos tornamos capazes de recuperar as rédeas e mudar de caminho quando não estamos satisfeitos, ou manter o controle no mesmo caminho enquanto deixamos de lado aquilo que nos incomoda: “How much of them was formed by me helping / How much of me was formed by helping them / But I can decide when it starts or ends / When I flip the page, it will be my own command / Not by many other hands”.